Por volta de 50 a.C., Júlio César
cruzou o rio Rubicão atrás de Pompeu descumprindo leis de Roma que proibiam que
seus generais fizessem a travessia para que a sede do Império não fosse
desguarnecida. A atitude foi heroica, mas temerária, pois ele pôs Roma em
risco. Júlio César até marcou o fato com a frase “Alea jacta est” (a sorte está lançada). “Cruzar o Rubicão"
passou a significar a tomada de uma decisão, que envolve riscos, sem que se
possa voltar atrás. Quando políticos
cruzam o rubicão estam dando um grande salto.
O presidente da Câmara Federal,
Eduardo Cunha, cruzou o rubicão. Ele acolheu um dos pedidos de impeachment da
Presidente Dilma, protocolados na Câmara por partidos: o PSDB à frente, o PMDB
por trás. O ato “rubinesco” de Cunha não teve nada de heroico, não foi uma
decisão cerebral, baseada em um cálculo considerando a relação custo/benefício
de um ato de tal envergadura. Cunha, e seu exército de Brancaleones, atravessou
o rubicão brasiliense devido a cavalares doses de cinismo e uma mórbida estultice
que moldam essa figura que a politica do Brasil tão bem reproduz.
O poeta e dramaturgo Oscar Wilde
afirmou que “o cínico sabe o preço de
tudo, mas o valor de nada”. Assim é Eduardo Cunha despido de valores
republicanos, falso moralista hipócrita (que vê no caduco Estatuto da Família a
obra de uma vida), arrecadador de propinas que deposita em faraônicas contas
bancárias. Num artigo de 04 de dezembro o colunista da Folha de São Paulo,
Marcos Gonçalves, chamou Cunha de
“jihadista da direita corrupta, um patife entrincheirado no comando da Câmara”.
Para permanecer na Presidente da Câmara dos Deputados Cunha terá ainda que
cruzar um rubicão amazônico. Quando suas chantagens não mais surtiam efeito se
atirou nas águas de um rio que ele não sabe onde, e se, tem pé suficiente para
deixar sua cabeça acima do nível da água.
Eduardo Cunha acolheu o pedido de
impeachment motivado (1) pela mensagem que o presidente nacional do PT, Rui
Falcão, postou no Twitter: “Confio em que
nossos deputados votem pela admissibilidade do processo”; (2) pelo anuncio
dos deputados do PT, com assento no Conselho de Ética, de que votariam pela
continuidade do processo contra ele; (3) pelo palpite de que o procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, pedirá ao Supremo Tribunal Federal seu afastamento
da presidência da Câmara. Cunha usava o impeachment contra a presidente como
clara chantagem para preservar seu mandato depois que até a Ordem dos
Congregados Marianos já sabiam de suas contas na Suíça e das peraltices de sua
esposa na Europa e nos EUA.
Eduardo Cunha finge não saber que
foi o PSOL e o Rede Sustentabilidade que entraram com uma representação contra
ele no Conselho de Ética. Prefere achar que é tudo uma (SIC) “perseguição sórdida vinda do Palácio do
Planalto”. Sim, interessa ao governo ver Cunha cada vez mais enredada na
teia de embustes, veleidades, empáfias e estupidez por ele próprio tecida. Sim,
o governo barganhou com Cunha ao propor que ele não acolhesse pedidos de
impeachment em troca de sua defesa no Conselho de Ética. Mas, Cunha,
chantagista de quatro costados, formado nos bastidores putrefatos do parlamento
brasileiro, não aceitou o toma-lá-dá-cá porque deve favores a uma oposição
pró-impeachment que contribuiu para que ele deixasse o baixo clero e se
tornasse presidente da Câmara dos Deputados.
Mas, como já se disse, (SIC) “a chantagem é a arma dos fracassados”.
O chantagista pensa ser forte pelo temor que causaria no chantageado. Mas, este
pode ser o dono das ações se resolver revelar as verdades que dão lastro à
chantagem. Cunha, ignorante contumaz, não entendeu isso. Deveria ouvir mais e
melhor os que manuseiam os humores e quereres do governo, Lula, Michel Temer,
Renan Calheiros, et reliqua. Já o PT,
finalmente, tomou uma atitude consequente e resolveu medir forças com Cunha
mesmo que tenha que entregar a cabeça da presidente Dilma.
O PT entendeu que
precisa sobreviver, pois aí vêm 2016 trazendo as eleições municipais. Entendeu,
também, que para acabar com o chantagista só mesmo lhe retirando o motivo da
chantagem. Pareceu um salto no escuro, mas a ideia foi bem racionalizada. Ao
decidir apoiar a cassação de Cunha, se viu livre de defender o indefensável. O
PT está numa posição tão delicada que até aceita perder um de seus braços, que
atende pelo nome de Dilma Rousseff, na esperança de recuperar o respaldo social
que outrora era seu principal capital politico. Hoje, Dilma é refém do seu
partido e depende dele tanto quanto tem que se submeter ao PMDB, o
achacador-mor da República.
Continua amanhã...
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