terça-feira, 14 de setembro de 2021

Brasil e o mais perigoso de sua jovem democracia

 

Ao PB Agora, cientista político faz análise de manifestações do 07 e 12 de setembro

POR REDAÇÃO 14.09.21 11H00 · ATUALIZADO HÁ 2 HORAS

 

Cientista político faz análise sobre o retrato atual que o país atravessa com ameaças de ‘insurreição’ antidemocrática, crise entre os poderes, medo do país “entrar” em estado de sítio e temor por um novo golpe de Estado.

O Brasil vive um momento conturbado, o mais perigoso de sua “jovem democracia”, com ameaças às instituições democráticas e com os protestos do 07 setembro que dividiram o país e enfraqueceram as relações institucionais entre Executivo, Legislativo e Judiciário.

O cientista político, historiador e professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Gilbergues Santos Soares analisa o momento turbulento que o país atravessa. Ao discorrer sobre os atos do 07 de setembro, com o discurso inflamado do presidente da República, em Brasília e em São Paulo, e com os episódios que se sucederam, Gilbergues garantiu que mesmo tentando fazer uma pacificação com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre Morais, Bolsonaro “colocou o impeachment sobre a mesa”.

Como forma de fundamentar o seu argumento, o cientista enfatizou que, depois do 07 de setembro, partidos como PSDB e PSD, e até mesmo alguns do Centrão, passaram a discutir a questão do impeachment. Inclusive tucanos e PSD anunciaram a saída da base do governo. Sem contar as inúmeras manifestações realizadas desde o último domingo (12) pedindo o impeachment do presidente.

“A insanidade do 07 de setembro serviu para colocar o impeachment na mesa. Existe uma pressão dentro da própria Câmara dos Deputados para que Arthur Lira tome uma atitude que seria desengavetar um ou mais processo de Impeachment”, destacou Gilbergues.

Para ele, mesmo firmes, os discursos do presidente do STF, ministro Luiz Fux, e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, repudiando os ataques à democracia, precisam vir acompanhados do início do processo de impeachment. “Toda e qualquer outra questão, passa pelo afastamento de Bolsonaro”, enfatizou.

A questão militar, com o risco da volta dos tanques às ruas, também preocupa o cientista político. Ele ressaltou que o presidente Bolsonaro conta com apoio de parte da hierarquia militar, embora perca apoios a cada ato que realiza. Gilbergues observou que o cenário se torna mais complexo devido a mentalidade autoritária do brasileiro. “A sociedade brasileira, com sua formação pouco ou quase nada democrática, não nos autoriza a pensar saídas democráticas para uma crise institucional e social como essa”, observou.

 


Expectativa de golpe

Particularmente, Gilbergues Santos não acredita em mais um golpe de Estado no Brasil a curto prazo, pelo menos. Ele enfatizou que o golpe aconteceu a partir de 2016 com três atos em sequência a partir do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e da ascensão do atual inquilino do Palácio do Planalto. “O golpe de 2016 aconteceu em três atos. Primeiro foi a deposição de Dilma Rousseff; segundo foi a prisão de Lula, através da Lava Jato, que o retirou do jogo político eleitoral; e, terceiro, a eleição do próprio Bolsonaro”, observou.

O cientista político alertou para o que ainda está por vir no país e que novas manifestações podem acontecer em datas pontuais como o 15 de novembro. Gilbergues classificou os atos realizados na Esplanadas dos Ministérios como “catastróficos, terríveis e horrorosos”.

Para Gilbergues Santos, o que está acontecendo é que o presidente Bolsonaro não tem mais saída e chegou a uma situação em que ele não tem mais para onde retornar. Na visão do cientista político paraibano, o pânico de Bolsonaro é que “ele e os filhos sejam presos”. Por isso, o presidente não estaria disposto a uma solução negociada para resolver a crise institucional que se instalou no país.

 

Sobre as manifestações do último domingo (12)

Gilbergues explicou ao PB Agora que o que aconteceu foi uma tentativa frustrada de alguns, como o Movimentos Brasil Livre (MBL) e partidos como o PSDB, de tentarem demarcar uma posição. “Eles não conseguem porque não podem ficar mais a favor de Bolsonaro. Eles que votaram e fizeram campanha para Bolsonaro e estão comprometidos com todo esse estado de coisas que infelizmente nós estamos passando. Mas, eles também não podem se unir à esquerda, com Lula“, observou. Na análise do cientista político, o grande problema é fortalecer o movimento e atrair pessoas, visto que as manifestações de domingo estiveram praticamente vazias.

“Não deu ninguém nestas manifestações nem poderia dar. Porque quando eles dizem ‘nem Lula nem Bolsonaro’, na verdade estão deixando de responder a uma pergunta que é a grande questão do nosso momento – queremos democracia ou fascismo?”.

Para ele, o Brasil está em uma encruzilhada já que os organizadores da manifestação do último domingo não conseguem se apresentar como terceira via, pois não sabem responder a uma questão primordial sobre o regime que queremos: “Eles têm que responder se querem democracia ou fascismo?”, indagou.

  

Severino Lopes   -   PB Agora