Nesses tempos bicudos, como se dizia, vivo sobressaltado!
Parece ser normal se desejar a morte de uma mulher por ela ter sido casada com
um ex-presidente que fez reformas para que os excluídos de sempre acessassem ao
que no Índice de Desenvolvimento Humano é algo basilar. Falo de educação, saúde
e moradia. São tempos nebulosos, pois o que a filósofa Hannah Arendt
classificou como “banalidade do mal” ressurgiu dos escombros de um mundo
formatado por guerras. Falo do nazismo.
Sempre que preciso dialogar com pessoas com as quais
divirjo politica e ideologicamente e/ou que não concordo com seus valores
éticos e morais, ou mesmo que não suporto seus gostos musicais, lembro a frase
do filósofo iluminista Voltaire: “Posso não
concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizer”.
Não sou receptivo a ideias aparentemente novas que, na
verdade, pertencem ao receituário ideológico do tempo em que ditaduras eram
hegemônicas. Não, não posso aceitar como normais ideias autoritárias, racistas,
homofóbicas, misóginas, além dos preconceitos de uma classe social sobre outra.
Desculpe-me Voltaire, mas não defenderei o “direito” de um aprendiz de médico
de campo de concentração nazista “defender” que uma mulher seja levada a
óbito. Não, isso não é liberdade de
expressão!
Nesta semana, na
quarta-feira, o deputado federal Jair Bolsonaro proferirá palestra aqui em
Campina Grande. Por coerência não presenciarei a verborragia nazificante do
parlamentar do Partido Social Cristão que não crê na democracia, trabalha
sistematicamente para acabar com ela, e que instrumentaliza seus procedimentos para
maximizar os mais comezinhos interesses. Bolsonaro se compraz em publicar as
opiniões mais torpes sobre questões como a tortura praticada na ditadura
militar do Brasil.
Relaciono abaixo ideias
pronunciadas pelo mais ardoroso defensor do Coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra, um dos chefes do aparato de repressão política e tortura do regime
militar, conhecido por ter, dentre outras coisas, enfiado um rato na vagina da
ex-presidente Dilma Rousseff quando a torturava nas dependências do DOI-CODI de
São Paulo no início da década de 1970. As declarações abaixo foram compiladas a
partir da conta “Bolsonaro Cristão”, criada na rede social TUMBLR por Fernando
Paladini e Guilherme Eufrásio, ambos estudantes da Universidade Federal de
Santa Catarina.
Se você, como eu, não
aceita estes disparates não vá ao show de horrores que certame Bolsonaro
propiciará. Se você sofre da síndrome de São Tomé, que só após ver e ouvir é
que passa a crer, a solução é assistir a tal palestra, mas não deixe de levar
consigo carradas de senso critico. Se você não vê a hora de votar em Bolsonaro
para presidente, por que concorda com as estultices dele, então vista sua
camisa verde-e-amarelo (ou aquela blusa preto-fascista, tanto faz) e vá para a
palestra desse Josef Mengele redivivo. Mas, se você quer ir à palestra tentar
fazer com que incautos de toda sorte vejam mais e melhor a realidade das coisas
ou mesmo para mostrar quanto os “bolsonazis” que por aí pululam estam
equivocados sugiro refletir sobre a frase: “Nunca
discutas com um idiota. Ele arrasta-te até ao nível dele, e depois te vence em
experiência.” (Autor desconhecido).
Na sessão da Câmara dos
Deputados, em 17/04/2016, que aprovou a abertura do impeachment contra Dilma
Rousseff, Bolsonaro disse: "Nesse
dia de glória para o povo tem um homem que entrará para a história. Parabéns
presidente Eduardo Cunha. Perderam em 1964 e agora em 2016. Pela família e
inocência das crianças que o PT nunca respeitou, contra o comunismo, o Foro de
São Paulo e em memória do coronel Brilhante Ustra, o meu voto é sim”.
Numa participação no
programa Pânico, da rádio Jovem Pan (em 08/07/2016) Bolsonaro afirmou: “O erro da ditadura foi torturar e não
matar”. Já na Revista Veja de 02/12/1998, recriminou um de seus mentores: “Pinochet devia ter matado mais gente”.
Como todo ditador, Bolsonaro é um censor e numa entrevista a repórter Manuela
Borges da Rede TV provocou: “Você é uma
idiota. Você é uma analfabeta. Está censurada!”. Claro, ele crê na tese do
“bandido bom é bandido morto”, pois afirmou, sobre o massacre do Carandiru, que
“a PM devia ter matado 1.000 e não 111
presos”.
Não se sabe bem porque,
mas o fato é que homossexualismo, racismo e mulheres são temas recorrentes na transcursão
bolsonariana. Na Revista Playboy, em julho de 2011, disse que: “Seria incapaz de amar um filho homossexual.
Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por
aí”. Em outra oportunidade disse “Eu
não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados”, sobre um dos seus
se relacionar com uma mulher negra ou com homossexuais. E quando FHC segurou a
bandeira com as cores do arco-íris, Bolsonaro disparou: “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se
beijando na rua, vou bater”. Ele parece concordar com o estupro, pois disse
para a deputada federal Maria do Rosário: “Não
te estupro porque você não merece”.
Em 28/03/2011, numa
entrevista ao programa CQC da TV Bandeirantes, Bolsonaro estava inspirado em
sua logomania. Primeiro afirmou que: “se eu
pegasse meu filho fumando maconha, o torturava”. Sobre cotas raciais,
disse: “Eu não entraria em um avião
pilotado por um cotista nem aceitaria ser operado por um médico cotista.”. Sobre
a presidente Dilma afirmou: "O kit
gay não foi sepultado ainda. Dilma Rousseff pare de mentir. Se o teu negócio é
amor com homossexual, assuma". E arrematou: “O governo não faz planejamento familiar porque acha que quanto mais
pobre existir melhor. Porque serão mais eleitores amarrados nos seus programas
assistencialistas”.
Post scriptum: O título desse artigo foi emprestado do livro
“Nazistas entre nós – a trajetória de oficiais de Hitler depois da guerra” (Ed.
Contexto) escrito pelo historiador e jornalista Marcos Guterman que “tenta compreender a indiferença de uma
parte do mundo em relação aos crimes nazistas, algo que beirou a cumplicidade”.
Guterman quer explicar porque criminosos de guerra encontraram “um lugar entre nós, desfrutaram da vida em
liberdade como se nada tivessem feito, como se fossem parte da sociedade
civilizada que eles se esforçaram em destruir”. De minha parte tento
entender como um defensor da “banalidade do mal” pode transitar entre nós com
tanta naturalidade.
Fevereiro – 2017.
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