Todo mundo sabe que o livro de ponto é uma forma de
se registrar a entrada e saída de uma pessoa de seu local de trabalho. Inclusive,
hoje em dia se usa largamente o ponto eletrônico, com a identificação
biométrica, que é usada até em processos eleitorais.
Mas, a Câmara Municipal de Campina Grande segue utilizando
o velho e bom livro de ponto. E que não se diga que nossa Câmara de vereadores utiliza
o livro de ponto por incompetência ou por falta de condições materiais. A
questão não é essa. O livro de ponto é, ainda, utilizado na Câmara Municipal
por uma opção dos senhores vereadores. Opção? Sim, isso mesmo! Os vereadores
preferem usar o velho e surrado livro de ponto ao invés de um processo mais
moderno.
O caro ouvinte deve se perguntar por que a Câmara
Municipal prefere usar um instrumento antiquado, ao invés de dispor de algo
avançado. É como se preferissem usar uma maquina de datilografar ao invés de um
computador. O fato é que se o ponto eletrônico, com identificação biométrica,
passar a ser utilizado vai se criar um mecanismo de controle dos mais
eficientes. Vai se criar um mecanismo para controlar a presença dos senhores
vereadores nas sessões plenárias.
É por isso que os vereadores preferem o passado. É
por isso que eles esnobam o futuro. Vejamos como as coisas se processam na
utilização do velho livro de ponto. Em primeiro lugar é preciso ter claro que o
livro de ponto é móvel - ele vai até onde o vereador está. Já o ponto
eletrônico teria que ficar afixado em um determinado lugar. Sabemos que alguns vereadores
desenvolveram o hábito de apenas passarem pela Câmara Municipal, para assinarem
o livro de ponto, e seguirem para cuidarem de suas vidas.
Funciona assim: o
vereador entra, no seu carro, no estacionamento da Câmara Municipal e um
funcionário vai até ele para que, sem que precise sair de seu carro, o
apressado vereador assine o tal livro de ponto. Daí que num dia de sessão
plenária é possível se ver um descompasso entre o número de vereadores que
assinaram o livro de ponto e o número de vereadores que efetivamente,
fisicamente, estam no plenário da casa.
Outra forma, mais
sofisticada, é o vereador poder assinar o livro horas ou mesmo dias após a
sessão ter ocorrido. Neste caso, deixam-se algumas linhas em branco entre o último
vereador a ter assinado e o carimbo colocado pelo 1º secretário da Câmara. É
engenhoso. É o velho “jeitinho brasileiro” funcionando para maximizar ganhos e
minimizar perdas dos senhores vereadores, os mesmos que deveriam cumprir as
regas e normas que elaboram.
O carimbo, com a
assinatura do 1º secretário da Mesa Diretora, passou a ser posto exatamente na
linha seguinte ao último vereador que assinou para que, claro, ninguém pudesse
assinar depois. Eis a “criatividade” de nossos representantes em ebulição. Eles
continuam colocando o carimbo, mas dão um espaço de linhas para que os faltosos
possam, comodamente, assinarem o livro de ponto num dia em que se disponham a ir
à Casa de Félix Araújo.
Ou seja, o livro de ponto
é um instrumento que é comodamente utilizado para esconder os comportamentos
pouco republicanos de nossos vereadores. Com o livro de ponto as faltas dos
vereadores não são computadas. Na verdade, elas inexistem.
Mas, que não se pense que
os vereadores não zelam pelo livro de ponto. Eles cuidam do livro com desvelo. O
apego é tanto que não querem que outras pessoas tenham acesso ao livro. Do que
receiam os vereadores? Que alguém amasse o livro? Não, não é isso! Só quem tem acesso ao livro de ponto são os
vereadores e alguns poucos funcionários da Câmara. O cidadão, eleitor, não pode
simplesmente chegar e solicitar para verificar o livro de ponto. Até pode, mas duvido
que receba a devida autorização. Um intrépido repórter, que compõem a equipe de
jornalismo da Campina FM, foi praticamente agredido fisicamente quando tentou
alcançar o livro de ponto para verificar a presença dos vereadores. Claro, o
repórter estava apenas cumprindo seu papel. A
questão do livro de ponto é levada tão a sério que virou proposta de campanha.
O vereador Fernando Carvalho viu suas
possibilidades de se tornar presidente da Mesa Diretora minguarem quando propôs
a implantação do ponto eletrônico. É que os vereadores não gostaram de saber
que o anacrônico livro de ponto, que faz sumir suas faltas, iria se substituído
por um equipamento que impede as artimanhas e os jeitinhos que eles tão
criativamente dão para mascararem suas ausências da Câmara.
Fossem nossos vereadores pessoas de atitudes
republicanas não precisaria de nada disso. Nem do livro e nem do ponto
eletrônico. Nem eu precisaria ficar aqui fazendo uma coluna sobre uma coisa tão
antiga como o livro de ponto.
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