quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Somos um bando de irreformistas

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Nos dias de hoje, principalmente nos períodos eleitorais, sempre falamos em reformas. Às vezes penso que somos reformistas por definição! Mas, na verdade, apenas gostamos de falar em reformas, daí a praticarmos já vai uma grande distância. Estamos sempre falando em reformas! Tem sempre alguém defendendo a reforma tributária e do modelo econômico. A reforma agrária continua sendo bandeira de luta de movimentos organizados. Muita se fala, também, de reformas na educação.

E ainda existe a mãe de todas as reformas – falo da reforma política, que é aquele negócio que ninguém sabe bem o que é, e nem como fazer, mas que todo mundo defende como se fosse à panaceia para todos os nossos problemas. Há 54 anos, em 1963, também era assim. Só se falava em reformas. No início da década de 1960 a sociedade brasileira se mobilizou em torno das Reformas de Base. Naquela época havia um amplo sentimento de que, sem reformas, nunca sairíamos do terceiro mundo. De fato, foi isso mesmo. Não fizemos as reformas (alguns, como eu, preferem chamar de revolução), pois preferimos o autoritarismo, e ficamos assim: grandes e subdesenvolvidos.

Em 1963, o presidente da República era João Goulart. Menos por vontade própria e mais pela pressão de vários setores da sociedade, Jango aderiu às reformas de base não sem algumas vacilações pouco normais para a época. No passado, as reforma tinham alta capacidade de mobilizar a sociedade, ao contrário dos nossos dias, aonde as pessoas só vão às ruas para lutar por coisas sem sentido, e atrapalhar o trânsito, ou para pedir a volta da ditadura militar ou o fim da corrupção, atendendo aos interesses dos que jamais vão às ruas até porque são protegidos pelo tal foro privilegiado.
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Se no passado se lutava por reforma agrária, política e educacional, hoje o máximo que fazemos é participar ocasionalmente de manifestações contra a corrupção. Apesar de que não adianta ser contra a corrupção e eleger “Malufs” e “Severinos Cavalcantis” a cada dois anos. O fato é que no passado éramos reformistas praticantes, hoje não passamos de uns reformistas de botequim.

Um movimento de massa organizado lutava pelas reformas de base e reivindicava do Congresso Nacional medidas constitucionais necessárias para uma consequente reforma das instituições. Mas, pelo que lutavam os reformistas da década de 1960? Eles se mobilizaram por uma reforma agrária que democratizasse o acesso a terra e que desse às pessoas condições de viver, comer e se desenvolver junto com suas famílias. Pasmem! Mas, em 1963 já se falava em transposição do Rio São Francisco. A mesma que se arrasta pelos anos, torrando somas fantásticas de dinheiro, enquanto a seca devora o povo nordestino impiedosamente. Em 1963, 90% das terras no Brasil estavam nas mãos de apenas 10% da população. Passados 54 anos, apenas 10% das terras brasileiras estam nas mãos de 90% dos brasileiros. Ou seja, não mudamos nossa estrutura fundiária porque seguimos sem fazer uma ampla reforma agrária. 

Lá em 1963 falava-se muito em reforma urbana para que grande parcela da população pudesse ter boas condições de moradia e para que o fosso social, que separa as pessoas de acordo com seus locais de moradia, fosse encurtado. Claro, não fizemos reforma urbana – as favelas estam aí para não me deixarem mentir. Lutava-se por reforma educacional que ampliasse a rede pública de ensino. Os jovens entravam na luta política pela porta das mobilizações por mais vagas nas universidades.

Como nos dias de hoje, se lutava em 1963 por reforma tributária que corrigisse a desigual distribuição de encargos entre o capital e o trabalho, entre ricos e pobres. Essa é outra reforma que adoramos defender, mas não parecemos saber o que fazer para efetivá-la. Além da questão tributária, falava-se da reforma bancária que pudesse levar crédito e financiamento a todas as forças produtivas do país a juros normais, sem usura e sem corrupção. O financiamento até foi democratizado, já a usura e a corrupção...

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Naquela época se falava muito em reforma administrativa que pudesse dotar o Estado brasileiro de uma estrutura mais sólida, menos dependente da burocracia e com eficientes mecanismos de controle contra a corrupção. Claro, essa reforma jamais foi feita, do contrário não estaríamos às voltas com essa grande quadrilha de criminosos que pilham o Estado brasileiro, enquanto fingem que governam, impedindo que se possa desenvolver. Em 1963 falava-se em reformar o sistema político-partidário e a forma da representação. Falava-se em reformar os poderes e as eleições. Hoje, continuamos a falar dessas coisas, apenas encontramos um termo que resume tudo isso: é a tal reforma política.
Sempre se dirá que não se fez reformas por causa do golpe civil-militar de 1964. É que, com ditadura, ficou mesmo difícil fazer reformas sociais e políticas. É preciso não esquecer que o golpe foi dado exatamente para se impedir que as reformas de base acontecessem. Mas, a ditadura não teria acabado a 32 anos, tempo considerável para se reformar tudo, inclusive o Estado brasileiro? O fato é que somos um bando de reformistas de gabinete. Até achamos que devemos nos reformar, mas como não sabemos como, seguimos assim irreformáveis.


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Progama FALANDO SÉRIO na CREATIVE TV de Picuí-PB





No Programa FALANDO SÉRIO da CREATIVE TV, apresentado por Fabiana Agra - jornalista e advogada - e pela Profª do IFPB/Picuí Virna Cunha, falamos sobre nossos livros, sobre a conjuntura politica brasileira atual e a relação dela com o golpe civil-militar de 1964 e o Estado autoritário que perdurou por longos 21 anos, dentre outras coisas.

Exploramos nossas produções acadêmicas ou não, expressamos nossas preocupações com a atual conjuntura, onde o Brasil parece estar sendo propositadamente desmontado, mas não deixamos, também, de analisar as questões com nossos olhares de estudiosos das ciências humanas e sociais, pesquisadores que somos de nossa realidade.


O Programa, gravado em 08 de novembro de 2017, foi ao ar pela CREATIVE TV (www.canalctv.net ), a primeira TV via internet da cidade de Picuí (PB) que cobre toda a região do Curimataú e Seridó Paraibano. A CREATIVE TV contribui para o desenvolvimento midiático da região registrando fatos do dia-a-dia e levando informação, cultura, entretenimento, esportes, educação para a população da cidade e da região.


No mesmo dia em que gravamos este programa na CREATIVE TV, tivemos o evento Roda de Conversa com discentes e docentes das Redes Estadual e Federal de ensino, promovido pela Diretoria de Desenvolvimento de Ensino do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) - Campus de Picuí. Tivemos o lançamento do livro "O DEZESSEIS - OS RETIRANTES DA DEMOCRACIA" de Fabiana de Fátima Medeiros Agra e do meu livro, além de um excelente debate sobre o Golpe Civil-Militar de 1964 e a atual conjuntura golpista que enfrentamos. Na ocasião fui brindado com uma resenha muito interessante feita pela professora Virna Cunha que pode ser lida abaixo.


A esquerda pela esquerda: Consciência e ciência do papel dos grupos de esquerda na Paraíba por Virna Cunha Farias


 Gilbergues Santos é graduado em História pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, especialista em História política do Brasil República e é mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Gilbergues é professor da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB desde 1993. O pesquisador também se dedica a blogs sobre política e a programas em rádio em que refletia a conjuntura política do momento.
Em "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido?" o autor faz uma análise do papel dos movimentos de esquerda em Campina Grande com recorte temporal para os anos de 1968 a 1972, anos considerados difíceis devido ao endurecimento da Ditadura Militar instalado aqui após o golpe de 1964. Sua pesquisa volta-se para as ações do Partido Comunista Brasileiro – PCB – e da tendência que este partido de linha marxista – leninista apresentava para um viés de autoritarismo e a antidemocrático. 

Temos uma obra que traz uma contribuição muito grande não apenas por mostrar os movimentos de esquerda aqui na cidade, mas pelo lado autoritário desses movimentos serem pensados e mostrados por alguém que também militou na esquerda, temos então a esquerda vista pela própria esquerda e não o antagonismo esquerda X direita que sempre se apresenta quando o assunto é autoritarismo.
O livro está dividido em 3 capítulos, além da apresentação feita pelo professor Rangel Júnior , reitor da UEPB e das partes introdutórias e das considerações finais do autor. No primeiro capítulo, "PCB e a Matriz autoritária da Esquerda Brasileira", o autor discute os principais elementos autoritários do PCB e as críticas de Marx à democracia, entendida por ele como coisa de burguês. O autor ainda reflete no mesmo capítulo sobre a pobre tradição democrática de nossa sociedade e a relação entre comunistas e militares.
No segundo capítulo, "O dilema dos comunistas: revolução ou reformas?", o autor discute as ambiguidades em torno da luta dos comunistas sempre colocando em pontos contrastantes questões como as reformas sociais tão desejadas pelas classes trabalhadoras, embora que elas custem à democracia. Os opostos estão sempre presentes neste momento conturbado que a esquerda se finca entre as reformas ou a violência revolucionária até retornarem ao caminho da ação armada. Neste momento, o pesquisador reflete também como essas inquietudes da política nacional eram absorvidas em Campina Grande, objeto principal de sua investigação.
No terceiro e último capítulo, "Atuação das organizações revolucionárias em Campina Grande", o autor volta-se para o seu objeto de estudo e relata como essas organizações de esquerda agiram na Rainha da Borborema. Nas considerações, o pesquisador retoma partes já comprovadas e conclui como a atuação das organizações revolucionárias de esquerda se mostraram antidemocráticas e autoritárias, apesar de não haver usado de luta armada em Campina Grande. Acredita o historiador em que o fato de Campina ser uma cidade interiorana tenha contribuído para que o papel desenvolvido aqui tenha sido de apoio e infraestrutura, mesmo estando a esquerda daqui antenada com o que acontecia no resto do país.
O livro traz uma contribuição muito grande não só na área de História, mas também na de Sociologia já que estuda questões inerentes aos movimentos sociais como também a forma que a nossa sociedade entende o processo democrático.  A reflexão que deixa de como o homem é afeito a meios autoritários para se chegar a determinados fins faz com que percebamos que dominar através da força bruta não é coisa nem de direita, nem de esquerda, mas coisa do ser humano, da fera que há no homem de todos os tempos.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A “camarotização” do São João


Há alguns dias postei a coluna Devolvam meu São João onde externava minha tristeza ao constatar que o São João de Campina Grande, que já foi o melhor do mundo, não existe mais. Afirmei que o Parque não mais pertence ao povo e critiquei a administração municipal por ter permitido “que uma empresa montasse uma casa de shows fechada no lugar do arraial que tínhamos”. Falei, indignado, que o São João é nosso patrimônio imaterial e “que ninguém pode adulterá-lo dessa forma arrogante visando atender interesses particulares”.

Como no Brasil nada é tão ruim que não possa piorar, o prefeito Romero Rodrigues anunciou que vai “buscar solução para o São João de 2018”. Mas, qual seria o problema que estaria enfrentando o São João? Segundo o prefeito, o “Parque do Povo não comporta mais o evento”. Mas, o Parque do Povo não vem comportando o São João a 34 anos? Porque de um ano para o outro deixou de comportar? O que ocorreu em 2017 que não mais permitiria que nossa festa maior coubesse em seu palco tradicional? Segundo o prefeito, o “Parque do Povo se tornou pequeno, congestionou as ruas. Se a gente conseguisse uma área central maior que o Parque, seria ideal, porque a festa tem que crescer ainda mais”.

O prefeito não disse a quem interessam as soluções. Se a prefeitura, sua administração e seu partido, se ao povo, se aos comerciantes e empresários da cidade ou se a empresa que gerenciou a festa através de uma parceria público-privada, eufemismo para o termo privatização. O modelo de evento promovido pela tal empresa, que “comprou” nossa tradição e direitos culturais, não cabe no Parque do Povo porque ali ela não terá o lucro exorbitante que almeja. Simples assim!

Existe uma questão legal que é o fato do Parque do Povo ser um BEM PÚBLICO e não poder ser temporária ou definitivamente privatizado. Infelizmente, muitos campinenses ainda não se deram conta disso! A prefeitura parece querer se antecipar às questões jurídicas, que por certo enfrentará, caso leve a frente essa sandice de privatizar totalmente o São João. É por isso que busca “soluções” para os supostos problemas aventados. Além disso, que destino se dará ao Parque do Povo no caso do São João ser levado para outra área da cidade? Fosse eu do ramo da especulação imobiliária responderia essa pergunta? Claro, que não!

O prefeito falou em congestionamento das ruas, citando que ele mesmo demorou mais de uma hora para chegar ao Parque do Povo, e que portões (da casa de shows erguida no lugar do “Forródromo”) tiveram que ser fechados. Ora, congestionamentos temos todos os dias – é uma realidade nossa. Os portões foram fechados porque houve uma limitação da livre circulação da população no Parque do Povo, já que o espaço público foi delimitado para o uso de camarotes, cercas e o equipamento, utilizado por patrocinadores, estranho a festa popular.

Temos que fazer mudanças em nosso São João. Por isso me juntei ao movimento “#Devolvam meu São João”, pois o que temos no Parque do Povo não é mais uma festa junina. Assim, transcrevo abaixo o texto do arquiteto e urbanista campinense Marcus Vinícius Dantas que sempre nos traz bons argumentos para nossas polêmicas municipais, a exemplo de quando a Prefeitura ergueu o monstrengo dos “150 anos de Campina Grande”. A propósito, Marcus Vinícius lançou o livro “Quem te vê não te conhece mais – Arquitetura e transformação na cidade de Campina Grande, 1930-1950” pela Editora da Universidade Federal de Campina Grande. A obra trata das mudanças sofridas pela cidade e como “investidas do poder público e da iniciativa privada romperam com formas anteriores de produção e uso da cidade instaurando novas estéticas...”.


"Tudo tão previsível! Faz anos que estão criando dificuldades para vender facilidades. E é óbvio que já têm a solução. Só precisam melhorar os argumentos para a remoção. Esse do congestionamento, usado para tudo, não se sustenta. Perguntas:
1) Será que o São João de Campina Grande precisa “crescer ainda mais”?

2) Caso sim, esse crescimento precisa ocorrer em que aspectos? Incentivo a quadrilhas, trios de forró, artistas da região, culinária, artesanato, arraiais de bairro e demais manifestações culturais locais? Ou incentivos a mega shows, CAMAROTIZAÇÃO do espaço público e atrações vinculadas às grandes empresas do show business nacional? Não foi exatamente a adesão a essa segunda opção que gerou o dito “estrangulamento” do parque? Porque, para isso, só o infinito resolve a “falta” de espaço.

3) Qual a dimensão pública que a prefeitura imagina para a festa, como manifestação cultural que se tornou um dos traços da identidade local?

4) Vale a pena abrir mão de um lugar que, por anos, recebeu investimentos públicos justamente para a realização desse evento? Com a privatização da festa ocorrida este ano, quem faria os investimentos para a construção de um novo espaço? E o que fariam do Parque do Povo caso deixe de receber o São João? Quais outros interesses existem para aquela região da cidade?

5) Campina Grande não teria outras prioridades para receber a atenção e os recursos públicos?

6) Vale a pena abrir mão da história e das memórias construídas ao longo do tempo no Parque do Povo? O Parque do Povo não é um dos elementos constituintes da identidade do Maior São João do Mundo? Talvez, esteja errado. E o tempo pode me mostrar o contrário. Mas, a partir de hoje, acho que tirar o São João do Parque do Povo é um tiro no pé. Senhor Prefeito, não é só uma questão de “congestionamentos” e quantidade$. Muitas outras questões estão vinculadas”.


quarta-feira, 21 de junho de 2017

Devolvam o meu São João


Em “Homenagem ao Malandro” Chico Buarque diz: “Eu fui fazer um samba em homenagem/ À nata da malandragem/ Que conheço de outros carnavais/ Eu fui à Lapa e perdi a viagem/ Que aquela tal malandragem/ Não existe mais”. Chico fala de como o capitalismo mudou o Rio de Janeiro.

Fui ao Parque do Povo, que conheço de outros São Joões, e perdi a viagem, pois aquele tal forró não existe mais. Eu fui ao Parque do Povo e sai de lá triste, pois não temos mais o “São João” e nem o “Forródromo”! O parque não mais pertence ao povo. A Prefeitura Municipal de Campina Grande vendeu, alugou, terceirizou ou seja lá qual foi a transação que permitiu que uma empresa montasse uma casa de shows fechada no lugar do arraial que tínhamos. Isso é muito grave! O São João é patrimônio imaterial do povo brasileiro. Ninguém pode adulterá-lo dessa forma arrogante visando unicamente atender interesses particulares.

Um amigo me enviou este cartaz com os eventos juninos da antiga casa de shows “Forrock” que havia em Campina Grande. No “Forrock” assisti shows memoráveis de Elba Ramalha, Zé Ramalho, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Fagner, Gal Costa. Teve um show inesquecível de Ray Conniff e The Platters e teve dois shows de Chico Buarque – um deles foi em 1989 quando votamos para presidente pela primeira vez depois da Ditadura Militar.

Quando vejo este cartaz com shows que já tivemos o que é tristeza se torna raiva, indignação. Revolto-me em saber que já tivemos Alceu Valença, Genival Lacerda, Assisão, Sivuca, Alcimar Monteiro, Flavio José, Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, Nando Cordel, Zé Calixto, Abdias e que hoje nos resta o lixo expelido pelo mercado da música. Sempre se poderá dizer que muitos desses já morreram. Mas, aqui falo bem mais da tradição e da cultura do que de nomes específicos.

Alcymar Monteiro, um herói da resistência forrozeira, disse que a música da sertaneja Marília Mendonça é “breganejo e porcaria”. É que Elba Ramalho, Chambinho do Acordeon e Joquinha Gonzaga lançaram a campanha “Devolva meu São João” criticando as festas juninas terem muito mais música sertaneja do que forró pé-de-serra. Marília Mendonça provocou a campanha num show em Caruaru dizendo que “vai ter sertanejo porque o povo quer”.

Alcymar lembrou que nordestinos sentem uma dor imensa pelos crimes que fazem com nossa cultura, como uma pornográfica versão de Asa Branca feita por um funkeiro. Se nossos forrozeiros não são chamados para cantar na “Festa do Peão de Barretos” porque deveríamos trazer a tal da “sofrência” para cá? Mas, o alvo das criticas não deve ser apenas os cantores sertanejos, mas sim quem os contrata. As prefeituras de tantas cidades nordestinas abusam do expediente de contratar atrações “da moda” sob a fajuta tese de que o “povo gosta”. E aqui entramos na seara da relação promiscua entre prefeituras e as tais “bandas de forró”.

Eu vivi a época do “Forrock” e ela foi muito boa! Bem vivi o tempo em que o “Forródromo” era um grande arraial. Íamos para o Parque do Povo, que era de fato do povo não de uma empresa que determina até o que se bebe e se come, para dançar forró, para nos divertirmos, para “brincar o São João” como diziam os mais velhos.


Tinha festa junina em vários locais da cidade, não havia essa centralização autoritária em torno de um evento fechado. Não tinha essa fuleiragem de “palco 360°” que não gira ou de cerca em volta do “Forródromo” como se fôssemos gado num curral. Nessa época padre não era celebridade e não fazia shows midiáticos disfarçados de romaria. Não havia inúmeras duplas sertanejas poluindo o ar com suas vozes insuportavelmente estridentes. Também não tinha funkeiros, cantores safados e safadões falando putaria a noite inteira.


Enfim, eu sou do tempo que tinha São João. Eu sou do tempo que nossa cultura e tradições eram respeitadas pelo poder público e que os prefeitos de Campina Grande não ousavam passar por cima da "autoridade" de Santo Antônio, São João e São Pedro. Por isso é que grito a plenos pulmões: “DEVOLVAM MEU SÃO JOÃO!”.



quinta-feira, 18 de maio de 2017

"Decime que se siente" - O Brasil e a teoria do fundo do poço




A celeridade e a agonia dos fatos dificultam o cumprimento do metiê do cientista político que é analisar o estado de coisas que nos cercam. Assim, vou elencando análises, opiniões, dados e informações relevantes para lidarmos com este momento. A teoria de que o fundo do poço, no Brasil, seria apenas uma etapa a se cumprir rumo ao infinito, as profundezas, parece mesmo crível.


A impressão que tenho é que chegamos a fase "fundo do poço" com o presidente da República, flagrado, incentivando alguém a seguir "comprando o silêncio" de um ex-deputado preso e com um senador, ex-candidato a presidente, pedindo para um empresário lhe dar dinheiro para ele se defender de acusações feitas nos vários inquéritos que tem que responder.


A medida em que a delação premiada de um dos proprietários da empresa JBS, Joesley Batista (JB), foi invadindo o noticiário, a partir de material vazado para o jornal O Globo (e já é tempo de perguntar quem, como e porque vazou?), fui analisando a questão a partir das consequências que podem se gerar. Em tempo, não precisa muito para deduzir que essa delação do JB é uma vingança por causa da "Operação carne fraca", um braço da Lava Jato, que atingiu em cheio os frigoríficos Friboi.


O tal JB disse que Aécio Neves lhe pediu R$ 2 milhões para pagar suas despesas com os inquéritos da Operação Lava Jato. Mas, se listarmos as acusações que pesam sobre o senador, essa do JB parecerá brincadeira de criança. Certo, Aécio Neves foi afastado do cargo e não é mais presidente do PSDB, está proibido de deixar o país, pessoas próximas a ele já estam presas, ele teve imóveis devassados pela Polícia Federal, o STF ainda não teve coragem de mandá-lo para cadeia, etc, etc, etc. Isso tudo pode, sabemos, dar em nada. Mas, e isso não é pouco, o senador viu seu capital eleitoral esvair-se em menos de 24 horas.


Falando em consequências, estive pensando nos sentimentos dos 50 milhões, 993 mil e 533 brasileiros que votaram em Aécio Neves para presidente da República em 2014. 
Como será que estes 48.35% dos eleitores estam se sentido agora que não podem mais se enganar, que não podem mais supor que votaram num homem íntegro, honesto, sincero? Como diriam os argentinos, "decime que se siente" agora que não mais poderás dizer, tal qual o ex-jogador de futebol Ronaldo Nazário, que não tens nada haver com isso pois votastes em Aécio Neves? Longe de querer tripudiar, falo como um dos quase 54,5 milhões de brasileiros que votaram em Dilma Rousseff e que bem sabem que ela não cometeu os crimes, que lhe foram imputados, e que serviram de justificativa para o processo de impeachment de 2016. 


Assista o vídeo acima! Nele vemos atores da Rede Globo como Ney Latorraca, Rosamaria Murtinho, Márcio Garcia, Marcelo Madureira emprestando suas famas para Aécio. Faltou Regina Duarte dizendo que estava com medo do PT e de Lula. Vemos cantores como Fagner, Sandra de Sá, Zezé di Camargo, Chitãozinho & Xororó, Bruno & Marrone, afirmando que Aécio é a melhor solução. Esportistas como Bernardinho, Zico, Anderson Silva, Oscar Schmidt destacam que Aécio representa o novo. Cada um tem o direito de ter opiniões e opções. As pessoas devem ter liberdade até mesmo para se enganarem! Mas, por favor, "decime que se siente!"



Esta charge explica a situação de uma forma que tivesse eu espaço para dez mil palavras e mesmo assim não o faria tão claramente. Após o jornal O Globo e o Jornal Nacional decretarem o fim do governo usurpado de Michel Temer, ao divulgar a delação premiada do JB, fiquei imaginando quanto tempo o presidente mais ilegitimo, desses anos de frágil democracia, permaneceria no cargo que legalmente pertence a Dilma Rousseff.

Imaginei que Temer resistiria mais uma semana se tanto. Seria o tempo hábil para a Rede Globo, e suas afiliadas oficiais e oficiosas, ruminar as denuncias forçando a renuncia. Passaram-se 24 horas e Temer segue dizendo que não renunciará. Mas, a essa altura ele já deve ter dito a D. Marcela para fazer as malas de volta a São Paulo.


É que o Supremo Tribunal Federal (STF) já autorizou abertura de inquérito contra Temer acatando a solicitação da Procuradoria-Geral da República (PGR). O que mais fazer depois que JB delatou que encontrou Temer (em 07 de março) para lhe dizer que seguia pagando o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e do lobista Lúcio Funaro?


Inclusive, JB gravou a conversa e nela o ainda presidente diz: "tem que manter isso, viu?" se referindo a necessidade de dar prosseguimento ao mutismo de Cunha e do lobista. Temer resiste porque é preciso manter os fundamentos do golpe de 2016, do qual é simbolo maior. Temer sairá, sim, da presidência, mas só quando terminar de fazer o papel sujo ao qual se prestou de tão bom grado. Tal qual Eduardo Cunha, será cuspido fora assim que não mais for útil. 




O fato é que o conglomerado golpista desmoronou. Agora é cada um por si e o diabo por ninguém. Os setores poderosos da comunicação, como a Rede Globo, não parecem mais querer gastar preciosos minutos com matérias para inocentar os Aécios Neves que pululam por aí. 


O Judiciário faz o seu próprio jogo vislumbrando poder ter um dos seus no lugar de Temer. Falo da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia. É que com a renúncia (ou impeachment) de Temer e a impossibilidade dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, respectivamente o "Botafogo" e o "Índio" no esquema da Lava Jato, assumirem a presidência (devido aos inquéritos onde são réus), Cármen Lúcia seria a próxima na linha sucessória presidencial. Tudo com as bençãos do setor de comunicação do conglomerado golpista.


Lembra a história que diz que quando o barco começa a afundar os ratos são os primeiros a sair? No caso brasileiro, o barco, digo governo, é formado por ratos, ratazanas e demais corroedores das instituições politicas. O barco do governo golpista se encontra nas profundezas de um mar de lama sem fim e suas ratazanas mais pesadas anunciam que vão abandoná-lo.



O ministro da cultura, Roberto Freire (PPS), anunciou que vai deixar o governo Temer por causa da "revelação de que o presidente foi gravado dando aval para compra do silêncio de Eduardo Cunha". O ex-comunista descobriu, finalmente, que o governo que tanto contribuiu para montar é um grande barco cheio de ratazanas? Quanta ingenuidade!




O PSDB, com seu extinto de sobrevivência a flor da pele, está em permanente reunião desde o final da edição do Jornal Nacional da quarta-feira (17/05). A direção nacional já decidiu que Aécio Neves está por conta e risco, como se dizia antigamente, e que tem que deixar a presidência do partido. Não me parece que o grã-tucanato paulista esteja preocupado com as dores e o futuro político do senador mineiro.


Fernando Henrique Cardoso já emitiu o canto da sereia pela imprensa defendendo um mini-programa com viés golpista. A ideia é (1) PSDB entrega todos os cargos que tem no governo; (2) Temer renuncia; (3) Aécio Neves deixa presidência do partido e some das vistas tucanas; (4) num processo dos mais rápidos, teríamos uma eleição indireta no Congresso Nacional que escolheria um novo presidente. Imagine, as ratazanas da Câmara e do Senado escolhendo um presidente sem ter que se preocupar com seus próprios eleitores! Faltou apenas FHC propor a recriação do senador biônico dos tempos da ditadura militar.


Por que o PSDB defenderia uma eleição indireta? Elementar, porque se for disputar uma eleição direta contra Lula perderá, mesmo que seu candidato seja o Anjo Gabriel tendo o Papa Francisco como companheiro de chapa.


Por ora, resta-me pensar como cidadão, eleitor. Preciso perguntar o que é melhor para nossa sociedade e a resposta é só uma: PRECISAMOS DE UMA ELEIÇÃO DIRETA JÁ, AGORA!, pois o que as ratazanas querem é diametralmente oposto e diferente do que nós, ratinho sem eira nem beira, queremos.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Como terminou o FLA X FLU de Curitiba?



Se o embate proposto pela Revista Veja, entre o Juiz Sérgio Moro e o ex-presidente Lula, é crível (não é, pois Veja deixou de ser uma publicação séria e confiável); se resumiremos a política nacional ao enfrentamento entre dois homens ideologicamente opostos; se vamos tratar o depoimento que Lula prestou, na semana passada em Curitiba, como um FLA X FLU; se vamos ver a situação pelo monocromatismo que a Rede Globo impõem então, sim, a relação abaixo pode ser tratada como (SIC) “os melhores momentos do depoimento de Lula ao Juiz Moro”.

Na verdade, tivemos uma espécie de programa piloto, um balão de ensaio, montado pelo próprio Moro e seus procuradores amestrados. É que, na hipótese de nada mais dar certo, está aberta a temporada de buscas ao anti-Lula para as eleições 2018 já que Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin, et caterva ficaram inviabilizados por envolvimentos nos mais sórdidos casos criminais.

Claro, Marina Silva poderá ressurgir do fundo da floresta onde se esconde quando não está sentada em cima do muro. Em que pese suas contradições, como ser “representante do povo carente” e defender reformas da previdência e trabalhista, ela pode ser uma via para o conglomerado que usurpou o cargo de Dilma Rousseff. Pode, mas não será, pois a elite quatrocentona não quer ter alguém de origem humilde como sua candidata. Como diria o velho Marx, é uma questão de classe social!

Sim, Jair Bolsonaro pode chegar num 2º turno contra Lula. Não seria interessante ver o conglomerado golpista apoiando o filhote da ditadura, como nos diria Leonel Brizola? Já pensou os liberais modernosos de São Paulo defendendo nosso Hitler redivivo para impedir a volta de Lula ao Palácio do Planalto? Com Bolsonaro viabilizado para as urnas as máscaras vão cair. O que vai fazer a Rede Globo, por exemplo, apoiar Lula, adotar o verde oliva como cor oficial ou ignorar as eleições?

Se o poder (discricionário) da República de Curitiba não conseguir enquadrar Lula, se não o condenar em segunda instância para torná-lo inelegível, e se os planos de adiar as eleições 2018 para 2020 (ou mesmo 2022) não vingarem, restará ao conglomerado golpista (demolidor das instituições políticas e dos direitos sociais e trabalhistas) procurar alguém que posso enfrentar Lula nas urnas. Foi por isso que Moro promoveu o enfrentamento contra Lula. Foi um teste que o emplumado juiz se propôs a participar tentando demonstrar para o conglomerado que pode ser o anti-Lula em 2018. A tirar pelas respostas de Lula, pelo comportamento titubeante, fugindo das réplicas e tréplicas, e pela atitude pusilânime Moro foi reprovado no vestibular pré-eleitoral que o PSDB vem promovendo.

Aliás, outros ainda serão reprovados. Falo do prefeito João Dória Jr. e do animador de auditórios Luciano Huck. Numa entrevista à Folha de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso os apresentou como o que há de mais “novo no cenário político”. Dória e Huck são, isto sim, o velho com roupagem modernosa. Representam a absoluta falta de opção eleitoral de um PSDB enclausurado num sistema carcomido por práticas corruptivas das quais é useiro e vezeiro.

De Luciano Huck basta dizer que a tática de se mostrar novo, por não ser político, é velha, pois fascistas italianos e nazistas alemães chegaram ao poder como avessos a política. O garoto propaganda da Rede Globo quer ser aprovado no vestibular pré-eleitoral do PSDB promovendo “políticas sociais de auditório”, como nos tem dito Dilma Rousseff, e se mostrando boa pessoa com um bom-mocismo forjado nos bastidores globais? Como alguém que tenta na justiça ser dono de uma praia pode querer ser o presidente da República, mesmo que seja a brasileira?

Dória não é o novo em nada! Com aquele visual yuppie dos anos 1980 mais parece um iogurte, numa arrojada embalagem, com data de validade vencida. Dória foi a Nova Iorque oferecer São Paulo como “oportunidade de negócios para investidores”. Na terça-feira (16/05) recebeu o prêmio “Person of the Year” da Câmara de Comércio Brasil-EUA e nos provou que é tão velho quanto políticos da antiga ARENA ao reproduzir ideias do proto-fascista “Escola sem Partido”. Dória disse que o ensino brasileiro tem “conceito de ideologia e sentimento partidário”. Empolgado pelo nacionalismo estúpido que grassa o Brasil, bradou: "Minha bandeira não é vermelha. É verde e amarela".

Em 1989, o então candidato a presidente Fernando Collor tinha um discurso parecido. Certa vez pediu um "não definitivo à bandeira vermelha (...) vamos dar sim à bandeira do Brasil que é verde, amarela, azul e branca". Por aí se vê que não existe nada de novo em Dória e Huck, como não havia em Collor, pois são todos formados na mesma escola político-ideológica dos tempos da ditadura.
Apresento a lista dos dez melhores momentos da “luta do século” e lembro que ela é uma seleção feita a partir do que saiu na imprensa e nas redes sociais, pois o depoimento de Lula durou cerca de cinco horas. No entanto, ela me parece representativa das fragilidades intelectuais do Juiz Moro e da capacidade do ex-presidente Lula de lidar com situações adversas.

Lula: O Dallagnol não está aqui. Eu queria o Dallagnol aqui para me explicar aquele PowerPoint.
Sérgio Moro: Senhor ex-presidente, preciso lhe advertir que talvez sejam feitas perguntas difíceis para você.
Lula: Não existe pergunta difícil para quem fala a verdade.
Moro: Esse documento em que a perícia da PF constatou ter sido feita uma rasura, o senhor sabe quem o rasurou?
Lula: A Polícia Federal não descobriu quem foi? Não? Então, quando descobrir, o senhor me fala, eu também quero saber.
Moro: O senhor não sabia dos desvios da Petrobras?
Lula: Ninguém sabia dos desvios da Petrobras. Nem eu, nem a imprensa, nem o senhor, nem o Ministério Público e nem a PF. Só ficamos sabendo quando grampearam o Youssef.
Moro: Mas eu não tinha que saber. Não tenho nada com isso.
Lula: Tem sim. Foi o senhor quem soltou o Youssef. O senhor deve saber mais que eu [referindo-se ao escândalo do Banestado].


Moro: Saíram denúncias na Folha no jornal O Globo de que…
Lula: Doutor, não me julgue por notícias, mas por provas.
Lula: Esse julgamento é feito pela e para a imprensa.
Moro: O julgamento será feito sobre as provas. A questão da imprensa está relacionada a liberdade de imprensa e não tem ligação com o julgamento.
Lula: Talvez o senhor tenha entrado nessa sem perceber, mas seu julgamento está sim ligado a imprensa e aos vazamentos. Entrou nessa quando grampeou a conversa da presidente e vazou, conversas na minha casa e vazou, quando mandou um batalhão me buscar em casa, sem me convidar antes, e a imprensa sabia. Tem coisas nesse processo que a imprensa fica sabendo primeiro que os meus advogados. Como pode isso? E, prepare-se, porque estes que me atacam, se perceberem que não há mesmo provas contra mim e que eu não serei preso, irão atacar o senhor com muito mais força.
Moro: Senhor ex-presidente, você não sabia que Renato Duque roubava a Petrobras?
Lula: Doutor, o filho quando tira nota vermelha, ele não chega em casa e fala: “Pai, tirei nota vermelha”
Moro: Os meus filhos falam.
Lula: Doutor Moro, o Renato Duque não é seu filho.
Lula: Doutor Moro, o senhor já deve ter ido com sua esposa numa loja de sapatos e ela fez o vendedor baixar 30 ou 40 caixas de sapatos, experimentou vários e no final, vocês foram embora e não compraram nenhum. Sua esposa é dona de algum sapato, só porque olhou e provou os sapatos? Cadê uma única prova de que eu sou dono de algum tríplex? Apresente provas doutor Moro?
Moro: O senhor solicitou à OAS que fosse instalado um elevador no tríplex?
Lula: O senhor está vendo essa escada caracol nessa foto? Essa escada tem 16 degraus e é do apartamento em que eu moro há 18 anos em São Bernardo. 18 anos a Dona Marisa, que tinha problema nas cartilagens, passou subindo e descendo essa escada. O senhor acha que eu iria pedir um elevador no apartamento que eu não comprei, ao invés de pedir no apartamento em que eu moro, para que a Dona Marisa não precisasse mais subir essa escada?
Lula: O vazamento das conversas da minha mulher e dela com meus filhos foi o senhor quem autorizou.
Moro: Tem um documento aqui que fala do tríplex…
Lula: Está assinado por quem?
Moro: Hmm… A assinatura está em branco…
Lula: Então, o senhor pode guardar por gentileza!

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Se você não tem provas não me venha com chorumelas!




Lembra o "Pedro Pedreira", personagem da Escolinha do Professor Raimundo interpretado por Francisco Milani, que dizia "pedra 90 só enfrenta quem aguenta"?
Lembra que ele levava o Professor Raimundo a loucura porque exigia provas das
afirmações feitas pelo personagem de Chico Anysio? 

Numa aula o professor afirmou que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 22 de abril de 1500 e o Pedreira disse cinicamente: "há controvérsia, tem provas?". O
professor Raimundo disse que não precisava porque todos sabem disso. O Pedreira
não se deu por vencido e pediu uma testemunha idônea dos fatos. Como o
professor, claro, não pode apresentá-la ele encerrou o diálogo com seu famoso
bordão: "então não me venha com chorumelas!". 


O Pedro Pedreira nos ensinava que afirmações são nada se não se ancoram em sólidas argumentações. Você pode me dizer o que bem quiser, até que Hitler era um santo congregado mariano ou que nevará amanhã no deserto, mas se não tiver comprovação, evidência, uma testemunha que seja, se não tiver prova, sua afirmação não passa de uma sandice qualquer. 

Isso se aplica as questões jurídicas, legais. Não basta acusar, tem que provar! Qualquer estudante do primeiro período de um curso de Direito qualquer sabe que o ônus da prova cabe ao acusador. E nós bem sabemos que é próprio dos sistemas políticos autoritários, de governos ditatoriais, a prática de acusar sem provas, de negligenciar as normas processuais para perseguir adversários políticos. 

Lembrei do Pedro Pedreira, que sempre gostei por ele não ser politicamente correto, assistindo partes do depoimento que o ex-presidente Lula prestou ontem (10/05/2017) ao Juiz Sergio Moro em Curitiba. Em várias passagens Lula pediu (eu diria implorou) que o Ministério Público Federal oferecesse provas para as acusações
feitas sobre a questão do tal "tríplex do Guarujá". Mas, uma prova sequer foi apresentada em quase cinco horas de inquirição. Inclusive, Lula lembrou
que o procurador Deltan Dallagnol já havia dito que não precisa de provas, pois
tem convicção da culpabilidade do ex-presidente. Quem não lembra daquela infame
apresentação feita em Power Point, e a partir das convicções dos procuradores
da República de Curitiba, onde Lula aparece como (SIC) "o chefe da
quadrilha"?


Chega a ser patético, mesmo que na prática seja um modus operandis fascista, o Juiz Moro tentando dar ares de legalidade ao seu raivoso inquérito enquanto o réu (Lula) demonstra o óbvio ululante de que o ônus da prova cabe ao acusador, não ao acusado. É esdruxula a inversão da situação, onde juiz e promotores se furtam a apresentação das provas, quando deveriam se bater pelo direito de expô-las.


Ontem não tivemos apenas mais uma oitiva de um processo judicial qualquer. Tivemos, isto sim, mais um capítulo desse show de horrores antidemocrático e autoritário encenado pela súcia autoritária e conservadora que não sossegará enquanto não nos levar em definitivo de volta aos tempos da ditadura militar. 


Quer um, apenas um, exemplo do estado de coisas obscenamente ridículas que vimos ontem? Enquanto o Juiz Sérgio Moro e seus procuradores amestrados chegavam ao tribunal escoltados por uma força tarefa de policias federais e estaduais, Lula (o réu)
chegou sem proteção literalmente nos braços do povo.

Jornalistas de emissoras de televisão, como a Rede Globo, também tiveram que
ser escoltados por policiais e seguranças particulares. Pudera, a justiça curitibana
precisa garantir a integridade física dos que vão fazer o trabalho sujo de
veicular o que ela propositadamente faz vazar para que seja exibido nos Jornais Nacionais país afora. No vídeo acima podemos ver o momento em que Lula se dirige ao Juiz Moro e faz a seguinte declaração:

"O que eu esperava é que o Ministério Público, numa audiência como essa, na sua presença, trouxesse aqui o direito jurídico de propriedade e que dissesse: está aqui, seu Lula disse que (o tríplex) não é dele, mas está aqui, comprou, pagou, tem escritura pronta. Agora fica nesse disse me disse porque eu olhei um prédio e não comprei (...) o que eu quero é que se pare com ilações e que digam qual é o crime que eu cometi. O crime não é ter conversado com alguém na agenda. O crime não é ter ido ver um tríplex. O crime, doutor, eu cometi se eu comprei o apartamento, se tem documento que eu comprei o apartamento, se me deram a chave, se eu dormi lá alguma vez, se a minha família dormiu, se tem escritura pública (...) Não basta alguém levantar uma tese e essa pessoa ser processada, essa pessoa ser massacrada nos meios de comunicação (...) o que eu quero é que tenha respeito comigo, se eu cometi um crime, me prove que eu cometi um crime, apresente a sociedade e o Lula será punido como qualquer outro cidadão, mas pelo amor de Deus apresente uma prova, apresentem!". 

Mais um pouco e Lula diria, tal qual o Pedro Pedreira: "se você não tem provas paras as acusações que me faz, não me venha com chorumelas!". Simples assim!

No vídeo se ouve o juiz Moro tentando cercear o direito de Lula se expressar livremente naquele momento em que o acusado pode falar para se defender. Moro reclama que Lula está fugindo do assunto, mas ele próprio fez perguntas ao ex-presidente de coisas não correlatas com o objetivo da audiência. Foram tantas e tão acintosas as interferências do juiz de primeiríssima instância que o advogado de Lula teve que intervir e dizer: "Excelência, pela ordem, a lei assegura o momento do
interrogando falar o que ele tem em sua autodefesa".
E Lula completou:
"eu estou falando hoje em dois minutos, Dr. Moro, o que se fala de mim
a dois anos".

Eduardo Guimarães escreveu em seu Blog da Cidadania:

"Se tivesse que resumir o que creio que decorreu do 10 de maio de 2017 – data a ser imortalizada –, diria que foi o dia da inflexão política brasileira após um processo acelerado de degradação institucional do país. 
A iniciativa de trazer o ex-presidente Lula a Curitiba e dar a essa iniciativa uma publicidade IMENSA, foi (exclusivamente) do juiz Sergio Moro. Ele poderia ter feito outras opções. Por exemplo, poderia ter mantido sigilo sobre a oitiva ou fazê-la por teleconferência. Por que? Em benefício do Erário, entre outros fatores. 
Escrevo de Curitiba, já na madrugada de quinta-feira 11 de maio. Na noite anterior, jantei com advogados e juristas curitibanos que avaliaram que a operação em torno do depoimento do ex-presidente pode facilmente ter custado acima de milhão de reais(!). Quantas casas
populares ou escolas poderiam ter sido feitas com esse dinheiro?
Por que se optou por trazer Lula a Curitiba e dar grande publicidade ao fato só para, depois, o juiz Moro gravar vídeo manifestando preocupação com o resultado do que ele mesmo armou? É simples: Moro esperava dar o golpe de misericórdia em Lula em sua oitiva em
Curitiba. O ex-presidente chegaria atemorizado, seria humilhado por uma horda
de camisas-amarelas furiosos e, se desse, sairia preso da audiência".



Mas, no final, sabe o que aconteceu? O Juiz Moro saiu fortemente escoltado sem que seus fãs, vestidos de verde-amarelo, aparecessem para lhe apoiar, pois estavam em algum lugar de Curitiba xingando Lula que saiu, mais uma vez, carregado pelo povo e foi discursar para milhares de pessoas numa praça pública.

Lula cresce, se agiganta, quando é atacado. Seus melhores discursos são os que ele, em sua defesa, fala de sua história e de seu governo. Já o juiz Moro vai diminuindo de tamanho a cada dia. Suas atitudes demonstram uma pequenez assustadora  e será assim que ele comporá essa história, como alguém vil que usou as leis de um país para perseguir cidadãos. Moro, tal qual Eduardo Cunha, será expelido desse processo golpista assim que terminar de cumprir seu sujo papel e esse momento parece estar próximo, pois 2018 é logo ali.