sexta-feira, 27 de junho de 2014

MAS, AFINAL, ONDE ESTÁ FULECO?


Os deuses do futebol nos agraciaram com o que já está sendo considerada uma das melhores Copas do Mundo desde a primeira em 1930. É que eles estam nos recompensando por tudo que tivemos que aturar para termos essa Copa no Brasil. Eu falo das maravilhosas partidas que já tivemos. Jogos como aquele entre Uruguai e Itália, para ver quem iria para as 8ª de final, ou a carnificina que a Holanda aplicou sobre a Espanha, nos enchem de esperança de que há, sim, salvação para o futebol. Eu sei que não temos que nos conformar, mas tem valido a pena deixar os problemas fora das arenas e aproveitar um espetáculo que só mesmo o futebol é capaz de proporcionar. Claro, a mim não cabe discutir o jogo em si.

Mas, devo analisar o que está no entorno da Copa. Tenho visto muitas coisas interessantes, sejam boas, sejam ruins. Os acontecimentos da abertura da Copa, com os xingamentos a presidente Dilma, ainda devem ser melhor analisados. O comportamento das torcidas é algo que devemos atentar. Mas, chama à atenção as ausências ilustres. Em todas as outras copas do mundo, se viam pessoas famosas, do esporte, da música, da política, espalhadas pelos estádios prestigiando os jogos. Quem não lembra de Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones, assistindo aos jogos das copas da Alemanha e da África? Na Copa passada, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, assistiu a quase todos os jogos sempre em locais de fácil exposição.

Nelson Mandela, mesmo debilitado, foi assistir alguns poucos jogos. Mas, aqui no Brasil as autoridades e os dirigentes do futebol sumiram da Copa. Pior, até a mascote FULECO não é vista pelas arenas. O que será que está acontecendo? Na África, Blatter fazia questão de aparecer nos telões. Aqui, no Brasil, se esconde deliberadamente. Até agora, ele só assistiu a dois jogos: o primeiro, entre Brasil e Croácias, quando foi sonoramente vaiado, e depois ele foi a Brasília ver Suíça e Equador. Porque Blatter não vai aos jogos? Elementar, ele não quer mais ser vaiado e muito menos ser mandado tomar providencias, naquele distante lugar, tal qual fez aquela gente estulta e grosseira com a Presidente Dilma.

A impressão que tenho é que os brasileiros resolveram punir os políticos e os diretores da FIFA com uma espécie de proibição. É como se os eleitores estivessem dizendo: “depois de tudo que vocês aprontaram, não são merecedores de assistirem aos jogos”. As manifestações, a violência, a desorganização e nossa horrorosa mania de vaiar quem quer que seja, afugentaram as autoridades internacionais. Niclas Ericson, diretor de TV da FIFA, relatou o receio de mostrar imagens desagradáveis para o mundo todo. Na copa de 2010, a mascote Zakumi estava presente em tudo. A cada nova cerimonia, que abria os jogos, lá estava Zakumi. A mascote acompanhava os jogadores, de todas as nações, até o centro do gramado e de lá só sai para que o jogo pudesse iniciar.


No Brasil, ao contrário, mal se vê FULECO. É bem verdade, que os brasileiros não se encantaram muito pela mascote. Também, com esse nome, não dava mesmo para criar alguma empatia. Mas, existe uma explicação para o sumiço do FULECO. Délia Fisher, chefe de imprensa da FIFA, disse que FULECO está, sim, nas arenas e que ele sempre aparece antes dos jogadores entrarem em campo para a fase de aquecimento. Mas, ela frisou que é preciso estar bem atento a TV para que se possa vê-lo. Eu fico a me perguntar se com 34 câmeras espalhadas, em cada um das 12 arenas, seria mesmo preciso ficar atento. Além do mais, a mascote FULECO não é tão discreta assim que possa passar despercebida. De fato, a questão é comercial.

Em 2012, o tatu-bola foi anunciado, por Jérôme Valcke, para ser bem mais do que a mascote da Copa. A ideia era que ele fosse um legado, um símbolo, da luta pela preservação de uma das espécies, de nossa fauna, ameaçadas de extinção. Valcke anunciou que a FIFA destinaria recursos para financiar projetos voltados para a preservação da natureza. O discurso era politica e ecologicamente acima de qualquer suspeita, mas na prática ele era tão vazio quanto às promessas dos tais legados sociais. Poucos dias antes da Copa começar, se soube que a FIFA não destinou um centavo sequer para preservar um tatu-bola que fosse. Foi por isso que FULECO sumiu das arenas. Por questões contratuais, a FIFA teria que pagar para usar um símbolo nosso.

Havia sido acordado que a ONG Caatinga, que propôs o tatu-bola como mascote, teria seus projetos preservacionistas financiados pela FIFA. De última hora, a FIFA tentou um acordo, ou melhor, tentou dar um “cala-boca” na ONG e no governo brasileiro. Segundo Rodrigo Castro, da ONG Caatinga, a FIFA fez uma proposta indecorosa. A entidade, que lucrou US$ 2,4 bilhões nesses 4 anos de preparação da Copa, ofereceu R$ 300 mil que seriam pagos em 10 anos. Foi por isso que FULECO sumiu. Assim é a Copa da FIFA. Nos campos, temos um desfile de emoções. Fora deles, não temos legados dos quais possamos nos orgulhar. Nem a mascote, que poderíamos guardar de lembrança, quer aparecer. Sem FULECO, sem legados, teremos mesmo que nos contentar com um bom futebol. É só o que nos cabe nessa história toda.
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