sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sobre assertivas, asneiras e bufões.



Não que me anime, mas meu arquivo com asneiras de políticos aumentou graças ao governador do Ceará, Cid Gomes, que disse que "o professor trabalha por amor, não por dinheiro". Ele deve ter lembrado que é irmão de Ciro Gomes, famoso pelas asneiras e grosserias que distribui.

Segundo o portal iG Ceará, Cid falava aos professores da rede estadual em greve por melhores salários. Já havia dito que: “Quem quer ganhar melhor, vai para o ensino privado”. E não se diga que ele foi mal interpretado, pois a imprensa cearense pediu um “tira-teima” e Cid disparou: “funcionário público é motivado pelo amor e espírito público”.

Não vejo graça nas asneiras que bufões da política pronunciam. As assertivas têm um quê de ato falho, i.e., o lapso freudiano (parapraxia) pelo qual se expõem uma fixação do inconsciente através de um equívoco da fala. Exemplo? O marido que pronuncia o nome da amante para a própria esposa. O ato falho não se limita ao discurso, pode revelar desejos sexuais reprimidos e afetar à cognição, prejudicada por retenções do inconsciente. Erros triviais ou bizarros na aparência podem ter outro significado quando analisados. Senão vejamos

O deputado federal Jair Bolsonaro afirmou que “está se lixando para o movimento gay”. Pela contumácia com que ele expressa suas opiniões homofóbicas, pode-se imaginar o que está retido em seu inconsciente, pois a fala condena o que o desejo subconsciente aprova. Outro deputado, Júlio Campos, achando-se ponderado, referiu-se ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, como "ilustre ministro moreno escuro". Educado, porém racista.

Famoso é o dito do inefável Paulo Maluf na eleição para prefeito de São Paulo em 1992: “se está com desejo sexual, estupra, mas não mata”. O estupro seria uma forma de realizar desejos sexuais, não um crime. A personalidade difusa de Maluf manifestou uma possível perversão sexual.

Outro que parece ter dúvidas entre heterossexualidade e homossexualidade é Ciro Gomes que, como ministro, disse que quem defende o separatismo no Sul do país deve ter “um desvio homossexual”. O que a defesa de uma idéia política tem haver com condição sexual?

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, é um prodígio no quesito asneiras com um portifólio que inveja os grandes bufões da política. Para provar que o aborto é tratado de forma hipócrita, ele disse: “quem não teve uma namoradinha que abortou”. Simples assim, não faz mal um abortinho, tão normal quanto um namorinho. Para ele, “alternativa a criminalidade é o reforço do aparato repressivo” e os bombeiros são “vândalos” por reivindicarem condições de trabalho. E teve seu momento medieval, quando defendeu “esterilizar pobres para combater a criminalidade”, e o momento piegas quando foi às lágrimas ao defender royalties do pré-sal para o Rio de Janeiro.

Na mesma linha, vem o deputado estadual, Antônio Salim Curiati, que ao ter sua casa invadida por bandidos foi à tribuna da Assembléia Legislativa paulista defender que “esterilizar mulheres pobres combate a criminalidade”. Só faltou defender a castração de homens pobres. O ato falho verbalizou o que é disseminado no inconsciente coletivo de nossa sociedade.

E tem os que deixam o animal político aristotélico de lado, para serem animais irracionais. Amazonino Mendes, prefeito de Manaus, disse para uma moradora de área de risco, que se recusava deixar sua casa: "minha filha, então, morra!". Ele apenas verbalizou o que traz em seu inconsciente. É esta a solução para os que insistem em sobreviver em seus locais de moradia?

O ex-senador do Amazonas, Arthur Virgílio, foi à tribuna do Senado Federal para dizer que daria “uma surra no Lula, pessoalmente”. Achava-se indignado por uma nunca comprovada perseguição. Viveríamos em uma República de bananas se um senador surrasse a instituição Presidência da República, configurada na pessoa do presidente.

O então vereador Agnaldo Timóteo, sobre um projeto do governo para combater o turismo sexual, disse: “as meninas de 16 anos botam silicone, ficam popozudas, põem saia curta e provocam, o cara se encanta, transa e vai preso”. Maluf acha que estupro não é crime e este que não há dolo em prostituir uma jovem de menor. Existe um quê de perversão na fala desses senhores.

O deputado gaúcho Sérgio Moraes, após um colega ter sido absolvido pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, deplorou que “estou me lixando para a opinião pública”. É óbvio que não está, do contrário não diria nada ou fingiria que se preocupa com o que o eleitor pensa.

Vejamos clássicos da estultice nacional. “Relaxa e goza. depois esquece os transtornos”. Como política, Marta Suplicy é trágica sexóloga. Ministra do Turismo, foi assim que quis acalmar os que enfrentavam longas filas devido ao caos aéreo de 2007. “Eu tenho aquilo roxo!”. Como candidato a presidente, foi assim que Collor de Mello intentou intimidar seus adversários. Muitos acreditaram e deu no que deu. “A cachorra é um ser humano, eu não hesitei”. Sem justificativa plausível, Rogério Magri (Ministro do Trabalho de Collor) usou do escárnio para explicar porque mandou sua cadela ao veterinário em um carro oficial.

E para que não se diga que só políticos de pindorama imitam os asnos, cito exemplares em nível internacional. Numa conferência sobre aquecimento global, Evo Morales, presidente da Bolívia, disse que “o frango tem hormônios femininos, os homens que o comem tem desvios no modo como são homens”. Explicado, então, porque existem homens afeminados. Em sua sana belicista, George W. Bush disse que: “Nossos inimigos são inovadores e engenhosos e nós também. Eles nunca param de pensar em novas maneiras de prejudicar nosso país, e nós também não”. Pensava Bush, somos iguais aos nossos inimigos. Numa visita aos EUA, Mahmoud Ahmadinejad disse que: “No Irã, não temos homossexuais como em seu país”. Pudera, os homossexuais iranianos são presos e condenados a morte! Além de negar o holocausto e defender o uso da energia nuclear para fins não pacíficos, ele manifesta aspectos do seu subconsciente via atos falhos.

Sugiro que, antes de rir de uma asneira dita por um político, o caro leitor reflita o que pode estar por trás daquele ato falho e que políticos são fruto de nosso entorno social, são eleitos, e a barbaridade que ele pronuncia pode ser uma opinião compartilhada por muitos.


Setembro/2011.

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