terça-feira, 30 de setembro de 2014

SOBRE CORRIDAS DE CAVALO E ELEIÇÕES

No domingo fui atrapalhado pelos efeitos sonoros da campanha eleitoral, enquanto analisava as pesquisas sobre a disputa para presidente da República e para governador do Estado da Paraíba. Desgraçadamente uma dessas carreatas do inferno foi se concentrar bem em frente ao edifício onde resido. No final de semana a "festa da democracia" correu solta em Campina Grande. As pessoas foram às ruas com fogos, "boates de otário", panfletos e as pavorosas carreatas, movidas a todo tipo de combustível, cometendo toda sorte de crimes eleitorais ou não. A poluição sonora campeava e os motoqueiros do “40” e do “45” andavam a toda velocidade, embriagados e sem capacetes,  como se isso trouxesse votos. Pois é, viva a “festa da democracia” nessa porca miséria de sistema eleitoral em que vivemos.

Mas, apesar da bagunça dos eleitores e da “suruba” eleitoral promovida pelos partidos e atores políticos, eu vou falar das pesquisas eleitorais, pois mesmo que elas não resolvam as eleições, nos dão pistas do que poderemos vir a ter. Vi, recentemente, um jornalista, especializado em eleições, comparando o processo eleitoral a uma corrida de cavalos. Ele usava expressões típicas dos narradores desse esporte, tão sem graça, para falar da disputa para presidente da República. Ele dizia coisas do tipo: “Dilma, tem meio corpo a frente de Marina” ou “Aécio terá que guardar fôlego para o Sprint final”. Mas, ao que me parece, existem algumas diferenças básicas entre uma corrida de cavalos e uma eleição. No turfe, funciona assim: quanto mais vitórias um cavalo tiver, mais se torna favorito em um páreo. Do contrário, quanto mais derrotas tiver, mais se torna um azarão. Quantitativamente, um equino vale aquilo que já produziu em termos de vitórias.

O maior erro que se pode cometer em relação às pesquisas é o de olhar para elas como se fossem o somatório de páreos que os candidatos já disputaram. Na verdade, dificilmente elas podem nos mostrar isso. Mas, equívoco mesmo é o de querer votar no candidato que aparece em primeiro lugar, nas últimas pesquisas antes da eleição, seguindo a lógica, estulta e ineficiente, de que se deve votar em quem vai ganhar a eleição para não se perder o voto. Essa lógica é torta, pois a única forma de saber quem ganhou e quem perdeu o voto é ao longo do processo representativo quando os eleitos vão atuar cumprindo, ou não, as promessas e os projetos que defenderam quando eram candidatos.

 
Assim, pesquisas dos últimos dias servem para nos indicar possíveis cenários para o 2º turno, apenas isso. Escolher em quem votar, para presidente da República ou governador do Estado, considerando o cavalo, digo o candidato, à frente das pesquisas é uma tolice sem fim. Melhor é votar naquele candidato com quem o eleitor mais se identifica, seja do ponto de vista político, ideológico, religioso ou mesmo devido as promessas, propostas ou planos de governo. Melhor mesmo é votar em que se prefere independente do resultado. Votar num candidato porque ele tem as maiores chances de chegar, tal qual um cavalo, em primeiro lugar no final da corrida é desprezar o sentido político do sistema representativo, mesmo que seja este recheado de imperfeições pouco republicanas.

O fato é que o páreo, digo a corrida eleitoral, não está decidida. Podemos aceitar que Dilma irá concorrer o 2º turno, salvo uma catástrofe em proporções tisunâmicas pré ou pós a eleição do 1º turno. Mas, o que mais podemos aceitar? Eu diria que nada. No final da semana passada a pesquisa ISTOÉ/SENSUS trouxe Dilma isolada em 1º lugar com 35.1% das intensões de voto, Marina com 25% e Aécio com 20.7%, sendo que a margem de erro da aferição é de 2.2%. Significa que se Marina variar 2.2% para baixo e Aécio variar os mesmos 2.2% para cima, encontraríamos Marina com 22.8% e Aécio com 22.9%. Ou seja, existe uma concreta possibilidade de mais uma virada espetacular nessa eleição.

O Datafolha, também da semana passada, foi mais conservador, mas não deixou de apontar uma óbvia tendência de crescimento de Dilma e uma tendência de queda de Marina, fruto do esmorecimento da comoção sobre a morte de Eduardo Campos. A tendência de queda de Marina se acentuou com a operação “Regina Duarte” comandada por Lula, Dilma e João Santana. Eles aplicaram na candidatura Marina, em doses colossais, o mesmo veneno do medo que o PSDB aplicou em Lula em 2002.

Aécio não apresenta tendência ao crescimento, mas vejam que os tucanos estancaram a sangria que o efeito Marina provocou em Aécio. Com a virulência do falecido Sergio Mota e de José Serra, o tucanato atacou a ameaça Marina, surgida de última hora. Não podendo mais se valer da comoção, sem o tal legado de Eduardo Campos para chamar de seu, além de ter que lidar com suas contradições e imprecisões, Marina começou a cair e, ato contínuo, Aécio viu a possibilidade de voltar ao jogo. A quem diga que Marina chegará ao final do 1º turno com algo em torno dos mesmos 20 milhões de votos de 2010. Mas, numa eleição como esta, qualquer minuto é muito tempo. O ocaso já nos pegou uma vez e ainda temos quase uma semana toda pela frente. Vai para o 2º turno quem errar menos e souber bater na medida certa.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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