A ironia é bem vinda - nunca na história deste país houve um presidente tão popular! Ibope, Datafolha, Vox Populi e CNT/Sensus atestam a mesma coisa: a popularidade de Lula continua nas alturas. Hoje, ele é o grande cabo eleitoral no Brasil. Bem dito, ele é cabo eleitoral de si mesmo, pois está de olho nas composições para 2010.
A próxima eleição ajuda a redesenhar o mapa político-eleitoral. É por isso que, por exemplo, o embate PT X PSDB em São Paulo deve ser acompanhado. E é assim que surge Dilma Rousseff – como a preferida do presidente. Suponho que Lula não queira um 3° mandato a iniciar-se em 2011, que prefira a ministra no seu lugar e uma volta triunfante em 2014. Preservaria sua biografia e teria estatura moral para criticar interesses continuístas de adversários e aliados mais afeitos ao poder.
Pasma a capacidade do presidente em sobreviver às intempéries. Enfrentou crises em graus diversos de complexidade. Tivemos o mensalão e as sanguessugas, o dinheiro na cueca do petista aloprado, o dossiê com as despesas de FHC e agora a crise dos grampos. Mas, Lula passa por tudo incólume. Em 2006, quanto mais Alckmin batia em Lula, mais forte ele ficava. Sempre poderá dizer-se que a tentativa de compra do dossiê contra José Serra causou o 2º turno. Mas, tivéssemos um 3° ou 4° turnos e ainda assim Lula seria reeleito.
Pesquisa da CNT/Sensus traz a popularidade do presidente em 77,7%. Em abril era de 69,3% e dizia-se que não mais subiria. Subiu. Não duvido que, sob condições normais de temperatura e pressão, este índice possa ainda crescer. E, admitamos que a força dos programas sociais do governo é inconteste. 75,3% afirmaram que vão votar nos candidatos do governo para a continuidade deles. Mas, variações, às vezes bruscas, dessas condições podem fazer a popularidade despencar. Sarney e Collor foram do céu ao inferno em menos de um ano. Convém, por exemplo, não descuidar da inflação. O monstro que corrói salários e popularidades presidenciais.
Em julho de 2003 Lula tinha popularidade de 77,6%. Estava em lua-de-mel com o eleitorado, os aloprados do PT não tinham lançado sua sanha contra adversários e o “Bolsa Família” estava em fase de implantação. Ao contrário de FHC, que viu sua popularidade pulverizada pela crise econômica de janeiro de 98, a de Lula nunca caiu, variou, mas sempre acima dos 50%. No 1° mandato e até aqui, metade do 2°, ela continua no cimo. Agora ela é a mesma do início do 1° mandato, i.e., após a nação conhecer os defeitos e qualidades de Lula ele continua popularíssimo. A constatação é só uma: para 77,7% da população Lula tem mais qualidades do que defeitos.
Estes índices têm efeito dominó. Lula empresta sua boa estampa ao governo e a população o avalia positivamente. No Brasil não se diferencia a imagem do presidente da do governo.
Se os candidatos se escondem de um presidente impopular, no caso contrário, querem aparecer ao lado dele. Em foto-montagem para os menos poderosos das cidades menos importantes. Em comícios para os mais poderosos das cidades mais relevantes. Até os oposicionistas querem ser próximos ao presidente. Tentam convencer os eleitores que pelo bem do país superam divergências.
Prova inconteste do fator Lula nesta eleição é o caso de Silvio Mendes, candidato a reeleição em Teresina, que usou a imagem de Lula em sua campanha. Nada a estranhar, se ele não fosse do PSDB. Seu adversário, Nazareno Fonteles do PT, acionou o tucano na Justiça Eleitoral. Lula mira em 2010 e deixa de favorecer candidatos do PT para apoiar os de partidos aliados. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivela (PRB) tem apoio em detrimento de Alessandro Molon, que contestou judicialmente o que chamou de uso indevido da imagem de Lula. Em Fortaleza, a prefeita Luizianne Lins não conta com o apoio do presidente, pois este o empresta a Patrícia Saboya (PSB). Fiquemos com estes exemplos, eles são suficientes para provar que o lulismo suplantou o petismo.
Como cabo eleitoral, Lula retroalimenta sua popularidade. Ao tempo em que pede votos para seus aliados, aumenta sua exposição, fala de suas realizações e turbina sua popularidade.
A mãe de todos os testes para esta popularidade será em 2010. Conseguirá Lula transferir para Dilma Roussef seu capital eleitoral? Enquanto Lula é bem avaliado, a performance da ministra, nas simulações para 2010, deixa a desejar. O seu melhor desempenho foi de 12,3%, mas num cenário em que José Serra não era citado. Sua média, em quatro simulações, ficou em pífios 9,82%.
Se ela é a ungida por Lula para sua sucessão, se é a gestora do PAC (que lhe dá visibilidade altissonante), se o presidente a leva pelos palanques e plataformas de petróleo, se aparece nos guias eleitorais, e mesmo assim não decola, falta-lhe algo. Ela não tem o carisma do lulismo e seu perfil técnico é útil para gerenciar programas sociais, mas na seara política pode ser um empecilho.
Não desconsideremos que em 20 das 26 capitais os candidatos lulistas aparecem em primeiro lugar nas pesquisas. Em 2004 apenas 11 venceram o pleito municipal. Na pesquisa CNT/Sensus 44,1% admitiram votar no candidato apoiado por Lula. Desses, 15,5% declararam que o candidato de Lula é "o único em quem votariam". O fator Lula tem mesmo uma função relevante.
Se o que vemos não é algo conjuntural, Dilma Roussef pode começar a pensar na roupa de sua posse. Mas, se a popularidade de Lula é pessoal (e intransferível), se é algo que a população dá a ele e somente a ele, aceitando, apenas, que ele indique candidatos a cargos que jamais ocupará, então das duas uma: ou muda-se a candidata ou muda-se o eleitorado.
O problema não é se o presidente transfere ou não votos. O enigma a ser decifrado é: quanto ele consegue transferir e se isso faz até um poste ser eleito. Daí que o candidato tem que se mostrar viável e crível aos olhos do eleitorado. Querer ser eleito por uma força altriz é subestimar a capacidade de escolha do eleitor e superestimar o poder de transferência de votos do fator Lula.
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
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