Antes de analisar o
debate da quinta-feira (04/10/18) entre os candidatos à presidente, na Rede
Globo, de falar das pesquisas e do que ainda espero para este 1º turno, preciso
lembrar da premissa do nosso momento e da tolerância, algo que nos falta em
abundância. Vamos ao fato inicial de
onde parte toda questão. Nas democracias, eleição é condição necessária, porém
insuficiente. No Brasil, a eleição 2018 aprofunda um projeto de Estado e de
sociedade desigual, onde liberdade caminha para ser um bem de poucos, e fascismo,
neoliberalismo, neopentecostalismo e conservadorismos reacionários se unem para
governar. Não esquecendo que o conglomerado golpista (tendo PSDB, MDB,
Judiciário e a velha mídia à frente) se utiliza dessa eleição como o inseto que
se viciou em inseticida.
A mãe de todos os
paradoxos, que norteia a ação política de muito brasileiros, é a que se utiliza
de procedimentos democráticos (liberdade de expressão) para fulminar a democracia
e implantar um regime ditatorial. É por isso que parte da população quer
abancar no governo um tirano medíocre (que foge do debate como ele próprio
fugiria da cruz) que trabalha como a formiga, por causa do longo inverno, para acabar
com os, pouco é bem verdade, vestígios de democracia que temos.
Concordo os que dizem
que é a disseminação da intolerância e do ódio, como estratégia política, que mina
a vida democrática do país. O filósofo Karl Popper dizia que: "Tolerância
ilimitada culminará no desaparecimento da tolerância, pois se a tolerância
ilimitada for estendida aos intolerantes, os tolerantes serão destruídos”. Confuso?
Nem tanto. Mas, isso é mesmo algo sensível. Assista ao filme “Operação Final”,
de Chris Weitz, e veja que você mesmo vai terminar defendendo tolerância zero aos
intolerantes. O filme conta a ação de um comando do Mossad que sequestrou o
arquiteto da solução final nazista, Adolf Eichmann, na Argentina e o levou para
ser julgado, condenado e executado em Israel.
Foi usando procedimentos
democráticos que o Partido Nazista subiu ao poder. É fazendo o mesmo que
fascistas brasileiros querem governar. Quem não lembra dos “camisas verde-amarela”
usando a liberdade de expressão para pedir o fim da democracia? Nos EUA os
“Alt-Right” (movimento ultraconservador, supremacista, nacionalista, que reúne
neonazistas, neo-confederados e a Ku Klux Klan) usam direitos consagrados na
Constituição para fazerem sua pregação antidemocrática e pró-fascista. Mas, não
é isso mesmo que acontece no Brasil?
Os tolerantes devem se
unir em torno de uma candidatura comprometida com a tolerância, pois nosso
futuro, e o de nossas crianças, está em questão, mesmo que o passado seja tão
comprometido pelo autoritarismo. Se os intolerantes vencerem vão, não duvide,
perseguir os tolerantes, pois a primeira coisa que farão será acabar com a
liberdade de expressão. Não se trata do projeto
desse ou daquele político, ou do ódio que você pensa que sente a um partido
e/ou projeto político. A NOSSA LUTA AGORA É CONTRA O FASCISMO! Precisamos tratar da união republicana, democrática, humanista,
progressista, contra o mal maior. Você consegue imaginar como estará o Brasil
daqui a dez anos depois de uns dois governos do Inominável? Como conheço bem
nossa história republicana, mais especificamente o período da ditadura militar,
imagino que estaremos mal, muito mal.
Falemos do debate que
teve um William Bonner cheio de mesuras que ria de seus erros e gafes, querendo
nos convencer que toda aquela simpatia é verdadeira. Nem parecia o Bonner
autocrático, irascível, neurastênico, das entrevistas com cada um dos
candidatos. Álvaro Dias tomou whisky com uns dois comprimidos de Rivotril. Trôpego, não concatenava
pensamento/fala. Após tentativas patéticas de se fazer engraçado mereceu
reprimenda do professor Haddad e voltou a insistir na corrupção como se fosse
um homem puro. Marina Silva tomou uma infusão
de ervas, trazidas das profundezas da Floresta Amazônica para seguir sendo Mariana
Silva, só que em ebulição. Marina se confunde ao supor que sua revoltazinha
amestrada vai convencer o eleitorado de alguma coisa.
Geraldo Alckmin, o
“santo” da Odebrecht, tomou chá de óleo de peroba para lustrar seu discurso
cara-de-pau. Ele teve a desfaçatez de dizer que a reforma trabalhista não
mexeu nos direitos do trabalhador. Fosse viva minha avó e teria
dito: “esse coisa tá om o cão no couro!”. Meirelles tomou 1/2 comprimido da
caixa de Rivotril de Álvaro Dias. Se comportava como se estivesse numa reunião
com os técnicos do Banco Central. Seu discurso tecnoburocrata faz lembrar
Delfim Netto justificando a necessidade de o governo militar decretar o AI-5. Ciro Gomes tomou chá
de Camomila com Maracujina. Nunca o vi tão zen-budista. Mas, notícias dão
conta que, nos camarins da Vênus Plantinada, o Ciro “cabra-macho-do-Nordeste”
apareceu célere. Ciro foi muito bom nos ataques a Bolsonaro e foi bem na
estratégia de fazer o caminho de volta ao PT, mirando o 2º turno. No entanto, não
entendo que cálculo é esse que o mostra ganhando a eleição no 2º turno,
mesmo que todas as pesquisas mostrem que ele não vai ao 2º turno. Alguém
explica?
Boulos, disparado o
melhor de toda eleição, não tomou nada, mas deu à
audiência o chá da verdade ao falar da ditadura militar. Boulos foi brilhante ao perguntar a Alckmin porque a turma dele só
“corta nos direitos do povo, nunca nos privilégios da elite”. Haddad não tomou nada. É que o líquido misterioso que sua mãe colocava em sua mamadeira segue fazendo efeito - vai ter calma assim lá na .... USP. Haddad é aquele professor
paciente, que dá aulas sentado de pernas cruzadas, calmo com um hipopótamo
meditando. O que, diga-se, é tudo o que mais precisamos quando o
ódio é o capital do povo brasileiro. Haddad teve ótima participação no debate.
Seguro, bateu nos momentos certo, mas do seu jeito.
Antes do debate muito se
falou num bloco ALCIRINA (Alckmin + Ciro + Marina), mas o que vai rolar mesmo é
o bloco BOUCIDDAD (Boulos + Ciro + Haddad). Isso se conclui, depois do debate,
pela dobradinha entre Boulos e Haddad e com Ciro tendo um comportamento
republicano e democrático. A “direitosa” extrema pira com essas coisas! Para votar temos que ter
claro que o crescimento do Inominável se dá pelo enfraquecimento, e falta de
reação, dos outros candidatos da direita. Claro, a ofensiva dos setores neopentecostalistas,
com Edir Macedo à frente, carreou muitos votos para a alegoria fascista nos
últimos dias. Mas, não esqueçam que o “mito” não é favorito para ganhar no 2º
turno. Haddad é o segundo colocado nas pesquisas e aparece nelas ganhando no 2º
turno.
No 2º turno o Infame não
poderá se esconder, em algum momento ele vai ter que aparecer para seus próprios
eleitores. Estou muito ansioso para um debate entre Haddad, com seu
conhecimento e sua sensibilidade, e o Ignóbil, com tudo aquilo que sabemos que
ele não tem. O Execrável ganha votos por causa, também, de setores do conglomerado golpista que abandonaram
suas candidaturas para se atarem ao fascismo. Veja o caso do PSDB paraibano. O senador Cássio Cunha Lima, e o prefeito de Campina Grande, Romero
Rodrigues, mandaram às favas os escrúpulos de consciência e abraçaram a postulação da extrema direita. No futuro serão chamados pela
sociedade para explicarem suas escolhas atuais.
No entanto, é assim
mesmo. A direita, dita liberal, que não quer ser chamada de fascista, não
pestaneja em abrir mão de suas fantasias democráticas para proteger seus
interesses mais comezinhos. Como diria Karl Marx, “perde uma mão, mas não perde
a bolsa”. Sensato seria abrir mão
do tal discurso dos “dois extremos”. A balela de que Haddad e o Abjeto são
iguais por serem extremos. Discurso confortável para quem não quer assumir sua condição
política e ideológica. Para esse dilema, dou uma sugestão: faça sua escolha e
tente viver bem com ela, não esquecendo de assumi-la para o bem e para o mal.
Temos duas opções. Uma,
é a defesa da democracia, da liberdade e do desenvolvimento social. Outra, nos
fará andar para trás com uma venda nos
olhos. Escolha a sua, mas não seja egoísta, não pense apenas em si mesmo, pense
em seus filhos e nas pessoas que você ama. Temos, neste 1º turno,
uma das batalhas dessa guerra que precisamos travar contra o fascismo. Essa
eleição é a mais importante das que tivemos até hoje, pois significa a volta ao
caminho da construção de uma sociedade mais justa, menos desigual. Ganhar esta
eleição significa acumular forças para as próximas batalhas, até porque ainda
teremos que lutar muito para garantir que o resultado das urnas seja
respeitado.
Outubro - 2018
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