segunda-feira, 10 de outubro de 2016

CAMPINA SÓ QUER SER NEW YORK

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Campina Grande surgiu como a “Vila Nova da Rainha” para atender necessidades da Coroa Portuguesa. Nosso “descobridor” foi Teodósio de Oliveira Ledo - um raivoso serial killer que matou tantos índios na região da grande campina que a própria coroa lhe enviou carta pedindo moderação.  Caso similar só o do General George Custer que, no século XIX, foi repreendido pelo governo dos EUA pela carnificina que promovia no oeste americano. Mandaram Custer controlar os índios e ele passou a exterminá-los tal qual Teodósio.



Certa vez falava disso em sala de aula e um aluno disse que sou um “campinense que não deu certo”. Tenho lá meus sentimentos em relação à cidade onde nasci, me criei, constitui família, onde vivo, moro e trabalho. Mas, disse também que isso não significa que tenha que fazer declarações de amor a minha cidade, muito menos fechar os olhos para os problemas e defeitos que temos. Uma coisa é ser campinense. Outra, bem diferente, é ser um “campinista” desses que acham que Campina Grande irradia para o mundo o trabalho, o desenvolvimento e a paz. Campinista de quatro costados é aquele que chora ao ver uma reportagem sobre nosso São João no Fantástico da Rede Globo.



Mas, confesso, não gosto que falem mal de Campina Grande. É que para criticar Campina tem que ter bebido das águas do Açude Velho e tem que ter ido, pelo menos uma vez, no Clube Ipiranga. Só censura Campina quem, nas sextas-feiras, ia ao Clube dos Estudantes Universitários, o “CEU”. Só pode depreciar Campina quem saía do “CEU”, atravessava a rua, entrava no “CAVE” de Carlinhos e depois tirava a pé, com o dia amanhecendo, lá para o Catolé para ouvir o Bolero de Ravel no REFAVELA de Bel.



Resultado de imagem para clube dos estudantes universitários CEU campina grandeEu aceito que você esculhambe Campina se e somente se, pelo menos uma vez, saiu do REFAVELA e foi a pé, claro, para a Feira Central comer picado de bode com pão e tomar umas lapadas de cana em D. Maria do picado, lavando tudo com cerveja no final. E se não tiver comido a tapioca de queijo de coalho com manteiga da terra de D. Maria é melhor nem abrir a boca. Para mandar ver em Campina tem que ter ido ao Açude de BODOCONGÓ, no tempo em que ele era um açude, e que fazia Jackson do Pandeiro cantar “Eu fui feliz lá no Bodocongó com meu barquinho de um remo só / Quando era lua, com meu bem, remava a toa / Ai, ai, ai que vida boa lá no meu Bodocongó”.



No final dos anos 1980 Gilberto Gil veio aqui lançar o Movimento Onda Azul. Numa entrevista, ele disse que “Campina Grande tem uma vontade danada de ser New York”. Muita gente não gostou. Alguns diziam: “quem ele pensa que é para vir falar mal de nossa cidade”. Eu fiquei com raiva. Lembro ter dito: “porque ele não vai falar mal de Salvador?”. Hoje, olhando em perspectiva, entendo o que Gil quis dizer. É que o campinense é um enxerido por natureza e exibido por definição. Se não fosse essa vontade de ser New York, de ser grande, onde estaríamos hoje? Campinense que é campinense não tem o complexo de vira-latas do qual nos falava Nelson Rodrigue.



Campinense da gema nasce aprendendo a lamber suas feridas, não esquece nossa vocação para o desenvolvimento e que exalamos política e cultura por todos os poros.  Não fosse nosso complexo de superioridade seríamos quase insignificantes. Como teríamos conseguido ser a segunda maior exportadora de algodão do mundo se sofrêssemos de um irremediável complexo de inferioridade? Eu sei que temos que conviver com o fato de sermos vice-campeões. Mas, dá para concorrer com Liverpool que deu os Beatles ao mundo? Tudo bem, ficamos em 2º lugar no algodão, mas quem, no Nordeste, se desenvolveu mais graças um produto agrícola?



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Um dos símbolos dessa época de apogeu foi um cabaré, mas não um cabaré qualquer. Foi no salão do Eldorado que desfilou a riqueza que os tropeiros traziam para Campina. Foi isso que Luiz Gonzaga cantou em “Tropeiros da Borborema”. Aliás, o rei do baião nasceu em Exu (PE), mas bem que poderia ter nascido aqui. Assim teríamos mais uma coisa do que nos orgulhar. Já pensou podermos dizer que somos da terra do “Rei do Baião”?


Temos o Maior São João do Mundo! Olha aí nosso complexo de superioridade à flor da pele. É como se olhássemos de cima para baixo para todo o Brasil e disséssemos: “somos os fiéis depositários da cultura popular tupiniquim”. Dai que a prefeitura municipal bem que poderia se valer dessa vontade danada de ser New York. Bem que poderia colocar um portal colossal, à entrada de quem vem da capital, anunciando não uma marca de cervejas, mas que se está chegando à cidade que faz a maior festa popular do mundo, quiçá da Via Láctea. Quem tem complexo de superioridade não deve ter vergonha de nada. Temos que nos orgulhar até dos nossos problemas urbanos, pois só os tem quem é grande. Agora, que estamos em período eleitoral, decidi que vou votar naquele que prometer que vai transforma Campina Grande na New York do sul do Equador.

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