segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Esse fantástico texto de Luiz Fernando Veríssimo já é um pouco antigo. Eu já o tinha lido e, como consegui recuperá-lo, resolvi postá-lo para compartilhar.
Apenas, recomendo substituir as drogas de ontem pelas de hoje. O efeito será o mesmo, ou pior!



Cuidado com as drogas - Luiz Fernando Veríssimo.

Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de “experimenta, depois, quando você quiser, e só parar...” e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de “raiz”, “da terra”, que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do “Chitaozinho e Xororó” e em seguida um do “Leandro e Leonardo”.

Achei legal, coisa bem brasileira: mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de “Amigo” e acabei comprando pela primeira vez.
Lembro que cheguei na loja e pedi: “Me da um CD do Zezé de Camargo e Luciano”. Era o principio de tudo! Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé. Ele dizia que era para relaxar: sabe, coisa leve ... “Banda Eva”, “Cheiro de Amor”, “Netinho”, etc.
Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: “É o Tchan”, “Companhia do Pagode”, “Asa de Águia” e muito mais.

Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes, então, meu “amigo” me deu o que eu queria, um Cd do “Harmonia do Samba”. Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela, respirava por ela, vivia por ela! Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas.

Foi a partir dai que começou a minha decadência. Fui ao show de encontro dos grupos “Karametade” e “Só pra Contrariar”, e ate comprei a Caras que tinha o “Rodriguinho” na capa. Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo Sinais de positivo. Não deu outra: entrei para um grupo de Pagode.

Enquanto vários outros viciados cantavam uma “música” que não dizia nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos fazíamos sinais combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a coletânea “As Melhores do Molejão”. Foi terrível!! Eu já não pensava mais!!

Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas “miseráveis” e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando comecei a escutar “Popozudas”, “Bondes”, “Tigrões”, “Motinhas” e “Tapinhas”.

Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saia à noite para as festas pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o “caminho das pedras”, outros extremistas preferiam o “caminho dos templos”. Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa.

Hoje estou internado em uma clinica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento esta sendo muito duro; doses cavalares de Rock, MPB, Progressivo e Blues. Mas o meu medico falou que é possível que tenha que recorrer ao Jazz e ate mesmo a Mozart e Bach.

Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga.
Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável e distante; vai perder as referencias e definhar mentalmente.

Em vez de encher a cabeça com porcaria, pratique esportes e, na duvida, se não puder distinguir o que é droga e o que não é, faça o seguinte:

1. Não ligue a TV no domingo a tarde;

2. não escute nada que venha de Goiania ou do Interior de São Paulo;

3. não entre em carros com adesivos “Fui...”

4. se te oferecerem um CD, procure saber se o suspeito foi ao programa da Hebe ou se apareceu no Sábado do Gugu;

5. mulheres gritando histericamente é outro indicio;

6. não compre nenhum CD que tenha mais de 6 pessoas na capa;

7. não vá a shows em que os suspeitos façam gestos ensaiados;

8. não compre nenhum CD que a capa tenha nuvens ao fundo;

9. não compre qualquer CD que tenha vendido mais de 1 milhão de copias no Brasil; e não escute nada que o autor não consiga uma concordância verbal mínima.

Mas, principalmente, duvide de tudo e de todos.
A vida é bela!
Eu sei que você consegue!
Diga não as drogas!



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