domingo, 12 de julho de 2020

Água é vida, não é dinheiro!



Neste DO QUE AINDA POSSO FALAR lembro do OO7, o agente de sua majestade que tinha licença para matar. Em “Quantum of Solace”, ele caça um falso ambientalista de uma organização criminosa, que financia um golpe militar na Bolívia para controlar suas reservas de água. O que o vilão quer é engarrafar a água boliviana para depois vende-la. Bond, James Bond, vai lá e salva tudo, claro! Lembrei disso após o Senado brasileiro aprovar um projeto que, guardando as devidas proporções, prevê a mesma coisa. 65 senadores votaram por um novo marco regulatório para a o uso da água e do saneamento básico no Brasil. Ao invés de proteger a água, ou seja, a vida e a saúde do povo, eles privatizaram o “imprivatizável”. A água é “propriedade” da natureza que nós, seres humanos, usamos e abusamos. Com o sistema público deixando de ser responsável único pelas águas, a iniciativa privada entra para tornar o manuseio delas um negócio rentável. A consequência é que, sem os investimentos públicos, só haverá água de qualidade para os que podem pagar, caro, pelos serviços. Um amigo me disse que vamos terminar tendo que escolher entre tomar a água ou usá-la para lavar roupas e pratos. O tal marco extingue o modelo atual, de contrato entre municípios e empresas estaduais de água e esgoto, tornando-o uma concessão com empresas privadas. A discussão sobre a privatização da água e do saneamento aconteceu sempre num viés pró-mercado e antissocial. Seguimos no caminho inverso ao de países que reestatizaram seus sistemas. Na Alemanha, França, Canadá, Bélgica, todos países liberais, defensores do tal Estado Mínimo, se entendeu que a água é um bem público que não pode ter donos. E no que Brasil, o que se fez? Se permitiu a privatização das empresas, que respondem pelo atendimento de 90% da população, para que elas passem a atender apenas os 10% que podem pagar caro pela água. Será que vamos ter que chamar o James Bond para nos salvar?

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