domingo, 28 de agosto de 2011

COMO É CHATO SER CHATO



Algum tempo cultivo, aqui mesmo no blog, uma “lista do bem”. São filmes, livros, músicas, i.e., tudo que me faz bem. Também criei um índex - uma lixeira virtual onde ponho o que faz com que acredite menos na humanidade. A “lista do mal” cresce, mas não ameaça qualitativamente a “lista do bem”. Porém, me agasta o fato de me desagradar com coisas de nosso tempo. Por vezes, me acho um chato que com tudo se aborrece.

Disseram-me que devo relaxar, pois não tem nada demais ver uma atração egressa da Boa Terra – é que queriam me levar a um show de Chiclete com Banana. Mas, o que posso fazer se acho esse negócio de “jogar a mãozinha pro céu” e “tirar o pezinho do chão” uma chateação? Argumentaram que não tem problema ir a um show de uma banda de pornô-forró, pois “é só para se divertir e tudo mundo gosta”. O fato, é que diversão é coisa séria e me apoquenta assistir ao show de horrores que essas bandas promovem. Irrita-me colocarem duas atrações de estilos diferentes num mesmo evento. Tivemos um show de Billy Paul em Campina Grande. Desisti de ir, pois para vê-lo teria que aturar a chateação do “pornô-music-regional”.

No índex aparecem coisas chatas relacionadas aos modismos de nosso tempo. Modismo é o que se faz e se defende sem um mínimo de senso crítico. É o que você tem que gostar sob pena de ser taxado de chato. Assim, surge aquela cantora, com uma “voz linda”, que cantou com Roberto Carlos e que Caetano Veloso disse que é boa. Pronto! Todos têm que gostar, mesmo que cante uma musiquinha chinfrim com sotaque de sertanejo. Nada pode ser mais chato!

Hoje, é moda ir para manifestações. Importa pouco se você vai para a marcha da maconha, das vagabundas, para o protesto contra Ricardo Teixeira ou para a parada gay. Importa ir e depois postar fotos em uma rede social. Não sei o que é mais chato, se o alienado individualista de direita ou o consciente social e politicamente correto de esquerda?

Outra chatice é o jantar inteligente, onde se demonstra o que se pensa saber, se bebe vinhos caros e se aprecia comida politicamente correta, além de se discutir a fome na África. Neles não podem faltar o eno-chato e o ex-guerrilheiro; socialites conscientes de seu papel social e eleitores “críticos” do PT, i.e., um monte de chatos! E tem que ter o que vai levantar a bandeira do “bom combate”: um protesto contra a poluição - todos irão de bicicleta para o trabalho. Uma chatice só!


Chatice incomensurável é ter a política como nefasta. Chatos de todos os matizes discursam enfurecidos, se pondo como apolíticos. São os “puros de alma” que esquecem que a dimensão política existe de fato. No entanto, temos os chatos politizados. Além do ecologista de gabinete e do esquerdista pós-neoliberalismo, existe o moderno reacionário, que quer ser novo conservando velharias. Rafinha Bastos disse que “para a mulher feia o estupro é uma benção”. Já o teólogo Luiz Felipe Pondé disse que “a mulher enruga se não tiver um homem que a trate como objeto”. Qual a diferença deles para Paulo “estupra, mas não mata” Maluf? São todos reacionários, sendo os dois primeiros modernos. E o que dizer da deputada Myriam Rios que fala de sexualidade como se estivesse na alta Idade Média? E o guru do obscurantismo nacional, o inquisidor-mor Jair Bolsonaro, racista e homofóbico a defender os “direitos da família brasileira”? São todos chatérrimos!

Marcelo Semer os definiu, no Terra Magazine, como os “quixotes sem utopias, denunciando quem contesta seu direito líquido a propagar preconceitos”. Sob a fajuta justificativa que é preciso tirar as pessoas da zona de conforto, essa gente desanca quem defende os valores universais da liberdade e da igualdade. Veja-se que nas eleições passadas o Estado laico foi destronado em nome de interesses obscuros, estultos, por modernos reacionários. A caixa de Pandora da intolerância foi aberta. Espero que seja fechada para as próximas eleições.

Sigo, assim, desgostando dessa chatice toda. Já senti culpa, ficando deslocado, por não gostar de algo que todos gostam. Aliás, escrever um artigo falando dessas coisas é uma grande chatice!


Agosto/2011.

sábado, 6 de agosto de 2011

É Chico na veia!



Comprei o disco novo de Chico Buarque, intitulado “Chico”, acabou de chegar, estou escutando! Já sei que vai ser um daqueles discos que vou ouvir várias vezes no mesmo dia, durante dias a fio, até que as pessoas reclamem que está demais. Acho que vai ser igual a quando comprei “Infinito Particular” de Marisa Monte.

Música, poesia, lirismo, arranjos muito bem cuidados, a voz de Chico está soando macia.
É a velha simplicidade sofisticada de Chico em ebulição!
Tudo muito bem equilibrado.

Tem uma música, chamada “Tipo um baião” (um baião bem light), onde ele homenageia Gonzagão.
Tem outra, “Barafunda”, que ele cita a Penha e a Glória (do Rio de Janeiro), fala de Garrincha, Pelé e Zizinho; fala de Cartola e Mandela, e diz que “... salve este samba antes que o esquecimento baixe seu manto”.

Em “Sem você 2”, Chico confessa (de peito aberto) o que todo homem que gosta de futebol sabe e quase nunca diz: “Pois sem você, o tempo é todo meu, posso até ver o futebol”.

Versos belíssimos, como, por exemplo, em “Querido Diário”:
“Hoje afinal conheci o amor
E era o amor uma obscura trama
Não bato nela nem com uma flor
Mas se ela chora, desejo me inflama”

É Chico em sua plenitude.
É Chico colorido como o encarte do Disco.
É Chico mostrando que “... já valeu a pena”.
É Chico na veia!!!!