Sim, a crise se
agravou pela instabilidade do governo Dilma. A presidente foi reeleita dizendo
que não faria tudo o que passou a fazer a partir de 02 de janeiro passado. Ela
negava que estávamos em crise durante a campanha eleitoral de 2014. Atitude
temerária, passível de uma reprimenda da sociedade, mas não na forma de vaias e
atitudes desrespeitosas para com a pessoa da Presidente. Quando a sociedade lhe
retirou apoio, jogando para as calendas sua popularidade e a aprovação ao
governo, estava justamente repreendendo a presidente pelos erros cometidos.
Caberia, ainda
cabe, ao governo buscar corrigir seus erros e reconquistar, através de
políticas públicas relevantes, o respeito e a legitimidade perdidos. Estranho
mesmo é ver o governo tão dócil a este presidencialismo de extorsão, praticado
em larga escala, tendo o PMDB como achacador-mor da República. A desgastada
fórmula de governar por meio de uma coalização de partidos fracassou na medida
em que as siglas aliadas chantageiam o governo por cargos e verbas em troca de
apoios na seara parlamentar.
Estranho,
também, foi ver a oposição abrindo mão de suas prerrogativas legais, buscando a
porta lateral do golpismo calcada na mentalidade udenista onde crises
institucionais se resolvem com saídas de força. Não se buscou o golpismo
tradicional, ativado pelas Forças Armadas, mas sim um golpismo que segue ritos
e procedimentos democráticos. Seria possível conviver com este paradoxo? Em
democracias consolidadas procedimento democrático é a água que jamais se
mistura com o óleo da mentalidade autoritária.
Em nosso caso,
com a criatividade que temos para misturar água e óleo, encontramos uma forma
de exercitar nossa mentalidade pretoriana sem ter que rasgar a Constituição
Federal. E é bom lembrar que temos em nossa Constituição o Art. 142 que dá
lastro a uma intervenção militar ao definir que as Forças Armadas “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia
dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da
ordem”. A mesma Constituição que define como se procederá em caso de
impeachment presidencial é a que dá poderes aos militares para intervirem.
Tal qual em
outros idos, sempre existe a possibilidade das vivandeiras baterem às portas
dos quartéis. Ao que tudo indica a oposição sondou as Forças Armadas sobre a
possibilidade de apoio para destituir Dilma Rousseff. Assim como fez Fernando
Collor para ver se se mantinha no poder e como fez Itamar Franco para garantir
que assumiria mesmo a presidência no desfecho da crise gerada pelo impeachment
de 1992. O senador José Serra (PSDB) se referiu várias vezes, entre os meses de
julho e setembro, sobre a possibilidade da crise descambar para uma intervenção
militar ao comparar o atual momento com aquele abril de 1964. Serra, vivandeira
de quatro costados, batia a porta da caserna. Era como se ele quisesse lembrar
aos militares que estava na hora deles tomarem as rédeas novamente.
A prova disso
foi que o Gal. Eduardo Dias da Costa Villas Bôas teve que esclarecer o
posicionamento da instituição que comanda neste momento tão conturbado. Este
fato por si só quer dizer algo. Se a ordem politica e social, e as
instituições, estivessem funcionando normalmente o Comandante do Exército
ficaria em seu lugar. Numa entrevista a Folha de São Paulo, em 14 de outubro, o
General Villas Bôas negou a possibilidade de uma intervenção militar, mas
admitiu que uma “crise social (poderia) afetar a estabilidade do país e isso diria
respeito às Forças Armadas”. Ele chegou mesmo a dizer que: “E aí, nesse contexto, nós nos preocupamos
porque passa a nos dizer respeito diretamente”.
CONTINUA AMANHÃ...
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