quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Jail precisa de um golpe e nós precisamos de democracia


A aliança entre neoliberalismo e bolsonarismo nazificado quebrou a indústria brasileira

Jail precisa de um golpe e nós precisamos de democracia - Publicado no Brasil 247

Meus alunos sempre me ouvem dizer que nosso sistema político mescla procedimentos democráticos e entulhos autoritários e que temos uma cultura política pretoriana. Eles sabem que considero eleição condição necessária, porém insuficiente das democracias. Dito de outra forma, não adianta ter uma eleição eficiente, se golpismos de toda sorte derrubarão a decisão das urnas. Foi assim em 1964, com João Goulart, e em 2016, com Dilma Rousseff. Eles foram eleitos e sacados do poder por golpes ancorados nas forças militares, no legislativo e no judiciário, sempre contando com o auxílio luxuoso dos EUA.

O ex-governador de Minas, Fernando Pimentel, disse que é “preciso garantir a eleição, a vitória e a posse de Lula”. Se tivéssemos uma democracia fincada em bases sólidas, falaríamos apenas em eleições, e eu não estaria aqui falando da possibilidade de o eleito não tomar posse. A convenção que formalizou Jail Bozo candidato à reeleição foi mais uma emboscada contra a democracia. Chamou a atenção bolsonaristas com camisas onde se lia: “Voto impresso auditável. Eu apoio Art. 142”. O Artigo 142 não é peça decorativa na Constituição. Ele foi colocado lá para ser usado - é como um revólver que se guarda no fundo de uma gaveta, um dia a oportunidade para usá-lo vai aparecer.

De fato, Jail sabe bem que “voto impresso auditável” é algo sem necessidade e que a urna eletrônica é confiável. O que ele quer mesmo é armar um circo de desconfianças para poder oferecer seu golpe de estado, baseado no Art. 142, ou seja na própria Constituição Federal. Mas, notemos que enquanto o genocida mor segue firme em sua sanha golpista, para implementar seu projeto de ditadura, a mesma FIESP, que bancou o golpe de 2016, está lançando um manifesto em defesa da democracia. Estranho, não é?! Nem tanto, pois o Brasil não é para principiantes!

Parte inferior do formulárioA elite brasileira, a burguesia que fede como diria Cazuza, mas que é dona do capital, finalmente entendeu o quanto o bolsonarismo é danoso para este país, inclusive para ela própria. É por isso que a poderosa Federação das Indústrias de São Paulo está bancando um manifesto em defesa da democracia (que eu, inclusive, já assinei!). Interessa ver que este manifesto vem sendo publicado nos grandes meios da mídia corporativa. A Fiesp parece mesmo cansada de Jail Bozo, pois seu ex-presidente Horácio Piva disse que "as coisas estão transbordando". Piva só não disse o que é que está transbordando, mas vindo de Jail a gente até já desconfia o que possa ser.

Interessante ver a Fiesp em defesa da democracia! A mesma que apoiou a Lava Jato e o tribunal discricionário de Sérgio Moro, que bancou o golpe que depôs Dilma, que defendeu a prisão de Lula e se jogou na eleição de Jail Bozo. É a mesma Fiesp que apoiou o golpe civil\militar de 1964, e a ditadura militar; e que, depois, se comprometeu com as lutas pelo estabelecimento da democracia, já nos anos 1980. Alguma surpresa com isso? Nenhuma, pois é assim que age “A Elite do Atraso” como diria o sociólogo Jessé de Souza. Essa elite, que não aguenta mais o material fecal do bolsonarismo transbordando, pode ser democrática ou ditatorial, a depender de seus interesses.

O fato é que a aliança entre neoliberalismo e bolsonarismo nazificado quebrou a indústria brasileira. Por isso a Fiesp aposentou o pato amarelo de 2016. O fato é que a Casa Grande e os Faria Limers são assim mesmo, dão golpes e sustentam ditaduras, mesmo que saibam o que vai acontecer, e depois lançam manifestos em defesa da democracia.

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