Bichos escrotos dão nome aos bois
Vez por outra, quando sou acometido pela incurável dor do saudosismo, aquela dor que é boa de doer, do “tempo-em-que-tudo-era-melhor-do-que-nos-dias-de-hoje”, ouço meus discos de vinil em minha vitrola “Harmony” que, com seu estilo “retrozão”, torna tudo mais delicioso, mais emocionante, com mais cheiro e sabor de antigo.
Para mim, o antigo tem o cheiro delicioso do pão assado pela minha mãe na velha grelha de ferro. O “meu tempo antigo” tem o cheiro do enorme “abacaxi” que saía na palmeira de nosso jardim anunciando que novas folhas brotariam. Minha antiguidade nunca esquecida tem o som do “chiadinho” dos discos de vinil que ouvíamos em casa.
Aliás, o “chiadinho” dos meus discos de vinil é santo remédio para os males de nossos dias. Salvo-me da estupidez que campeia nosso entorno, que faz um procurador da República dizer que está orando e jejuando para que um ex-presidente seja preso, ouvindo meus discos de vinil. Por ser fruto desse tempo que é antigo, mas não é velho, desisti de tentar entender porque sempre acho que as coisas (músicas, filmes, livros, movimentos político-sociais, ideias, modas, costumes) do tempo em que eu era mais jovem são bem melhores do que as de hoje.
E, quer saber? As coisas do tempo em que eu tinha 20 e poucos anos eram bem melhores do que as coisas de hoje quando estou à beira do ½ século de vida. Afinal, não vamos aqui discutir quem é melhor: se Belchior ou Pablo Vittar...
Mas, porque estou divagando? É que estou ouvindo o vinil “Go Back” dos Titãs de 1988 - o primeiro lançamento da banda gravado ao vivo. No encarte, leio a mensagem: “A música ‘Bichos escrotos’ tem a rádiofusão e execução pública proibida em virtude de ter sido vetada pelo Departamento de Censura e Diversões Públicas da S.R. do D.P.F”. Censura?! Mas, a ditaduraE, quer saber? As coisas do tempo em que eu tinha 20 e poucos anos eram bem melhores do que as coisas de hoje quando estou à beira do ½ século de vida. Afinal, não vamos aqui discutir quem é melhor: se Belchior ou Pablo Vittar...
militar já não tinha acabado em 1985? Em 1988 não estávamos aprovando a Constituição Cidadã? Sim e não!
Em 1988 não tínhamos mais um general-presidente no poder e só. De resto, vivíamos numa fragilíssima democracia. Era a “Nova República” do PDS/PFL, de José Sarney, Marco Maciel, ACM, Fernando Collor, et caterva, dos Planos Econômicos Cruzados, da hiperinflação, da incerteza se iríamos eleger um presidente. Neste ano, o líder seringueiro e ambientalista, Chico Mendes, foi assassinado por causa de suas ideias e lutas – a semelhança com a execução de Marille Franco não é mera coincidência. Vivíamos numa ilha de democracia tutelada por um mar de autoritarismo.
Em 1988 não tínhamos mais um general-presidente no poder e só. De resto, vivíamos numa fragilíssima democracia. Era a “Nova República” do PDS/PFL, de José Sarney, Marco Maciel, ACM, Fernando Collor, et caterva, dos Planos Econômicos Cruzados, da hiperinflação, da incerteza se iríamos eleger um presidente. Neste ano, o líder seringueiro e ambientalista, Chico Mendes, foi assassinado por causa de suas ideias e lutas – a semelhança com a execução de Marille Franco não é mera coincidência. Vivíamos numa ilha de democracia tutelada por um mar de autoritarismo.
Vejam a contradição. Enquanto aprovávamos uma nova Constituição, para servir a um Estado que se pretendia democrático, seguíamos censurando bem ao estilo da época em que o Regime Militar mantinha um censor em cada uma das redações dos principais jornais do país. Interessa notar que os diligentes censores da imberbe democracia de 1988 foram tão ágeis e zelosos em
proibir “Bichos Escrotos”, mas deixaram passar “Nome aos Bois”, “Massacre” e “Polícia”. São todas músicas que criticavam fortemente o sistema político-social da época.
Sim, a música “Bichos Escrotos” não fugiria ao crivo do falso moralismo autoritário da época por causa do verso: “Oncinha pintada / Zebrinha listrada / Coelhinho peludo / vão se fuder! / Porque aqui na face da terra / Só bicho escroto é que vai ter”. Mas, as limitações intelectuais dos censores não lhes deixou ver que “Nome aos Bois” nomeia, literalmente, os tais bichos escrotos que existiram e existiam na época. Em “Polícia”, os Titãs diziam: “Polícia para quem precisa / Polícia para quem precisa de polícia”. Nada mais atual.
Aliás, se trocássemos a instituição coercitiva policial pela judiciária, a música ficaria ainda mais atual. Imagine que poderíamos cantar: "STF para quem precisa / STF para quem precisa de Judiciário".
Ouvindo “Nomes aos Bois” me permiti, com devido respeito a uma de nossas melhores bandas de rock, uma licença politico-ideológica. Troquei os nomes que Nando Reis, Marcelo Fromer, Arnaldo Antunes e Tony Bellotto, compositores da música, colocaram por outros que estam em evidência. Os nomes que aparecem na versão original são bastante representativos do que poderíamos chamar daquele nicho da raça humana que não deu certo. Os nomes que coloquei não pretendem superar os originais, mas bem que eles tentam.
Garrastazu
Stalin Erasmo Dias Franco Lindomar Castilho Nixon Delfim Ronaldo Bôscoli Baby Doc / Papa Doc Mengele Doca Street Rockfeller Afanásio Dulcídio Wanderley Bosquila Pinochet Gil Gomes Reverendo Moon Jim Jones General Custer Flávio Cavalcante Adolf Hitler Borba Gato Newton Cruz Sérgio Dourado Idi Amin Plínio Correia de Oliveira Plínio Salgado Mussolini Truman Khomeini Reagan Chapman Fleury |
Michel Temer
Gilmar Mendes Donald Trump Aécio Neves Família Bolsonaro Geddel Lima / Romero Jucá Milton Neves / Datena Donald Trum Olavo de Carvalho Eduardo Cunha
Família Marinho
Bashar al-Assad Rodrigo Maia Carlos Marun Ana Amélia
Janaína Paschoal
Alexandre Frota
Kim Jong-Un Sérgio Moro Eliane Cantanhêde / Noblat
Luciano Huck
José Serra / Aloysio Nunes
Moreira Franco
Silas Malafaia
Eliseu Padilha
Geraldo Alckmin José Sarney Marco Feliciano
Alexandre Moraes
Vladimir Putin
Alexandre Garcia
Diogo Mainardi
João Dória
Meval / Waack
Kataguiri / Holiday Marilia Castro Neves Dallagnol / Bretas Marcelo Crivella
Fausto Silva
Mendonça Filho
Danilo Gentili
Reinaldo Azevedo
Rodrigo Constantino
Sheherazade/Hasselmann
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