segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

DESEJO A TODOS VOCÊS!!!!!!!

O que seria de nós se não fossem os poetas?
Como expressar belas palavras sem a inspiração que só mesmo um Drummond conseguia ter?
Nestes momentos, só mesmo recorrendo a eles – os poetas.

O que fazer quando se quer fugir ao óbvio ululante do “... felicidades em 2009”?
O que fazer se não se tem nenhuma frase de efeito para enviar?
Se não quero enviar (nem receber) aquelas mensagens enfadonhas lair-ribeirianas/paulo-coelhianas? O que faço? Envio, mais uma vez, este poema de Drummond – belo pela singeleza.

Não pretendo dar lições e conselhos, até porque não sou talhado para isso. Drummond, sim, este nasceu pronto para nos ensinar algo.
Como dizer às pessoas que façam (ou não) coisas que eu mesmo não sei se as farei.
Também, não vou sugerir que sejam politicamente corretas, até porque sei que em vários momentos terei (quererei) não sê-lo.
Porque pedirei às pessoas que mudem, se eu não poderei (ou não quererei) mudar em alguns aspectos da minha vida?


Por isso tudo, me valho de Drummond....

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

CRÔNICA DE NATAL


Minha filha me perguntou se Papai Noel existe mesmo e se tem dinheiro para comprar todos os presentes que crianças do mundo todo lhe pedem.


Pensei bem e decidi que não iria ser o portador da má notícia, pelo menos não agora. Confesso, foi uma atitude cômoda, pois bem sei que a vida se encarregará de dar essa e outras tantas más notícias para ela.


Aderi ao “espírito de natal” e disse que Papai Noel existe para quem nele deseja (ou precisa) acreditar. Já sobre a saúde financeira de Babbo Natale disse que ele não foi, ainda, atingido pela crise econômica que assola o mundo. Mas, daí tive que explicar o que é essa tal crise e onde ficam os Estados Unidos e porque lá tem neve e faz frio.... Foi um festival de “porquês” que resolvi voltar ao início da conversa.


Mas, minha filha não sacia facilmente sua curiosidade e lançou outra questão difícil:
- Papai, porque os adultos desejam um monte de coisas boas para todo mundo no natal?
E eu:
- Well, well, Clara...
Fui sincero:
- Filha, não sei por que deixamos para fazer apenas no final do ano aquilo que deveríamos fazer pelo menos uma vez por mês.


O Natal é uma coisa engraçada mesmo, até os ateus comemoram o natalício de Jesus Cristo.


Muitos, que se sentem “obrigados” a viver nas modernas sociedades de consumo, racionalizam e dizem que a data é apenas uma invenção para acelerar as vendas. No entanto, atire a primeira pedra quem ainda não se refestelou das comidas e bebidas feitas para comemorar o genetlíaco de Cristo.


Aliás, diria minha filha, um aniversário não deveria ter bolo, velas, bolas, pipoca, palhaço e os “parabéns a você”? Acho que não. Quem vai comemorar 2008 anos deve ter uma festa diferente.


Enfim, e por via das dúvidas, Papai Noel virá sim trazer o presente de Clara. Ela até fez uma carta para ele. Pensei em mandar uma mensagem para
papainoel@santaclaus.com, mas, decidi ser tradicional e coloquei a missiva nos Correios.


São Nicolau virá sim trazer a bicicleta que ela encomendou. A única dúvida é como ele fará para entrar no nosso apartamento, pois não temos chaminé. E mesmo que tivéssemos, não tem espírito natalino que faça passar um homem tão gordo por um espaço tão pequeno. Sem contar que o portão da entrada fica fechado a partir das 22 horas.


Não tem jeito, ele virá pela varanda. Os quase 10 metros que nos separam do chão não devem ser empecilho para quem voa de trenó, puxado por renas, compra presentes sem ter dinheiro e vive na Lapônia cercado de duendes.


Enfim, que Papai Noel exista enquanto minha filha puder nele acreditar!


E, para todos, felicidades e que bons momentos aconteçam em profusão.

domingo, 21 de dezembro de 2008

UM PAÍS DE MACUNAÍMAS!

O jornalista Juca Kfouri, em sua coluna deste domingo (21/120/08) na Folha de São Paulo, faz aquilo que muitos não tem coragem e/ou interesse em fazê-lo. Afirma que somos um país de Macunaímas (o herói sem caráter, lembram?), pois ao aceitarmos passivamente esse estado de coisas erradas que aqui acontecem somos, pelo menos, coniventes. Juca fala que "talentos não nos faltam, basta ver Kaká, Cielo, Maurren, Fofão, Giba. Só faltam valores". Ficamos inconformados com políticos corruptos (aliás, eleitos por nós mesmo), mas não vemos problema algum que um juiz de futebol seja subornado, desde que para favorecer o nosso time; como também não vemos dificuldades em furar a fila ou ultrapassar o sinal vermelho, pois a nossa justificativa é sempre mais justa do que do outro; e o que dizer de mania recorrente de achar que os fins justificam os meios? Enfim, a Lei de Gerson parece, ainda, ser uma regra quando deveria ser uma excessão.

A MELHOR imagem do Brasil em 2008 é a pior imagem do Brasil em 2008: a imagem do roubo de mantimentos enviados para socorrer os flagelados de Santa Catarina.

Até então, quem sabe, a melhor imagem era a de César Cielo emocionado no lugar mais alto do pódio em Pequim. Ou a de Maurren Maggi, na mesma altura. A das meninas do vôlei também era forte candidata, por tudo o que significava de virada, assim como a da saltadora. Mas não.

Nada mais revelador da alma brasileira do que aquele pessoal surrupiando o fruto da generosidade de alguns em proveito próprio. E, não tenha dúvida, na complexidade da alma brasileira, alguns dos larápios seriam também capazes de fazer doações para serem apropriadas por outros semelhantes. Ora, afinal, pensou um deles, "este tênis aqui é bacana demais para dar para um desabrigado que está precisando mesmo é de uma galocha".

Já o outro achou que "esta camisa é muito elegante para quem não tem nem onde morar e dá pena pensar em vê-la toda amarfanhada. Nem vai durar...". Mais ou menos como achar legal ganhar um jogo com gol de mão, em impedimento e no último minuto.

Ou não se importar que as pessoas se perpetuem no poder, ainda mais se fizerem algo de bom, mesmo que roubem. Porque fazem, né não? Pois não é que neste país se assiste num ano ao escândalo do Pan-2007 e se aplaude a candidatura olímpica na temporada seguinte? Até se bajula a filha do cartola que virou cartolinha para fazer a Copa do Mundo com o nosso dinheiro!

Talvez por isso a melhor frase do esporte nacional em 2008 tenha ficado praticamente inédita até hoje, dita, em Pequim mesmo, pelo jornalista Roberto Salim, da ESPN Brasil, ao ministro do Esporte, Orlando Silva Jr.: "Você envergonha a sua raça, o seu partido, o esporte brasileiro e todos os que acreditaram em você".

Porque também são raros os brasileiros capazes de externar sua indignação com tamanha clareza. A regra é ficar inconformado com o que houve em Santa Catarina, mas fechar os olhos quando em troca de um privilégio, seja de que ordem for, algo que os meios de comunicação também fazem. Tanto que, por exemplo, Dunga apanha mais por suas qualidades do que por seus defeitos, embora tenha trocado algumas delas para sobreviver na função. E que ninguém imagine que aqui esteja sendo feita a apologia do brasileiro perfeito, ou do homem perfeito, porque certas ilusões, nestas alturas, não cabem mais.

Apenas se constata que de nada adiantam surtos de indignação quando a prática diária é a de empulhação. A de levar vantagem. A de mentir. De se juntar com quem não presta para se dar bem, porque o mundo é assim mesmo. A de querer o cara no time, não para casar com a filha. Só que esses caras são tão envolventes em sua falta de compromissos morais que terminam se casando com as filhas dos espertos e acabam por fazer um país. Um país de Macunaímas.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

40 anos do Ato Institucional n° 5

O AI-5 e as responsabilidades de cada um
por Marcos Guterman

O Ato Institucional número 5, que mergulhou o Brasil de vez nas trevas da ditadura, está para completar 40 anos. Em meio aos inevitáveis debates sobre as conseqüências dessa ação nefasta, Tarso Genro, ministro da Justiça, disse considerar um “mito” a idéia segundo a qual o AI-5 tenha sido responsabilidade exclusiva dos militares.

“Temos que acabar com esse mito de que o AI-5 da ditadura é responsabilidade de um grupo de militares ou das Forças Armadas”, afirmou Genro. “É claro que as Forças Armadas tiveram papel fundamental, mas o AI-5 teve apoio civil, de pessoas, de ministros, de juristas que redigiram o AI-5, que deram fundamentações para a arbitrariedade.”

De fato, o AI-5 foi produto de um processo histórico do qual os militares foram o trecho final, embora nem por isso esse papel possa ser considerado menor, como sugere o ministro. A história da ditadura não poderia ser contada sem levar em conta o “apoio civil” de que fala Genro, sobretudo de uma classe média apática e de um empresariado que via na ditadura tanto uma forma de afastar o perigo comunista como de abrir oportunidades para bons negócios.

O discurso de Genro, no entanto, pode ser lido como parte da tentativa de conciliação do governo Lula com os militares, uma aproximação que já fez o próprio presidente
elogiar Médici, de longe o mais duro dos líderes militares da ditadura. Em abril, Lula disse, em relação a Médici, que “cada um de nós tem uma coisa boa para oferecer, tem coisas ruins dentro da gente, e não poderemos ficar julgando eternamente as pessoas por um gesto, dois gestos, sem compreender outros gestos que as pessoas fizeram”.

Assim, com evidente boa vontade em relação aos militares, Genro afirmou que é preciso “superar essa idéia do ato como resultado de um aparato militar puro, para superar a ideologia falsa a respeito da ditadura e construir a democracia com segurança tanto para os civis e militares e na relação entre ambos”.

domingo, 7 de dezembro de 2008

CARTA CAPITAL
Torturadores na cadeia - 05/12/2008 - Celso Marcondes

Reproduzo abaixo os últimos e-mails que troquei com o leitor Antônio F., encerrando a série que começou há quatro dias. Não dei ao Antônio F. a oportunidade de expor claramente seus pontos de vista porque sou um ardoroso defensor da democracia. Fiz isso também para que os leitores de CartaCapital saibam claramente, sem qualquer subterfúgio ou censura, o que pensam parte daqueles que se opõem à abertura dos arquivos da ditadura e à punição dos torturadores.


Acho esta questão fundamental para o governo Lula. Do alto de sua aprovação recorde – mais de 70% de ótimo e bom segundo o Datafolha – não dá para deixar de lado este acerto de contas com nosso passado. Não é desejo de vingança, mas puro e simples desejo de justiça. Não, não é justo que os torturadores de ontem andem impunes por nossas ruas. Não, não é possível tolerar que a tortura ainda corra solta nas nossas delegacias. Tortura é crime de lesa humanidade, ponto final, não pode haver diálogo sobre isto.

Também não dá para escamotear a questão e vir com este papo de que os “terroristas” também têm que ser punidos. Não, não eram terroristas os que enfrentaram a ditadura militar. Terroristas foram os que derrubaram com as armas um governo eleito pelo povo e implantaram um regime de terror, que jamais consentiria que qualquer órgão de imprensa publicasse um diálogo como o que se travou aqui.

Nosso leitor Antônio F. escreveu aqui para quem quisesse ler “que preferia a ditadura militar que esta esculhambação que está aí”. Pede, veja abaixo, que a mídia denuncie “ambos os lados”. Que mídia, caro Antônio? Em que jornais, revistas, emissoras de rádio e TV você tem visto matérias pedindo a punição dos torturadores? Quisera eu que existisse um movimento real de apoio às posições dos ministros Paulo Vannuchi e Tarso Genro. Adoraria ver este debate nas páginas da Folha ou da Veja, na tela da Globo. Infelizmente a realidade é bem outra, caro leitor. Em nome da “paz” e da conciliação, a maioria pede que a memória e a verdade sejam apagadas. Eu quero poder publicar as fichas dos torturadores da ministra Dilma e de milhares de outros brasileiros.

Na semana que vem responderei ao que disse Antônio F. sobre o deputado Genoíno, preso e torturado no Araguaia. Enquanto isso não acontece, veja como nossa correspondência se encerrou:


Segunda-feira, 24 de novembro de 2008.
Celso,
Não sou militante em nada. Só que gostaria que a mídia denunciasse ambos os lados e não apenas um lado, aquele lado que não pode se manifestar. Daí a mídia pirata, com interessem escusos se vale pra manipular a cabeça da população e não mostra o outro lado da moeda. Sou um leitor assíduo da CartaCapital, ao menos não são todos os jornalistas, editores e outros mais, que são manipulados. O senhor leu a da semana passada? Sobre o feudo do MENDES lá no MT? O nosso ministro-mor do STF?
Antônio F.

Segunda-feira, 25 de novembro de 2008.
Caro Antônio F.,
Mídia manipulada, controlada e censura existia na época da ditadura. Hoje seus comentários, contrários ao meu, são publicados livremente no nosso site. Reafirmo minha opinião: os que o senhor chama de "terroristas" já receberam suas punições. Quem não recebeu foram os torturadores. Continue lendo CartaCapital, ninguém aqui é manipulado. Li a matéria sobre Gilmar Mendes.
Celso Marcondes

Segunda-feira, 24 de novembro de 2008.
Celso,
Você recebe algum tipo de indenização também?
Antônio F.

Segunda-feira, 24 de novembro de 2008.

Caro Antônio,
Não, Antônio. Acho que só merecem indenização os parentes dos mortos - dos dois lados - e os torturados.
Celso Marcondes

Segunda-feira, 24 de novembro de 2008.
Certo Celso, mas porque a mídia não fala dos terroristas? Ou essas pessoas com seus "ideais democráticos" que invadiram quartéis (comando militar do sudeste - morte do sargento Mario Kozel Filho) que furtaram fuzis do quartel de Quitaúna e muitos outros crimes mais: morte de militares a coronhadas etc. Porque não é divulgado pela mídia para que a população saiba que existiram torturadores e terroristas?
Antônio F.

Segunda-feira, 24 de novembro de 2008.
Antônio F.,
Por que os "terroristas" já foram punidos: mais de 300 foram mortos, milhares foram presos, torturados, exilados, perseguidos. Já os torturadores, nenhum sequer.
Celso Marcondes.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

DEBATES CAPITAIS

CARTA CAPITAL - Diálogos sobre a tortura - 02/12/2008 - Celso Marcondes

Foi realizado nesta segunda-feira um Ato Público exigindo a punição dos torturadores da época da ditadura militar. Na Assembléia Legislativa de São Paulo, sob coordenação dos deputados Paulo Teixeira e Simão Pedro, do PT, dezenas de pessoas, representantes de entidades sindicais e defensoras dos direitos humanos fizeram seu protesto. O ministro Paulo Vannuchi discursou, reafirmando sua expectativa de que presidente Lula determine a abertura dos arquivos da ditadura antes do final de seu mandato. Disse também que ele e o ministro Tarso Genro não são vozes solitárias no ministério em defesa desta posição e da necessidade da punição dos torturadores.
Porém, não é isso que tem sido veiculado na imprensa. Ficamos na torcida de que este isolamento dos dois ministros deixe de transparecer. O tema punição dos torturadores tem sido tratado regularmente por Carta Capital em suas páginas e site. É da maior relevância.
Nesta coluna tem gerado diálogos com nossos leitores que ilustram bem os eixos da polêmica. Um debate tem sido caloroso, aquele com o leitor Antônio F. Nas próximas edições desta coluna ele será compartilhado com os leitores, na ordem exata em que acontece. A primeira carta, Antônio F. escreveu logo depois que publiquei um artigo em defesa da punição aos torturadores:


Quarta-feira, 12 de novembro de 2008 Assunto: Tortura
Senhor Celso,
Para o senhor, o torturador tem que ser punido. E quanto aos terroristas? Terroristas esses que hoje na sua maioria estão aí no poder? Dilma, Genoíno e muitos mais? Que lei é essa que só ver um lado? Tem muitos jornalistas por aí que tão com a bunda gorda sentado numa confortável poltrona metendo o pau nos militares (militares esses muitos mortos por atentados terroristas) e recebendo uma gorda pensão do Estado. Falar é fácil, não é, meu senhor?
Antônio F.


Quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Prezado Antônio F.,
Obrigado pela mensagem. Esclareço meu ponto de vista: torturadores de ontem e de hoje têm que ser punidos.
E os “terroristas”? Se o senhor chama assim os guerrilheiros que pegaram em armas contra a ditadura militar que tomou o poder pela força das armas, eu avalio que eles estavam errados ao tentar responder desta forma ao regime de terror que o País viveu desde 64. Tão errados que não obtiveram apoio popular e foram literalmente massacrados pelos militares. TODAS as organizações guerrilheiras (as que o senhor chama de “terroristas”) FORAM DIZIMADAS entre 71 e 75. Não sobrou NADA delas.
Centenas de “terroristas” – e muitos que nem o senhor poderia enquadrar nesta nomenclatura, porque não usaram da força contra as Forças Armadas – foram assassinados ou presos e torturados ou perseguidos ou obrigados a sair do país durante muitos anos. Entre eles, a ministra Dilma e o deputado Genoíno. Os dois em particular pagaram muito caro pela opção que escolheram ambos foram presos e torturados. Hoje, é verdade, estão no poder. Mas estão fora dele outras centenas que não sobraram para contar a história. Ou seja, creio que os opositores ao regime militar já pagaram um alto preço por suas ações. Os que não pagaram foram anistiados, junto com os militares que apoiaram o golpe de 64 e derrubaram um governo eleito democraticamente.
Já os torturadores (que não eram todos os militares e policiais civis), inclusive os de Dilma, Genoíno, andam soltos entre nós e nunca receberam qualquer punição. Isso não é justo. Quanto aos jornalistas que receberam indenização do Estado: sou jornalista, combati o regime militar sem colocar uma arma na mão e acho que os únicos que merecem alguma indenização são os que sofreram torturas dos representantes do Estado ou os parentes dos mortos nas masmorras da ditadura. Mais difícil que falar, foi enfrentar aquele regime de terror há 40 anos.
Naqueles tempos qual era o seu lado senhor Antônio?



Na coluna de ontem iniciei a publicação do meu debate com o leitor Antônio F. sobre a questão da tortura durante a ditadura militar. Publiquei uma primeira carta do leitor, contestando um dos artigos desta coluna, em 10 de novembro, intitulado Torturadores de “terroristas” e minha réplica.

Abaixo publico o segundo “Diálogos”, com a tréplica de Antônio F. e um pequeno comentário meu. Amanhã tem outro.
Posições mais que explicitadas e acaloradas, aguardando uma decisão do governo sobre o tema e revelando fissuras e feridas latentes da nossa história.


Quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Senhor Celso,
Defendo seu ponto de vista, mas não abro mão do meu. O senhor Genoíno, Alfredo Sirkis, Dilma e outros mais, que lutaram contra a ditadura, ou dizem que lutaram, a meu ver nem tinham ideologia, eram mais uns agitadores, hoje estão aí se vangloriando de coisas que não fizeram; Fizeram sim: seqüestrar, roubar, matar em nome de seus ideais (será que os ideais dos mesmos estavam corretos?).
A ditadura na época não existia só no Brasil, era um regime adotado em quase toda a América Latina, na África (até hoje) e outros países do Oriente Médio e Ásia. Mas o que era a ditadura? Será que era tão ruim assim? O que os militares fizeram de tão mal a não ser defender os interesses do País e não permitir que fosse implantado um regime comunista? Regime esse que já se viu, não é benéfico para nenhuma Nação?
Não sou militar, mas SOU PATRIOTA, e posso dizer que: entre a DITADURA MILITAR e essa ESCULHAMBAÇÃO QUE TÁ AÍ, prefiro a primeira opção.
José Genoíno, pelo que sabe nunca foi torturado. Não sentiu nem uma dor na unha, o que se sabe dos militares (Sebastião Curió que diz que tem uma copia de declaração assinada de próprio punho pelo Genoíno) e que ele foi sim UM TREMENDO DEDO DURO, entregou todo mundo, as células TERRORISTAS, sem ser preciso tocar no mesmo, demonstrando o quão covarde foi o mesmo.
Os anistiados, políticos, jornalistas e muitos mais que tão aí mamando nas tetas da Nação, muitos não perderam nada no regime, tais como CARLOS HEITOR CONY E muitos mais que tão aí recebendo sua gorda pensão; Os que morreram no Araguaia e nas zonas urbanas, os que realmente lutaram, sou a favor de que suas famílias recebam pensão. Mas também sou a favor que as famílias dos militares que morreram combatendo esses BANDIDOS (não todos,claro), também recebam uma justa PENSÃO; SE FOR PRA PUNIR, QUE PUNAM TODOS, NÃO SEJA VISTO SÓ UM LADO, POIS ISSO É UMA MANEIRA DE SE PROMOVEREM À CUSTA DO OUTROS, COM INTERRESES PURAMENTE INDIVIDUAIS.
Nunca vi um presidente militar morrer milionário e as Forças Armadas está entre as instituições de mais respeito e idoneidade nesse país.
Obrigado.
Antônio F.


Quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Prezado senhor Antônio,
Acho que nossas posições estão claras, não chegaremos num acordo. Democracia é isso que taí: todos podem se posicionar. Concordar ou discordar.
Nos tempos da ditadura isso não era possível. Continue expondo seus pontos de vista sobre este ou outros assuntos, nosso site está aberto para isso.
Obrigado,
Celso Marcondes



Este é o terceiro artigo da série que começou anteontem.

Desta vez meu interlocutor só mandou o fac-símile de uma pretensa ficha da ministra Dilma Rousseff, originária de um órgão da repressão não identificado. Infelizmente, por problemas técnicos, não conseguimos reproduzir a “ficha” tal como ela nos chegou, mas ela rodou bastante pelas caixas postais de muitos jornalistas há duas semanas.
Sua transcrição, na íntegra está abaixo. Só falta a foto da ministra quando jovem, com “sua” marca digital do polegar direito e o carimbão no alto, escrito “CAPTURADO”. Se você ainda não recebeu tal preciosidade, leia e avalie.
Foi uma das principais contribuições do leitor Antônio F. ao nosso profícuo debate. Revela bem os métodos dos que tentam impedir que a discussão sobre a necessária punição dos torturadores da ditadura militar prossiga. Por coincidência, encontrando como alvo uma pessoa pouco importante do governo.


Quarta-feira, 19 de novembro de 2008
De: Antônio F.
Para: Celso Marcondes
Transcrição da “ficha” da ministra Dilma Roussef

Nome: Dilma Vana Rousseff Linhares
Alcunha: Estela
Número de código: 00237 – terrrorista/assaltante de bancos
Outros nomes: Luiza, Patrícia Wanda
Filiação: Pedro Roussef e Dilma Roussef
Endereço: Av. João Pinheiro, 85, apto 1001
Naturalidade: Belo Horizonte – MG
Data nascimento: 14/12/47
Profissão: desconhecida
Estado Civil: casada (Lobato?)

Atividade:
1967 – militante da Política Operária (POLOP)
MG - 06/10/68 – assalto ao BANESPA, Rua Iguatemi: NCR$ 80 mil
12/10/68 – planejamento assassinato Cap. Charles R. Chandler (?)
11/12/68 – assalto à casa de Armas Diana, r. do Seminário; 48 armas ??
04/69 – Comando de Libertação Nacional (COLINA)
24/01/69 – Assalto ao 4º. RI Quitaúna, Osasco, SP: 63 FAL, 3 INA, 4 cunhetes munição 18/07/69 – Assalto casa Gov. Adhemar de Barros
01/8/68 – assalto ao Banco Mercantil de São Paulo ??
09/69 – Congresso VAR Palmares (Teresópolis)
20/09/69 – assalto ao quartel da Força pública, Barro Branco (cont.)


Quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Caro Antônio F.,
Agora fica ainda mais claro que o senhor é militante “antiterrorista” e defensor juramentado da ditadura militar.
Por favor, já que tem tantos contatos que te permitem acesso às “fichas” daquela época, consiga também a ficha dos torturadores da ministra Dilma.
Celso Marcondes

domingo, 23 de novembro de 2008


No hino do CAMPINENSE CLUBE tem um verso que diz: "... pelos campos do Brasil, a raposa a correr". Isso pareceu sempre algo ufanista, pois em geral, e apenas em momentos pontuais, a Raposa (assim como os outros times da Paraíba) só corria mesmo pelos campos do Estado.
Agora, a RAPOSA corre literalmente pelos campos do Brasil - nesse Octagonal da Série C o Campinense jogou em todas as 5 regiões do Brasil e ano que vem a dose vai se repetir já que o time irá jogar com outros 19 times do país pela 2ª divisão do Campeonato Brasileiro.
Teremos a gloriosa raposa da serra correndo por vitórias pelos campos do Brasil durante quase o ano todo - cumprindo, assim, a sua predestinação de ser um time de vanguarda do futebol paraibano e nordestino. O Campinense torna-se o primeiro e único time da Paraíba a disputar a Série B, além de ser o único hexa campeão paraibano.

Paul McCartney & U2 - SGT Pepper´s

Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band é o 8° disco dos Beatles. Apenas não o considero o melhor álbum da história do rock e da música porque ele concorre com “The dark side of the moon” do Pink Floyd. Ele foi lançado em 01 de Junho de 1967 e sua importância vai das técnicas inovadoras para gravação até a elaboração da capa. Literalmente foi o disco que fez a minha cabeça, mesmo eu sendo dois anos mais novo do que ele.

Aqui, um momento de rara beleza - Paul McCartney e a maior banda de Rock em atividade do mundo - U2 - num show em Londre (no ano de 2005) no Live 8.

Delicie-se!!!!!!!!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A CASSAÇÃO DO GOVERNADOR DA PARAÍBA




Como não poderia deixar de ser a cassação do governador, e os seus óbvios desdobramentos, ocuparam minhas atenções nas últimas 24 horas de forma intensiva.


No link abaixo tem uma das minhas intervenções na imprensa do Estado - muito em breve publicarei um artigo com uma análise sistematizada da situação - apenas, aguardo a publicação, no Diário da Justiça, do acórdão que determina a cassação do Governador e do vice-governador e a consequente saída deles do Executivo Estadual.

Por enquanto, importa dizer que estou atento ao comportamento das instituições e dos atores políticos, além da sociedade civil, neste momento em que teremos uma transição política das mais tumultuadas. Isto é, se realmente não tivermos mais alguma mudança neste verdadeiro imbróglio que se arrasta desde o final da eleição de 2006.


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

TERRORISMO DE ESTADO

Na Folha de São Paulo de hoje (19/11) Deisy Ventura, doutora em direito pela Universidade de Paris 1 e professora de direito internacional do Instituto de Relações Internacionais da USP, repele a idéia de que a anistia vale tanto para torturados quanto para torturadores e demonstra que os crimes cometidos em nome do Estado são sim passivos de punição.
Como forma de subsidiar a discussão, sigo publicando artigos relevantes sobre este tema que está bem longe de ser encerrado.

TERRORISMO DE ESTADO
Esquentam as mãos do ministro Eros Grau, no Supremo Tribunal Federal, dois processos que marcarão a cultura política e a imagem internacional do Brasil. Como relator da ação em que a OAB questiona a interpretação da Lei de Anistia, Grau pediu vista dos pedidos argentino e uruguaio de extradição do general Manuel Cordero, um dos protagonistas da iniciativa supranacional de repressão política denominada Operação Condor.

Caberá, então, ao STF decidir não apenas sobre a possibilidade de julgar agentes públicos pelos crimes contra a humanidade praticados durante a ditadura militar brasileira, mas também exercer a espúria faculdade de impedir que países vizinhos façam o mesmo em relação aos seus acusados.

Num Brasil gravemente acometido de amnésia seletiva, o debate encontra-se turbado pela estapafúrdia tese do "vale para os dois lados" - isto é, rever a anistia dos militares implicaria necessariamente rever a dos subversivos, ditos "terroristas". Urge, portanto, repelir a idéia de que a anistia vale tanto para torturados quanto para torturadores. Primeiro, pelo descalabro técnico.

Há quem reconheça como jurista só aquele que o defende. Porém, o direito aqui é cristalino. O Estado detém o monopólio da violência legítima. Dele apropriando-se ilegitimamente e agindo em seu nome, "autoridades" dispuseram de recursos estatais para promover sistematicamente a tortura, que resultou, em numerosos casos, na execução sumária, agravada pela ocultação de cadáver.Depois, o poder estatal garantiu-lhes acordo leonino, pelo qual crimes comuns, entre eles o estupro, foram interpretados como se políticos fossem.

Ademais, quem se opõe à violação da ordem constitucional não é terrorista, é resistente. O direito à resistência é vigente no Brasil desde os anos 1950, por força do direito humanitário, que igualmente veda a tortura e a execução, mesmo durante a guerra. Segundo, pela infâmia política.

Há quem defina como ideologia somente a dos outros. É o primeiro passo para criminalizá-la. Ora, nunca houve risco real de implantação de um regime comunista no Brasil. A ampla maioria dos cassados, torturados e desaparecidos jamais praticou qualquer violência. Contudo, impunes aves de rapina não cessam de difamá-los, argüindo que tiveram o que mereciam, como se as vítimas estivessem a jogar o queixo contra os punhos dos algozes. Diante de tal (in)cultura, não surpreende que, na atualidade, jovens favelados já nasçam suspeitos, esgueirando-se nas ruas diante dos temidos agentes do Estado.

É preciso também refutar o enganoso argumento da prescrição. Farta e unânime jurisprudência internacional, inclusive da Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja jurisdição é aceita pelo Brasil, sustenta a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade. Não se trata de imposição, eis que o direito internacional consiste justamente no exercício da soberania nacional em foro externo. Construído pelo consenso entre as nações, aplicá-lo é tarefa constitucional de cada Estado.Contudo, orgulhoso por sua retumbante inserção comercial internacional, o Brasil está cada vez mais isolado do mundo no que tange à memória e à justiça. Cumpridor do direito do comércio, o país ainda engatinha quanto à aplicação do direito internacional dos direitos humanos.

Uma recente audiência pública da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o anúncio de que uma vítima de Cordero levará o Brasil à corte interamericana auspiciam que a responsabilidade internacional do Estado poderá ser invocada em caso de omissão. Por outro lado, por força do princípio da jurisdição penal universal, outros países já deflagraram ações contra torturadores brasileiros.

Apesar de tudo, o governo brasileiro está dividido. No julgamento da ação bravamente movida pelo Ministério Público Federal contra o general Ustra, a atuação da Advocacia Geral da União foi constrangedora. Os políticos favoráveis ao julgamento levam a pecha de revanchistas. Seria também revanche o sentimento a mover os 400 juristas que assinaram o manifesto em prol do debate público nacional sobre a Lei de Anistia, lançado em 28/8/08, no pátio da Faculdade de Direito da USP? E as 3.500 pessoas de 38 diferentes países que se somaram à Campanha Internacional pela Extradição de Cordero?

No programa para crianças que anima na rádio Justiça ("Aprendendo Direitinho"), o ministro Eros apresenta-se como vovô Grau. Em breve, ele terá de contar aos netinhos-ouvintes uma história sobre terríveis condores, disfarçados de cordeiros e passarinhos. Que seja bem contada e sem páginas arrancadas, que a trama não se passe numa ilha e que, ao final, prevaleça a justiça.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Cobertura das eleições é tema de Simpósio em Campina Grande

www.paraibaonline.com.br

Da Redação
A relação entre a Mídia, Política e Cidadania na Paraíba é o tema do I Simpósio Mídia, Política e Cidadania: eleições 2008, que acontece amanhã (19), na cidade de Campina Grande. Jornalistas e professores irão discutir qual a verdadeira participação midiática no processo eleitoral, analisar esta relação, dando ênfase ao processo eleitoral acontecido recentemente.
O evento acontecerá em dois ambientes, a abertura acontece no Centro de Tecnologia Educacional, antigo Museu Vivo da Ciência, às margens do Açude Novo, a partir das 9h da manhã, a tarde a programação prossegue, a partir das 14h, na Faculdade Cesrei. À noite o debate de encerramento acontece novamente no Centro de Tecnologia Educacional, a partir das 19h. Este evento é uma promoção da Universidade Estadual da Paraíba, em parceria com a Faculdade Cesrei.
O evento será oferecido de forma gratuita e não está restrito somente aos estudantes e profissionais da imprensa, mas é aberto a toda comunidade que tenha o interesse em discutir e esclarecer os acontecimentos políticos recentes.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

SIMPÓSIO MÍDIA, POLÍTICA E CIDADANIA: ELEIÇÕES 2008

SIMPÓSIO MÍDIA, POLÍTICA E CIDADANIA: ELEIÇÕES 2008
Realização: DECOM/UEPB e Faculdade CESREI
Data: 19 de Novembro de 2008
Local: Campina Grande-PB

Apresentação

Realizado pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Cultura e Desenvolvimento do
Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba (DECOM/UEPB) e Centro de Educação Superior Reinaldo Ramos (Faculdade CESREI).
O evento se destina à análise e ao debate da relação mídia, política e cidadania na Paraíba, com ênfase para a cobertura jornalística das recentes Eleições Municipais de 2008.
A pretensão é lançar as bases para a consolidação do Simpósio Internacional Mídia, Política e Cidadania, cuja preocupação essencial será fomentar, logo imediatamente a cada pleito eleitoral, a avaliação crítica por parte da comunidade acadêmica, profissionais de comunicação e outros segmentos da sociedade do papel da mídia na democracia contemporânea.

Programação

9h – Centro de Tecnologia Educacional
Abertura: Mídia, Política e Cidadania: Eleições 2008
Profª Drª Elizabeth Christina de Andrade Lima (UFCG)
Mediador: Prof. Dr. Luiz Custódio da Silva (UEPB)

9h30 – Centro de Tecnologia Educacional
Mesa-Redonda: Tendências e Perspectivas da Mídia e da Política na Paraíba
Arimatéa Souza (Jornal/TV Paraíba)
Cícero Félix (A União)
Elizabeth Christina de Andrade Lima (UFCG)
Gilbergues Santos Soares (UEPB)
Iolanda Barbosa da Silva (UEPB)
Lucas Sales (9idéia)
Pedro Cezar Pereira Coelho (Instituto 6-Sigma)
Mediador: Rosildo Brito (CESREI)

14h – Faculdade CESREI
GTs: Mídia, Política e Cidadania: estudos e pesquisas
Pesquisadores convidados (UEPB/CESREI/UFCG/FIP/UFPB)

19h – Centro de Tecnologia Educacional
Debate: Cobertura Jornalística às Eleições 2008
Agnaldo Almeida (Jornal O Norte/TV Tambaú)
Anchieta Araújo (DB/TV Borborema/CESREI)
Arquimedes Castro (Campina FM)
Josusmar Barbosa (Jornal da Paraíba)
Helder Moura (Correio da Paraíba/TV Correio)
Luís Torres (ClickPB/TV O Norte)
Rubens Nóbrega (Correio da Paraíba)
Mediador: Cidoval Morais de Sousa (UEPB)

domingo, 16 de novembro de 2008

AS FERIDA QUE NUNCA CICATRIZAM

Em mais um bom artigo Clóvis Rossi trata do falso dilema imposto à sociedade brasileira pelos que, por motivos diversos, querem colocar a questão da revisão da lei da Anistia e da punição aos torturadores na vala comum do que é ou não terrorismo. Enquanto os arquivos da ditadura não forem abertos, para que se saiba bem quem cometeu determinados crimes, ficaremos discutindo em circulos sobre o que é ou não terrorismo.


CLÓVIS ROSSI e "As feridas imprescritíveis"

FOLHA DE SÃO PAULO 16/11/2008 - No aparente afã de contraditar a ministra Dilma Rousseff, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, acabou é reforçando a argumentação de Dilma, para quem tortura é crime imprescritível.

Diz Mendes que terrorismo também é crime imprescritível. Se é assim, terrorismo de Estado é igualmente crime imprescritível -e o que aconteceu no Brasil nos anos 60 e 70 foram os dois tipos de terrorismo, o da luta armada e o do aparelho repressivo.

Se alguém tem dúvida, basta ler os indispensáveis livros de Elio Gaspari sobre o período militar. Ou interpretar a atitude da Advocacia Geral da União de assumir a defesa de dois oficiais do Exército acusados de praticar torturas. Se assumiu a defesa, a AGU está dizendo implicitamente que ambos agiram de acordo com uma política de Estado e, portanto, não tem como omitir-se na defesa.

Não fosse política de Estado e, sim, desvio de conduto funcional, a AGU teria recusado a causa.

Teorias e interpretações à parte, há fatos concretos ultra-conhecidos: se é terrorismo -e é- matar um soldado (Mário Kozel Filho) que estava de guarda à porta do então 2º Exército, também é terrorismo matar um preso sob guarda do Estado (caso do jornalista Vladimir Herzog, um entre muitíssimos).

Portanto, se crime de terrorismo é imprescritível, cabe punir os casos de terrorismo de Estado, até porque há uma nítida diferença entre um terrorismo e outro: boa parte dos que praticaram terrorismo contra o regime já foi punida -às vezes dentro da lei, não raro à margem dela (caso Herzog, para citar de novo apenas um deles).

Já os que praticaram terrorismo de Estado não tiveram punição. Pode-se até discutir a conveniência político-institucional de salgar feridas a esta altura. O que não se pode é insinuar reabrir algumas, sem reabrir também as outras.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Armas e votos ou a vitória de Pirro da democracia.

No artigo abaixo analiso esta última eleição. Na verdade, analiso algumas questões sobre o atual estágio da democracia brasileira a partir de fatos da última eleição.
Não cito nada sobre a "festa da democracia" em Campina Grande. Esse "show de horrores" que tivemos precisa ser bem avaliado (diria repensado), em princípio, por quem o patrocinou.
O que eu tinha a dizer sobre as nossas eleições o fiz nas minhas participações, durante a eleição e principalmente nos dias que antecederam o 2° turno, em vários veículos de comunicação do Estado da Paraíba. Em todos dizia estranhar bastante a carnavalização da eleição e me colocava preocupado com o acirramento da disputa, com o clima de guerra que se estabeleceu em Campina Grande.Também, deixavo claro (e é disso que trato no artigo) os perigos de utilizar as Forças Armadas para assegurar um procedimento democrático.


Pirro, general grego, disse ao ganhar a Batalha de Ásculo que outra vitória desta e ele estaria perdido. Referia-se ao alto número de homens que perdera e a não ter mais onde recrutar soldados. Como Pirro (que ganhou, mas não levou) a democracia brasileira venceu a disputa contra a ditadura. Observando a realidade, constato o alto preço que pagamos para termos uma democracia.


Deixo claro que a mais deficiente das democracias é sempre melhor do que a mais eficiente das ditaduras. No entanto, atento para a (falta de) qualidade de nossa democracia. Certo, não temos, neste momento, ameaças de um revés autoritário. Mas, isso é tudo? Nossa democracia tem seríssimas deficiências que esta eleição fez aflorar. Senão, vejamos.


Em períodos eleitorais ouvimos que a democracia brasileira está consolidada. Afirma-se que eleição é a festa da democracia. Como assim?! Eleição é o processo pelo qual escolhemos nossos representantes. Simples assim. Por que, depois de tantas eleições, com alternância no poder (condição necessária, apesar de insuficiente, para se ter democracia), continuamos a tratar este momento como algo inusitado? Temos eleições a cada dois anos, mas elas são aguardadas e tratadas como um evento raro, como se fossem um cometa que nos visita a cada cem anos.


A realidade desmente os incautos que assodadamemte proclamam o que estamos distantes de sermos. Fatos ocorridos durante esta eleição devem inquietar-nos. Questionemos, p. ex., a presença das Forças Armadas nas ruas no dia da eleição. Se estamos em uma sólida democracia, são os votos que asseguram as armas ou são estas que dão sustentação aqueles?


Em 11 de setembro a Folha de São Paulo mostrava que traficantes e milicianos usavam uma “tabela” com valores a serem pagos por candidatos que desejassem cabalar votos nos domínios deles. Os valores iam de 10 a 30 mil reais e se referiam à taxa para que se pudesse adentrar nas comunidades. Para as atividades de campanha foram definidas quantias específicas. Mais, a mão-de-obra utilizada pelos candidatos teria que ser contratada, por R$ 100, na própria comunidade (vetava-se o emprego de moradores de outras áreas). Pelo mesmo valor se poderia colocar faixas ou placas nas casas e até mesmo adesivos em carros. Surgiu até a figura do "Gato placa". Candidatos a vereador, com parcos recursos, pagavam entre 50 e 70 reais para que moradores responsáveis pelas placas de candidatos mais ricos vigiassem também o seu painel. "Gato placa" surgiu do termo "gato" (furto de energia elétrica) e é uma variação do "gato-net", furto de sinal de TV a cabo.


Esses “serviços” são fornecidos pelos que controlam as comunidades. Na falta de instituições formais eficientes, que provenham ordem e segurança e que assegurem os direitos do cidadão, surgem instituições informais, i.e., procedimentos criados e sancionados fora do aparelho de Estado, que mediante resultados eficazes cumprem o papel que deveria ser do próprio Estado.


Isso levou a convocação das Forças Armadas. A declaração do ministro Carlos Ayres Brito, presidente do TSE, foi de uma sinceridade assustadora. Ele justificou a convocação do Exército admitindo a quebra do Estado de Direito, pois (SIC) "esses grupos querem o poder e, para isso, se apoderam da coletividade periférica e tentam impor o curral fechado. Se a Justiça permitir que atuem livremente, será o mesmo que rendição”. Como em um estado de guerra, para evitar que a sociedade e o Estado rendam-se perante um inimigo bem mais poderoso, clama-se pelas Forças Armadas que, sabemos, não tem treinamento adequado para atividades de segurança pública.


Foi sob a alegação de garantir a circulação de candidatos que vimos tropas federais ocuparem 27 "currais eleitorais". Três dias antes da eleição do 1° turno 4.300 homens, 20 blindados, 200 veículos e 6 helicópteros adentraram no Complexo do Alemão. Para que um procedimento democrático (eleição) pudesse ocorrer foi preciso o uso do poder armado. Um preço nada barato para uma democracia que claudica sob os efeitos de 20 anos de uma Constituição que, se avançou no quesito direito social, se mantém aferrada aos tempos da ditadura com a presença de entulhos autoritários como os artigos 142 e 144.


É preciso atentar para a gravidade desse estado de coisas. Tínhamos, premidos pela nossa realidade, nos acostumado em ver as tropas federais agindo na segurança pública. Mas, dessa vez extrapolou-se todos os limites. O Exército foi às ruas para "garantir o ir e vir de candidatos e da imprensa", para citar uma frase do governador Sérgio Cabral do Rio de Janeiro.


O estado de direito no Brasil é tão frágil que precisa das Forças Armadas para garantir princípios e direitos básicos do cidadão, como o de ir e vir e o de expressar suas opiniões políticas.


É por reconhecer isso que Sérgio Cabral afirmou que quer tropas federais para "o combate à criminalidade e para tranqüilizar a sociedade". Insaciável, ele quer o Exército fazendo o papel de polícia após as eleições. Convenhamos, o governador foi sincero. Preocupado com seu futuro político (existe a possibilidade de ser o vice de Dilma Roussef nas eleições de 2010) ele confessou que não tem condições da assegurar a vida e o direito de ir e vir dos cidadãos cariocas.


O cientista político norte-americano Scott Mainwaring, em um artigo intitulado “Classificando Regimes Políticos na América Latina” define que democracia é o regime político que (1) promove eleições competitivas, livres e limpas para o legislativo e o executivo; (2) pressupõe uma cidadania adulta abrangente; (3) protege as liberdades civis e os direitos políticos; (4) os governos eleitos de fato governam e os militares estão sob controle civil.


Sugiro, caro leitor, que verifique (empiricamente) se pelo menos metade dessas condições existem de fato em nosso sistema político. Se chegar às mesmas conclusões a que venho obtendo proponho que leia o artigo “Teoria Democrática e Política Comparada” do cientista político Guilhermo O’Donnell (disponível no
http://www.scielo.br) e que, se já não o faz, passe a encarar eleições como o que elas realmente são – o processo pelo qual escolhemos nossos representantes.



Postscriptum:

Acabo de receber o "The Economist Intelligence Unit’s Index of Democracy - 2008". É um índice que avalia o atual estágio da democracia em 165 países, i.e., cobre a população de quase todo o mundo. Ele confirma uma tendência global - após uma década em que a democracia se expandiu, temos agora um processo estacionário. Comparando os resultados desta 2ª edição com os da 1ª (2006) vemos um padrão dominante de estagnação. Mesmo não tendo uma tendência de regressão, há poucos exemplos de melhorias significantes.
O índice está baseado em cinco categorias: processo eleitoral e pluralismo; liberdades civis; funcionamento do governo; participação política; cultura política. Os países são colocados dentro de quatro tipos de regimes: democracias consolidadas; democracias falhas (ou rachadas, de acordo com a tradução literal); regimes híbridos; regimes autoritários.
Corroborando com minha análise, o Brasil ficou na classificação de democracia rachada – algo que contraria a idéia de consolidação de nossa democracia.


Novembro/2008.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE AS ELEIÇÕES 2008

Este artigo da Profª Elizabeth Christina aborda a eleição para prefeito de Campina Grande pelo ângula que a tornou, digamos, pitoresca. Na verdade, a tal "festa da democracia" foi um show de horrores que precisamos digerir com calma. Sugiro que leiam, despido de preiconceitos e paixões.

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE AS ELEIÇÕES 2008
Por Elizabeth Christina de Andrade Lima - Professora da UFCG

Passada mais ou menos a euforia da vitória em segundo turno das Eleições Municipais na cidade de Campina Grande, acreditamos ser necessário fazer algumas rápidas reflexões sobre a disputa eleitoral travada pelos candidatos.


Refletiremos aqui não como cidadã, eleitora ou comentarista política, mas como antropóloga e estudiosa da relação entre Cultura, Mídia e Política. O que assistimos na Campanha de 2008, e já iniciada na Campanha de 2004, foi o coroamento da espetacularização da política e da personificação dos personagens políticos.


Para nos determos apenas aos dois principais candidatos, Rômulo Gouveia e Veneziano Vital, o que vimos foi à encenação e a teatralização do poder. De um lado, um candidato que vestiu muito bem o personagem de Common man ou homem comum, ou homem ordinário; aquele que vive igual a todo mundo, que conhece a todos e que tem uma vida extremamente rotineira, nos ditames do equilíbrio e da conciliação; de outro, o popstar, o homem charmoso, narcísico e que se sustenta, principalmente, em nome de sua beleza, dotes físicos e poder de sedução.


Os dois, cada um com seu estilo e performance, buscaram insistentemente conquistar o voto do eleitor; promoveram passeadas, caminhadas de bicicletas, expuseram ao máximo seus dotes e resistências físicas, como condição para administrar a cidade. O espetáculo e a encenação de personagens esteve o tempo inteiro exposto à curiosidade, deleite e sedução do eleitor.


E de tanto estandartizarem e provocarem tais diferenças, o common man e o popstar, produziram uma triste campanha na cidade. Triste porque conseguiram despertar nos eleitores àquilo que o ser humano tem de mais pernicioso e deplorável em seu espírito: às rivalidades, os revanchismos, os preconceitos e as discriminações de classe, de orientação sexual, de raça, de gênero, de corpo, de crença religiosa, só para citar algumas.


Nessa campanha teve espaço para tudo: para o aparecimento e da luta entre o bem e o mal, Deus e o Diabo, magros e gordos, bonitos e feios, heterossexuais e homossexuais, a luz e as trevas, o ungido e o satânico.


Um dos pressupostos mais caros à cultura e a Antropologia, é a busca incessante da garantia do respeito à diversidade e a negação de todo e qualquer tipo de discriminação social e vimos aflorar durante toda a campanha, exatamente o oposto: o que foi visto foi à reprodução da discriminação e do desrespeito à figura humana, ao cidadão, ao homem público, a res publica ; "as favas com a moral e com a ética".


O público eleitor deleitou-se enormemente com as músicas de campanha, sem saber talvez que ali estava caçoando também de sua própria mãe ou pai obeso, do seu irmão ou amigo homossexual, do seu tio ou primo adeptos do candomblé, do seu vizinho negro, pobre ou deficiente. Que pena que os candidatos permitiram que suas campanhas fossem animadas com letras de músicas tão deprimentes, tão desrespeitosas, tão contrárias ao estímulo e ao respeito à diversidade cultural.


O que vimos foi o estabelecimento das discórdias e desentendimentos entre familiares, cônjuges, amigos, vizinhos; a cidade literalmente entrou em guerra, a disputa não foi meramente uma disputa eleitoral, baseada nas diferenças partidárias, ideológicas e programáticas, a disputa foi muito mais complexa e antidemocrática, pois subtraiu do eleitor aquilo que lhe é mais caro: o direito de ouvir propostas e escolher os candidatos a partir desses expedientes. Ao incitar, literalmente incitar, enquanto estratégia política, a guerra, a discórdia e o preconceito, o que vimos foi o esvaziamento do discurso político e da verdadeira prática democrática.


Diríamos por último, para não mais nos alongarmos, que Campina ficou menos democrática nessas eleições e que quem na verdade venceu as eleições foi o espetáculo da política. Tomara que tenhamos dias melhores e que a paz volte verdadeiramente a reinar entre os cidadãos, também já tão cansados de encenar.


E aqui vale sempre a defesa: viva o respeito à diversidade!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Explicando o sistema eleitoral norte-americano.

A depender das pesquisas e das torcidas, Obama vencerá a eleição nos EUA. De Fidel Castro a Nicolas Sarkozy, passando por Bono Vox (U2) e de amplos setores da imprensa, da economia e da política mundial, todos aderiram à onda Obama. Suscitam-se duas questões: entender o sistema eleitoral norte-americano e o que esperar do novo presidente.

Primeiro a explicação, depois o comentário.

Tomemos a Califórnia, que envia 55 delegados ao Colégio Eleitoral. Quem ganhar a eleição aí leva todos os 55 votos. Vencer em um estado significa ter a maioria simples dos votos. Não importa que se ganhe num estado com uma diferença de 100 ou 100.000 votos. O vencedor leva tudo. Ao final das apurações, por estado, somar-se-ão os números de delegados dos estados onde Obama ganhou, fazendo-se o mesmo com McCain. Quem primeiro atingir a quantia de 270 delegados (i.e., metade mais um do total de 538 delegados) vencerá.

O número de delegados que cada estado envia ao Colégio Eleitoral é o equivalente ao total de representantes de cada um no Congresso Nacional. Se um estado tem 13 deputados e 2 senadores, ele envia 15 delegados. Lembrando que é através das primárias, feitas nos 52 estados, que os partidos definem seus candidatos. Os americanos não são obrigados a votar, mas cerca de 130 milhões comparecerão as urnas – algo notável, considerando que os americanos não são muito afeitos a exercitarem o voto.

O sucessor de George Bush terá que lidar com a ampla desconfiança interna e externa em torno do Estado norte-americano. Terá que resolver em definitivo se retira ou não as tropas do Iraque e tomar medidas drásticas contra a recessão. Ainda, decidir se reverte ou não os enormes benefícios fiscais que Bush concedeu aos mais ricos e aplacar o déficit público recorde que certamente limitará projetos em áreas como saúde, educação e na busca por energias renováveis.

Obama pode se tornar o primeiro presidente negro dos EUA. As pesquisas indicam que ele deve ter uma margem confortável acima da metade dos 538 delegados do Colégio Eleitoral. McCain pode se tornar o presidente mais velho a assumir um primeiro mandato e sua vice, Sarah Palin, a primeira mulher vice-presidente. Isso tudo traz emblemas para a eleição. Mas, nada será mais significativo se em um dos países mais racista e conservador do mundo, for eleitor um negro. É como se os vascaínos elegessem um flamenguista para ser seu presidente.

Acertadamente, Obama diz que McCain representa o 3º mandato de Bush e a continuidade de uma perigosa política belicista. Já McCain diz que Obama não tem experiência com questões internacionais e com a administração pública. Ele, também, está certo. McCain representa mais do mesmo e Obama é bem mais a vontade dos americanos (e do mundo) de que as coisas melhorem. Ele é uma aposta de médio prazo e como tal pode ou não dar certo.

As conjunturas e os interesses econômicos sempre se sobrepõem à ideologia dos partidos. Os EUA possuem doutrinas que orientam sua política externa, em que pese existirem, também, os corolários que adéquam doutrinas às conjunturas. Foi o caso da Política da Boa Vizinhança (na 2ª Guerra Mundial) em relação à Doutrina Monroe (“a América para os americanos”).

Agora, temos um fator conjuntural preponderante - a crise financeira. O vencedor adequará sua ideologia para evitar que o país mergulhe numa crise só comparável a de 1929 e deve adotar uma agressiva política externa protecionista. Questões como imigração e relações comerciais com outros países devem ficar em segundo plano - a tônica será os problemas internos.

Quem torce por Obama, achando que ele fará uma política externa mais favorável aos países em desenvolvimento, não deve esquecer que a pressão interna é pelo fechamento do mercado americano e que provavelmente o novo presidente governará com um Congresso majoritariamente composto por democratas que, em geral, adotam posturas protecionistas.

O presidente Lula disse que acha extraordinário ter um negro presidente dos EUA. O Itamarati, óbvio, afirmou a neutralidade do governo brasileiro. Mas, Lula (visitando Cuba) destacou a “mensagem de mudança que Obama traz”. Ele deve ver em Obama algo próxima a si mesmo. Ambos, pela origem, contrariam regras e costumes e ocupam lugares historicamente reservados para a elite branca e conservadora.

Racionalmente, a postura de esperar o resultado é ainda a melhor. McCain e Obama podem tanto favorecer como contrariar a política externa brasileira. Sendo os republicanos, em geral, favoráveis ao livre mercado McCain poderia ser útil ao Brasil em relação ao comércio e à redução dos subsídios agrícolas nos EUA. Mas, Obama tem uma postura de respeito as causa ambientais e defende o desarmamento. Pontos que o Brasil tem defendido junto aos organismos internacionais.

Prudente, neste momento, é não aceitar a espetacularização da eleição promovida por alguns setores da imprensa dos EUA e alhures.

Esclarecimento:
Os americanos estão, também, elegendo o Congresso Nacional. Em disputa todas as 435 vagas da Câmara Federal e 35 das 100 cadeiras do Senado. Os democratas possuem, hoje, a maioria e esperam repetir a dose aproveitando-se dos índices de rejeição a Bush e da provável vitória de Obama.


Ter a maioria no Congresso significa facilidades para o presidente aprovar seus projetos. Se um dos dois partidos consegue ser majoritário pode impedir que o outro (minoritário) faça obstruções regimentais. Se o partido majoritário não é o do presidente, das duas uma: ou faz acordos com a Casa Branca ou enfrenta os vetos presidenciais. É o que tem acontecido no governo Bush em relação a impostos e guerras.

Os democratas ganharam o controle do Congresso na eleição de 2006, já sob os efeitos da impopularidade do presidente, mas os republicanos conseguem obstruir parte da pauta democrata. É o sistema denominado de pesos e contrapesos que garante uma efetiva separação dos poderes. Algo bastante diferente do Brasil, onde o presidente legisla, por meio de Medidas Provisórias, e o Judiciário faz o papel que deve ser feito pelo Congresso.

Novembro/2008.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Lula e seu governo conquistam mais lugares na história do que a história esperaria

O estranhamento é geral. Enquanto alguns setores do governo querem que os torturadores do período militar sejam punidos, por entender que tortura é um crime contra a humanidade e não um crime político e por isso não deve ser passível de anistia, o Presidente Lula, escudado pelo Ministro da Defesa Nelson Jobim, manda que a AGU (Advocacia Geral da União) defenda Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Maciel (militares acusados de cometerem crimes de tortura).
A questão é: O QUE, OU QUEM, DETERMINOU QUE LULA JOGASSE DE VEZ SUA BIOGRAFIA NA LATA DO LIXO?
Abaixo, duas matérias sobre a questão.

FOLHA DE SÃO PAULO -02/11/2008.
JANIO DE FREITAS - Lugares muito especiais na história

Lula pôs um pedregulho sobre assuntos de tortura, desaparecimentos, Araguaia e os arquivos da ditadura. Lula e seu governo conquistam mais lugares na história do que a história esperaria.

O GOVERNO Lula deu dois passos de gigante, nos últimos dias, em direção aos postos mais destacados em duas galerias da história: uma, a das grandes fugas de governantes ao seu dever de justiça e compostura; outra, a das improbidades elaboradas no próprio cerne dos governos.

O Brasil é réu em processo na OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington, acusado de proteger praticantes de tortura, assassinatos e desaparecimentos de presos políticos, assim transgredindo convenção de que é signatário e a jurisprudência internacional que define tais práticas como crimes contra a humanidade e imprescritíveis.
Em todas as muitas oportunidades de assumir sua responsabilidade, a palavra pessoal dada e o dever de evitar que o Brasil figure como exceção desmoralizante, Lula pôs um pedregulho sobre os assuntos de tortura, desaparecimentos, Araguaia e arquivos da ditadura. O processo na OEA, portanto, não atinge só o país, alcança Lula e a desavisada imagem externa de que tanto cuida. É o que explica sua prometida ação, de volta do giro caribenho, de procurar uma "solução intermediária" no confronto, dentro do próprio governo, que consolidou a decisão de processo na OEA.
Não é caso de saída pela tangente, porém. A Advocacia Geral da União, inovando na sua finalidade, assumiu a defesa dos militares praticantes ou mandantes dos crimes da repressão ditatorial, dando a anistia como impeditiva de qualquer sentença contra os coronéis Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel, em processo que lhes move o Ministério Público sobre indenização de vítimas. Já o secretário de Direitos Humanos, o determinado Paulo Vannuchi, e o ministro da Justiça, Tarso Genro, defendem posição equivalente à do Centro de Justiça e Direito Internacional (Cejil, na sigla em inglês), que na acusação ao Brasil sustenta não ser possível, pela jurisprudência e acordos internacionais, a prescrição dos crimes contra a humanidade, como o de tortura e suas conseqüências.
O advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, nomeado por Lula e dado como seu preferido para a próxima vaga no Supremo Tribunal Federal, torna-se merecedor do apoio militar para a possível nomeação. E, à margem dessa possibilidade, já a concordância dos que acham necessário evitar desagrado às Forças Armadas, como Lula mesmo tem evidenciado. O que leva a certas perguntas: se forem desagradados, neste ou em outro assunto, o que é imaginado que os militares façam em represália? Não são democratas? Não seriam inúteis algumas reflexões governamentais sobre tais questões, porque, se bem que a OEA deteste fazer mais do que política, a posição do Brasil não é tapeável com facilidade. Inclusive por força do valente depoimento de um procurador da República, Marlon Weichert, que não poupou verdades.
No ramo fértil das improbidades e sua galeria, cada centímetro que o governo avança, contra a proibição legal de compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar, expõe um grau de desfaçatez sem precedente. Se um ou outro já teve competidor, e não o conheço, a série por certo é única. Trata-se agora da integração de dois diretores da Brasil Telecom no Conselho Consultivo da Anatel, a Agência Nacional de Telecomunicações, que vota e processa as manobras, na área governamental, da transação que ficou proibida para evitar posições monopolistas e forçar a concorrência.
Lula e seu governo conquistam mais lugares na história do que a história esperaria.


31/10/2008 19:34:32
Redação CartaCapital

Esquentou a queda-de-braço dentro do governo em torno da responsabilização dos militares e policiais que assassinaram, torturaram e participaram do desaparecimento de presos políticos durante a ditadura. Na segunda-feira 27, o ministro Paulo de Tarso Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, ligada à Presidência da República, afirmou que voltará à “sociedade civil”, caso prevaleça no governo a posição da Advocacia-Geral da União (AGU) na ação que envolve os coronéis da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Maciel, comandantes do DOI-Codi no período de 1970 a 1976.
O Ministério Público Federal (MPF) aponta Ustra e Maciel como responsáveis pela tortura e morte de 64 presos políticos e pede que esses reembolsem a União pelas indenizações pagas às famílias das vítimas. O MPF também acusa o Estado de omissão por não buscar na Justiça o ressarcimento das indenizações pagas, uma atribuição constitucional da AGU.
Em sua contestação à ação do MPF, a Advocacia-Geral afirma que a Lei de Anistia, de 1979, isenta os militares de responsabilidade legal pelos crimes cometidos. E atribui a responsabilidade pelas indenizações ao Congresso, que aprovou a lei sobre o tema. Considera ainda que prescreveu, em 1996, o prazo para o ressarcimento à União. Por fim, a AGU acata a tese de que não existem mais os arquivos relativos à repressão. Deveriam tornar-se públicos, segundo o MPF.
Em linhas gerais, a contestação apresentada pela AGU abraça a tese defendida por setores das Forças Armadas, sob o comando do ministro da Defesa, Nelson Jobim, principal interlocutor, nos bastidores do Planalto, dos que preferem “passar uma borracha” no período da repressão. Procurada por CartaCapital, a AGU preferiu não se manifestar.
Em reunião extraordinária, realizada na quarta-feira 29, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, também ligada à Presidência, divulgou nota repudiando a iniciativa da AGU. “A comissão manifesta a sua indignação em relação às afirmações feitas pela Advocacia-Geral da União. Convidada a alinhar-se com o Ministério Público, a União preferiu assumir postura que beneficia os torturadores. Ao agir assim, a AGU procurou isentar aqueles que foram chefes do mais famoso centro de torturas do País de devolver à União as indenizações pagas às famílias dos que ali foram mortos sob tortura”, escrevem os integrantes da comissão.
A nota encerra-se com uma referência ao discurso do presidente Lula, em que ele afirma que o País “precisa dessa verdade”. A afirmação foi feita durante o lançamento do livro Direito à Memória e à Verdade, editado pela secretaria comandada por Vannuchi e lançado em agosto deste ano.
No mesmo dia em que a nota foi publicada, o Ministério da Justiça vazou à imprensa um relatório encaminhado à Casa Civil, em que critica a atuação da AGU, por ter “avançado” indevidamente no tema da prescrição dos crimes da ditadura. Militantes dos Direitos Humanos também saíram em defesa de Vannuchi. “A tradicional conciliação na política brasileira acaba de revelar sua face mais perversa e repulsiva. É eticamente inaceitável que a União venha a assumir a defesa destes e não da dignidade do povo brasileiro”, escreveram a socióloga Maria Victoria Benevides e o professor de Direito da USP Fábio Konder Comparato.
Em Washington, a atuação da AGU foi relatada à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), durante uma audiência que ouviu o procurador da República Marlon Weichert, um dos autores da ação contra os militares, o governo brasileiro e a ONG Centro de Justiça e Direito Internacional (Cejil). A audiência buscou elementos para o relatório que será produzido pela comissão da OEA, a respeito das garantias dadas pelo Estado brasileiro aos direitos humanos.
“A posição da AGU está em desacordo com os tratados internacionais e com o que se passa nos demais países da região. A contestação é um ‘tiro no pé’, já que abre margem para o Brasil ser levado à Corte Internacional de Direitos Humanos da OEA, pois deixa claro que o Estado não cumpre com as suas obrigações”, afirma a socióloga Beatriz Affonso, da Cejil, uma das depoentes na audiência.

domingo, 2 de novembro de 2008

Vem aí Lívia!!!!!!!!!


Vem aí, mais uma superprodução minha!!!!!
Lívia, vem trazendo muita alegria e a certeza de que a vida se renova sempre.
Ela vem para demonstrar que a vida vale a pena sim. São as crianças que marcam nossa existência e não outras obras que, mesmo importantes, passam.


quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Index da democracia

Os resultados do "The Economist Intelligence Unit’s Index of Democracy - 2008" confirmam que, seguindo uma tendência global, após uma longa década em que a democracia se expandiu pelo mundo agora temos um processo estacionário. Comparando os resultados da Edição/2008 com aqueles presentes no Índice de 2006 percebe-se um padrão dominante de estagnação. Embora não se veja uma tendência de regressão, há poucos exemplos de uma melhoria significante. A crise financeira global poderia ameaçar democracias em algumas partes do mundo.

Esta é a 2ª edição do índice de democracia do "The Economist Intelligence Unit’s" que reflete a situação da democracia no mundo a partir de setembro de 2008. O Índice traz uma espécie de instantâneo do atual estágio da democracia mundial em 165 países, i.e., cobre a população de quase todo o mundo.

O índice está baseado em cinco categorias: processo eleitoral e pluralismo/ liberdades civis/ funcionamento do governo/ participação política/ cultura política.

Os países são colocados dentro de quatro tipos de regimes: democracias consolidadas/ democracias rachadas ou com falhas/ regimes híbridos/ regimes autoritários.

PS: O Brasil ficou na classficação de democracia rachada - algo que requer uma análise, pois é paradoxal o Brasil ser assim classificado se a idéia corrente é que nossa democracia está consolidada.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Cientistas políticos em ação.

Até o início desta década não era comum cientistas políticos aparecerem na mídia fazendo análises da realidade política regional, nacional e internacional. Víamos pessoas que, mesmo fazendo boas análises, não dispunham do arsenal teórico-medológico que a Ciência Política dispõem para, por exemplo, analisar um processo eleitoral, uma crise institucional (como o mensalão), questões como a Reforma Política e acontecimentos como as intervenções das Forças Armadas na segurança pública. Com o desenvolvimento da área no Brasil, nós, os cientistas políticos, passamos a ter o reconhecimento da mídia e a ter um tipo de intervenção que só contribui para o esclarecimento à sociedade de questões de difícil compreensão como a fidelidade partidária, eleições proporcionais, cláusula de barreira, a relações legislativas, o complicado sistema eleitoral norte-americano, etc. Tratamos basicamente das questões relativas ao Estado e da problemática que envolve a democracia. Num artigo, intitulado "Em defesa da política e de alguns princípios" (http://www.paraibaonline.com.br/colunista.php?id=62&nome=Em%20defesa%20da%20Política%20como%20Ciência%20e%20de%20alguns%20princípios&imagem=/chamadas/gilbergues_santos2.jpg), desenvolvo argumentos acerca desta questão. Agora mesmo, eu e o também cientista político Fábio Machado estamos desenvolvendo, junto a vários veículos de comunicação (TV's, rádios e sites) uma intensa atividade de análise política sobre o processo eleitoral para os executivos municipais. Abaixo reproduzo um desses momentos:

Especialista defende que coligações firmem pacto pela não agressão e retomem discussões importantes


Da Redação - http://www.paraibaonline.com.br/noticia.php?id=613067&ano=2008

Ao analisar o acirramento das disputas e as agressões mútuas entre os candidatos verificadas no segundo turno das eleições de Campina Grande, o professor e cientista político Fábio Machado (foto) defendeu que as coligações devem firmar um pacto pelo fim da agressividade no pleito. Ele lembrou que as acusações têm tomado o tempo dos debates, em detrimento das discussões sobre os problemas do município. "Penso que as assessorias e o grupo de coordenadores das campanhas teriam essa prerrogativa, de fazer um pacto. E externamente acho que o papel do Ministério Público está correto" – discorreu Fábio, sobre a iniciativa do MP em proibir os debates e a veiculação do guia eleitoral até o final da campanha. Em entrevista à Rádio Campina FM, o professor lembrou que as acusações feitas entre os prefeitáveis “resvalam na agressividade”. “É importante que os assessores e coordenadores de campanha revejam essa postura até o final da campanha, e passemos a utilizar o espaço como uma atividade cívica, e não como uma guerra”, complementou.


Cientista político constata desequilíbrio emocional das eleições em Campina

Da Redação - http://www.paraibaonline.com.br/noticia.php?id=612874

O professor e cientista político campinense Fábio Machado (foto), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), alertou para os prejuízos causados pelo desequilíbrio emocional, verificado durante o segundo turno das eleições municipais em Campina Grande neste ano.
De acordo com ele, os candidatos e partidários estão esquecendo a “racionalidade da política” e caindo no campo das emoções e paixões. "O que está ocorrendo em Campina é o lado da emoção, da paixão ao extremo. E interessa ao eleitor o que o candidato quer fazer, as propostas. Claro que não vamos ser ingênuos de imaginar uma campanha que não tenha essa dimensão da paixão, agora você não pode fazer disso moeda corrente" – avaliou Fábio, em entrevista à Rádio Campina FM, nesta quarta-feira (22). Para o professor, “é pernicioso quando você tem um desequilíbrio do processo”. Conforme Fábio Machado, a cidade está dividida e desde o primeiro turno já apontava para o lado emocional. “Isso afeta a qualidade das discussões. É necessário que os candidatos retomem o lado mais estratégico e racional da campanha”, enfatizou.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

FESTA DA DEMOCRACIA OU CLIMA DE GUERRA EM CAMPINA GRANDE?

Venho algum tempo tratando das deficiências de nossa (semi)democracia. Ao contrário de muitos, não acho que temos o que comemorar os 20 anos da Constituição (cidadã?) de 1988, pois se ele avançou nos direitos sociais, manteve prerrogativas que os militares tinham durante a ditadura, basta ver os artigos 142 e 144.

É com base neles que os militares federais ficam fazendo papel de polícia a todo tempo, agora mesmo virou moda pedir que o Exército intervenha nos processos eleitorais. É só ver o que está acontecendo no Rio de Janeiro e quem não quiser ir muito longe, basta ver o que está acontecendo aqui em Campina Grande. Tropas Federais vão ocupar as ruas não no dia 26, como de costume, mas já no dia 24.

Será que vão conseguir coibir a compra desenfreada de votos, as agressões de toda sorte, o uso desenfreado de álcool, etc, etc, etc?

Ou invés do voto assegurar as armas, são estas que asseguram aquele.

Em um artigo recente, intitulado "Eleições: festa da democracia ou contrato representativo?" (publicado no
www.paraibaonline.com.br), tratei de vários problemas que temos que enfrentar num período eleitoral e criticava essa visão, tosca, e amplamente divulgada que estamos na FESTA DA DEMOCRACIA.

Conseqüência natural de festas são as ressacas. Penso que é isso mesmo que teremos segunda feira que vem! Inclusive, na próxima semana, publicarei um artigo desenvolvendo essa questão.

Estava, ontem, presente na Campina FM durante o debate entre os candidatos a prefeito de Campina Grande, compondo a Comissão de Direito de Resposta, e o que vi foi uma baixaria generalizada - os candidatos se recusaram a debater e passaram o tempo todo numa troca tautológica de acusações.

Escudados por suas assessorias e seus "aguerridos" militantes, e achando pouco o que já tinha acontecido, marcaram um "encontro" na Associação Campinense de Imprensa para continuar a se agredirem. Não mediram os atos de suas atitudes e por pouco não tivemos uma situação de enfrentamento físico entre os militantes que os seguem o tempo todo.
LAMENTÁVEL!

Essas atitudes irresponsáveis e discricionárias devem ser repudiadas por todos aqueles que valorizam uma eleição como o momento de escolhermos os nossos representantes.

Clima de guerra em frente a ACI
21-10-2008 17:45:00


A discussão iniciada na tarde desta terça-feira (21) no debate da Campina FM, da rede Paraíba Sat, entre os candidatos Veneziano Vital (PMDB) e Rômulo Gouveia (PSDB) terminou na Associação Campinense de Imprensa e piorou. Se no estúdio o debate foi marcado por troca de acusações, na rua se tornou física e a polícia precisou apartar partidários que se pegaram.

O desafio feito durante o debate na Paraíba Sat, em que os candidatos apresentariam provas de suas respectivas denúncias foi levado a sério e ambos foram para o prédio, no largo do Açude Velho, em Campina Grande. Porém, como a ACI não foi avisada previamente, as portas permaneceram fechadas. Segundo o repórter Lenildo Ferreira, do Jornal da Paraíba, que está no local, o clima é de guerra e vários manifestantes já se agrediram. "A situação aqui é crítica e de muita violência", disse alarmado. Os dois candidatos, após o início das agressões físicas deixaram o bate-boca de lado e procuraram a proteção de seus correligionários.

A Justiça Eleitoral foi chamada e enviou o comando da polícia militar e o batalhão de choque para controlar a situação. Mas somente depois de três horas de confusão que nem os fiscais eleitorais, nem a polícia militar conseguiram por fim, os candidatos, convencidos pelo vereador Fernando Carvalho (PMDB), resolveram deixar o local ao mesmo tempo.

Tropas federais chegam na sexta em Campina Grande
21/10/2008 20:36:00

Da Redação

Com Assessoria do TSEO Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu enviar reforço das tropas federais para o segundo turno das eleições deste domingo (26) em Campina Grande. O Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE) solicitou o envio de forças federais para atuar na cidade de 24 de outubro até o final da apuração dos votos. Campina é a única cidade do Nordeste que não é capital a ter segundo turno, Campina Grande tem 266.516 eleitores cadastrados.

Ao todo, os ministros aprovaram o reforço na segurança pública quatro municípios neste segundo turno segundo turno das eleições para prefeito. Também contarão com reforço na segurança as cidades de Manaus (AM), Belém (PA), e Benedito Leite (MA). O governador Cássio Cunha Lima disse não ter qualquer restrição a presença de tropas na Paraíba. Ele disse que diversas ações estão programadas para estabelecer a ordem, mas está preparado para garantir com sua força policial a segurança do pleito.

http://www.paraiba1.com.br/ http://www.paraiba1.com.br/

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Como interpretar as últimas pesquisas?

O eleitorado de Campina Grande entendeu que a polarização é melhor do que a unanimidade. Ele vê como positivo ter dois grupos políticos disputando a liderança dos poderes executivo e legislativo da municipalidade. Se só um tiver a hegemonia política pode ter a sensação de que nada precisa fazer para ter a necessária legitimidade que torna a governabilidade factível.

Os grupos que protagonizam a disputa pela prefeitura estão sendo instados a entender que precisam “mostrar serviço” sob pena de perderem apoios. A população constatou que quanto mais dividida mais eles terão que trabalhar em prol da comunidade. Entendeu que ter os governos do estado e da cidade disputando, através da atuação, sua preferência é algo que só a beneficia.

Essa racionalidade eleitoral contrasta (mas não nega) o comportamento apaixonado da população campinense nos períodos eleitorais. Claro, ele é bem mais conseqüência da cultura política local do que algo demandado pelos atores e partidos políticos.

Campina Grande é, hoje, o proscênio da política eleitoral paraibana. Uma coisa é o grupo liderado pelo governador Cássio Cunha Lima estar, também, à frente do segundo colégio eleitoral do estado e outra é o grupo que lhe faz oposição ter a primazia em Campina. São cenários diferentes, com correlações de forças alteradas. E em João Pessoa, o maior colégio eleitoral estadual, Ricardo Coutinho firmou-se com uma vitória inquestionável e pode ser o fiel da balança nos próximos embates. Também é bom não desconsiderar que as relações políticas endógenas do grupo liderado pelo senador José Maranhão sofreram abalos – este não se fez presente fisicamente à campanha do prefeito Veneziano e ainda teve a defenestração do ex-senador Ney Suassuna.



Agora temos duas pesquisas que corroboram com a análise e reforçam as características desta eleição: a exacerbada polarização e a incerteza quanto ao resultado.

Pela pesquisa IBOPE temos um sintomático empate. O prefeito Veneziano Vital e o deputado Rômulo Gouveia têm os mesmos 47%. Os indecisos e os votos branco/nulo são de 3%. A margem de erro, de 4 pontos percentuais, não esclarece nada, pois os dois ficam entre 43% e 51%. Na pesquisa CONSULT temos uma diminuta diferença e uma novidade. Pela primeira vez, desde o início da campanha, Rômulo aparece na frente com 50,25% e Veneziano o segue de perto com 49,7% dos votos válidos. No entanto, a margem de erro de 3,3% mantém a incerteza.

A quem quiser desacreditar dessas aferições, recordo que elas são coerentes com o resultado do 1° turno, quando Veneziano teve 106.844 contra 104.440 votos de Rômulo. Isso corresponde a 48,88% e 47,78% dos votos válidos respectivamente.

A pesquisa CONSULT indica onde este complexo jogo poderá ser desempatado. 86,7% responderam que não mudam seu voto. 6,9% dos entrevistados (que declararam ter candidato) admitiram mudar de opinião e 3,1% disseram que, dependendo das propostas, podem mudar de idéia. É por aí que o enigma se decifra. Se somarmos o percentual dos que podem mudar de opinião com a diferença entre os candidatos, então chegamos a um valor que pode sim decidir a eleição. Simples assim, pois essa eleição será decidida nos mínimos detalhes – essa é a única certeza.

Apresentando-se repartido ao meio, o eleitorado campinense oferece aos atores políticos envolvidos na disputa uma sábia lição – a unanimidade pode até ser mais cômoda aos grupos políticos, mas não satisfaz aos interesses e necessidades de grande parte da população.



Esta análise não deve ser transposta para outros processos eleitorais em outras cidades brasileiras. Eleições locais têm características e variáveis próprias que devem ser respeitadas. Aguardarei o fim das eleições para analisar o mapa político-eleitoral brasileiro na perspectiva das eleições de 2010.

Mas, alguma coisa pode ser adiantada:

PT e PMDB deverão ser os grandes vencedores no G79, o universo composto por 26 capitais e 53 municípios com mais de 200 mil eleitores. Isso representa 46,8 milhões ou 36,4% dos eleitores do país. É o espectro que pesará nas articulações visando às eleições de 201

O PT ganhou, no 1° turno, em 13 cidades e poderá vencer em mais 7. Isso significa governar algo em torno de 8,6 milhões de eleitores. O PMDB venceu em 9 cidades e está na disputa em 12. Pode governar cerca de 15 milhões.

O PSDB ganhou em 9 municípios no 1° turno, está na disputa em 10, mas parece só ter chances de vencer em 2. Se for assim, governará 5,1 milhões eleitores, pouco para quem em 2004 tinha 17 prefeituras com cerca de 14 milhões de eleitores.

O DEM aposta na vitória de Kassab em São Paulo, para compensar o pífio desempenho que teve no 1° turno – ganhou em apenas 4 cidades do G79, o que representa 1,2 milhões de eleitores. Se ganhar em São Paulo, passará para 9,4 milhões de eleitores – algo nada desprezível.

O PV poderá ser uma grande surpresa. Venceu, no 1° turno em Natal, e pode ganhar no Rio de Janeiro – obtendo a governança sobre algo em torno de 4,8 milhões de eleitores.


Outubro/2008.