quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Somos um bando de irreformistas

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Nos dias de hoje, principalmente nos períodos eleitorais, sempre falamos em reformas. Às vezes penso que somos reformistas por definição! Mas, na verdade, apenas gostamos de falar em reformas, daí a praticarmos já vai uma grande distância. Estamos sempre falando em reformas! Tem sempre alguém defendendo a reforma tributária e do modelo econômico. A reforma agrária continua sendo bandeira de luta de movimentos organizados. Muita se fala, também, de reformas na educação.

E ainda existe a mãe de todas as reformas – falo da reforma política, que é aquele negócio que ninguém sabe bem o que é, e nem como fazer, mas que todo mundo defende como se fosse à panaceia para todos os nossos problemas. Há 54 anos, em 1963, também era assim. Só se falava em reformas. No início da década de 1960 a sociedade brasileira se mobilizou em torno das Reformas de Base. Naquela época havia um amplo sentimento de que, sem reformas, nunca sairíamos do terceiro mundo. De fato, foi isso mesmo. Não fizemos as reformas (alguns, como eu, preferem chamar de revolução), pois preferimos o autoritarismo, e ficamos assim: grandes e subdesenvolvidos.

Em 1963, o presidente da República era João Goulart. Menos por vontade própria e mais pela pressão de vários setores da sociedade, Jango aderiu às reformas de base não sem algumas vacilações pouco normais para a época. No passado, as reforma tinham alta capacidade de mobilizar a sociedade, ao contrário dos nossos dias, aonde as pessoas só vão às ruas para lutar por coisas sem sentido, e atrapalhar o trânsito, ou para pedir a volta da ditadura militar ou o fim da corrupção, atendendo aos interesses dos que jamais vão às ruas até porque são protegidos pelo tal foro privilegiado.
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Se no passado se lutava por reforma agrária, política e educacional, hoje o máximo que fazemos é participar ocasionalmente de manifestações contra a corrupção. Apesar de que não adianta ser contra a corrupção e eleger “Malufs” e “Severinos Cavalcantis” a cada dois anos. O fato é que no passado éramos reformistas praticantes, hoje não passamos de uns reformistas de botequim.

Um movimento de massa organizado lutava pelas reformas de base e reivindicava do Congresso Nacional medidas constitucionais necessárias para uma consequente reforma das instituições. Mas, pelo que lutavam os reformistas da década de 1960? Eles se mobilizaram por uma reforma agrária que democratizasse o acesso a terra e que desse às pessoas condições de viver, comer e se desenvolver junto com suas famílias. Pasmem! Mas, em 1963 já se falava em transposição do Rio São Francisco. A mesma que se arrasta pelos anos, torrando somas fantásticas de dinheiro, enquanto a seca devora o povo nordestino impiedosamente. Em 1963, 90% das terras no Brasil estavam nas mãos de apenas 10% da população. Passados 54 anos, apenas 10% das terras brasileiras estam nas mãos de 90% dos brasileiros. Ou seja, não mudamos nossa estrutura fundiária porque seguimos sem fazer uma ampla reforma agrária. 

Lá em 1963 falava-se muito em reforma urbana para que grande parcela da população pudesse ter boas condições de moradia e para que o fosso social, que separa as pessoas de acordo com seus locais de moradia, fosse encurtado. Claro, não fizemos reforma urbana – as favelas estam aí para não me deixarem mentir. Lutava-se por reforma educacional que ampliasse a rede pública de ensino. Os jovens entravam na luta política pela porta das mobilizações por mais vagas nas universidades.

Como nos dias de hoje, se lutava em 1963 por reforma tributária que corrigisse a desigual distribuição de encargos entre o capital e o trabalho, entre ricos e pobres. Essa é outra reforma que adoramos defender, mas não parecemos saber o que fazer para efetivá-la. Além da questão tributária, falava-se da reforma bancária que pudesse levar crédito e financiamento a todas as forças produtivas do país a juros normais, sem usura e sem corrupção. O financiamento até foi democratizado, já a usura e a corrupção...

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Naquela época se falava muito em reforma administrativa que pudesse dotar o Estado brasileiro de uma estrutura mais sólida, menos dependente da burocracia e com eficientes mecanismos de controle contra a corrupção. Claro, essa reforma jamais foi feita, do contrário não estaríamos às voltas com essa grande quadrilha de criminosos que pilham o Estado brasileiro, enquanto fingem que governam, impedindo que se possa desenvolver. Em 1963 falava-se em reformar o sistema político-partidário e a forma da representação. Falava-se em reformar os poderes e as eleições. Hoje, continuamos a falar dessas coisas, apenas encontramos um termo que resume tudo isso: é a tal reforma política.
Sempre se dirá que não se fez reformas por causa do golpe civil-militar de 1964. É que, com ditadura, ficou mesmo difícil fazer reformas sociais e políticas. É preciso não esquecer que o golpe foi dado exatamente para se impedir que as reformas de base acontecessem. Mas, a ditadura não teria acabado a 32 anos, tempo considerável para se reformar tudo, inclusive o Estado brasileiro? O fato é que somos um bando de reformistas de gabinete. Até achamos que devemos nos reformar, mas como não sabemos como, seguimos assim irreformáveis.


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Progama FALANDO SÉRIO na CREATIVE TV de Picuí-PB





No Programa FALANDO SÉRIO da CREATIVE TV, apresentado por Fabiana Agra - jornalista e advogada - e pela Profª do IFPB/Picuí Virna Cunha, falamos sobre nossos livros, sobre a conjuntura politica brasileira atual e a relação dela com o golpe civil-militar de 1964 e o Estado autoritário que perdurou por longos 21 anos, dentre outras coisas.

Exploramos nossas produções acadêmicas ou não, expressamos nossas preocupações com a atual conjuntura, onde o Brasil parece estar sendo propositadamente desmontado, mas não deixamos, também, de analisar as questões com nossos olhares de estudiosos das ciências humanas e sociais, pesquisadores que somos de nossa realidade.


O Programa, gravado em 08 de novembro de 2017, foi ao ar pela CREATIVE TV (www.canalctv.net ), a primeira TV via internet da cidade de Picuí (PB) que cobre toda a região do Curimataú e Seridó Paraibano. A CREATIVE TV contribui para o desenvolvimento midiático da região registrando fatos do dia-a-dia e levando informação, cultura, entretenimento, esportes, educação para a população da cidade e da região.


No mesmo dia em que gravamos este programa na CREATIVE TV, tivemos o evento Roda de Conversa com discentes e docentes das Redes Estadual e Federal de ensino, promovido pela Diretoria de Desenvolvimento de Ensino do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) - Campus de Picuí. Tivemos o lançamento do livro "O DEZESSEIS - OS RETIRANTES DA DEMOCRACIA" de Fabiana de Fátima Medeiros Agra e do meu livro, além de um excelente debate sobre o Golpe Civil-Militar de 1964 e a atual conjuntura golpista que enfrentamos. Na ocasião fui brindado com uma resenha muito interessante feita pela professora Virna Cunha que pode ser lida abaixo.


A esquerda pela esquerda: Consciência e ciência do papel dos grupos de esquerda na Paraíba por Virna Cunha Farias


 Gilbergues Santos é graduado em História pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, especialista em História política do Brasil República e é mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Gilbergues é professor da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB desde 1993. O pesquisador também se dedica a blogs sobre política e a programas em rádio em que refletia a conjuntura política do momento.
Em "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido?" o autor faz uma análise do papel dos movimentos de esquerda em Campina Grande com recorte temporal para os anos de 1968 a 1972, anos considerados difíceis devido ao endurecimento da Ditadura Militar instalado aqui após o golpe de 1964. Sua pesquisa volta-se para as ações do Partido Comunista Brasileiro – PCB – e da tendência que este partido de linha marxista – leninista apresentava para um viés de autoritarismo e a antidemocrático. 

Temos uma obra que traz uma contribuição muito grande não apenas por mostrar os movimentos de esquerda aqui na cidade, mas pelo lado autoritário desses movimentos serem pensados e mostrados por alguém que também militou na esquerda, temos então a esquerda vista pela própria esquerda e não o antagonismo esquerda X direita que sempre se apresenta quando o assunto é autoritarismo.
O livro está dividido em 3 capítulos, além da apresentação feita pelo professor Rangel Júnior , reitor da UEPB e das partes introdutórias e das considerações finais do autor. No primeiro capítulo, "PCB e a Matriz autoritária da Esquerda Brasileira", o autor discute os principais elementos autoritários do PCB e as críticas de Marx à democracia, entendida por ele como coisa de burguês. O autor ainda reflete no mesmo capítulo sobre a pobre tradição democrática de nossa sociedade e a relação entre comunistas e militares.
No segundo capítulo, "O dilema dos comunistas: revolução ou reformas?", o autor discute as ambiguidades em torno da luta dos comunistas sempre colocando em pontos contrastantes questões como as reformas sociais tão desejadas pelas classes trabalhadoras, embora que elas custem à democracia. Os opostos estão sempre presentes neste momento conturbado que a esquerda se finca entre as reformas ou a violência revolucionária até retornarem ao caminho da ação armada. Neste momento, o pesquisador reflete também como essas inquietudes da política nacional eram absorvidas em Campina Grande, objeto principal de sua investigação.
No terceiro e último capítulo, "Atuação das organizações revolucionárias em Campina Grande", o autor volta-se para o seu objeto de estudo e relata como essas organizações de esquerda agiram na Rainha da Borborema. Nas considerações, o pesquisador retoma partes já comprovadas e conclui como a atuação das organizações revolucionárias de esquerda se mostraram antidemocráticas e autoritárias, apesar de não haver usado de luta armada em Campina Grande. Acredita o historiador em que o fato de Campina ser uma cidade interiorana tenha contribuído para que o papel desenvolvido aqui tenha sido de apoio e infraestrutura, mesmo estando a esquerda daqui antenada com o que acontecia no resto do país.
O livro traz uma contribuição muito grande não só na área de História, mas também na de Sociologia já que estuda questões inerentes aos movimentos sociais como também a forma que a nossa sociedade entende o processo democrático.  A reflexão que deixa de como o homem é afeito a meios autoritários para se chegar a determinados fins faz com que percebamos que dominar através da força bruta não é coisa nem de direita, nem de esquerda, mas coisa do ser humano, da fera que há no homem de todos os tempos.