quinta-feira, 5 de maio de 2011

Licença para matar!

Para além e acima das “comemorações” idílicas pelo aniquilamento de Osama Bin Laden, é preciso encarar as coisas de forma realista. Maquiavel já nos ensinava que importa mais o mundo como ele é, e menos o mundo como gostaríamos que fosse. Num mundo maquiaveliano, os EUA passaram por cima do Direito Internacional para chutar o cachorro morto. Se até os bárbaros criminosos nazistas tiveram direito a um julgamento (em Nuremberg, no final da 2ª Guerra Mundial) porque o controverso Bin Laden não deveria ter também?
Ele encontrava-se desarmado, não usou nada como escudo, muito menos uma mulher, e as informações, para que se pudesse achá-lo, foram obtidas mediante a tortura de presos políticos, método que deve ser execrado por qualquer sociedade e sob qualquer prisma.O mundo democrático questiona a legalidade da ação. O tal comando Seal entrou no Paquistão, sem autorização do seu governo, matou um terrorista e jogou seu corpo no mar. Mas, leis internacionais definem prisão, processo, direito a defesa e, claro, a pena ser aplicada. É isso que Ricardo Melo discute neste preciso artigo publicado na Folha de São Paulo de hoje, 05 de maio de 2011.


Licença para matar - Ricardo Melo

Não será do dia para a noite que se terá acesso ao que realmente ocorreu no esconderijo do terrorista Osama bin Laden. Mas até a imprensa americana, que desde a Guerra do Golfo trocou o jornalismo pela "embedagem" ao governo, desconfiou do anúncio hollywoodiano da Casa Branca, versão democrata das "armas de destruição em massa" da era Bush.

Os lances épicos da violenta troca de tiros, da mulher usada como escudo, da resistência feroz deram lugar a um enredo bem mais prosaico. Provavelmente houve uma execução, e ponto. Tal descrição não comporta nenhum juízo de valor. Bin Laden e quem se engaja no terrorismo e no fanatismo religioso têm consciência que o risco de morrer faz parte do (mau) negócio. O prontuário de crimes do chefe da Al Qaeda apontava para este final.Mas incomoda, para dizer o menos, aceitar como natural a baboseira de Obama e dos europeus, para os quais a "justiça foi feita".

Como assim? Os EUA invadem um país, fuzilam um inimigo sem julgamento, jogam o corpo do sujeito no mar e estamos conversados. Tudo isso depois de se valerem de "técnicas coercitivas de interrogatório", eufemismo para tortura com afogamentos. E ainda vem a ONU, candidamente, dizer que "é preciso investigar" se o direito internacional foi desrespeitado. A lógica política da operação Geronimo é a mesma que preside a intervenção seletiva nos conflitos na África e no Oriente Médio. Gaddafi, o ex-amigo, agora é inimigo, então chumbo nele e na família. Já na Síria não é bem assim, tampouco no Iêmen e na Arábia Saudita -azar de quem nasceu rebelde por ali. Mais uma vez, os EUA tratam o planeta como quintal, e usam a ONU de plateia para as "rambolices".

Que Obama, um político comum, comemore o ganho de popularidade às vésperas da batalha pela reeleição, é compreensível. Já o resto do mundo dito civilizado assistir a tudo com tamanha complacência apenas sinaliza o que está por vir.

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