Depois de um torcedor do Flamengo ter sido agredido violentamente por torcedores do Fortaleza, logo após o jogo de 09\10\21 pela 25ª rodada do Brasileirão, afloraram sentimentos de toda sorte em relação a caquética discussão de se nordestinos podem ou não torcer por times do eixo Rio-São Paulo. Logo que vi as manifestações, no Twiteer e no Instagram, lembrei que essa discussão é recorrente e que no já distante 01\05\2013 tinha feito uma coluna sobre isso, motivado pelo fato de Campinense Clube e Flamengo se enfrentarem na Copa do Brasil.
A coluna segue abaixo, mas lembro que tem um vídeo rodando pelas redes sociais de um torcedor do Flamengo, vestindo uma camisa do Fortaleza, afirmando que só pode entrar na Arena Castelão após retirar a camisa de seu clube. É bom não esquecer que a xenofobia é um dos componentes da cesta que compõe o modus operandi da extremosa destra que tomou de assalto a sociedade brasileira. Consideremos, ainda, a revolta dos torcedores do Fortaleza depois de verem seu time levando um sacode de 3X0 do time que, com carradas de razão, se autointitula a “nação rubro-negra”.
A seleção paraibana de futebol não vai jogar hoje!
Coluna publicada no GILBLOG
(gilberguessantos.blogspot.com) em 01 de maio de 2013
Assim que se soube que o Campinense Clube enfrentaria o Flamengo em
Campina Grande, pela 2ª fase da Copa do Brasil, um frisson tomou conta dos
torcedores da raposa e de todos que gostam de futebol. Fiquei entusiasmado,
pois finalmente poderia assistir de perto os times que torço se enfrentando
numa competição nacional. O caro leitor quer saber se tenho algum problema em
ver meus dois únicos times do coração disputar uma partida? Não, não tenho
nenhum problema com isso. Pelo contrário, acho que vai ser uma experiência
única e tenho certeza de que será, também, emocionante. Mas, não vou usar o
espaço dessa Coluna para falar de minhas paixões futebolísticas.
Quero, na verdade, defender o direito do cidadão de torcer pelo time que ele bem quiser, não importando se este time é ou não da cidade, estado ou mesmo região onde ele nasceu. É que, no Brasil, a naturalidade de um cidadão não se define pelo time que ele torce. Se fosse assim, times de futebol como Flamengo, Corinthians, São Paulo, Vasco da Gama e Cruzeiro não teriam torcedores espalhados por todos os estados e regiões desse país que tem, como sabemos, dimensões territoriais de um continente.
Eu sugiro uma reflexão. Antes de chamarmos de “paraibacas” os torcedores paraibanos que vão torcer pelo Flamengo,
e não pelo Campinense, que tal pensarmos no processo que levou o futebol a se
tornar nosso esporte nacional e nossa maior paixão.“Paraibaca” é uma forma agressiva e preconceituosa de se referir
aos que, mesmo paraibanos, torcem por um time do Sudeste. Os que usam esse
termo desconhecem fatores históricos que nos levaram a esse estado de coisas.
A partir de 1937 as rádios
passaram a transmitir, em cadeia nacional, jogos dos times de futebol que
mandavam jogadores para a Seleção Brasileira. É que o presidente Getúlio Vargas
via nisso uma forma de integrar o país em torno do seu governo. Depois, quando
já vivíamos à sombra das chuteiras imortais, como dizia Nelson Rodrigues, e
quando já tínhamos a seleção tricampeã do mundo ficou quase impossível impedir
que se torcesse, pelo Brasil afora, pelos grandes times de futebol.
Como impedir que se
torcesse pelo Santos de Pelé, pelo Botafogo de Garrincha, pelo Flamengo de
Zico, pelo Fluminense de Rivelino? Como querer que o torcedor paraibano não se
encantasse, ao ponto de se tornar um torcedor, com esses artistas da bola? Por causa
disso, torcedores pelo Brasil afora começaram a criar o que eu chamaria de “filiais
de suas paixões”. Vejam que no Piauí existe um Flamengo, na Bahia temos um
Fluminense, sem contar os “atléticos”, “esportes” e “américas” espalhados pelo
país.
A televisão
teve papel importante nisso. Mais não foi o futebol quem se valeu da TV para se
nacionalizar. Foi o contrário. Foi Walter Clark quem sugeriu que a Rede Globo
transmitisse jogos de times do Rio de Janeiro e São Paulo para todo o Brasil. A
ideia era boa, pois quem não iria querer assistir ao vivo aquilo que se tornou
nossa própria identidade cultural? A TV foi sendo levada pelo futebol para onde
quer que houvesse um torcedor ávido por assistir um bom jogo e, quem sabe, uma
boa novela.
Não foi difícil para mim, que já torcia pelo Campinense, torcer, também, pelo Flamengo. Assim como não foi difícil para amigos meus, que torciam pelo Treze Futebol Clube, torcerem pelo Vasco da Gama ou pelo Corinthians. Era uma questão de identificação. Assim, vejo com naturalidade que um paraibano torça por um time local e por outro do Sudeste. Se o jogo de logo mais fosse entre a Seleção de Futebol da Paraíba e a Seleção do Rio de Janeiro, aí sim deveríamos torcer pelo nosso Estado. Mas, não é o caso.
Os times materializam paixões. Quem conseguir explicar racionalmente essa questão que peça a um trezeno para torcer pelo Campinense. Eu não peço, pelo contrário, defendo o amplo direito de cada um torcer por quem bem quiser. Deixemos de lado esse bairrismo tolo de que se não é de nossa terra deve ser rechaçado. Esqueçamos esse complexo de vira-latas “nelsonrodriguiano” de que somos pequenos Davis unidos para enfrentar o grande Golias. Se por acaso você vai torcer contra o Campinense, não se preocupe se vão te chamar de “paraibaca”. Afinal de contas seu compromisso, hoje à noite, não é com o estado ou cidade onde nasceu e sim com seu time do seu coração e suas “razões” futebolísticas.