domingo, 31 de julho de 2022

DO QUE AINDA POSSO FALAR


Nessa coluna do DO QUE AINDA POSSO FALAR, questiono do que adianta ter uma eleição eficiente, se um golpe de Estado poderá vir para solapar a decisão das urnas?
 

Meus alunos sempre me ouvem dizer que nosso sistema político mescla procedimentos democráticos e entulhos autoritários e que temos uma cultura política pretoriana. Eles sabem que considero eleição condição necessária, porém insuficiente das democracias. Dito de outra forma, não adianta ter uma eleição eficiente, se golpismos de toda sorte derrubarão a decisão das urnas.

Foi assim em 1964, com João Goulart, e em 2016, com Dilma Rousseff. Eles foram eleitos e sacados do poder por golpes ancorados nas forças militares, no legislativo e no judiciário, sempre contando com o auxílio luxuoso dos EUA.

O ex-governador de Minas, Fernando Pimentel, disse que é “preciso garantir a eleição, a vitória e a posse de Lula”. Se tivéssemos uma democracia fincada em bases sólidas, falaríamos apenas em eleições, e eu não estaria aqui falando da possibilidade de o eleito não tomar posse.

A convenção que formalizou Jail Bozo candidato à reeleição foi mais uma emboscada contra a democracia. Chamou atenção bolsonaristas com camisas onde se lia: “Voto impresso auditável. Eu apoio Art. 142”. O Art. 142 não é peça decorativa na Constituição. Ele foi colocado lá para ser usado - é como um revolver que se guarda no fundo de uma gaveta, um dia a oportunidade para usá-lo vai aparecer.

Jail Bozo sabe bem que “voto impresso auditável” é algo sem necessidade e que a urna eletrônica é confiável. O que ele quer é armar um circo de desconfianças para poder oferecer seu golpe de estado, baseado no Art. 142, ou seja na Constituição.

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