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Bombardeio de Israel em Gaza (Foto: REUTERS/Mohammed Salem) |
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Os ataques do Hamas,
em Israel, são bem mais uma reação às ações do governo de extrema direita de
Benjamin Netanyahu, em relação ao povo palestino, pois Israel pratica a mesma
política segregacionista e colonizadora em relação a Palestina desde 1947.
Mesmo que possamos detectar elementos de uma ação terrorista, os ataques
seguiram a lógica dos Estados beligerantes e não de terroristas que saem
jogando bombas por aí. Consideremos desde já que lá atrás era o Fatah quem
liderava o povo nos territórios ocupados. O Fatah era um movimento com algum
viés de esquerda e defendia um acordo diplomático com Israel que levasse à
coexistência pacífica de dois Estados. Mas, Israel não aceitava negociar com
quem quer fosse e o Hamas foi se efetivando como a saída pela força. Podemos
até dizer que o Hamas está para Israel assim como Saddam Hussein e Osama Bin
Laden estão para os EUA. São as criaturas que se voltam contra seus criadores
com fúria mortal.
O Site Brasil de
Fato trouxe observações interessantes feitas por estudiosos da questão do
Oriente Médio. Sugiro que as vejamos sem ter que concordar ou discordar
automaticamente, refletindo a partir do que o pensamento contra hegemônico
propõe. Interessa não comprarmos a versão fácil de que os ataques foram uma
surpresa, que ninguém os esperava. Surpresa mesmo seria se árabes e judeus
encerrassem de uma vez por todas seus conflitos e passassem a viver em paz.
O cientista político
Marcelo Buzzeto disse que a ação do Hamas é “coordenada e planejada com
objetivos militares e humanitários no sentido de tentar realizar (...)
negociação de troca de prisioneiros”. Eu descartaria classificar os ataques
como terroristas, pois vejo táticas e estratégias militares, com uso de
espionagem, que visam a conquista de territórios, a captura de pessoas para
troca de prisioneiros, sem contar que os ataques previam iniciar uma guerra e
não fustigar o inimigo com uma investida localizada onde uma pessoa detona uma
bomba contra alvos civis.
A professor de
História Árabe da USP, Arlene Clemesha, mostra que os "ataques contra
palestinos foram bem piores em intensidade e caráter (neste ano). A gente tem
visto a população civil israelense atacar palestinos”. Sempre se poderá dizer
que isso não é verdade. É que a mídia corporativa só mostra os ataques feitos
pelos palestinos. Clarissa Dri, professora de Relações Internacionais da UFSC,
coloca a questão de forma oposta ao que costumam fazer os editorialistas da
mídia que compõem o conglomerado golpista de 2016. Para ela, o que temos é um
“Estado terrorista em Israel. Ao mesmo tempo, vemos uma tentativa da Palestina
de se defender, tentando instalar um Estado na sua parte do território”.
E já é hora de
tentarmos definir melhor o que é terrorismo, pois se tudo o que nos agride é
terrorismo, nada é terrorismo. Durante a ditadura civil militar, os militantes
que atuavam nas organizações revolucionárias eram chamados de terroristas pela
propaganda oficial da ditadura. Agora mesmo dizemos terroristas para a extrema
direita nazificada que atacou os poderes da República no 08 de janeiro. Neste
Ocidente “otanizado”, controlado pelo Império do Norte, terroristas são os que não
mais aceitam viver numa ordem mundial bipolarizada.
Temos, ainda, o
depoimento de Igor Galvão, gestor de políticas públicas, que vive na Cisjordânia
a 27 km de Jerusalém: “há um clima de muita comoção e apoio. Existe a
possibilidade de manifestações e que a população se levante numa terceira
intifada”. Mesmo que possa até discordar (ou não) de Igor, não desconsidero o
depoimento de quem vive no olho do furacão. Nos próximos dias veremos
palestinos se manifestando contra israelenses, mesmo que para isso seja preciso
entrar em sintonia com a mídia contra hegemônica. É que se ficarmos assistindo
apenas ao Jornal Nacional ou lendo só o Estado de São Paulo seremos levados a
supor que judeus são pobres vítimas da humanidade, que estão apenas se
defendendo, e que o Hamas é um ajuntamento de extremistas terroristas que
atacam povos indefesos. Notem, como o discurso enviesado leva a verdades
questionáveis. Aqui, temos o mesmo caso dos russos demoníacos X ucranianos
defensores da liberdade. Lembremos que os EUA falam em defesa da liberdade
quando invadem outros países.
Ainda para a
reflexão, temos um gráfico (elaborado pela Fronteira - Revista de Iniciação
Científica em Relações Internacionais da PUC/MG), que circula pelas redes
sociais após o início dos combates, que mostra como palestinos foram perdendo
seus territórios, a partir de 1947, com a partilha deles entre árabes e judeus.
O gráfico tem quatro mapas que mostram como os assentamentos judeus (em branco)
vão avançando sobre as terras palestinas (em verde) até que o último mapa (de
2010) aparece quase totalmente branco. O que este e tantos outros mapas mostram
é como Israel foi realizando sua política segregacionista, sufocando a
população palestina em um grande gueto, o maior de todos os tempos, bem maior
do que o Gueto de Varsóvia, onde os nazistas faziam com os judeus o que agora
eles fazem com os palestinos.
A luta do povo
palestino é para ter seus territórios de volta, usurpados que foram por Israel
apoiado no ocidente “otanista” e nos EUA, porque é isso que vai fazer com que
ele tenha o direito de se autodeterminar, ou seja para que tenha liberdade.
Mas, Joe Biden já anunciou que vai enviar porta-aviões e caças para ajudar
Israel a combater o Hamas. Os “business man” do Complexo Industrial Militar dos
EUA, também conhecido como “deep state” (o Estado dentro do Estado ou Estado
profundo), estão com sorrisos de orelha a orelha por mais um conflito para
fazer girar o negócio da guerra. Agora, eles já podem mandar o ucraniano
Volodymyr Zelensky sentar-se lá no fundo da sala de aula, pois outro aluno
começou a tirar melhores notas. Falo de Netanyahu que já deixou claro que
Israel está em guerra e não apenas contra o Hamas, mas contra a Palestina.
Isso fica claro na
declaração do Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, determinando o
"cerco completo" à Faixa de Gaza com o corte de eletricidade,
combustíveis, alimentos, remédios e até água. Ou seja, um cerco para deixar o
povo palestino à mingua e levá-los à morte. E importa muito não esquecer que
esse cerco vem sendo feito desde 1947 como podemos ver no gráfico da Revista
Fronteira. O próprio Netanyahu afirmou que varrerá a Palestina do mapa e que
“todos os locais onde o Hamas se esconde e age serão transformados em escombros
por nós. Digo ao povo de Gaza: saiam daí agora, porque estamos prestes a agir
em todos os lugares com toda a nossa força”. Temos, então, um
conflito de grandes dimensões que exigirá muito de nossas atenções, emoções e
capacidade de análise. Por fim, gostaria de ponderar que a luta do povo
palestino é por territórios, ou seja por TERRA, que é a mesma luta de vários
povos ao longo da história, inclusive do povo brasileiro que ainda hoje luta
por REFORMA AGRÁRIA, ou seja por TERRA.
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