Em uma antiga canção, Gilberto
Gil dizia que: “O cérebro eletrônico faz
tudo, faz quase tudo, mas ele é mudo”. Dizia, ainda, que ele “... comanda, manda e desmanda, mas ele não
anda”. Lembrei-me dessa música, belissimamente interpretada por Marisa
Monte, a propósito da reinvenção de um antigo fenômeno da política que vem se
reproduzindo nas redes sociais de forma avassaladora.
Eu falo de uma
espécie de assessor político virtual. Isso mesmo! É aquela pessoa que tem uma
profunda relação, que bem pode ser de completa dependência, com um político
importante e/ou com o grupo ao qual venha pertencer este político. O assessor
virtual não tem que obrigatoriamente ter um cargo que o coloque fisicamente
próximo ao político que segue. Em geral, o assessor virtual tem um daqueles
empregos que também são virtuais, se é que o caro ouvinte me entende.
O gabinete de trabalho do
assessor virtual é seu próprio computador. Ele não precisa de mais nada para
desempenhar suas funções. Basta entrar em uma dessas redes sociais e se por a
postar mensagens onde, em geral, elogia o trabalho de seu chefe político. O
assessor eletrônico faz tudo, ou quase tudo, pelas redes sociais. E, ao
contrário do cérebro eletrônico de Gilberto Gil, ele não é mudo.
Na verdade, ele fala, fala muito,
como diria aquele técnico de futebol. O assessor eletrônico não fala pelos
cotovelos. Ele fala pelos seus dedos velozes. Que de tão ágeis conseguem andar
mais rápido do que seu próprio cérebro. Deve ser por isso que volta e meia
vemos barbaridades de toda sorte pelas redes sociais. Mas, o assessor
eletrônico não comanda, não manda e muito menos desmanda. Ele só anda pelo seu
teclado e pelas redes sociais. Ele é uma espécie de porta-voz virtual. Sua
função é reverberar o que seu chefe anda pensando e fazendo.
Eu acompanho, pelo Twitter, alguns
desses assessores eletrônicos. Bem dito, eu não os sigo, pois só me sinto
confortável para seguir os que me dizem coisas relevantes que me fazem
refletir. Na verdade, o que eu faço é acompanhar o dia-a-dia dos assessores
virtuais para saber o que os políticos andam fazendo e o que eles andam dizendo
por aí sobre, claro, as coisas da política. Mas, admito, eu me divirto com o
comportamento dessa gente.
Semana passada, o
prefeito Romero Rodrigues postou uma mensagem no Twitter dando conta que estava
em Brasília, numa audiência com o Ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro, para
agilizar a construção de moradia popular em Campina Grande. Através de uma
simples mensagem, podemos saber o que o gestor de nossa cidade está fazendo.
Não deixa de ser uma forma de praticar a transparência administrativa. Mas, o
que me chama atenção é como os assessores virtuais se comportam diante disso.
No minuto seguinte a mesma mensagem começou a aparecer vinda de
diferentes pessoas. Num espaço de 15 minutos eu contei a mesma mensagem sendo
postada por 12 desses assessores eletrônicos. Interessante que todos reproduzem
a mesmíssima coisa. Li 12 vezes seguidas: “Romero
tem audiência com Aguinaldo para agilizar construção de casas em Campina
Grande”. Sabe o que é mais engraçado? É que todos eles enviam a mensagem
para, claro, todos os seus seguidores e para o próprio Romero Rodrigues.
É como se o nosso prefeito tivesse que ficar sendo o tempo todo lembrado
do que ele próprio anda fazendo. Claro, o assessor virtual precisa mostrar para
seu chefe político que ele está lá, firme forte, a cumprir seu papel de
adulador virtual. Mas, o prefeito de Campina Grande não é o único a ter
assessores eletrônicos. O governador Ricardo Coutinho, os senadores Cassio
Cunha Lima e Vital Fº, para citar alguns, são detentores de um séquito
infindável de lisonjeadores eletrônicos.
Quer ver um
assessor eletrônico extremamente irritado? Poste uma critica numa rede social a
um desses políticos. O bajulador eletrônico sai em defesa do seu chefe na mesma
rapidez com que se quebra a barreira do som. Eu acho hilário tanta gente
postando a mesma mensagem sobre as ações, do governo que apoiam, vem desenvolvendo.
É sempre a mesma coisa, parece que o gestor não tem assessoria de comunicação. O que será que essa gente ganha para passar o dia inteiro à frente do computador postando cada passo que um político dá? Um emprego? Um favor? Prestígio político? Um afago do governante? Ou todas essas coisas juntas?
É sempre a mesma coisa, parece que o gestor não tem assessoria de comunicação. O que será que essa gente ganha para passar o dia inteiro à frente do computador postando cada passo que um político dá? Um emprego? Um favor? Prestígio político? Um afago do governante? Ou todas essas coisas juntas?
A fidelidade política só é crível
quando racional. Quando ela se torna canina, fica emocional, dai ela termina
sendo uma dependência que não se tem como combater. Sabe de uma coisa? Eu vou
terminar deixando de acompanhar essa gente.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A
CAMPINA FM.