domingo, 6 de abril de 2008

2008 – um laboratório para 2010

É notório o bom relacionamento entre Lula e José Serra, mas apenas pelas questões administrativas presentistas. Quanto ao futuro eleitoral, não há como esperar cordialidades. Lula e o PT não vão ter condescendência para com um concorrente que pode representar a ruptura. A volta do PSDB ao governo, controlado por FHC e com o DEM de roldão, atemoriza a situação. Lula já considera sair candidato ao Senado (por Pernambuco) em 2010 para liderar, no Congresso Nacional, a oposição a um governo de Serra.

Vejamos as estratégias lulo-petistas. (1) Busca-se o lugar-tenente de Lula para concorrer à eleição de 2010; se é que ela não se frustrará por um acordo que acabaria com a reeleição e somaria mais um ano ao mandato, senão do próprio Lula, pelo menos do seu substituto. (2) Aécio Neves tem sido tratado a pão-de-ló ou pão de queijo, como queiram; suas demandas ao governo federal são sempre bem vindas. (3) Trata-se de apaziguar os aliados de hoje para se preservar a governabilidade. (4) Lula vai dando espaços para o PSDB não-serrista e, vis-à-vis, fechando portas para os congressistas fiéis a FHC e Serra.

Aécio Neves pouco tem ameaçado, até porque pode vir a fazer parte da base governista se o tucanato paulistano fechar mesmo em torno de José Serra e, ao invés de bancar o nome de Geraldo Alckmin, apoiar Gilberto Kassab (DEM) a reeleição para a prefeitura de São Paulo. Sabe-se das tentativas de convencer o governador mineiro a vir para o PMDB para encorpar a ampla e plural base aliada que o governo federal não vive sem. Neste caso, Lula teria um nome palatável para sua sucessão a despeito de setores petistas quererem candidatura própria à presidência em 2010.

As negociações estão tão adiantas que a eleição para prefeito de Belo Horizonte se tornou um laboratório para 2010. Lá, se propôs uma aliança que se vingar aglutinará históricos adversários.

Passando por cima das desavenças entre PT e PSDB, Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel (PT) querem que os dois partidos abram mão de candidaturas próprias e lancem Márcio Lacerda (PSB) - Secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas. Isso seria chancelado por Ciro Gomes que tenta colocar-se como o fiel da balança nos embates entre petistas e tucanos visando, óbvio, sua própria candidatura presidencial.

Assim, se viabilizaria uma aliança política entre duas forças que tem mais semelhanças do que diferenças. E retiraria do PT o discurso que coloca o PSDB como a oposição que não deixa o governo governar. Isto, óbvio, se Lula não conseguir levar Aécio para outras plagas partidárias.

Pegando a rebarba dessa aliança, Geraldo Alckmin poderia vitaminar sua candidatura a prefeito de São Paulo e isolar Serra que ficaria com poucos aliados e sem opositores para concorrer. Já o PT, que vai de Martha Suplicy, não pode deixar Kassab se reeleger para não dar ânimo para Serra e FHC em 2010. Óbvio, Lula vai ter que convencer os eleitores paulistanos que Martha mudou que não é mais aquela do "relaxa e goza".

Mas, Lula tem que enquadrar aquele PT que prefere o conflito aberto com o PSDB a ver Ciro Gomes e Aécio Neves juntos. Querem que a díade PT/PSDB continue, pois temem o cenário para 2010 onde Ciro e Aécio se unem em uma única chapa.

Num difícil, porém não impossível cenário onde os candidatos apoiados por Lula (nas cidades de São Paulo, Rio e Belo Horizonte) ganham a eleição para prefeito, Serra já começa a sangrar no final deste ano e Aécio Neves potencializa sua candidatura à presidente, sem precisar mudar de partido. E Lula teria uma sucessão tranqüila sem oposição à altura. Mas, neste intricado mapa político-partidário-eleitoral é preciso ver outros cenários e atores políticos.

Temos o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) que colou em Lula e quer ser candidato a vice-presidente, não importando quem venha a ocupar o primeiro posto. Ele pouco ajuda, mas em compensação não cria problemas e isso importa em políticas de alianças.

E temos a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem Lula chama de "a mãe do PAC" para lhe dar discurso para 2010. O PMDB lhe deu o troféu bambolê, numa alusão ao fato de que ela precisa ser mais dócil aos "rebolados" que a política exige e como vingança pelos obstáculos colocados a liberação de cargos e verbas. Foi Dilma que tentou impedir a nomeação de Edison Lobão (PMDB) para o Ministério de Minas e Energia. Perdeu a queda-de-braço com José Sarney, mas vários outros cargos desse ministério são ocupados por suas indicações.

A ministra nada comenta e Lula diz que se ela quer mesmo ser candidata deve "rebolar" mais. Ela segue com seu perfil técnico e Lula a trata de forma diferente em relação aos outros ministros, mas, contraditoriamente, escalou-a para dizer os "nãos" e as verdades que ele ou não pode ou não quer dizer. Assim fica mesmo difícil se mostrar palatável como candidata!

Temos aqui tão somente a ambiência política que pode, e deve mudar. Fiquemos atentos.

Post-Scriptum:

Vejo pela imprensa que Lula articula o fim da reeleição, negociando com PMDB e PSDB um acordo que entre em vigor após as eleições de 2010.

Lula continua rejeitando a tese, despropositada, de um 3° mandato e até pediu (mandou) ao deputado federal Devanir Ribeiro (PT) que pare de discursar em favor do que considera "quebra do valor da democracia", por gerar desconfiança e dificultar negociações. Mas, o presidente condiciona o apoio a esta tese ao estabelecimento do mandato presidencial de cinco anos e que tudo seja acertado neste mandato. Lula não quer um 3° mandado colado com o 2°, mas demonstra interesse em voltar à presidência em 2015 para um mandato até 2020. Precisa, então, eleger seu candidato em 2010 para, retornando, encontrar a casa do mesmo jeito que a deixou.

Os atores políticos interferem nas regras do jogo eleitoral e, como de hábito, o fazem enquanto jogam. Criam certezas antes mesmo do fim da contenda - o que só fragiliza mais ainda o processo eleitoral, as Instituições Políticas e consequentemente o próprio sistema democrático.

Por fim, numa pesquisa do Datafolha aparecem números para 2010 em quatro cenários deferentes. Em três deles Serra aparece em primeiro entre 36% e 38%. Contra ele, Ciro Gomes tem entre 20% e 21%. Da base aliada de Lula é o mais competitivo. Quando Aécio Neves substitui Serra, Ciro fica entre 28% a 32%. Quando a ex-senadora Heloísa Helena é citada, Aécio cai para terceiro. Os nomes do PT (Marta Suplicy, Dilma Rousseff e Patrus Ananias) têm desempenhos pífios, contrastando com a boa aceitação que Lula tem em seu governo. Isso só demonstra que a situação ainda não tem um nome competitivo e que Lula é maior do que o partido que foi sempre a sua identidade política. Mostra, ainda, que o PT vai ter que lidar com a possibilidade factível de não encabeçar a chapa que terá como principal cabo eleitoral o próprio presidente Lula.

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