domingo, 21 de dezembro de 2008

UM PAÍS DE MACUNAÍMAS!

O jornalista Juca Kfouri, em sua coluna deste domingo (21/120/08) na Folha de São Paulo, faz aquilo que muitos não tem coragem e/ou interesse em fazê-lo. Afirma que somos um país de Macunaímas (o herói sem caráter, lembram?), pois ao aceitarmos passivamente esse estado de coisas erradas que aqui acontecem somos, pelo menos, coniventes. Juca fala que "talentos não nos faltam, basta ver Kaká, Cielo, Maurren, Fofão, Giba. Só faltam valores". Ficamos inconformados com políticos corruptos (aliás, eleitos por nós mesmo), mas não vemos problema algum que um juiz de futebol seja subornado, desde que para favorecer o nosso time; como também não vemos dificuldades em furar a fila ou ultrapassar o sinal vermelho, pois a nossa justificativa é sempre mais justa do que do outro; e o que dizer de mania recorrente de achar que os fins justificam os meios? Enfim, a Lei de Gerson parece, ainda, ser uma regra quando deveria ser uma excessão.

A MELHOR imagem do Brasil em 2008 é a pior imagem do Brasil em 2008: a imagem do roubo de mantimentos enviados para socorrer os flagelados de Santa Catarina.

Até então, quem sabe, a melhor imagem era a de César Cielo emocionado no lugar mais alto do pódio em Pequim. Ou a de Maurren Maggi, na mesma altura. A das meninas do vôlei também era forte candidata, por tudo o que significava de virada, assim como a da saltadora. Mas não.

Nada mais revelador da alma brasileira do que aquele pessoal surrupiando o fruto da generosidade de alguns em proveito próprio. E, não tenha dúvida, na complexidade da alma brasileira, alguns dos larápios seriam também capazes de fazer doações para serem apropriadas por outros semelhantes. Ora, afinal, pensou um deles, "este tênis aqui é bacana demais para dar para um desabrigado que está precisando mesmo é de uma galocha".

Já o outro achou que "esta camisa é muito elegante para quem não tem nem onde morar e dá pena pensar em vê-la toda amarfanhada. Nem vai durar...". Mais ou menos como achar legal ganhar um jogo com gol de mão, em impedimento e no último minuto.

Ou não se importar que as pessoas se perpetuem no poder, ainda mais se fizerem algo de bom, mesmo que roubem. Porque fazem, né não? Pois não é que neste país se assiste num ano ao escândalo do Pan-2007 e se aplaude a candidatura olímpica na temporada seguinte? Até se bajula a filha do cartola que virou cartolinha para fazer a Copa do Mundo com o nosso dinheiro!

Talvez por isso a melhor frase do esporte nacional em 2008 tenha ficado praticamente inédita até hoje, dita, em Pequim mesmo, pelo jornalista Roberto Salim, da ESPN Brasil, ao ministro do Esporte, Orlando Silva Jr.: "Você envergonha a sua raça, o seu partido, o esporte brasileiro e todos os que acreditaram em você".

Porque também são raros os brasileiros capazes de externar sua indignação com tamanha clareza. A regra é ficar inconformado com o que houve em Santa Catarina, mas fechar os olhos quando em troca de um privilégio, seja de que ordem for, algo que os meios de comunicação também fazem. Tanto que, por exemplo, Dunga apanha mais por suas qualidades do que por seus defeitos, embora tenha trocado algumas delas para sobreviver na função. E que ninguém imagine que aqui esteja sendo feita a apologia do brasileiro perfeito, ou do homem perfeito, porque certas ilusões, nestas alturas, não cabem mais.

Apenas se constata que de nada adiantam surtos de indignação quando a prática diária é a de empulhação. A de levar vantagem. A de mentir. De se juntar com quem não presta para se dar bem, porque o mundo é assim mesmo. A de querer o cara no time, não para casar com a filha. Só que esses caras são tão envolventes em sua falta de compromissos morais que terminam se casando com as filhas dos espertos e acabam por fazer um país. Um país de Macunaímas.

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