terça-feira, 10 de outubro de 2023

Pelo que luta o povo da Palestina?

A luta do povo palestino é para ter seus territórios de volta, usurpados que foram por Israel

Pelo que luta o povo da Palestina? - Gilbergues Santos Soares - Brasil 247

 

Bombardeio de Israel em Gaza (Foto: REUTERS/Mohammed Salem)

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Os ataques do Hamas, em Israel, são bem mais uma reação às ações do governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu, em relação ao povo palestino, pois Israel pratica a mesma política segregacionista e colonizadora em relação a Palestina desde 1947. Mesmo que possamos detectar elementos de uma ação terrorista, os ataques seguiram a lógica dos Estados beligerantes e não de terroristas que saem jogando bombas por aí. Consideremos desde já que lá atrás era o Fatah quem liderava o povo nos territórios ocupados. O Fatah era um movimento com algum viés de esquerda e defendia um acordo diplomático com Israel que levasse à coexistência pacífica de dois Estados. Mas, Israel não aceitava negociar com quem quer fosse e o Hamas foi se efetivando como a saída pela força. Podemos até dizer que o Hamas está para Israel assim como Saddam Hussein e Osama Bin Laden estão para os EUA. São as criaturas que se voltam contra seus criadores com fúria mortal.

 O Site Brasil de Fato trouxe observações interessantes feitas por estudiosos da questão do Oriente Médio. Sugiro que as vejamos sem ter que concordar ou discordar automaticamente, refletindo a partir do que o pensamento contra hegemônico propõe. Interessa não comprarmos a versão fácil de que os ataques foram uma surpresa, que ninguém os esperava. Surpresa mesmo seria se árabes e judeus encerrassem de uma vez por todas seus conflitos e passassem a viver em paz.

 O cientista político Marcelo Buzzeto disse que a ação do Hamas é “coordenada e planejada com objetivos militares e humanitários no sentido de tentar realizar (...) negociação de troca de prisioneiros”. Eu descartaria classificar os ataques como terroristas, pois vejo táticas e estratégias militares, com uso de espionagem, que visam a conquista de territórios, a captura de pessoas para troca de prisioneiros, sem contar que os ataques previam iniciar uma guerra e não fustigar o inimigo com uma investida localizada onde uma pessoa detona uma bomba contra alvos civis.

 A professor de História Árabe da USP, Arlene Clemesha, mostra que os "ataques contra palestinos foram bem piores em intensidade e caráter (neste ano). A gente tem visto a população civil israelense atacar palestinos”. Sempre se poderá dizer que isso não é verdade. É que a mídia corporativa só mostra os ataques feitos pelos palestinos. Clarissa Dri, professora de Relações Internacionais da UFSC, coloca a questão de forma oposta ao que costumam fazer os editorialistas da mídia que compõem o conglomerado golpista de 2016. Para ela, o que temos é um “Estado terrorista em Israel. Ao mesmo tempo, vemos uma tentativa da Palestina de se defender, tentando instalar um Estado na sua parte do território”.

 E já é hora de tentarmos definir melhor o que é terrorismo, pois se tudo o que nos agride é terrorismo, nada é terrorismo. Durante a ditadura civil militar, os militantes que atuavam nas organizações revolucionárias eram chamados de terroristas pela propaganda oficial da ditadura. Agora mesmo dizemos terroristas para a extrema direita nazificada que atacou os poderes da República no 08 de janeiro. Neste Ocidente “otanizado”, controlado pelo Império do Norte, terroristas são os que não mais aceitam viver numa ordem mundial bipolarizada.

 Temos, ainda, o depoimento de Igor Galvão, gestor de políticas públicas, que vive na Cisjordânia a 27 km de Jerusalém: “há um clima de muita comoção e apoio. Existe a possibilidade de manifestações e que a população se levante numa terceira intifada”. Mesmo que possa até discordar (ou não) de Igor, não desconsidero o depoimento de quem vive no olho do furacão. Nos próximos dias veremos palestinos se manifestando contra israelenses, mesmo que para isso seja preciso entrar em sintonia com a mídia contra hegemônica. É que se ficarmos assistindo apenas ao Jornal Nacional ou lendo só o Estado de São Paulo seremos levados a supor que judeus são pobres vítimas da humanidade, que estão apenas se defendendo, e que o Hamas é um ajuntamento de extremistas terroristas que atacam povos indefesos. Notem, como o discurso enviesado leva a verdades questionáveis. Aqui, temos o mesmo caso dos russos demoníacos X ucranianos defensores da liberdade. Lembremos que os EUA falam em defesa da liberdade quando invadem outros países.

 Ainda para a reflexão, temos um gráfico (elaborado pela Fronteira - Revista de Iniciação Científica em Relações Internacionais da PUC/MG), que circula pelas redes sociais após o início dos combates, que mostra como palestinos foram perdendo seus territórios, a partir de 1947, com a partilha deles entre árabes e judeus. O gráfico tem quatro mapas que mostram como os assentamentos judeus (em branco) vão avançando sobre as terras palestinas (em verde) até que o último mapa (de 2010) aparece quase totalmente branco. O que este e tantos outros mapas mostram é como Israel foi realizando sua política segregacionista, sufocando a população palestina em um grande gueto, o maior de todos os tempos, bem maior do que o Gueto de Varsóvia, onde os nazistas faziam com os judeus o que agora eles fazem com os palestinos.

 



A luta do povo palestino é para ter seus territórios de volta, usurpados que foram por Israel apoiado no ocidente “otanista” e nos EUA, porque é isso que vai fazer com que ele tenha o direito de se autodeterminar, ou seja para que tenha liberdade. Mas, Joe Biden já anunciou que vai enviar porta-aviões e caças para ajudar Israel a combater o Hamas. Os “business man” do Complexo Industrial Militar dos EUA, também conhecido como “deep state” (o Estado dentro do Estado ou Estado profundo), estão com sorrisos de orelha a orelha por mais um conflito para fazer girar o negócio da guerra. Agora, eles já podem mandar o ucraniano Volodymyr Zelensky sentar-se lá no fundo da sala de aula, pois outro aluno começou a tirar melhores notas. Falo de Netanyahu que já deixou claro que Israel está em guerra e não apenas contra o Hamas, mas contra a Palestina.

 Isso fica claro na declaração do Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, determinando o "cerco completo" à Faixa de Gaza com o corte de eletricidade, combustíveis, alimentos, remédios e até água. Ou seja, um cerco para deixar o povo palestino à mingua e levá-los à morte. E importa muito não esquecer que esse cerco vem sendo feito desde 1947 como podemos ver no gráfico da Revista Fronteira. O próprio Netanyahu afirmou que varrerá a Palestina do mapa e que “todos os locais onde o Hamas se esconde e age serão transformados em escombros por nós. Digo ao povo de Gaza: saiam daí agora, porque estamos prestes a agir em todos os lugares com toda a nossa força”. Temos, então, um conflito de grandes dimensões que exigirá muito de nossas atenções, emoções e capacidade de análise. Por fim, gostaria de ponderar que a luta do povo palestino é por territórios, ou seja por TERRA, que é a mesma luta de vários povos ao longo da história, inclusive do povo brasileiro que ainda hoje luta por REFORMA AGRÁRIA, ou seja por TERRA.


 


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