Estou convencido que a cultura política importa. Neste artigo de Clóvis Rossi, publicado na Folha de São Paulo hoje (30/01/2009) demonstra que a Russia mudou seu sistema político e econômico, mas seu viés pretoriano continua o mesmo.
INSTINTOS BÁSICOS
DAVOS - Instinto é instinto. Não adianta trocar a roupa de comunista e de funcionário da sinistra KGB pela de presidente e, agora, primeiro-ministro da Rússia mais ou menos capitalista.Vladimir Putin conversou ontem com um grupo de jornalistas com o compromisso de que seria "off the records", pelo que só estou autorizado a transmitir o, digamos, espírito da coisa, sem poder usar citações entre aspas.E o espírito da coisa ficou muito nítido: Putin reage a qualquer crítica ou pergunta que ele acha carregada de uma intenção crítica com um contra-ataque ao país do autor da pergunta.Quando Anatole Kaletsky, colunista do "Times" britânico, tocou na ferida mais aberta, a dos direitos humanos, ainda por cima falando da morte de jornalistas na Rússia, Putin devolveu com observações sobre violências praticadas, por exemplo, na França e em outros países da Europa Ocidental.Chegou ao ponto de desejar aperfeiçoamentos nas práticas democráticas e de direitos humanos do Reino Unido, como se fosse comparável o "record" russo e o britânico na matéria, antes, durante e depois do comunismo.O desagradável é que essa mania, que alguém na sala chamou de "instinto soviético", também aparece em autoridades brasileiras. Ricardo Teixeira, o presidente da CBF, ficou danado quando uma jornalista canadense quis saber o que se faria para garantir a segurança dos visitantes na Copa de 2014 no Brasil, justamente no dia em que o Brasil era escolhido em Zurique.Respondeu com críticas a um incidente qualquer envolvendo atletas brasileiros no Canadá, como se o problema da violência urbana fosse igual no Canadá.Putin gabou-se de ter feito a primeira transição pacífica e democrática na história da Rússia. Não deixa de ser verdade (ou quase), mas o instinto ficou.
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