Uma esquerda que a direita gosta
Mais um artigo publicado no www.brasil247.com.br onde trato, dentre outras coisas, onde peço para que reflitamos de como reverter a realidade que nos arrasta para mais uma ditadura, além disso reafirmo que deve-se entender que eleição é condição necessária, porém insuficiente para se ter democracia.Como assim?! Existe
uma esquerda que a direita gosta?! Logo essa direita brucutu que odeia com suas
extremadas forças a esquerda verde-amarela, digo vermelha? Se ela não gosta dos
liberais, a la FHC, o que dirá dos “esquerdopatas”? Mas, que sinistra seria
essa que a destra gosta?
Dizia Darcy Ribeiro,
exagerando é bem verdade, que o “PT é a esquerda que
a direita gosta”. Luiz Carlos Prestes
dizia que a esquerda “não luta pelo fim da desigualdade por crer num
capitalismo bonzinho, sem contradições”. Fosse eu destro não desgostaria dessa
esquerda simpática a burguesia. Hoje, parte da esquerda tupiniquim desistiu de
lutar pelo socialismo, se é que tentou, por achar ser possível humanizar o
capitalismo. Poderia seguir sendo gostada pela direita? Sim, se esta não fosse
tão bronca a ponto de não aceitar nem ao menos políticas públicas, que geram
crescimento e desenvolvimento, sempre nos marcos do capitalismo, nunca do
socialismo.
Alguns fazem o jogo da direita rústica. Por interesses, estratégicas, táticas, ou seja lá pelo que for, são os que nas eleições (municipais, por exemplo) maximizam lucros e minimizam perdas ao evitar alianças com os que lhes são próximos. São os “puros de alma”, cheios de boas intenções, sempre abertos ao diálogo com Deus e o diabo, não importando se na terra do sol, da lua ou de Marte. Desde as eleições de 2018, com a vitória da direita extremosa, que se fala do comportamento egoísta de uns propiciando a derrota de Fernando Haddad e da esquerda. Poderíamos ter melhor sorte se Marina Silva, sempre esquiva, tivesse deixado de lado seus paradoxos e se aliado a Haddad. Tivesse Ciro Gomes, curado de seu orgulho de “cabra macho”, ido ao ato no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que antecedeu a prisão de Lula, e tudo poderia ser diferente.
É fato Lula queria uma
chapa com Ciro candidato a presidente e Haddad vice. Mas, Ciro
rejeitou, lançou chapa com a senhora do agronegócio, Katia Abreu, e, não
satisfeito, abriu fogo contra o candidato fascista e contra Haddad como se
ambos fossem iguais e ele diferente e melhor que todos. Ciro não tirou votos do
candidato miliciano, pois seu eleitorado era consciente para não votar no
fascismo, mas um tanto quanto ingênuo em acreditar que o PT era o “mal maior” a
se combater. Não sei por que motivos, mas Ciro e Marina foram, sim, a
“esquerda” que a direita gosta.
Mangabeira Unger,
que nunca foi mentor de Ciro Gomes que se basta a si mesmo, afirmou que “ele
perdeu por arrogância ao recusar aliança com o PT (...) abrir mão do cacife
eleitoral de Lula foi gesto de arrogância mortal”. Unger, coordenador da
campanha do PDT em 2018, confirmou que foi
oferecido a Ciro ser o vice na chapa do PT, para que assumisse a
candidatura quando Lula fosse impedido. Ciro, consciente de que a direita gosta
de seu papel, recusou. Com sua prisão, Lula entendeu que precisava mudar a
estratégia e que urgia minimizar o protagonismo do PT. Ciro entendeu a
estratégia, mas errou na tática ao rejeitar o cacife eleitoral de Lula. Ciro,
tão dono de si, teve medo de ser teleguiado pelo lulismo. Perdeu ele, perdemos
todos!
Mas, o que fazer
para não ser essa “esquerda que a direita gosta”? Como reverter a realidade que
nos arrasta para mais uma ditadura? Deve-se entender que eleição é condição
necessária, porém insuficiente para se ter democracia. Ela não é o fim único
que orienta todos os meios. Ela é tão somente uma forma de se chegar ao poder
político. Se até o presidente/miliciano conseguiu entender isso, o que falta a
esquerda para mudar suas táticas e estratégias?
Notas de repúdio não
nos servem, nunca serviram! Manifestações de rua não são um fim em si mesmas.
Elas servem para mostrar a insatisfação social e importam para que se possa,
por exemplo, impedir golpes de Estado. As manifestações são uma via de mão
dupla, pois a mãe de todos os paradoxos no Brasil, hoje, é se utilizar a
liberdade de expressão para justamente pedir o fim da democracia. Se vamos às
ruas gritar FORA PRESIDENTE!, mas ele continua dentro, algo não está
funcionando bem. Lutar é preciso, sempre, mas a luta tem que ser feita de uma
forma que incomode aquele que nos oprime, pois se ele segue sobrevivendo às
manifestações alguma coisa que está sendo feita pela esquerda anda agradando a
direita.
A frente ampla que não amplia
O recente encontro entre
Luciano Huck e Sérgio Moro, movimento da direita golpista que se
pretende civilizada e que aponta para as eleições de 2022, fez a presidente
nacional do PT, Gleisi Hoffmann, descartar de antemão qualquer possibilidade de
uma frente ampla de várias forças (de direita, centro e esquerda) para
enfrentar Bolsonaro em 2022. Gleisi desancou a aliança Huck\Moro: “É a junção da Lata
Velha com a Lava Jato". A mídia, que integra o conglomerado
golpista de sempre, deu destaque para o tal encontro supondo ser esta a solução
para o imbróglio, que ela mesma se meteu desde que apoiou o golpe de Estado de
2016 e a candidatura de Bolsonaro em 2018.
Vendo os porta-vozes
da mídia grande, falando em frente ampla, lembrei do imprescindível Leonel Brizola
que dizia para sempre desconfiarmos das intenções da Rede Globo, mesmo “quando
ela está sendo boazinha”. Lembrei disso naquele dia que baixou um “santo
democrático” na “vênus platinada”. Foi quando a Globo, que reconhecidamente
defendeu o golpe civil-militar de 1964 e a ditadura militar, a mesma Globo que
apoiou o golpe de 2016 e que promoveu a Lava Jato, teve a pachorra de lançar
uma "frente ampla" contra Bolsonaro.
Os irmãos Marinho puseram Miriam Leitão lá na Globo News, num debate com três arautos da democracia liberal: Marina Silva, Ciro Gomes e FHC. A ideia era promover uma “frente ampla” contra Bolsonaro e a favor da democracia, que essa gente tanto despreza. Gleisi Hoffmann, sempre ela, disse que foi “a nata do antipetismo entrevistada pela campeã do mercado”. E foi desse jeito mesmo! Além da desfaçatez de ver a árvore defender o machado, "esqueceram” de chamar Fernando Haddad, do PT, e\ou Guilherme Boulos, do PSOL - legítimos representantes da esquerda que lutou e luta contra a ascensão do fascismo. E é preciso lembrar que Haddad não foi para Paris, após a derrota no 2º turno da eleição em 2018, ele ficou aqui e enfrentou os inimigos da democracia.
Considerando o resultado do 1º
turno de 2018, essa gente não tem legitimidade para liderar uma
frente ampla articulada por uma emissora habituada a apoiar golpes. Ciro,
Marina e Alckmin tiveram, juntos, 18,23% dos votos válidos, enquanto só Haddad
teve 29,28%. Qual a representatividade de uma frente ampla que junta alhos e
bagulhos? Por que as frentes amplas da Rede Globo não dão espaço para a
esquerda? Se a proposta é ser contra Bolsonaro porque os que o enfrentam de
verdade não são chamados? Tinha mesmo razão o velho Brizola, é para se
desconfiar!
Notas de
repúdio que dão em nada, e lembrei dos manifestos escritos entre a FIESP e o Instituto
FHC que dizem para “deixar de lado
velhas disputas” . Lutar por
vida, democracia, igualdade e liberdade é disputa velha? Falam que esquerda e
direita devem ser unir pelo bem comum. Mas, qual? O do povo ou o da elite, pois
o que existe mesmo são as classes sociais e seus interesses. Porque divulgar
manifestos assinados por Luciano Huck, FHC, Lobão, Alice Setubal (do Banco
Itaú) e toda a gente que se "solidarizou" com Aécio Neves, quando ele
se recusou aceitar o resultado das urnas de 2014, que apoiou o golpe de 2016,
que votou em Bolsonaro em 2018 “para tirar o PT”?
Estranho ver essa gente “preocupada com a democracia brasileira”, quando em 2019 silenciou ante a escalada fascista. “Deixar de lado as diferenças e lutar pelo bem comum” termina sempre do mesmo jeito, com a esquerda sendo reprimida, presa, torturada e morta. Para tirar a esquerda, que fazia reformas e promovia desenvolvimento social, do poder essa gente promoveu um golpe de Estado, com direito a Lava Jato, e elegeu um fascista. Mas, para tirar esse fascista do poder lançam “manifesto em defesa da democracia”. Estranho, não?! Não posso “assinar” manifestos junto com a direita pois é ela que sempre dá os golpes de Estado no Brasil. Não votei em Haddad, em 2018, para agora me juntar com os que votaram em Bolsonaro. É uma questão de coerência política e ideológica! É uma questão de resistência e, por que não, de sobrevivência!
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