Começo este DO QUE AINDA POSSO FALAR lembrando que o Brasil não é para
os fracos. Aqui, a norma que vale é a que diz que nada é tão ruim que não posso
piorar. Gostamos de desafiar o óbvio, ou o que é certo, normal, definido. Não é à toa que muitos brasileiros desafiam o Coronavírus. Essa atitude
kamikaze de ir às ruas ou fazer festas, sem máscaras, buscando as aglomerações,
se não prova uma ancestral estupidez, mostra essa mania de não levarmos nada a
sério, até as nossas desgraças. Temos prazer em desafiar as regras. Criamos o “jeitinho brasileiro” para
vivermos, ou sobrevivermos, a margem das instituições. Eu até acho que não
exista outro povo no mundo com esse hábito insuportável de aceitar que tem “lei
que pega e lei que não pega” Mas, eu sou um brasileiro que não deu certo. Necessitado de um novo
computador, resolvi comprá-lo agora considerando que, com a pandemia, e com
tantas pessoas trabalhando em casa, os preços cairiam. Desprovido de nossa
tal malandragem e tendo que economizar meus caraminguás de professor, apelei
para a lei da oferta e da procura, que diz que quanto maior for o preço de um
produto, menor será sua demanda. Ou seja, os produtos que custam mais caro são
menos vendidos e os que custam menos são mais procurados. Com minha ingenuidade nada brasileira, imaginei que como muitas pessoas
queriam comprar computadores, seus preços cairiam. Ledo engano! O computador
que, no início do isolamento social, custava R$ 2.875,00 agora aparece por R$
3.422,00! De fato, o Brasil não é para os fracos desafiando assim as leis do
capitalismo. Com tantos professores tendo que dar aulas a partir de suas casas,
surgiu grande demanda por novos equipamentos digitais e muitos, como eu,
comemoraram que os preços cairiam e que seria possível adquirir um novo
computador. Seria, se não vivêssemos num país que age contra o mundo onde a
racionalidade impera.
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
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