O domingo amanheceu chuvoso, mas não achei ruim, pois a chuva é a mais bela manifestação da natureza. Deixei para ligar o computador mais tarde, pois hoje tinha Formula 1. Quando, finalmente, liguei o PC, para ver as notícias de sempre, me deparei com a manchete: "Cantor Belchior morre aos 70 anos" (...).
Como em "Cinema Paradiso", quando Toto recebe a notícia de que Alfredo havia morrido e passa a lembrar de sua vida em sua pequena cidade, voltei no tempo e me vi em 1983 (ou seria 82 ou 84?) no Teatro Municipal de Campina Grande assistindo a um show de Belchior. A memória é falha, e isso depõem contra o historiador, mas tenho alguma impressão que estava num show do antigo Projeto Pixinguinha.
Sofram com a inveja!, mas eu não vi apenas este show de Belchior, pois foram umas cinco ou seis apresentações em Campina Grande e outras cidades. Belchior esteve sempre presente em minha vida. O "Dandy do Ceará" estava em nossas reuniões, assembleias e manifestações do movimento estudantil e nas aulas dos "cursos de humanas" da Universidade Federal da Paraíba (Campus II). Falávamos de política, filosofia, ideologia, religião, drogas, sexo e Rock in Roll (literalmente) ouvindo Belchior. Era a trilha sonora de nossas vidas!
Namorávamos, viajávamos, acampávamos, farrávamos (muito!) ouvindo "Como nossos país", "Galos noites e quintais", "À palo seco", "Dandy", "Fotografia 3x4", "Lira dos vinte anos", "Alucinação", "Tudo outra vez","Não leves flores", "Comentários a respeito de John", "Coração selvagem", "Saia do meu caminho", "Os profissionais", etc, etc, etc.
Certa vez, num acampamento, passei quatro dias cantando: "Se você vier me perguntar por onde andei/No tempo em que você sonhava/De olhos abertos, lhe direi/Amigo, eu me desesperava/Sei que assim falando pensas/Que esse desespero é moda em 76/Mas ando mesmo descontente/Desesperadamente eu grito em português". Ninguém aguentava mais eu, desafinadíssimo, acabando uma das músicas do meu herói tupiniquim. Um amigo já falecido, que tocava um violão divino, já sabia que quando eu pedia para ele cantar "Tudo outra vez", em nossas intermináveis rodas de violão, era porque havia chegado a hora de "apertar a tecla stand by".
Não vou dizer coisas óbvias como: "não se fazem mais cantores e compositores como este!" ou "a música de hoje em dia é muito ruim, a do meu tempo era bem melhor!". Não vou ser ululante, pois não posso, em respeito ao meu herói, comparar sua época com um momento onde faz sucesso quem não canta, não compõem, não tem qualidade e muito menos cultura musical.
O que posso fazer, e faço muito, é me orgulhar de ter assistido aos shows de Belchior, de ter comprado seus discos, de ter ouvido e cantado suas músicas sem me cansar. Me orgulho de dizer que ele (como Chico Buarque, Bob Dylan e os Beatles) é meu herói, pois, literalmente, fez minha cabeça. O que posso mais fazer, num dia tão triste como este, a não ser me orgulhar de ter um herói para chamar de meu? O que mais posso dizer a ti que não tem um herói para chamar de seu?
Tinha razão Renato Russo quando dizia:"É tão estranho, os bons morrem jovem". Belchior, nosso Bob Dylan (ou será que Bob Dylan é o Belchior dos americanos?), já não mais vivia neste mundo a pelos menos uns dez anos. Já há algum tempo habitava uma dimensão paralela que pouquíssimos conseguem atingir. Belchior era o mais jovem de todos os meus heróis, foi o que nunca envelheceu, que sempre se manteve fiel e coerente com as coisas de seu tempo.
Belchior teve várias mortes, a de ontem foi apenas mais uma delas, e nem foi a pior. Cruel mesmo é ver clássicos como Belchior sendo assassinados pelo mercado e pela sociedade diariamente. A morte de Belchior que mais me doeu foi quando ouvi um aluno de cerca de 17 anos dizer que nunca tinha ouvido falar "... neste tal de Belchior".
Peço, em respeito ao meu herói, para que não o julguemos por suas atitudes, por ele ter sumido no mundo sem nada dizer, sem nos dar satisfação.
Por mais que isso me doa, peço-lhes para aceitarmos que Belchior não mais queria ser incomodado, que queria ficar em paz! Não precisa ficar especulando porque ele não quis mais compor, cantar, fazer shows, ou porque abandonou sua vida familiar e profissional, deixando de pagar suas contas, e foi viver uma vida errante como se fosse um beatnik redivivo. Nada disso importa! Importa mesmo é sua obra imortal, clássica, que ficou e que está entre nós! Isso me basta e acho, apenas, que "... agora ficou fácil, todo mundo compreende, aquele toque Beatle I wanna hold your hand".
Como em "Cinema Paradiso", quando Toto recebe a notícia de que Alfredo havia morrido e passa a lembrar de sua vida em sua pequena cidade, voltei no tempo e me vi em 1983 (ou seria 82 ou 84?) no Teatro Municipal de Campina Grande assistindo a um show de Belchior. A memória é falha, e isso depõem contra o historiador, mas tenho alguma impressão que estava num show do antigo Projeto Pixinguinha.
Sofram com a inveja!, mas eu não vi apenas este show de Belchior, pois foram umas cinco ou seis apresentações em Campina Grande e outras cidades. Belchior esteve sempre presente em minha vida. O "Dandy do Ceará" estava em nossas reuniões, assembleias e manifestações do movimento estudantil e nas aulas dos "cursos de humanas" da Universidade Federal da Paraíba (Campus II). Falávamos de política, filosofia, ideologia, religião, drogas, sexo e Rock in Roll (literalmente) ouvindo Belchior. Era a trilha sonora de nossas vidas!
Namorávamos, viajávamos, acampávamos, farrávamos (muito!) ouvindo "Como nossos país", "Galos noites e quintais", "À palo seco", "Dandy", "Fotografia 3x4", "Lira dos vinte anos", "Alucinação", "Tudo outra vez","Não leves flores", "Comentários a respeito de John", "Coração selvagem", "Saia do meu caminho", "Os profissionais", etc, etc, etc.
Certa vez, num acampamento, passei quatro dias cantando: "Se você vier me perguntar por onde andei/No tempo em que você sonhava/De olhos abertos, lhe direi/Amigo, eu me desesperava/Sei que assim falando pensas/Que esse desespero é moda em 76/Mas ando mesmo descontente/Desesperadamente eu grito em português". Ninguém aguentava mais eu, desafinadíssimo, acabando uma das músicas do meu herói tupiniquim. Um amigo já falecido, que tocava um violão divino, já sabia que quando eu pedia para ele cantar "Tudo outra vez", em nossas intermináveis rodas de violão, era porque havia chegado a hora de "apertar a tecla stand by".
Não vou dizer coisas óbvias como: "não se fazem mais cantores e compositores como este!" ou "a música de hoje em dia é muito ruim, a do meu tempo era bem melhor!". Não vou ser ululante, pois não posso, em respeito ao meu herói, comparar sua época com um momento onde faz sucesso quem não canta, não compõem, não tem qualidade e muito menos cultura musical.
O que posso fazer, e faço muito, é me orgulhar de ter assistido aos shows de Belchior, de ter comprado seus discos, de ter ouvido e cantado suas músicas sem me cansar. Me orgulho de dizer que ele (como Chico Buarque, Bob Dylan e os Beatles) é meu herói, pois, literalmente, fez minha cabeça. O que posso mais fazer, num dia tão triste como este, a não ser me orgulhar de ter um herói para chamar de meu? O que mais posso dizer a ti que não tem um herói para chamar de seu?
Tinha razão Renato Russo quando dizia:"É tão estranho, os bons morrem jovem". Belchior, nosso Bob Dylan (ou será que Bob Dylan é o Belchior dos americanos?), já não mais vivia neste mundo a pelos menos uns dez anos. Já há algum tempo habitava uma dimensão paralela que pouquíssimos conseguem atingir. Belchior era o mais jovem de todos os meus heróis, foi o que nunca envelheceu, que sempre se manteve fiel e coerente com as coisas de seu tempo.
Belchior teve várias mortes, a de ontem foi apenas mais uma delas, e nem foi a pior. Cruel mesmo é ver clássicos como Belchior sendo assassinados pelo mercado e pela sociedade diariamente. A morte de Belchior que mais me doeu foi quando ouvi um aluno de cerca de 17 anos dizer que nunca tinha ouvido falar "... neste tal de Belchior".
Peço, em respeito ao meu herói, para que não o julguemos por suas atitudes, por ele ter sumido no mundo sem nada dizer, sem nos dar satisfação.
Por mais que isso me doa, peço-lhes para aceitarmos que Belchior não mais queria ser incomodado, que queria ficar em paz! Não precisa ficar especulando porque ele não quis mais compor, cantar, fazer shows, ou porque abandonou sua vida familiar e profissional, deixando de pagar suas contas, e foi viver uma vida errante como se fosse um beatnik redivivo. Nada disso importa! Importa mesmo é sua obra imortal, clássica, que ficou e que está entre nós! Isso me basta e acho, apenas, que "... agora ficou fácil, todo mundo compreende, aquele toque Beatle I wanna hold your hand".
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