APRESENTAÇÃO
“DO QUE AINDA POSSO FALAR E OUTROS ENSAIOS (OU QUANTO DE VERDADE
AINDA SE PODE ACEITAR) é uma coletânea de artigos, ensaios e colunas já publicados
em jornais, sites e aqui mesmo neste blog. Aqui, temos uma espécie de balanço
do que produzi até agora. Como pretendo seguir escrevendo, faço um apanhado do
que já tratei para ver o que ainda posso abordar em futuras produções. Estou me
impondo o desafio de seguir escrevendo, com novos elementos, mesmo que não possa
deixar de lado o arsenal (de conhecimentos) que pude recolher ao longo de minha
vida profissional, acadêmica e pessoal. O título dessa coletânea diz algo sobre
essa intenção.
Os artigos trazem a data de publicação e onde foram “postados” pela
primeira vez. É o “cacoete” do historiador que precisa contextualizar, para
situar-se no espaço/tempo. Assim, questões que me pareciam corretas à época em
que foram escritas, soarão absurdas. Já outras parecerão repetitivas e/ou
óbvias. A(o) cara(o) leitora(o) me desculpe, mas é que como o “Brasil não é
para principiantes”, como diria Tom Jobim, ficamos sempre com a impressão de
que não mudamos nada nos últimos dois séculos. No entanto, e de fato, “o passado
nunca fica onde a gente deixa”. (Frase pronunciada pelo personagem Kari
Sorjonen, da série “Bordertown” (2016), disponível na plataforma de streaming
Netflix).
No entanto, o analista político desenha cenários, faz projeções. Dessa
forma, algumas de minhas hipóteses passadas são, hoje, certezas. São
convicções, conjunturais, mas são minhas convicções. Com alguma (in)modéstia
recôndita, devo dizer que minhas certezas frutificaram a medida em que tornei
hábito, quase diário, o acompanhamento e a análise de nossa tragicomédia
política nacional. Considerando a renitência pela qual trato de alguns temas,
devo dizer que as variações existem. Sendo uma coletânea que cobre um espaço considerável
de tempo, para o cientista político, não para o historia dor, permito-me tratar
de temas e assuntos diferentes - aquilo que compõem meu universo.
Como não pretendo cansá-la(lo) com certas formalidades, gostaria,
apenas, de lhe dar algumas “recomendações”. Sem querer entrar em detalhes sobre
a minha pessoa, mesmo porque nunca soube bem legislar em causa própria, e como
a partir de agora é função sua julgar, criticar, analisar, opinar, e mesmo
elogiar (se merecido for) evitarei maiores comentários. Apenas, gostaria de
dizer que fui articulista de jornais, fiz comentários e análises em programas
de rádio e televisão, principalmente nas muitas eleições que tivemos a partir
da primeira metade dos anos 1990, sem contar, claro, que sigo como professor do
Curso de História da UEPB (Campus I) onde essa produção se retroalimenta.
Nesta coletânea, você verá uma preocupação recorrente, diria mesmo
uma obsessão, que os estudos sobre a História do Brasil (principalmente em seu
período republicano) e Ciência Política me levaram a ter. Falo de nossa
mentalidade pretoriana (autoritária, golpista) que insistimos em preservar, na
esperança de que ela nos valha nas variadas e muitas crises que vivemos. Dito
de outra forma, o ponto de origem, para onde sempre retorno, é a fragilidade
democrática em nosso país. É o fato de não sermos nem termos uma democracia
minimamente consolidada e/ou uma cultura política que possa, ao menos, aceitar
ideias do federalismo de tipo iluminista, para não falar de ideias
político-sociais rubras.
Enfim, estou sempre atento ao oximoro “democracia autoritária” em
que vivemos. É que parte considerável de nossa sociedade se utiliza de
procedimentos democráticos (como liberdade de expressão) para pedir o fim da
democracia e a implantação de uma ditadura. Tem mesmo razão o escritor Luiz
Fernando Veríssimo quando diz que “no Brasil, o fundo do poço é só uma etapa”.
Esse estado de coisas me preocupa, me inspira, e me leva a fazer análises,
buscando contribuir de alguma forma para o debate. De forma pretensiosa, confesso,
o que quero é contribuir para uma saudável polêmica, pois, e como bem disse
Berthold Brecht, “em tempos de discórdia, crises e confusão a ausência política
é um verdadeiro crime e deve ser combatida”.
Campina Grande, março de 2024.
No link abaixo é possível baixar a versão e-book do livro no site
da Editora da Universidade Estadual da Paraíba. Muito em breve faremos o
lançamento da versão física do livro.
https://eduepb.uepb.edu.br/e-books/