quinta-feira, 31 de julho de 2014

MAS, AFINAL, PARA QUE SERVE UM VICE-GOVERNADOR? PARTE III.

Durante a semana, analisei o discurso dos candidatos a vice-governador Roberto Paulino , PMDB, e Marcos Dias, PSOL. Eu tratei, principalmente, das fragilidades que o discurso desses candidatos revela. Mas, estes dois casos não são à exceção da regra. Pelo contrário, eles são exemplos bem acabados da própria regra. Hoje, eu vou seguir tratando do discurso dos candidatos a vice, pois eles têm a árdua tarefa de se fazerem conhecer e de provar que, afinal, o vice-governador tem lá suas utilidades e funções. A candidata a vice na chapa do governador Ricardo Coutinho é Ligia Feliciano do PDT. O processo que a colocou nesta situação daria uma tese. Mas, não é objetivo desta coluna analisar o processo nada republicano de formação das coligações partidárias.

Apesar de que não deixa de se interessante perceber que Lígia nunca ocupou um cargo público eletivo, tanto no executivo como no legislativo. Ela já fez aparições pontuais, em outras eleições, mas sem ter sucesso nas urnas. Daí que já é hora de perguntar como é que ela chegou à condição de vice, na chapa do governador, com um currículo político tão pobre? Eu quero acreditar que existem outras explicações além do fato dela ser casada com o Deputado Federal Damião Feliciano. Ao que parece, Lígia se tornou a melhor, entre as piores opções, que se apresentaram a Ricardo Coutinho. A necessidade de ter um vice de Campina Grande impôs um arranjo ao governador no mínimo estranho, para não dizer outra coisa.

A entrevista com Ligia Feliciano não foi esclarecedora como se esperava. É que ela não conseguiu, ou porque não podia ou porque não queria, ou as duas coisas, explicar porque, afinal, se tornou a vice na chapa do governador Ricardo Coutinho. Quando questionada como e porque se chegou a esse arranjo partidário, Ligia respondeu que se encontra na situação de candidata a vice-governadora por ser natural de Campina Grande, e ser conhecida na cidade, por acreditar em Deus e por ser mulher. Convenhamos, se esses requisitos fossem condição necessária e suficiente para se concorrer a um cargo no poder executivo, nós teríamos, hoje, algo em torno de 100 mil candidatas só em Campina Grande. Ter um campinense na chapa é importante.

É que este é o 2º maior colégio eleitoral da Paraíba. Mas, isso não garante, por si só, a vitória numa eleição, pois a que se ter capital eleitoral encorpado para se fazer a diferença frente a outros colégios eleitorais como João Pessoa, Patos e Guarabira. Será que a família Feliciano tem capital eleitoral suficiente para tal empreitada? Já se foi o tempo em que se discutia se a mulher deveria ou não participar da política eleitoral. Mas, o fato de ser mulher não torna a pessoa, automaticamente, uma boa governante. Para ser candidato a um cargo eletivo não se requer qualquer tipo de crença ou fé religiosa. Acreditar em Deus é uma questão de foro íntimo, não deveria ser um pré-requisito para se candidatar a alguma coisa.

Os argumentos de Lígia Feliciano, para ser candidata, são de uma fragilidade a toda prova em que pese ela não acreditar nisso, pois os repetiu insistentemente durante toda a entrevista. Na verdade, do discurso de Lígia se tira muito pouco, quase nada. Sua fala se resume a três itens. (1) A questão de poder representar o povo de Campina Grande junto ao governo; (2) o fato de representar a mulher na chapa; (3) e o fato de ser casada com um tradicional político de nossa cidade. Ainda teve um ponto a ser explorado que é a questão dos trabalhos assistencialistas desenvolvidos pelo casal Feliciano ao longo de muitos anos. Como bem sabemos, é dessa maneira que Damião Feliciano vem se elegendo Deputado Federal desde 1998.

Ligia disse que: “a minha vida toda, na minha trajetória, eu sempre trabalhei ajudando as pessoas que mais precisam ao lado do meu esposo fazendo um trabalho...”. Mas, ela não termina a frase, talvez por ser consciente do quanto isso representa. Quando fala da mulher, o discurso de Ligia é errático, difuso, ele não tem uma estrutura coerente. Ao tempo em que ela fala de uma mulher forte, que está à frente da família e dos negócios, ela diz que existe uma mulher frágil que precisa de ajuda. Quando perguntada se sente capaz para assumir o cargo de vice-governadora, Ligia voltou a falar de sua condição de mulher, de campinense, de sua origem e do fato de ser médica. Em nenhum momento Ligia se referiu as funções que o vice deve desempenhar.

No mais, o discurso de Ligia foi o da reeleição. Ela desfiou as realizações do governo de Ricardo Coutinho, sempre com aquele velho discurso de que muito já foi feito, mais ainda temos muito que realizar. Sendo médico, Ligia Feliciano parece ter a mão os dados da situação da saúde pública na Paraíba. Mas, o discurso dela anda círculos. Ela vai apontando realizações do governo para rapidamente falar, várias vezes, na distribuição de ambulâncias. Foi sofrido ouvir toda a entrevista de Ligia Feliciano, pois ela demonstrou extrema dificuldade em se expressar. Faltou à candidata se preparar mais e melhor. Apesar de que, a essa altura, já não se pode fazer muito, pois a campanha já está nas ruas.

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quarta-feira, 30 de julho de 2014

MAS, AFINAL, PARA QUE SERVE UM VICE-GOVERNADOR? PARTE II.


Eu afirmei na COLUNA de ontem que os políticos se preocupam bem mais em ter um bom desempenho eleitoral, em seus redutos, e em favorecer seus esquemas familiares do que viabilizar interesses do partido ou da coligação que integram. Com os candidatos a vice-governador da Paraíba é isso que temos visto. Roberto Paulino, que é candidato na chapa do PMDB junto com o Senador Vital Filho, deixou isso bem claro na entrevista que concedeu. Ele afirmou que seu interesse é reeleger seu filho, deputado estadual, e conduzir a campanha em seu reduto eleitoral. A preocupação de Paulino e fazer Vital Filho ganhar a eleição em Guarabira não por causa desta eleição e sim por eleições futuras.

Paulino se permitiu desenhar um cenário que, hoje, soaria ilusório, mas que com o desenrolar da campanha pode ser viável. Para ele, Vital Filho pode até mesmo chegar ao 2º turno angariando simpatias nos setores “anti-Cássio” e “anti-Ricardo” da Paraíba. Obviamente que até nesse caso haverá a bi-polarização entre as candidaturas do PSDB e do PSB. Este cenário de polarização é o pior dos mundos para o PMDB, mas Roberto Paulino tenta passar ao largo disso sempre com uma mensagem de otimismo. Para ele, o acirramento entre Cássio e Ricardo será bom para o PMDB. A ideia é: enquanto eles brigam, nós fazemos e campanha e ganhamos votos. Certo, faz sentido. Mas, é bom lembrar que a Paraíba adora um FLA X FLU eleitoral.

A entrevista de Paulino foi uma aula de realismo político. Quando perguntado se assimilaria ver deputados do seu partido apoiando a candidatura de Cássio Cunha Lima, e não a de Vital Filho, ele deixou o nervo se descontrair e soltou o verbo. Paulino disse que queria que seus companheiros apoiassem as candidaturas do PMDB, mas a realidade é outra, pois tem pessoas que: “Compram um partido para negociar. Hoje, quem tem partido tem dinheiro no bolso”. Mais real, mais sincero, impossível. A segunda entrevista da série com os candidatos a vice-governador foi com Marcos Dias do PSOL. Logo de início ele disse que a intenção do seu partido era compor com as siglas, PSTU e PCB, que pertencem ao mesmo campo político ideológico.


Mas, ele disse que não foi possível fazer uma aliança, apesar de não ter dito por que partidos tão parecidos não conseguem se unir pelo menos numa eleição. Aliás, essa é a mãe de todas as perguntas que devemos fazer aos pequenos partidos da esquerda. Por que não unir forças? Se são todos tão próximos no campo das ideias, se lutam pelas mesmas causas, se defendem o socialismo, por exemplo, porque não se juntam logo de uma vez em um grande partido com viabilidade eleitoral? Marcos Dias disse que é candidato a vice-governador por já ter sido candidato a prefeito, em João Pessoa, e ao Senado. Ele é professor, funcionário público do Estado da Paraíba e membro da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Educação.



Se por um lado ele tem sensibilidade suficiente para atentar para os problemas da educação e dos professores, por outro ele termina por confundir as reivindicações de sua categoria com a necessidade de ser fazer propostas de governo para esta área. Marcos discorre muito bem sobre as questões salarias, sobre a necessidade do concurso público para professores, sobre a situação, calamitosa, dos aposentados, mas ele não consegue falar em nível de política de governo, pois ele é sindicalista. Marcos Dias é bem informado e mostra dados importantes sobre como o governo lida com as finanças públicas. Ele aponta que o governo não dá a devida prioridade para questões como educação, saúde e segurança pública.

O problema é o mesmo das outras candidaturas. Ele faz o diagnóstico correto das doenças do Estado, ele até indica que remédios devem ser ministrados. O problema é que Marcos, como os outros, não diz como estes remédios devem ser aplicados. Vejam, por exemplo, que na questão da Segurança Pública Marcos Dias sabe bem o que fazer para evitar que os jovens entrem na marginalidade. Ele diz que a solução é investir em educação, moradia digna, saúde, esporte e lazer. Mas, quando perguntado sobre qual é a proposta do PSOL para resolver, ou minimizar, os problemas da segurança pública, Marcos gaguejou e não respondeu. Ele disse que “para a segurança e para a questão histórica não existe proposta de curto prazo”.


 
É a questão do como fazer. O eleitor quer que o eleito apresente soluções para os problemas mais sensíveis que lhe aflige no curtíssimo prazo, ele não quer, e não deve, esperar. Eis o problema. A maioria dos candidatos não tem propostas. Eu ainda gostaria de chamar atenção para uma questão. Sem querer ser pedante, mas ao mesmo tempo não esquecendo que sou professor, sugeriria ao candidato Marcos Dias, que também é professor, que tivesse algum cuidado para com nossa língua portuguesa. Eu sei que ele não é a exceção entre os políticos. Eu sei, também, que falar e escrever nosso idioma corretamente é tarefa para bem poucos. Mas, um erro não pode justificar o outro e a que se ter cuidados com nossa velha e boa língua portuguesa.
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terça-feira, 29 de julho de 2014

MAS, AFINAL, PARA QUE SERVE UM VICE-GOVERNADOR? Parte I.

Ao contrário do que muitos acham, o discurso de um candidato é fundamental como parâmetro para que o eleitor decida em quem votar. Eu sei que muitos acham que o discurso dos políticos não vale nada, pois eles prometem de mais e cumprem de menos. Mas, o discurso é uma arma. Através dele, o político demonstra sua capacidade de argumentação. Pelo discurso, nas entrevistas, por exemplo, podemos perceber se o candidato é ou não capaz de assumir o cargo que está pleiteando nas urnas. As entrevistas que a Equipe de Jornalismo da Campina FM tem promovido com os candidatos a governador e a vice-governador da Paraíba estam bem longe de serem monótonas, imprecisas ou sem algum valor. Pelo contrário, elas têm sido reveladoras.


ROBERTO PAULINO (PMDB)Em Vila do Sossego, Zé Ramalho já dizia que: “Na tortura toda carne se trai. Que normalmente, comumente, fatalmente, felizmente, displicentemente o nervo se contrai, com precisão”. É claro que nós não vamos torturar os candidatos. Mas, nos é imperativo fazê-los falar. Importa que eles tenham tempo para exporem quem são, como são e porque são. Quando o nervo do candidato se contrai, ele pode, por exemplo, revelar suas fragilidades, suas indecisões e seus desconhecimentos. Nas entrevistas com os candidatos a vice, vimos fragilidades de toda sorte e é por isso que elas foram tão boas. Eu sei que não temos esse hábito, mas me parece que já é hora de prestarmos atenção ao vice tanto quanto prestamos ao candidato a governador.


MARCOS DIAS (PSOL)Lena Leite do PSTU seria a primeira a conceder uma dessas entrevistas, mas ela não veio alegando estar doente. Roberto Paulino, do PMDB, foi de fato o primeiro entrevistado. É bom não esquecer que até dá para fugir de algumas dessas atividades. É que estamos no começo das eleições, mas com o passar dos meses, e com o guia eleitoral, a curiosidade do eleitor vai aumentando. Fugir do debate não pode mesmo ser a melhor estratégia. O eleitor não pode ser privado de conhecer os candidatos. Roberto Paulino iniciou sua entrevista dizendo que não estava nos seus planos se candidatar a um cargo majoritário e que sua prioridade era trabalhar para reeleger seu filho, Raniery Paulino, deputado estadual.


LÍGIA FELICIANO (PDT)O seu objetivo era ajudar o PMDB a eleger seus candidatos ao governo e aos cargos no parlamento. Se era assim, o que fez Roberto Paulino mudar de opinião? Ele disse que os problemas e dificuldades enfrentados pelo PMDB o fizeram mudar de rumo. Paulino disse que esses tais problemas e dificuldades eram de conhecimento dos paraibanos. Mas, o ex-governador se confundiu, pois seguimos sem saber o que de fato aconteceu que forçou o PMDB a ter uma candidatura própria. Pelo visto vamos continuar sem saber, pois o comportamento pouco republicano dos atores e partidos políticos da Paraíba, naquele fático final de semana das convenções partidárias, não deve mesmo vir à tona pelo bem de nossas frágeis instituições.


RUY CARNEIRO (PSDB)Para Paulino nada mais importa do que fortalecer a agremiação da qual é filiado desde 1970. Certo, não deixa de ser um comportamento político coerente. Mas, deveria o fortalecimento de uma sigla ser colocado acima dos interesses de Estado? Paulino chegou mesmo a confessar que o processo de definição de candidaturas e de coligações foi tumultuado. Disse ele: “foi um momento de muita confusão, agente acertava uma coisa e dizia é assim, mas depois não era mais assim, já era de outro jeito”. O ex-governador até se permitiu um desabafo, com tons de vitimização, e disse que houve uma pressão muito grande, com todo mundo querendo destruir o PMDB. Mas, porque haveria uma conspiração para destruir o PMDB? Isso ele não respondeu.


OLAVO FILHO (PROS)Ele disse que não falaria do que houve nos meandros, entre quatro paredes, no processo de articulação, pois isso não seria o seu estilo. Cada vez que os políticos paraibanos se negam a dizer o que houve só aguçam ainda mais nossa natural curiosidade. Como todo político experiente, Paulino resolver deixar esse assunto de lado, minimizando os acontecimentos, e dizendo que “nós estamos no caminho e vamos fazer com que Vital Filho possa engrenar em sua campanha”. Habilidosamente, Paulino mudou de assunto, falando da visita do vice-presidente da república, Michel Temer, a Paraíba. Em seguida, Paulino falou do seu reduto eleitoral, a cidade de Guarabira, de sua pujança e de uma tal rebeldia que ela teria.


Os políticos são mesmo assim, eles vão tentando responder as perguntas ao mesmo tempo em que não descuidam de seus pequenos interesses políticos, partidários, familiares, municipais. Isso faz, também, parte desse jogo chamado eleição. Paulino disse que vai haver em Guarabira o arrastão do vermelhão e que, lá, o vermelho é um grife. Ele anunciou esse tal arrastão para o próximo dia do país. Vejam como os grupos políticos se apoderam de cores e datas para viabilizarem interesses eleitorais. Para Paulino parece importar bem mais ter um bom desempenho eleitoral em seu reduto, do que viabilizar os interesses de seu partido que ele disse estar sendo perseguido. Assim são os políticos em tempos eleitorais. Amanhã eu vou continuar analisando as entrevistas dos candidatos a vice-governador da Paraíba.

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segunda-feira, 28 de julho de 2014

EYMAEL - NANICO POR CONVICÇÃO.

Já se disse por aí que as candidaturas nanicas são enigmas numa eleição e que podem até surpreender. Apesar de que, até hoje, o único nanico que abalou as estruturas do nosso sistema eleitoral foi Enéas Carneiro do extinto PRONA. Enéas foi candidato pela primeira vez em 1989. Seu tempo no guia eleitoral era de dezessete segundos. Com uma fala rápida, estridente, e uma aparência exótica, Enéas passava sua mensagem inflamada, ultranacionalista, beirando ao fascismo. Um ilustre desconhecido, que terminava sua fala com o bordão “meu nome é Enéas”, teve quase 400 mil votos numa única eleição. Mas, nos dias de hoje, nanicos não nos alarmam mais. O máximo que fazem é ajudar a levar a eleição para o 2º turno.

A pesquisa do Datafolha, da semana passada, mostrou que as candidaturas nanicas somam 5 pontos percentuais. Considerando que Dilma tem 36% e que todos os outros candidatos empatam com ela, os nanicos estam tendo papel relevante neste momento. Não fossem estes 5%, dos pigmeus da eleição presidencial, as chances de Dilma se eleger, já no 1º turno, aumentariam consideravelmente. Por isso mesmo, Aécio Neves deve cortejar a nanicada, pois cada 1 ponto percentual pode fazer a diferença. Mas, nas 3 últimas eleições os candidatos nanicos tiveram votação inferior a 3%. Em 2010, Dilma teve 46.91% dos votos no 1º turno. Os nanicos somados tiveram 1.15%. Ou seja, eles não influíram no processo. Funcionaram como o que de fato são – nanicos.

Uma candidatura nanica que já se tornou conhecida do eleitorado brasileiro é a de José Maria Eymael, do Partido Social Democrata Cristão. Assim como as candidaturas de Levy Fidelix, do PRTB, e de José Maria, do PSTU, ela tem forte viés ideológico. É que as pequenas candidaturas, que não são viáveis do ponto de vista eleitoral, podem se dar ao luxo de conservarem seus ideias, de direita ou de esquerda, não importa, ao contrário das grandes candidaturas contaminadas pelo fisiologismo pouco republicano. José Maria Eymael se auto intitula um democrata-cristão. Em vários países europeus a democracia cristã é uma sólida ideologia. Seus partidos são respeitados e governam há muito tempo. No Brasil, o cristianismo é forte e hegemônico. Já a democracia...


Eymael é um nanico de longa data. Sua primeira aventura nas urnas foi em 1985 quando se candidatou a prefeito de São Paulo, ficando em último lugar. Foi nessa eleição que ele adotou o jingle, que até hoje usa, “Ey, Ey. Eymael, um democrata cristão". Em 1986 ele se elegeu deputado federal constituinte. Em 1990 se reelegeu com os votos dos setores cristãos mais conservadores da sociedade paulista. Em 1992 ele tentou, mais uma vez, a prefeitura de São Paulo e, mais uma vez, sofreu fragorosa derrota. Se em eleições proporcionais, Eymael foi sempre bem sucedido, nas majoritárias nunca teve bons desempenhos. E, já é de se perguntar, por que é que ele insiste em eleições presidenciais? Eymael foi candidato à presidência da República em 1998, 2006 e 2010.

Em todas, e neste ano não será diferente, Eymael resume seu discurso, e baseia suas propostas, num compromisso com a família, com a defesa de seus valores e no atendimento pleno de suas necessidades. Eymael só não fala mesmo em é democracia. Na eleição de 1998, Eymael ficou em 9º lugar, entre 12 candidatos, com 171.831 votos. Em 2006, tivemos 08 candidatos. Eymael só conseguiu ficar em 6º lugar com 63.294 votos, menos da metade da eleição de 1998. Já em 2010, as coisas foram um pouco melhor, mas nada que desse estatura ao nanismo de Eymael. Para um total de 09 candidatos, Eymael ficou em 5º lugar e obteve exatos 89.350 votos. E em 2014? O que deve Eymael esperar das urnas?


Eu suponho que ele deve esperar mais do mesmo, ou melhor, menos do mesmo. É que este ano são sete candidaturas nanicas. E, dentre elas, Levy Fidelix e Pastor Everaldo possuem o mesmo perfil conservador, cristão, de direita a lhe fazer concorrência direta. Uma coisa comum às candidaturas nanicas é o conservadorismo de ideias e dos programas políticos que apresentam, além da forma arcaica de se fazer campanha. O PSDC de Eymael vem desde a muito se apresentando sempre da mesma maneira. Este partido concorreu às eleições de 2006 com 25 candidatos a governador de Estado e 17 candidatos ao Senado Federal. Na época, apresentou um projeto político intitulado "Transformar o Estado de senhor em servidor".

O caro ouvinte quer saber quantos desses candidatos se elegeram? Nenhum! Seria de se esperar que em 2010, o PSDC viesse renovado no discurso e na forma. Mas, não veio, pelo contrário, o programa, as ideias e até o jingle de campanha eram os mesmos. Eymael tem afirmado que as redes sociais reduziram a importância da TV na eleição, mas não diz como pretende utilizá-las. Como todo candidato nanico, Eymael tem lá suas megalomanias. Ele afirma que chegará ao 2º turno contra Dilma ou Aécio Neves. O seu discurso é uma mistura de preceitos políticos e de ensinamentos do Evangelho, recheado de promessas e de propostas pouco interessantes. Nisso tudo, Eymael não é diferente dos outros nanicos, muito menos dos gigantes da política eleitoral.

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sexta-feira, 25 de julho de 2014

CADA CANDIDATO COM SEU JOGO.





Entre o final da semana passada e a metade desta tivemos duas grandes pesquisas eleitorais aferindo a intenção de votos para a presidência da República. O Datafolha e o Ibope trouxeram pesquisas pouco divergentes entre si como ainda veremos. Tivemos, ainda, a divulgação do Índice Band. A TV Bandeirante promete dar um tratamento semanal aos números das pesquisas que forem sendo divulgadas. O cientista político Antônio Lavareda anunciou que esta é uma ferramenta especial da eleição 2014.

Sim, é algo interessante, pois se propõem a fazer uma síntese de todos os dados que vão sendo publicados. Mas, não é nada tão especial assim. Na verdade é algo muito simples. A ideia é fazer uma média ponderada entre as intenções de voto de cada candidato. Na média ponderada leva-se em conta que cada valor tem um peso diferente. Já na média aritmética simples, os valores possuem peso igual. Nas pesquisas eleitorais se utiliza a média ponderada já que os candidatos têm pesos diversos. Na verdade, é isso que fazemos o tempo todo nas pesquisas, já que ponderar significa avaliar, estudar, pesar, apreciar.

Mas, vamos às pesquisas. Vejamos que o Datafolha e o Ibope consideram fortemente a possibilidade de termos 2º turno. Pelo Datafolha, Dilma tem 36 pontos percentuais e os outros candidatos, juntos, possuem exatamente 36%. No Ibope, Dilma tem 38% e todos os outros candidatos aparecem com 36 pontos percentuais. A eleição se resolve no 1º turno se o candidato que ficar em 1º lugar tiver pelo menos um ponto percentual a mais do que todos os outros candidatos juntos. Deveremos ter o 2º turno, pois os candidatos tendem a aumentar seus percentuais à medida que vão ficando mais conhecidos através da propaganda eleitoral e da campanha de rua.

Claro, uma campanha mal conduzida, que comete muitos erros no guia eleitoral, pode fazer uma candidatura naufragar, afinal sempre se pode ter surpresas numa eleição, mas é bom não esquecer o nível de profissionalismo empregado nas campanhas. O Datafolha traz Dilma em 1º com 36%, Aécio em 2º com 20%, Eduardo em 3º com 8% e o Pastor Everaldo em 4º com 3%. José Maria, Eduardo Jorge, Luciana Genro, Rui Costa e Eymael formam o bloco dos que tem um ponto percentual apenas. Levy Fidelix e Mauro Iasi não pontuaram. Já o Ibope traz Dilma com 38%, Aécio com 22%, Eduardo com 08% e Pastor Everaldo com 03%. No mais, fica tudo exatamente igual ao que o Datafolha apresenta.


Vejam como as diferenças são quase imperceptíveis. Entre uma e outra pesquisa vemos uma variação de apenas 2 pontos percentuais entre Dilma e Aécio. Mas, Eduardo Campos e Pastor Everaldo aparecem iguais nas duas pesquisas. Se na verificação para o 1º turno os dois Institutos quase não divergiram, quando vamos olhar as simulações feitas para o 2º turno encontramos significativa diferença. Os adeptos das teorias conspiratórias já estam de plantão pelas redes sociais. Eles procuram os planos mais mirabolantes para explicar tamanha diferença.

O Datafolha montou dois cenários para o 2º turno. No 1º, Dilma teria 44% e Aécio teria 40%. Já no 2º cenário, Dilma viria com 45% e Eduardo Campos com 38%. Para o Ibope, Dilma ganharia nos dois cenários. No 1º ela ficaria com 41% e Aécio com 33%. Já no 2º, a presidente teria 41% e Eduardo com 29%. Essas simulações de 2º turno servem bem mais para os candidatos que já lidam com os acordos para o 2º turno. Se no 1º turno tivemos uma espécie de coincidência entre os institutos, a cerca das preferências em torno dos candidatos, já no 2º turno tudo mudou. A questão é ver como e porque os Institutos encontraram percentuais tão diferentes.

Ainda sobre números, vemos a questão da rejeição. Pelo Datafolha, Dilma tem 35%, Pastor Everaldo 18%, Aécio 17%, Zé Maria 16%, Eymael e Levy Fidelix 14%, Eduardo e Rui Costa 12% e Luciana Genro, Mauro Iasi e Eduardo Jorge 11%. Pelo Ibope, os números da rejeição são quase os mesmos. O que vemos é Dilma e Aécio repetindo, na rejeição, os percentuais que apresentam na pesquisa estimulada. Dilma traz uma rejeição altíssima e Aécio mostra uma tendência ao crescimento dentro daqueles que dizem não votar de jeito nenhum no candidato.
 
Com uma rejeição dessa magnitude, os marqueteiros do PT devem andar no fio da navalha. Dilma está apresentando entre 08 e 09 pontos percentuais acima daquele limite máximo da rejeição que é de 27 pontos. Mas, existem duas variáveis pesando nesta questão. Uma é o efeito do desastre da seleção brasileira na Copa do Mundo e a outra é que a rejeição da candidata Dilma está se misturando a opinião do que não aprovam o governo de Dilma Rousseff.

Em alguns estados, a rejeição é direcionada a Lula, mas como ele não é candidato a nada e apoia Dilma, os eleitores terminam canalizando suas insatisfações para a chefe de governo. Isso significa que Dilma não deve se preocupar com tamanha rejeição? Não, significa que se essa rejeição não começar a cair, ou dela não forem retiradas as variáveis externas, Dilma começa a correr sérios riscos de não continuar morando no Palácio da Alvorada a partir de janeiro de 2015.
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quinta-feira, 24 de julho de 2014

UMA CANDIDATURA BEM RADICAL


No sábado passado a equipe de jornalismo da CAMPINA FM deu início à série de entrevistas com os candidatos ao Governo do Estado da Paraíba. A primeira foi com o candidato Antônio Radical do PSTU. Faremos seis entrevistas, sempre aos sábados, no Debate Integração. Já no próximo sábado entrevistaremos o candidato do PMDB, Vital Filho, e na sequência teremos Tárcio Teixeira, Ricardo Coutinho, Cássio Cunha Lima e o Major Fábio. A entrevista com Antônio Radical começou com a afirmação de que a candidatura do PSTU é uma opção de esquerda, socialista e classista para os trabalhadores e a juventude do Estado da Paraíba. Aqui já temos uma primeira questão.


É que um candidato que pretende ser eleito não pode querer ser a opção para este ou aquele setor da sociedade. Nós bem sabemos que o eleito governará para todos e não para um setor ou uma classe social. A não ser que o candidato não queira se eleger. Mas, Antônio Radical pontua seu discurso na defesa dos interesses das ditas minorias. Ele se refere às mulheres que são exploradas, mesmo que não diga por quem elas são exploradas, aos negros e os homossexuais. O discurso de Antônio se molda bem aos nossos dias. Ele é radical, mas não deixa de ser politicamente correto como tanta gosta essa esquerda modernosa na forma, mas um tanto quanto conservadora no conteúdo. O discurso dele é corajoso, disso não se duvida.


Sua radicalidade reside no fato dele não se esquivar dos temas tabus de nossa sociedade, ao contrário de outras candidaturas mais fortes.  Antônio tem a coragem de denunciar os muitos casos de assassinatos homofóbicos na Paraíba. Isso vai, provavelmente, lhe tirar votos, pois ainda somos uma sociedade conservadora que tem um jeito falso moralista de lidar com essas questões. Sem maiores pretensões eleitorais, a postulação de Antônio Radical termina cumprindo um papel relevante. Aliás, foi explicando porque é conhecido como “Radical” que Antônio pode explicar mais e melhor sobre ele, seu partido e sua postulação. Ele explicou que esse apelido vem dos tempos da militância estudantil na Universidade Federal da Paraíba.


O “radical” vem de uma trajetória pautada na atuação em partidos de esquerda. Antônio ficou conhecido como radical pelas posturas que sempre assumiu. Se, por um lado, isso demonstra coerência, por outro por ser indício de uma atitude intransigente. Quando eu perguntei a Antônio Radical como ele via o processo que decidiu as candidaturas e as coligações para as eleições estaduais, ele deu a resposta que se esperava mostrando como foi estranha a aliança entre o PT e PSB se Ricardo Coutinho. Ele disse que isso não é surpresa e partiu para atacar o PT, pois o PSTU é fruto do processo autoritário, comandado por José Dirceu, que expulsou, no atacado, militantes petistas descontentes com os rumos que o PT vinha seguindo.


Radical disse que o PT de hoje não representa o PT do passado. Mas, é preciso lembrar que o PT mensaleiro de hoje foi sendo gestado ao longo de uma história de quase 40 anos. Radical disse que o PT é um partido da ordem. Bom, se existem partidos da ordem, deve, então, existir partidos da desordem. Neste ponto, se equivoca Antônio Radical, pois os partidos são instituições que compõem o Estado, portanto são todos da ordem e tem mesmo que ser. Em seguida, Radical colocou o espectro político paraibana na mesma embalagem, ou no mesmo saco, como queiram. E isso era mesmo de se esperar, inclusive será um dos motes de sua campanha. A ideia é se diferenciar, distanciando-se, de todos os outros.


Ao responder como tentaria resolver, caso eleito, a histórica falta de medicamentos e a demora na realização de cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Antônio Radical falou do que deve ser sua grande muleta durante toda a campanha eleitoral. Radical disse que os problemas da saúde só serão resolvidos quando a Paraíba parar de pagar juros. Ele mostrou dados do TCE onde, em 2013, 60% do orçamento da Paraíba foi usado para pagar amortizações, juros e encargos da dívida pública do Estado. Radical conclui que 60% do orçamento do Estado foi destinado a “meia-dúzia de banqueiros e grandes empresários para que eles resolvam os problemas deles, restando muito pouco aplicar nos problemas sociais da Paraíba”.


Mesmo que nós possamos concordar com essa elaboração, ela é simplista na forma e rudimentar no conteúdo. Sim, a Paraíba paga muitos juros da dívida pública, mas, para um candidato, isso não pode ser o único diagnóstico dos problemas do Estado. Ao longo da entrevista isso se repetiu 3 ou 4 vezes. Sempre que Antônio Radical era instado a falar dos problemas, seja na educação, na saúde, na mobilidade urbana ou na segurança pública, ele trazia a questão dos juros da dívida. Sim, muitos dos problemas se resolvem quando o Estado aplica seus recursos nas soluções, mas a questão é como se fazer isso. Parar de pagar juros é a panaceia que Radical aplicaria num Estado doente. Ele só não disse como fazer isso.


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quarta-feira, 23 de julho de 2014

PENSEM NAS CRIANÇAS MORTAS.





Ontem, quando eu liguei o computador para escrever esta Coluna, pretendia tratar da última pesquisa Datafolha com as intensões de votos para as eleições presidenciais. Por algum motivo, fui ver notícias em sites jornalísticos e tive que mudar de ideia. Ao entrar no site UOL/Notícias me deparei com a manchete: “A ONU confirma que 121 crianças palestinas foram mortas na Faixa de Gaza após os ataques aéreos israelenses”. Pior, eu fiquei por algum tempo vendo imagens de crianças mortas e feridas. Por mais consciente que eu possa ser do meu metiê de analista político, e mesmo que o ofício de acompanhar a realidade político-eleitoral brasileira me imponha certos rigores, eu não posso esquecer que a vida pulsa e que eu sou humano.


O caro ouvinte me desculpe, mas, hoje, não vai dar para falar da política eleitoral paraibana, nem de Dilma, Aécio e Eduardo. Também não posso falar de democracia e ditadura, de futebol, e de outros assuntos de nossa realidade, não depois de ver aquelas imagens atrozes. Aqui, vou falar de quando a política se torna um crime, de quando ela deixa de ser um instrumento que leva ao diálogo, ao convencimento, e passa a ser algo que causa guerra, violência, destruição e morte. Hoje eu vou falar da política que mata crianças. As imagens de crianças mortas e feridas na Faixa de Gaza me obrigam a falar de coisas que não gostamos. Eu sei que isso é bastante desagradável, mas eu sei também que tem coisas que não devem ser esquecidas. No mundo real, as rosas têm espinhos.


Eu vi a imagem de um menino, de uns 10 anos de idade, com a cabeça enfaixada e em estado de choque, depois de um ataque em que aviões israelenses despejaram bombas sobre a população palestina. E não tem essa de ataque de precisão cirúrgica não. Eles estam praticando a política de terra arrasada mesmo. Em outra imagem, um médico palestino carrega uma menina, com não mais do que cinco anos de idade, bastante ferida, por um corredor onde se pode ver várias pessoas feridas. Esta menina foi atingida pela artilharia pesada dos tanques de guerra de Israel que dispararam, com segundos de intervalo, também na faixa de Gaza. Esses ataques fazem parte da ofensiva terrestre do Exercito de Israel contra forças da Palestina.


Tem uma terceira imagem que é dilacerante. Um menino, também palestino, se agarra ao jaleco do médico. Ele está bastante ensanguentado e seu corpo parece crivado pelos estilhaços de bombas.  Mas, a pior de todas as imagens é a de uma menina que tem lindos olhos claros, com algo em torno de três anos de idade, que mesmo aparentando não ter ferimentos, grita desesperadamente com os braços estendidos como se pedisse socorro. A legenda da foto diz que ela ficou assim depois que os tanques de guerra de Israel abriram fogo sobre a vila onde ela morava.  Eu vi várias fotos. Eu vi dor, desespero, abandono e incompreensão de quem não sabe por que está sendo atacado.


Vendo essas e outras imagens, lembrei a foto daquela menina vietnamita, correndo nua, chorando, com os braços aberto, e com quase todo o corpo queimado por causa de um agente químico chamado Napalm, também conhecido por agente laranja. Isso foi há 42 anos atrás durante a Guerra do Vietnã. O vilarejo onde Phan Thi Kim morava foi bombardeado pela força área dos EUA. Ela conta que de repente tudo a sua volta começou a queimar, inclusive suas roupas. Kim teve 70% do seu corpo queimado e, acredite, ela teve sorte, pois foi à única criança do seu vilarejo a sobreviver. Kim está viva, tem 47 anos, vive no Canadá com sua família e diz continuar não entendendo porque os países em guerra massacram suas crianças.


Segundo a UNICEF, aquele órgão das Nações Unidas para a proteção da infância, 121 crianças palestinas já morreram desde que começaram os ataques na Faixa de Gaza. Dessas 121 crianças, 80 eram menores de 12 anos de idade. Ainda segundo a UNICEF algo em torno de 1.000 crianças estam feridas, mais da metade em estado grave. Mais de 100 mil crianças vão precisar de tratamento especializado devido aos traumas sofridos. Nos últimos 15 dias morreram 586 palestinos. Cerca de 400 eram idosos. Nas guerras, são as crianças e idosos que mais sofrem, pois são os que têm menos condições de se defenderem. A guerra é assim, ela acaba com o passado e com o futuro das nações.


O caro ouvinte pode estar se perguntando, mas porque, afinal, palestinos e israelenses estam, novamente, se matando? É difícil responder. Eles lutam por territórios, pelas suas religiões, enfim, eles lutam pelo poder. Mas, o que de fato importa é que as crianças estam sendo mortas. Onde tiver uma criança sofrendo, por causa de uma guerra, isso passa a ser problema de toda a humanidade. Sim, pode não parecer, mas nós somos humanos, ainda. Eu terminei lembrando a Rosa de Hiroshima, belos versos de Vinícius de Moraes, onde ele diz: “Pensem nas crianças, mudas telepáticas / Pensem nas meninas, cegas inexatas /Pensem nas mulheres, rotas alteradas / Pensem nas feridas, como rosas cálidas /Mas, não se esqueçam, da rosa, da rosa de Hiroshima”.


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segunda-feira, 21 de julho de 2014

ATENÇÃO, COMEÇOU DEBATE!

A equipe de jornalismo da Campina FM se reuniu com as assessorias jurídicas dos partidos e dos candidatos, ao governo do Estado da Paraíba, para que se definissem as regras para o grande debate que acontecerá no próximo dia 02 de setembro. Também se definiu datas, regras e a ordem para a sequência de entrevistas com os candidatos a governador, vice-governador e senador da República. Inclusive, fizemos a primeira dessas entrevistas, no sábado, com o candidato Antônio Radical do PSTU. A partir de agora teremos um sem número de debates e entrevistas com os candidatos aos cargos majoritários nas emissoras de rádio e televisão. Este é um processo sensível e que só quem deles já participou é que sabe como é difícil organizá-los e conduzi-los.

Até porque nós temos fraca tradição nos debates. Só vinhemos a adotá-los a partir das eleições de 1989. Tínhamos passado 21 anos sem ter eleições minimamente livres. Em 1989 estávamos reaprendendo a escolher nossos representantes, se é que aprendemos. Em 1976 o governo militar realizou eleições para lastrear a abertura lenta e gradual capitaneado por Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva. Nesta eleição já havia o guia eleitoral, mas era muito diferente da propaganda eleitoral de nossos dias. Claro, debates? Nem pensar! Na época, a propaganda eleitoral da televisão só mostrava a fotografia do candidato e uma voz metálica narrava o currículo do postulante. Eram os tempos das campanhas enfadonhas, sem forma e conteúdo.

Após a ditadura, a legislação eleitoral mudou e as campanhas ganharam muito na forma, em que pese continuarem pobres de conteúdo. Inclusive, ainda tem candidato utilizando o recurso de uma imagem fixa acompanhada de uma narração. Na verdade, as eleições se tornaram grandes espetáculos. Os debates passaram a ter ampla cobertura da mídia. Mas, é estranho que com tanta audiência eles sejam tão controlados, com regras bem definidas pela justiça eleitoral e pelos próprios candidatos. Certa vez, eu estava em Belo Horizonte e assisti um debate em que os candidatos tinham (pasmem!) 15 segundos para perguntar e 50 segundos para responder. Eles mal se olhavam e não podiam se referir diretamente um ao outro.

Sob o frágil argumento de manter o nível da discussão, baseado num suposto respeito ao eleitor-telespectador, os candidatos eram praticamente privados da critica e do livre exercício da apresentação de ideias e projetos. Se nos tempos da ditadura os candidatos eram simplesmente proibidos de falar aos eleitores, nos debates dos dias de hoje se pisa em ovos ao se referir aos candidatos e as questões político-eleitorais, pois tudo é passível de reprimendas e processos. Hoje, é preciso pensar e repensar sobre o que se vai dizer sobre um candidato, pois, como tudo e passível de interpretação, a possibilidade de se entender que houve uma agressão à pessoa do candidato é levada ao extremo.

Existem casos em que um fraco desempenho, num debate, pode levar um candidato a derrota. Quem não se lembra do debate do 2º turno de 1989, entre Collor e Lula, que literalmente terminou por pulverizar as chances de Lula? Quem não lembra o debate entre José Maranhão e Cássio Cunha Lima, na eleição de 2006? O desempenho de Maranhão contribuiu para sua derrota. Enquanto um candidato se fazia entender o outro mal conseguia se fazer ouvir. É que o debate serve para se aferir as inseguranças do candidato, pois ele tem que ser objetivo nas respostas, não pode gaguejar, nem assassinar a língua portuguesa. Além disso, espera-se que o candidato não fuja dos temas espinhosos.

O que de fato o eleitor quer é que o candidato mostre que têm propostas para todas as áreas abordadas. Notem que eu estou falando de propostas e não daquelas promessas mirabolantes que todo mundo sabe que não passa de firulas eleitorais. Tem candidato que de tão maquiado, mais se parece um ator. Eu sei que imagem é importante, mas sem conteúdo, não passa de dissimulação. O que eu não entendo, ou melhor, o que eu penso que entendo, é porque os debates têm tantas regras? Se o debate é controlado por toda sorte de regras, porque o momento em que o candidato aparece para sorrir, acenar, abraçar, beijar, também não? Porque não se controla a ação dos candidatos nas pavorosas carreatas que teremos que aturar?

Se você nunca teve a oportunidade, aproveite e assista um debate entre os candidatos a presidência dos EUA. É muito interessante. Inclusive, pelo “You Tube”, o caro ouvinte pode ver alguns desses debates legendados em português. Os candidatos americanos são colocados numa espécie de arena com um mediador que se limita a estimulá-los ao debate. Eles vão falando e um pode, aliás, deve apartar o outro. É um debate na sua forma mais clara. É um debate de verdade! O caro ouvinte quer saber qual o melhor debate para se assistir? É o que só tem uma regra: a que diz que o candidato é obrigado a se expor sem limitações. Debate em que os candidatos são enquadrados em um sem número de regras não é debate, é monólogo.


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sexta-feira, 18 de julho de 2014

QUANDO O ASSUNTO É FUTEBOL, NÃO ESPERE MUDANÇAS.

Nelson Rodrigues foi escritor, jornalista, dramaturgo e comentarista de futebol. A especialidade dele era mesmo a palavra escrita. Nelson ia religiosamente ao Maracanã, sempre aos domingos, de terno e gravata carregando seu inconfundível guarda-chuva. Era assistindo aos jogos de futebol que ele criava o seu “personagem da semana”, para uma crônica que mantinha na revista “Manchete Esportiva”, entre 1955 e 1959. A partir de 1962, Nelson passou a assinar uma coluna diária no Jornal O Globo. Até junho de 1970, Nelson contou em suas crônicas as mais deliciosas histórias sobre o futebol brasileiro. Mas, ele não falava tanto das partidas de futebol em si. Em geral, ele falava daquilo que via no entorno dos jogos que assistia.

Não raras vezes, o personagem da semana era alguém que Nelson via no estádio. Foi ele quem batizou o torcedor da arquibancada geral de “geraldino”.  Foi Nelson que criou o personagem “Sobrenatural de Almeida”, para falar das coisas imprevisíveis do futebol. As crônicas de Nelson traziam expressões que ele criava para ilustrar situações. Certa vez ele disse, se referindo a um empate sem gols entre Brasil e Paraguai, que “a virgindade desagradável e irredutível do escore era uma humilhação para o público”. Nelson foi um romancista do futebol com tiradas do tipo: “quando Pelé apanha a bola, e dribla um adversário, é como quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”. Nelson foi um cientista político do futebol por entender tão bem suas relações de poder.

Ele dizia que ninguém deve se sentir culpado por gostar do futebol, pois "dentre as coisas menos importantes da vida, ele é a mais importante". É por isso que, hoje, volto a falar do futebol, pois ele tem a capacidade de explicar como somos e porque somos. Agora que a Copa do Mundo acabou, agora que temos que nos conformar que o sonho e a fantasia vendidos pela FIFA terminaram, precisamos os voltar a nossa realidade. A vexatória campanha da Seleção Brasileira na Copa criou expectativas de mudança. Após o massacre do Mineirão, setores da sociedade brasileira, inclusive o governo federal, passaram a pedir mudanças radicais na estrutura do futebol brasileiro. A CBF logo respondeu demitindo o técnico Luiz Felipe Scolari.


No Brasil, falar em mudanças no futebol é como falar em reformas na política. Os dirigentes do futebol, assim como nossos representantes, não gostam de transformação, renovação, revolução. Eles preferem preservação, manutenção, conservação. Vejam que a CBF anunciou a contratação do ex-goleiro do Flamengo, Gilmar Rinaldi, para ser o coordenador de seleções da entidade. Gilmar é empresário de jogadores de futebol. Ou seja, colocaram, literalmente, a raposa para tomar conta das galinhas. Este filme, nós já assistimos. O sujeito ganha a vida empresariando jogadores e vai ocupar um cargo na CBF. Daí, ele vai colocando seus contratantes, nas listas de convocação da Seleção Brasileira, para valorizá-los na hora de vendê-los para a Europa.

Desse jeito vamos mal, muito mal. Mas, não é só isso. Mal havia acabado o massacre do Mineirão, e os dirigentes nacionais e regionais do futebol começaram a pedir a demissão de Luiz Felipe Scolari e uma “renovação generalizada na seleção”. Mas, quem será essa gente que clama por renovação? Os arautos da mudança, que falam em novos ares, são justamente os dirigentes que se cristalizaram na estrutura do futebol, tanto na CBF, como nas federações estaduais. Os que hoje querem mudanças, são os mesmos que estão no poder a até 40 anos. Os que são diretamente responsáveis pelo caos estabelecido no futebol, agora falam que é preciso renovar. Vejamos o caso de Delfim Pádua Peixoto Filho.

Ele é presidente da Federação Catarinense de Futebol há 29 anos. No dia seguinte ao vexame da goleada de 7 X 1, ele foi à imprensa afirmar que Felipão "está obsoleto". Depois deles, vieram vários outros presidentes com discursos parecidos. Se Felipão está obsoleto o que dirá José Gama, que preside a federação de Roraima desde 1974. E que tal Carlos Orione, da federação do Mato Grosso, desde 1976? José Carivaldo preside a federação de Sergipe, desde 1990, e está em seu sétimo mandato. E não esqueçamos Rosilene Gomes que preside a Federação Paraibana de Futebol desde 1989. Inclusive, ela está afastada do cargo por "fortes indícios de irregularidades". O Ministério Público até pediu a prisão dela devido às claras evidências.

O fato é que existe uma estrutura de poder que paira acima e além do futebol. Os 27 presidentes das federações, mais os 20 presidentes dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, formam o colégio eleitoral que elege o presidente da CBF. A direção da própria CBF está nas mãos do mesmo grupo desde os tempos de João Havelange, passando por Ricardo Teixeira, o Paulo Maluf do futebol, e chegando ao José Maria Marin, aquele mesmo que não pode ver uma medalha de ouro. Essa gente transformou o futebol num grande butim, uma espécie de negócio familiar. Ver esses senhores, de mentes carcomidas, falando em mudanças soa tão falso quanto o esquema tático do técnico Felipão que vimos naufragar na tragédia do Mineirão.
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