sexta-feira, 31 de outubro de 2014

AÉCIO – A ANATOMIA DE UMA DERROTA


O caro ouvinte sabe quem é a estudante Ana Claudia Maffei? Não? Pois é, até o começo da noite de domingo passado, Ana Claudia era uma ilustre desconhecida do Brasil inteiro. Mas, a partir da segunda, ela ficou sendo conhecida como a “musa da derrota”. Ana Claudia é aquela moça que foi flagrada, aos prantos, na sede do PSDB, em São Paulo, após a derrota de Aécio Neves na eleição presidencial. Ana Claudia disse que seu choro foi de “frustração por saber que chegamos tão perto e não conseguimos”. Ana Claudia tem apenas 22 anos. Com o idealismo e a ingenuidade naturais de sua juventude ela disse: “Não vai ser agora. Meu sonho de país foi adiado”. Certo, a que se ter todo respeito pelas lamúrias de Ana Claudia.

Afinal, não é fácil aceitar a derrota quando se esteve tão perto da vitória. Alguém me falou que preferia ter perdido a eleição já no 1º turno, por uma grande diferença, a ter alimentado tantas esperanças por um resultado positivo. Aliás, esse foi o problema. O marketing de Aécio Neves alimentou a esperança de uma vitória, quando a derrota era plausível, durante quase toda campanha. Aécio só ocupou o 1º lugar nas pesquisas já no 2º turno e mesmo assim sempre dentro das margens de erro, com empates técnicos. Quando a marolinha de Marina Silva se tornou um tsunami, Aécio patinou e foi aos 15 pontos percentuais.  A entrada de Marina revolveu a disputa ao ponto de Aécio se desesperar e até considerar desistir da disputa. Isso foi entre agosto e setembro.

Na época, o jornalista Gerson Camarotti publicou, no Portal G1, que Aécio ponderava desistir diante da queda nas pesquisas e das dificuldades de seu candidato em Minas, Pimenta da Veiga, que terminou perdendo a eleição para o PT ainda no 1º turno. Aécio temia perder em seu estado, o que de fato aconteceu. Esse foi o problema bem explorado pelo marketing de Dilma Rousseff. É que se o senador não conseguiria vencer em seu Estado, em sua região, como poderia vencer, por exemplo, no Norte/Nordeste? Aquela agressiva peça publicitária do PT, que dizia “Quem conhece o Aécio, não vota nele”, funcionou porque o PSDB não tinha como se contrapor ao fato de que em Minas Gerais Aécio não conseguia ter o suficiente desempenho para derrotar o PT.


Uma avalição pós-eleitoral dá conta que Aécio ganhou em Estados onde seus aliados estavam bem situados. Jornalistas “tucanizados” dizem que Aécio ganhou em São Paulo, por exemplo, por causa do capital eleitoral de Alckmin, não por ele próprio. Beto Richa, governador reeleito pelo PSDB no Paraná, mostrou que a votação de Aécio, no 2º turno, foi quase a mesma que ele teve para se eleger no 1º turno. Situação parecida aconteceu em Goiás, onde o PSDB também ganhou a eleição estadual. Outro fator que ajuda a explicar a 4ª derrota seguida, do PSDB sobre o PT, foi a condução da própria campanha. O FLA X FLU PT/PSDB se ancora, em grande medida, na influência que Lula e FHC possuem nesse processo que já dura 20 anos.

Lula demorou a entrar na campanha, mas quando o fez foi de forma decisiva. No 2º turno, lá estava Lula pelos palanques, nas atividades de rua, e no guia eleitoral, garantindo que Dilma receberia parte de seu capital eleitoral. Já FHC não entrou em campanha, por preferir os bastidores. Ele não aparecia no guia eleitoral e muito menos ia as ruas. Sem contar que ainda foi capaz de atrapalhar ao dizer que os eleitores de Dilma são a parcela menos informada da população. Uma boa explicação veio do núcleo do PSDB mineiro. O antropólogo Renato Pereira, que conduziu a campanha de Aécio até dezembro, afirmou que o erro maior foi os tucanos nunca terem saído da zona de conforto, não terem corrido riscos.


Renato afirmou que o PSDB manteve-se fiel a sua feição patrimonialista com uma campanha focada nos acordos político-partidários. Aécio falava para os aliados. Aqui mesmo na Paraíba, Aécio se dirigia sempre ao seu aliado Cássio Cunha Lima. Já Dilma cumpria o receituário de que candidato firma acordo com o eleitor. Outro erro foi explorar o apoio de celebridades desmioladas e figuras sem a mínima estatura moral, para pedir seja lá o que for para quem quer que seja, a exemplo de Lobão e Neymar. Para ficar num exemplo, como se pode permitir que o ex-jogador Ronaldo, aquele que disse que “não se faz Copa do Mundo com hospitais”, estivesse tanto ao lado de Aécio? Se uma vitória se faz com acertos, uma derrota se faz com erros.

Erros graves de Aécio foi ter dito que Armínio Fraga seria seu Ministro da Fazenda, lembrando aos eleitores o período inflacionário comandado pelo economista, e ter chamado Dilma de leviana. Pareceu que ele estava chamando a presidente, uma senhora, de “mulher da vida”. Por vezes, Aécio parecia o “candidato de um discurso só” ao explorar de forma tão insistente o envolvimento do PT com os casos de corrupção. É que esse discurso não é propositivo, ele se aloca no campo das denuncias. É certo que parte da sociedade comprou a ideia de que não reeleger Dilma significaria livrar o Brasil das garras do PT, mas a outra parte da sociedade questionava se estaríamos melhor caso nos livrássemos do PT. Pensado bem, Ana Claudia chorou ao se dar conta que sua causa era frágil.

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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

DILMA – A ANATOMIA DE UMA VITÓRIA.

Se a final da apuração dos votos da eleição presidencial, no domingo passado, tivesse sido como uma final de Copa do Mundo, com direito a prorrogação e pênaltis, ainda assim teríamos tido mais emoções. Quem disse que a política não pode ser empolgante? É que com a diferença de fuso horário entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste, além do horário de verão, o TSE adotou a estratégia de só liberar os dados da apuração quando toda a votação já tivesse sido encerrada em todo o país. Fazíamos, aqui neste estúdio da Campina FM, a cobertura da apuração da eleição estadual, sabíamos que a apuração nacional estava sendo feita, mas não acessávamos os dados. Ouvíamos o canto da sereia, sem saber ao certo onde ela estava.


Quando finalmente o TSE liberou os dados, quase 90% dos votos tinham sido apurados, mas mesmo assim ainda não se podia afirmar quem seria o eleito. Só foi possível ter certeza que Dilma Rousseff estava reeleita com quase 98% dos votos apurados. Foi um processo difícil, como de resto à própria campanha eleitoral. Vejam que os três principais candidatos (Dilma, Aécio e Marina) estiveram sempre naquela estreita fronteira onde para ir do céu ao inferno basta dar um pequeno passo. Aécio Neves, que obteve quase 49% dos votos válidos, que esteve virtualmente eleito em boa parte da apuração, chegou a pensar em desistir de sua candidatura, entre agosto e setembro, quando a marolinha de Marina Silva parecia um tsunami.


Entre março e setembro Dilma liderou quase todas as pesquisas, mas isso não nos diz muito, pois quando chegou o 2º turno a ameaça de uma derrota era real e eminente. Ainda me pergunto como Dilma pode ganhar e/ou como Aécio pode perder? É que a conjuntura política e econômica era tão desfavorável que nem o petista mais otimista afirmava com certeza absoluta que Dilma ganharia. A máxima de James Carville, assessor de Bill Clinton, “É a economia, estúpido!”, nunca esteve tão em voga. Dilma enfrentou uma campanha com a inflação em alta lhe pesando as costas. Ela não conseguia ser otimista, no guia eleitoral, pois seu Ministro da Fazenda, Guido Mantega fazia tábula rasa de uma crise econômica que afeta a todos, o Brasil inclusive.


Quando, no guia eleitoral, Aécio Neves perguntava às donas de casa se elas percebiam a alta dos preços, ao irem ao supermercado, a estrela vermelha se balançava toda. O marqueteiro de Aécio foi tolo em não querer usar o efeito James Carville. Ainda houve a tragédia do Mineirão, quando a “copa das copas” foi soterrada pela montanha de gols que a Alemanha fez no Brasil. A sorte de Dilma é que a vergonha foi tão grande que todo mundo quis esquecer logo, inclusive a oposição. Claro, tinha, ainda tem, os problemas advindos do fato de que os partidos brasileiros, o PT, inclusive e principalmente, não conseguem atuar unicamente na faixa da legalidade. Quando começou a jorrar da Petrobras toda a sujeira a oposição se aproveitou.


Aliás, se aproveitou, mas sempre com algum receio, pois quem tem mensalão de vidro não pode atirar pedras no mensalão alheio. Aliás, foi por esse viés que Dilma pode ter um de seus melhores momentos nos debates. Quando Dilma disse que, em seu governo, pessoas do seu partido tinham sido condenadas e que os tucanos envolvidos em escândalos de corrupção estavam todos soltos, deu prova inequívoca que as manchetes da Revista Veja são pouco confiáveis. Esse foi um dos grandes trunfos de Dilma nesta eleição. Ao contrário de Lula, a presidente conseguiu convencer boa parte da população sobre sua seriedade e sinceridade quando o assunto é corrupção.


 
Aquele jeito de “mãezona durona” passou credibilidade para boa parte da população. E isso não sou eu que estou dizendo, são as pesquisas qualitativas manuseadas pelo marqueteiro de Dilma. Claro, não podemos negar a força dos programas sociais, principalmente o “Bolsa Família” e o PRONATEC. Dilma venceu bem no Norte/Nordeste porque são nos estados dessas regiões onde o governo mais investe em programas sociais. A despeito do que pensa a elite quatrocentona de São Paulo, o povo reconhece em Dilma a efetivação desses programas. Dilma ia quase sempre mal nos debates ao ponto de ter tido uma oscilação em sua pressão arterial em um deles. Com aquelas pausas intermináveis, e uma certa gagueira, Dilma conseguiu, ao seu modo, passar credibilidade.


João Santana, marqueteiro de Dilma, descobriu que é melhor deixar os defeitos a mostra do que tentar escondê-los. Ao se mostrar inteira, Dilma reforçava o arquétipo da “mãezona durona”, mas se apresentava real, humana, igual aos eleitores. Claro, a entrada, mesmo que tardia, de Lula na campanha agregou o valor que se esperava. Quase 40% dos votos de Dilma ainda são fruto da transferência de seu mentor politico. Coisa que Dilma não nega, pelo contrário, agradece. No FLA X FLU entre PT e PSDB Dilma se diferencia não apenas por ser mulher, mas por mostrar uma firmeza, que beira ao autoritarismo, incomum no mundo masculinizado da política. Pois é, bem vinda sós vos, Dilma, entre os homens.


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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CÁSSIO, A ANATOMIA DE UMA DERROTA.


As eleições desse ano, no Estado da Paraíba, entrarão para nossa história política por um fato representativo, que promete ter implicações futuras. Eu falo da primeira derrota sofrida pelo senador Cássio Cunha Lima em toda sua carreira política. Desde que Cássio se elegeu deputado federal constituinte, em 1986, com apenas 23 anos de idade, nunca havia perdido uma eleição sequer. É certo que ele sofreu reverses eleitorais apoiando pessoas do seu próprio grupo político.  Nas eleições de 2004 e 2008, Cássio apoiou Rômulo Gouveia, com todo seu prestígio político, e viu seus principais opositores, do PMDB, elegerem Veneziano Vital em seu reduto eleitoral, Campina Grande, também conhecida como a “ilha tucana”.

A quem diga que foi neste processo que Cássio começou a experimentar o desgaste político que agora parece ser mais nítido. Obviamente, não podemos esquecer a cassação de 2009, algo que abateu o senador e o marcou profundamente. A eleição de 2010, quando Cássio teve mais de um milhão de votos para o senado, compõe essa carreira com bem mais altos do que baixos. O fato é que desde a cassação o senador tem ido e voltado ao inferno dos políticos com a questão da Lei da Ficha Limpa. Este ano, o senador se lançou candidato ao governo. Acreditava que poderia apagar a tal cassação de seu currículo se voltasse, eleito, claro, a ocupar o cargo de governador. Lêdo engando, tem coisas que ficam marcadas para o resto da vida na carreira de um politico.

Poucos duvidariam que com aquela estrondosa votação para o Senado, Cássio não pudesse se candidatar e ser eleito. Supor que aquele um milhão de votos, lá de 2010, se transfeririam automaticamente para a eleição desse ano, foi o primeiro erro de Cássio. É que cada eleição tem sua própria dinâmica. Em 2010, muitos paraibanos entenderam que votar em Cássio era uma forma de inocentá-lo. Mas, a mãe de todos os erros de Cássio foi interromper a aliança politica com o governador Ricardo Coutinho. Aquilo que deveria acontecer apenas em 2018 foi precipitado para atender alguns interesses paroquiais e a um sentimento de vingança que, definitivamente, não combina com uma atividade extremamente racional como a política.

Cássio seria o candidato natural, inconteste, na eleição para o governo de 2018 que não poderia ter um candidato do calibre de Ricardo Coutinho. Em 2018, Cássio concorreria sem ter um oponente à altura, pois Ricardo estaria pleiteando uma cadeira ao Senado. O segundo erro de Cássio foi supor que, rompendo com Ricardo, levaria consigo uma legião de aliados e eleitores. Ele rompeu, mas quem ficou com no governo foi Ricardo que soube se utilizar das vantagens de ser governador e candidato ao mesmo tempo. Cássio perdeu muitos votos com aquilo que soou como uma brutal incoerência. Muitos não aceitaram o fato dele ter pedido para que se gostasse de Ricardo, em 2010, e agora ter pedido para que se odiasse o governador.

Vi e ouvi muita gente dizer que os motivos que levaram Cássio romper com Ricardo eram só dele, que não poderiam ser estendidos para seus eleitores. Boa parte dos eleitores não aceitou que Cássio lhes pedisse de volta aquilo que transferiram em 2010. Nessa campanha vimos um Cássio Cunha Lima atípico. No lugar daquele politico centrado, com um discurso bem articulado, com plenos poderes no trato com as massas, vimos alguém por vezes evasivo em suas respostas. O discurso de Cássio foi pré-produzido e não sofreu mutações durante o processo. Aliás, o formato midiático da campanha foi engessado por um modelo, que já deu certo em outras épocas, mas que se mostrou frágil frente às inovações apresentadas por Ricardo.
 
Nessa eleição, vimos um Cássio quase sempre irritado, impaciente. É como se ele não estivesse querendo mais cumprir o ritual que tão bem desempenhou em outros momentos. Cássio fez essa campanha bem mais com o fígado do que com o cérebro. Acompanhei debates (no rádio e na TV) bem de perto e vi um Cássio Cunha Lima no limite de suas forças e bastante intranquilo, ao contrário de um Ricardo Coutinho que surpreendeu pela simpatia, pela calma e paciência em lidar com as pessoas. O terceiro erro de Cássio foi ter subestimado seu eleitorado. Já vai um pouco distante o tempo em que a massa eleitoral deixava-se guiar pelo líder sem lhe oferecer o benefício da dúvida. Hoje, as massas até se deixam manobrar, desde que conscientes disso.

Os políticos não entendem que a massa eleitoral tem vida própria mesmo que aceite a liderança de alguém. Sim, persistem os mecanismos de controle do líder sobre a massa, mas ela pode ou não deixar-se manobrar a depender das conjunturas. Até este ano, Cássio Cunha Lima ainda não tinha sido testado nas urnas enfrentando um adversário realmente a sua altura e com qualidades que ele mesmo não possui. Ricardo Coutinho se mostrou este concorrente e Cássio não soube lidar com isso. Com tudo isso, estou querendo dizer que Cássio Cunha Lima está enfrentando o ocaso de sua carreira? Não, em absoluto. Outros processos virão para que possamos verificar mais e melhor o que por ora é tão somente uma derrota como outra qualquer.

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terça-feira, 28 de outubro de 2014

RICARDO, A ANATOMIA DE UMA VITÓRIA.


Ricardo Coutinho foi reeleito, para governar a Paraíba entre 2015 e 2018, com 1.125.956 votos contra 1.014.393 votos de Cássio Cunha Lima. A diferença foi de 111.563 votos. O caro ouvinte/leitor, por favor, guarde bem este número, pois ainda precisaremos dele. A vitória do governador foi robusta. Se no 1º turno Ricardo havia ficado em 2º lugar, com aqueles 28.388 votos de diferença para Cássio, agora a virada foi absoluta. Claro, eu estou falando da vitória nas urnas, pois sempre se pode esperar um 3º turno judicial.

No 1º turno, Ricardo ganhou em 99 municípios paraibanos contra 124 cidades onde Cássio ganhou. Agora tivemos uma inversão. Ricardo foi mais bem votado em 117 cidades contra 106 de Cássio. Percentualmente falando, Ricardo teve 52.61% dos votos válidos e Cássio teve 47.39%. Em termos percentuais, esta diferença foi de 5.22%. Guarde, também, esse percentual, pois é ele que nos explica porque Ricardo, afinal, ganhou a eleição.

Nos dois turnos Ricardo venceu em João Pessoa e Cássio ganhou em Campina Grande. Inclusive, uma reportagem do UOL/FOLHA chamou Campina de “ilha tucana”. É que nossa cidade foi a única da Paraíba onde Cássio e Aécio ganharam nos dois turnos. Um dos dados que explica a vitória de Ricardo é que em João Pessoa o governador aumentou a diferença de votos para Cássio entre o 1º e 2º turnos. No 1º turno a diferença foi de 76. 253 votos, aumentando para 90.774 votos no 2º turno. Já em Campina Grande a diferença encurtou. No 1º turno, Cássio teve 63.854 votos a mais do que Ricardo e no 2º turno teve 56.609 votos a mais. Ou seja, Ricardo aumentou sua vantagem em seu reduto eleitoral e diminuiu sua desvantagem no reduto de Cássio.

Mas, vejamos onde foi que Ricardo buscou os votos necessários para ultrapassar Cássio e ganhar a eleição. Elementar, meu caro ouvinte. A virada eleitoral de Ricardo se ancorou nos votos que o PMDB lhe transferiu do 1º para o 2º turno. Senão, vejamos. Lembra aquela diferença de 111.563 votos que Ricardo teve sobre Cássio ao final do 2º turno? Sabe de onde ela veio? Dos votos que Vital Filho teve. O senador do PMDB terminou o 1º turno com exatos 106.162 votos ou 5.22% dos votos válidos. Coincidência ou não 5.22% foi a diferença de Ricardo para Cássio como já vimos. É bom lembrar que PSOL e PSTU se declaram neutros no 2º turno e que o PROS, do Major Fábio, declarou apoio a Cássio. Ou seja, daí não deve ter saído votos para Ricardo.

O PMDB transferiu boa parte seu capital eleitoral do 1º turno para Ricardo. A família Vital, José Maranhão e outras lideranças foram à luta em favor de Ricardo neste 2º turno. Vejamos, por exemplo, o caso da cidade de Guarabira. Lá, Cássio ganhou no 1º turno com uma diferença de 2.560 votos e perdeu no 2º turno com uma diferença de 1.331 votos. Aí tivemos, sim, o efeito PMDB com o trabalho do ex-governador Roberto Paulino. Isso significa que o PMDB vai fincar sua presença no 2º governo de Ricardo e cobrar reciprocidade do governador nas eleições municipais de 2016 pelo Estado afora, principalmente em Campina Grande e em João Pessoa.

Não fosse o PT e o PMDB Ricardo provavelmente teria perdido. O benefício disso é que o governador poderá ter uma relação mais equilibrada com a Assembleia Legislativa em 2015, ao contrário do que foi até agora. O custo disso é que a fatura do PMDB e do PT, já naturalmente alta, vai crescer exponencialmente. Não vai faltar quem queira lembrar a Ricardo que se não fosse o PMDB e o PT ele não conseguiria seu segundo mandato. Mas, Ricardo teve, sim, seus próprios méritos nessa vitória. O primeiro deles foi ter mantido a avaliação positiva de seu governo sempre em alta, mesmo quando os índices de rejeição lhe desafiavam. Outro mérito de Ricardo foi ter conseguido entender o dilema dessa eleição. O governador viu o desejo de mudança do eleitor e viu, também, que o eleitor estava disposto a aceitar que a situação propusesse essa mudança. Ricardo soube como ninguém lançar mão da absurda vantagem de ser candidato a reeleição sem precisar se afastar do cargo de governador. Ele foi paulatinamente fazendo a transição do governador/candidato para o candidato/governador.  

Outro fator determinante foi que Ricardo fez uma campanha inovadora em termos de formato midiático em oposição à campanha eleitoral de Cássio Cunha Lima que não soube se renovar, que usou e abusou dos velhos clichês midiáticos. Um exemplo disso foi a sacada marqueteira de transformar um discurso de Ricardo em um rapp. Ricardo aparecia no guia eleitoral discursando sob efeitos sonoros que atraiam o eleitorado, pois tornavam dinâmico o que tinha tudo para ser monótono. Ricardo, bem assessorado que foi, nos dava a impressão de ser a candidatura nova desafiando as velhas estruturas de poder. Parecia, por vezes, não ser o candidato à reeleição. Dessa forma, impunha a Cássio o perfil da candidatura velha, atrasada. Aqui, tratei da vitória de Ricardo Coutinho. Amanhã, trato da derrota de Cássio Cunha Lima e, na sequencia, farei o mesmo em relação a Dilma Rousseff e Aécio Neves. 

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domingo, 26 de outubro de 2014

HOJE É A FESTA DA DEMOCRACIA? NÃO, HOJE É O DIA DA ELEIÇÃO!


Hoje é domingo, é dia de eleição. Alias, não seria melhor que a eleição acontecesse em outro dia da semana? Pois domingo é um dia para ficar em casa, com a família, descansando. O domingo existe para que fiquemos desacelerados nem que seja torcendo para que ele acabe logo. Não que eu não goste de votar. Na verdade, não se trata de gostar ou não. Trata-se, de realizar um direito, eu diria mesmo cumprir um dever. Certo, mas hoje é domingo e tem eleição. Estamos agora nos preparando para ir às urnas. Para votar é preciso não esquecer algumas coisas. Primeiro, claro, ninguém pode deixar de levar consigo o titulo de eleitor.

É preciso não esquecer que hoje vamos escolher as pessoas que vão executar nossos interesses e direitos, além de nossos deveres. É sempre bom lembrar que nosso sistema político dá aos eleitos uma liberdade de ação inimaginável. Por isso eu sugiro que você, caro ouvinte, guarde num lugar seguro aquela colinha que levou para votar. Procure não esquecer, pelos próximos quatro anos, em quem votou. É que se você não lembra em quem votou como vai poder cobrar alguma coisa de alguém. Eu sei que muita gente prefere mesmo é esquecer em quem votou por ter vendido o voto a um candidato desqualificado. É que corrompido e corruptor sabem bem que estam fazendo algo errado, então é melhor esquecer.

É que na relação de compra e venda do voto, aquele que vendeu é tão responsável quanto o que comprou. Imagine quando você entra num supermercado para adquirir um iogurte. Após efetuar o pagamento, este produto pertence exclusivamente a você. Ao pagar, você adquiriu o direito de fazer o que bem quiser com ele, inclusive derramá-lo na pia de sua cozinha. Quando você vende seu voto para um político esta fazendo uma transferência de propriedade, assim como o iogurte que se compra. O político pode fazer o que quiser com os votos que pagou para ter, até jogá-los fora depois de eleito. Se você já vendeu seu voto, paciência. Se ficou a noite passada, pelas calçadas, esperando que viessem comprar seu voto, não adianta fazer mais nada.
 
Aos olhos do politico que comprou seu voto você não representa absolutamente mais nada. Se você trocou seu voto por um saco de cimento, por tijolos, remédios e consultas médicas, por gasolina, ou seja lá o que for, saiba que ele está perdido. O comprador fará com seu voto o que bem quiser. E, lamento informar, pelos próximos quatro anos você não poderá fazer nada. Não adianta reclamar, dizer que todo político é ladrão. Vai ter que esperar a próxima eleição para, quem sabe, adotar outra postura. Se você conseguiu 200 ou 300 votos para um candidato em troca de um emprego público, de um cargo de assessor ou mesmo de substancial quantia em dinheiro aí, não tem jeito, não dá para saber se nesta relação você é vendedor ou comprador.

Se você é do tipo de eleitor que não vende o voto e que já sabe bem em quem vai votar, além de estar consciente de sua escolha, ótimo, isso é muito bom. Fossem todos os eleitores como você, teríamos um sistema político robusto e respeitável. Se você está, ainda, indeciso não precisa se preocupar ou mesmo se culpar, pois é melhor ter dúvidas, ficar indeciso, do que votar no primeiro político que bateu a sua porta. Estar indeciso não é ruim. Significa que você oferece o benefício da dúvida aos candidatos. E, cá entre nós, tem que ser assim mesmo, pois vamos entregar o cofre de nosso Estado e do nosso país para um desses candidatos, então se permita as dúvidas que bem quiser.

 

Na eleição vale a regra do trânsito que diz na dúvida não ultrapasse. Se você segue com dúvidas, se os candidatos não foram capazes de tirá-las, na urna tem opção para o eleitor indeciso. Quando você sair de casa, em direção ao seu local de votação, poderá ver homens armados, com roupas verdes, camufladas. Não se preocupe, eles não estam indo para uma guerra. É que nossa democracia é tão frágil que precisa da força para se sustentar. Eu tenho uma sugestão.  Afaste-se dos que encaram a eleição como uma festa, pois amanhã eles terão esquecido tudo que aconteceu hoje. Convém evitar contato com os que dependem da vitória de um candidato para sustentarem a si e a sua família.

Como eles estam lutando pela sobrevivência são capazes de tudo. Eles podem ficar raivosos se, por exemplo, perceberem que o candidato deles vai perder a eleição. Esse tipo de eleitor encara a eleição como uma luta de vida e morte. Eu sei que dar um conselho é coisa de grande responsabilidade. Mas, eu vou correr o risco. Não discuta com quem quer que seja porque esta pessoa votou em um adversário de seu candidato, pois os adversários de hoje podem ser os aliados de amanhã. Nunca, nunca mesmo, discuta com um idiota, por causa do resultado da eleição, pois ele lhe fará descer ao nível dele e, por certo, ganhará a parada por ter bem mais experiência do que você.

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sábado, 25 de outubro de 2014

IDEIA LIVRE - DEBATE SOBRE AS ELEIÇÕES. PARTE 1.





Este foi um programa IDEIA LIVRE, pela TV ITARARÉ, diferente. Não tivemos uma pessoa, no centro do debate, sendo entrevistada. Dessa vez, o jornalista Anchieta Araújo mediou um debate com a presença dos professores Fábio Machado (cientista político, da UFCG), Rostan Melo (jornalista e doutorando em Ciências Sociais pela UFCG) e Wanderlan
Silva (sociólogo e antropólogo, da UFCG).


No debate, do qual também participei, pudemos discutir o atual processo onde Cássio Cunha Lima e Ricardo Coutinho disputam o governo do Estado da Paraíba e Dilma Rousseff e Aécio Melo concorrem a presidência da República. Foi uma discussão muito rica, pois tivemos tempo suficiente para explorar questões como a reforma política, a influência das mídias (principalmente das Redes Sociais) na eleição, a questão dos debates eleitorais, a participação dos candidatos, dentre outras coisas
relevantes. Aqui temos a primeira parte do debate.

IDEIA LIVRE - DEBATE SOBRE AS ELEIÇÕES. PARTE 2

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

COM QUANTOS FATOS SE FAZ UMA ELEIÇÃO?















Faltam dois dias para a eleição do 2º turno. A indefinição quanto ao resultado das eleições permanece, mas temos alguns fatos acontecendo, ou por acontecerem, que podem ajudar a definir o cenário ou terminar por confundi-lo de vez. O TSE resolveu combater a baixaria promovida pelos candidatos. Por baixaria, entenda-se a situação em que limites éticos, morais ou estéticos são desrespeitados. O TSE quis fazer uma verdadeira cirurgia plástica na propaganda eleitoral. Como a suprema corte eleitoral tem mais é que zelar pelo bom andamento do processo, aparou minutos do guia eleitoral, de Dilma e Aécio, na vã tentativa de conter os ânimos dos candidatos. A ideia era trazê-los para o lugar onde a insanidade não tem vez.

Certo, o TSE está cumprindo seu papel. Mas, porque tão tardiamente? Porque só intervir no vale tudo eleitoral na última semana de campanha? O presidente do TSE, Ministro Dias Toffoli, parece mesmo não acreditar na eficácia das medidas. Ele até propôs que o TSE fique em sessão permanente, até à tarde do sábado, de forma que possa julgar aqueles recursos de última hora, provenientes da veiculação das últimas propagandas eleitorais que irão ao ar ainda na sexta-feira.  Dias Toffoli disse que possíveis direitos de resposta podem ir ao ar no sábado à noite, i.e., poucas horas antes das urnas serem ligadas. Para o ministro este mecanismo seria um “detector de metais, caso os candidatos decidam ir ao baile do risca-faca”.

Dias ToffoliÉ temerário que o TSE use seu “detector de metais” apenas nos últimos momentos antes do portão do baile da democracia ser fechado. Imaginem se um candidato consegue veicular um último direito de resposta já na metade da noite do sábado? Imaginem se este direito de respostas tiver conteúdo altamente explosivo? O que poderá acontecer a partir das 08 horas da manhã do domingo? Não seria mais prudente que as atividades de campanha midiáticas fossem encerradas na sexta-feira à noite? Esse ativismo da justiça eleitoral não incentivaria candidatos e partidos, derrotados nas urnas, a buscarem um terceiro turno judicial? Num país de instituições políticas tão frágeis, às vezes é melhor fechar o portão do baile do risca faca de uma vez só.

O Datafolha da quarta viu Dilma avançando sobre as classes C e D, onde está mais de um terço do eleitorado brasileiro, e viu Aécio perdendo pontos. Foi exatamente neste setor que Marina começou a perder sua vaga para o 2º turno. O Datafolha viu que Aécio manteve seus bons percentuais nas classes A e B e que Dilma estacionou neste setor. Isso pode nos dar alguma pista, porque as classes sociais do Brasil fazem suas escolhas eleitorais a partir do bolso. Nunca esqueçamos que existem variáveis como inflação, crescimento econômico e desemprego que costumam corroer capitais eleitorais. Mas, o Datafolha viu que 50% dos eleitores de Dilma acreditam que a economia vai melhorar.

Viu que 08% são pessimistas quanto à saúde de nossa economia, que 36% acreditam que o desemprego vai cair e 43% que a inflação cai também. Interessa ver que esses percentuais quase se repetem entre os eleitores de Aécio. O dilema eleitoral pode mesmo vir a se resolver pelo viés econômico. O Datafolha viu a rejeição de Aécio subir, de 37% para 41%, e a de Dilma descer, de 49% para 45%, nos municípios com mais de 500 mil habitantes. Isso importa, pois sabemos bem que são nos grandes e médios centros urbanos onde está o grosso do eleitorado. O staff de Aécio aposta muito no debate da Rede Globo de logo mais a noite. O que se avalia é que o formato do programa, com aquelas intermináveis idas e vindas entre o palco e o assento dos candidatos, favorece Aécio por ser mais jovem do que Dilma.

O marqueteiro de Aécio, Paulo Vasconcelos, diz que o senador leva vantagens no gestual e na desenvoltura. João Santana, marqueteiro de Dilma, até reconhece isso, mas lembra que a força de sua candidata está no conteúdo que ela consegue apresentar. No debate a correlação entre conteúdo e forma existe. Mas, vão longe os dias em que debate resolvia eleição. É que indeciso que se preza não se deixa convencer por um debate. No Brasil, indeciso que é indeciso vai com suas dúvidas até a urna. Em Goiás, temos a insegurança eleitoral de sempre. O TRE indeferiu o registro da candidatura de Antônio Gomide (PT) ao governo do Estado. Mas, o indeferimento não impediu que ele disputasse o 1º turno, quando obteve 10% dos votos válidos.

A questão, claro, vai rolar pelos tribunais. O problema é que se a candidatura de Gomide for mesmo inválida seus votos se tornam nulos, favorecendo o candidato a reeleição Marconi Perillo que alcançaria a metade mais um dos votos válidos ainda no 1º turno. Do contrário, se a candidatura de Gomide for mantida, o 2º turno entre Perillo e Iris Rezende deve mesmo acontecer. Isso tudo não seria problema se não estivéssemos a apenas 48 horas da eleição. Assim, o eleitor vai às urnas sabendo que sua decisão pode ser revertida nos tribunais. Isso gera insegurança institucional e faz o eleitor não confiar no sistema politico eleitoral que temos. Assim o eleitor se pergunta para que, afinal, deve votar?

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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

HABEMUS IMPERIUM?

A expressão “Habemus Papam” (“Temos um Papa") é pronunciada pelo cardeal mais velho da Igreja Católica para que se anuncie que um novo pontífice foi eleito. Isso acontece depois que a chaminé da Capela Sistina expeli aquela fumaça branca. No próximo domingo, por volta das 20 horas, já poderemos anunciar que “Habemus Imperium”, i.e., poderemos dizer que já temos uma nova autoridade constituída para as Unidades da Federação e para nossa Unidade Política, chamada Brasil. Enfim, teremos definido a instância máxima da administração executiva no Estado e no país. Faltam 72 horas para as eleições do 2º turno e a semana está terminando, como começou, em relação às pesquisas eleitorais e a movimentação dos candidatos.

A opinião corrente é que as eleições, estadual e a presidencial, estam indefinidas. Isso é certo, não só pelo que nos dizem as pesquisas, mas, principalmente, pela movimentação que se pode ver nas ruas. Hoje, não se pode afirmar que “Habemus governum”. Hoje, somos uma sociedade dividida. Existe uma bipolarização não apenas entre candidaturas, mas entre projetos político-econômicos, ideias, valores, interesses, gostos e tudo o mais que o caro ouvinte puder imaginar. Mas, isso é ruim? Não, claro que não. Eu, inclusive, costumo desconfiar dos projetos e das candidaturas que prometem a união dos brasileiros em torno de alguma coisa.  Para mim, isso tem o cheiro e a coloração das ideias totalitárias tão correntes em outros tempos.

Somos, para o bem e para o mal, uma sociedade multicultural, diversificada em termos raciais e sociais. Somos, para desespero de alguns, uma sociedade plural. Se é assim, porque ser contra a divisão político-eleitoral que enfrentamos hoje em dia? A despeito do que pensam os falsos moralistas de plantão e do quer essa gente tão politicamente correta o confronto aberto entre os candidatos, nos debates televisivos, é salutar. O caro ouvinte me perguntará, mas e essa baixaria entre os candidatos? Os enfrentamentos entre os candidatos, nos debates, são pautados pela sociedade. Os marqueteiros estam atentos ao que acontece nas redes sociais. Dilma, Aécio, Ricardo e Cássio aceitam chafurdar na lama porque gostam? Talvez.


Parte do público não só gosta como torce para que os candidatos se estapeiem ao vivo e em cores. É estranho que o eleitor/internauta queira os políticos bem comportados nos debates, quando ele mesmo age como um troglodita nas redes sociais. Deixemos esse “bom mocismo” insuportável de lado. Precisamos ver os candidatos por inteiro, sem a proteção do manto sagrado das ilhas de edição, onde se monta o guia eleitoral. Que venha o debate e que se estabeleça o confronto. Ponto final. 

Mas, eu dizia que as pesquisas não escondem a bipolarização eleitoral. Na semana passada elas davam Aécio ligeiramente à frente de Dilma, sempre com empate técnico. No domingo, analistas diziam que as novas pesquisas trariam mudanças. O Datafolha da segunda trouxe (pela 1ª vez neste 2º turno) Dilma, com 52%, a frente de Aécio, com 48%. O levantamento CNT/MDA baixou a margem de erro e cravou Dilma com 50.5% e Aécio com 49.5%. Ou seja, deu empate físico, concreto. Ontem, o Datafolha trouxe sua 2ª rodada da semana mantendo Dilma 4 pontos percentuais a frente de Aécio com sua tradicional margem de erro de 2%. Isso significa que Dilma está virtualmente eleita, já que só faltam três dias para eleição? Não. Isso demonstra que o jogo está indefinido. Mas, entendam essa indefinição dentro de um padrão de regularidade. É preciso lembrar que o padrão dessa eleição foi à indefinição misturada as surpresas de toda sorte.

É bom lembrar, ainda, que desde os meses de março e abril, Dilma apareceu, quase sempre, em 1º lugar nas pesquisas. Claro, a cada nova alteração, surpresa ou fatalidade, os sismógrafos dos institutos de pesquisa acusavam os abalos. Na transição do 1º para o 2º turno Aécio agregou valor, ao seu capital eleitoral, por causa da adesão de Marina Silva. O PSDB passou cerca de duas semanas acertando mais do que o PT nos programas do guia eleitoral. Esses fatores se refletiram nas pesquisas. Mas, o PT reagiu com Lula voltando à campanha e com peças publicitárias explorando o receio das classes C e D perderem suas conquistas. O apoio de Marina a Aécio é um enigma, pois não se sabe quanto ela consegue transferir em termos de votos.

Dilma parece ter recolhido mais apoios pelos Estados onde acontecerá 2º turno. Bom exemplo é o caso da Paraíba. Dilma subiu bem na preferência do eleitorado paraibano depois de ter declarado apoio a Ricardo Coutinho, sendo a recíproca verdadeira. Inclusive, pela 1ª vez, estamos nos preocupando mais com a eleição presidencial do que com a estadual. Vejam que Cássio Cunha Lima colou sua imagem a de Aécio Neves no guia eleitoral, ao contrário do que víamos no 1º turno. Vejam que o PMDB paraibano teve como objetivo central carrear votos para Dilma. Mas, isso tudo não explica como resolveremos o dilema eleitoral. Na verdade, não resolveremos. Depois que o TSE expelir a fumaça branca, e anunciar “Habemus presidente”, o jogo zera e começa tudo novamente.

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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O JUS SPERNIANDI DOS DERROTADOS

Em 1945, a 2ª Guerra Mundial terminava tendo o 1º ministro inglês, Winston Churchill, como um dos responsáveis pela vitória dos países aliados. Mas, isso não impediu que Churchill perdesse as eleições para o parlamento inglês naquele mesmo ano. Se diz na Inglaterra que “Churchill venceu a guerra e foi derrotado pela política”. Deve ter sido por isso que ele disse que: A política é quase tão excitante e perigosa quanto à guerra. Na guerra, só se morre uma vez, mas na política se morre várias vezes”. A derrota abateu Churchill ao ponto dele ter dito que: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.

Ter perdido a eleição, depois de ter sido herói em duas guerras, enfureceu Churchill, mas ele era um lorde inglês e soube lidar com a situação com toda a fleuma e com toda aquela ironia corrosiva que os ingleses conservam tão bem. Aqui no Brasil é bem diferente. Os nossos políticos costumam se comportar muito mal quando perdem uma eleição. É comum vermos, os que ocupam cargos no parlamento há muitos mandatos, perderam a compostura e saírem atirando para todos os lados. Em geral, quando ganham a eleição, os políticos gostam de dizer que “foi à vontade do povo consagrada nas urnas” ou que foram eleitos porque “a voz do povo é a voz de Deus”. Os políticos gostam desse negócio de querer representar Deus na terra.

Os derrotados dizem coisas como: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem”. Os políticos não costumam ter um comportamento republicano nem na vitória e muito menos na derrota. Quando perdem, nas urnas, eles vão, literalmente, a loucura. Vejam que usamos a expressão “jus sperniandi” para retratar a situação do candidato que, derrotado, não vê outra coisa a fazer a não ser espernear, reclamar, xingar. Eu até acho que o direito ao esperneio deve ser democraticamente garantido aos derrotados. Toinho do Sopão, deputado estadual, pelo PEN, não se conformou em ter ficado, apenas, em 67º lugar com 6.851 votos. No auge de sua revolta, o deputado Sopão criticou o atual quadro político dizendo que só candidato podre chega ao poder.
Ele ainda disse que: “política hoje é igual a feijão na panela, só sobe os podres”. Toinho do Sopão tinha sido o deputado mais bem votado na eleição de 2010 com 57 mil votos. Muitos disseram, eu inclusive, que ele estava sendo eleito para ser o Tiririca da Paraíba. Ao se descontrolar, o deputado Sopão esqueceu que, se nesta eleição, ele foi um feijão bom que não subiu para a panela da Assembleia Legislativa, na eleição passada ele foi o feijão mais podre da panela, pois foi o que subiu mais rápido. Outro que perdeu a compostura, diante da derrota, foi o deputado estadual Vituriano de Abreu, do PSC.  Ele ficou em 50º lugar com 14.187 votos. Vituriano disse que 50% a 70% dos eleitores são corruptos.

Como será que o deputado Vituriano descobriu que tantos paraibanos são corruptos? Mas, Vituriano precisava mesmo desabafar e foi adiante. Ele chamou os eleitores de traidores por trocarem de candidato mediante vantagens oferecidas. Vituriano sofreu forte concorrência em seus domínios eleitorais. A conclusão do deputado é desesperadora: “Vi que não vale a pena ser honesto. Vale a pena ser ladrão, ser corrupto e mentir”. Certo, coloquemos essa frase na conta da ira do deputado. Mas, eu torço para que ele não passe a roubar, mentir e corromper como forma de voltar a Assembleia Legislativa. Se é que essa é a única maneira de fazer os feijões, digo os deputados, subirem na panela parlamentar, como diria Toinho do Sopão.
 
Outro deputado (candidato a reeleição) que foi barrado nas urnas foi Guilherme Almeida. Ele ficou em 47º lugar e obteve 17.341 votos. Guilherme não perdeu a compostura verbal, mas foi incisivo ao explicar o motivo de sua derrota. Ele disse que perdeu a eleição porque não tinha dinheiro para comprar lideranças. Simples assim. Guilherme não citou nomes, infelizmente, mas disse que essa é uma prática comum entre prefeitos, vereadores e cabos eleitorais. Ele relatou que certo vereador lhe pediu uma quantia para lhe apoiar, como o deputado negou, alegando não dispor de poder aquisitivo, o tal vereador foi em busca de um candidato mais aquinhoado. Então, é assim que funciona a campanha eleitoral?

O caro ouvinte deve perguntar: temos que lamentar a derrota desses senhores? Não, não temos, até porque essas são as regras do jogo eleitoral. Mas, não deixa de ser interessante perceber que a derrota lhes dê tamanha sinceridade. De que outra maneira poderíamos saber que para se ganhar uma eleição é preciso subornar lideranças políticas? Enquanto os políticos estam sendo eleitos dizem que é pela vontade soberana do povo ou mesmo pela vontade de Deus. Mas, quando não são eleitos, resolvem dizer a verdade ou quase toda a verdade. Que seja assim, então. Que tal barramos, a cada nova eleição, um desses políticos para que só então possamos saber como, de verdade, funciona esse tal jogo eleitoral?

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