Por favor, sintam-se devidamente provocados.
Se estou legislando em causa própria? Não tenham menor dúvida! Sou absoluta e assumidamente tendencioso. Mas, reflitamos se Controle Social da Imprensa (seja la o que isso venha a significar) não deve ser algo diferente de controle da liberdade de expressão e/ou de censura?
Stephen Kanitz - Artigos e Comentários
http://blog.kanitz.com.br/
NOSSA IMPRENSA É RENTÁVEL?
Muitos donos de jornais estão preocupados com o tema Controle Social da Imprensa, defendido por vários membros do PT, mas como já discutimos aqui, a questão que os donos de jornais e revistas deveriam estar preocupados é com sua rentabilidade a longo prazo.
Se não se tornarem REALMENTE rentáveis nos próximos anos e pagarem bons salários, seus próprios jornalistas irão defender a estatitazação da imprensa, para garantir a sua sobrevivência, e não a dos patrões. Muitos jornais e revistas passaram por processos de reestruturação nos últimos anos, quase quebraram, mas agora acham que estão bem. Digo acham, porque resolveram o problema financeiro de curto prazo, não o problema de rentabilidade a longo prazo.
A rentabilidade da imprensa atualmente, é calcada em 5 pontos críticos:
Boa parte das informações são fornecidas graciosamente por inúmeros voluntários, pessoas competentes que têm algo a dizer, que se dispõe a passar horas passando informações preciosíssimas a jornalistas, sem nada receber em troca.
Se colocarmos o valor do tempo destes cientistas políticos, economistas e advogados que dão entrevistas ou informações de graça, a imprensa estaria provavelmente no vermelho. A imprensa deveria pagar pela informação? Sim, pelo menos para compensar o tempo do entrevistado, para que ele não deixe de estar disponível quando o jornal quer. A Revista Exame, 30 anos atrás, inovou criando um departamento de análise de empresas, Melhores e Maiores, e a Folha criando o Data Folha. Mas isto são raridades.
Antigamente era um prazer dar uma entrevista de graça, porque o jornalista, bem pago, colocava nossas ideias de uma forma fantástica, colocavam ênfase quando era necessário, colocavam as ideias na ordem certa, enfim, acrescentavam valor ao nosso tempo. Dava prazer ler o texto final, "nem parece que fui eu quem disse isto". Hoje, nem todos aqueles que têm informações valiosas querem dar entrevistas à imprensa para jornalistas jovens e sem experiência. A chance de sua ideia sair errada, equivocada, deturpada é grande, e o prejuízo enorme. Pedir para corrigir o texto é pecado fatal, jamais o faça. Controle de qualidade não é um conceito usado na imprensa.
O Presidente da Phillips perdeu seu emprego porque depois da entrevista, tomando café, disse que se o Piauí não existisse, o Brasil não perderia muito mercado, ou algo nesse sentido, como exemplo de alguma outra ideia que estava comentando. Antigamente, o jornalista perceberia o deslize e que não era uma informação valiosa, comparada com as outras mais importantes ditas na entrevista. Mas foi o que saiu publicado, acabando com sua carreira.
Ninguém que tem algo a dizer quer dar entrevistas hoje em dia, devido a eventos como este que eu relatei. Existem até cursos de Midia Training, onde se ensina a "dizer o mínimo possível", "somente o essencial". Se você é dono de um jornal, um bom exercício seria calcular o valor de todo este tempo grátis, ao valor de mercado, e verificar se de fato o jornal acrescenta valor, ou não. Jornal baseado em voluntariado, deveria ser uma ONG sem fim lucrativos, e se não tomarem cuidado, é neste sentido que o Controle Social da Imprensa irá caminhar, com excelentes argumentos para convencer o Legislativo.
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário