Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
quinta-feira, 31 de março de 2016
terça-feira, 29 de março de 2016
O GOLPE CIVIL MILITAR DE 1964 E A ATUAL CONJUNTURA POLITICA BRASILEIRA
A propósito do 52º ano do golpe civil-militar de 1964, que instalou
uma ditadura militar de 21 anos, e da atual conjuntura politica onde tanto se
fala de golpes e de nossas fragilidades democráticas debateremos sobre estas
questões na próxima SEXTA-FEIRA, 01 DE ABRIL DE 2016, às 08 horas, no AUDITÓRIO II da
Central de Integração Acadêmica (CIA) da UEPB (Campus II).
O evento é uma promoção do Centro Acadêmico 08 de Março do Curso de Serviço Social da UEPB e sua ideia inicial se deu na disciplina de Formação Histórica e Social do Brasil, por mim ministrada, no referido curso.
Programação:
·
Exibição do documentário “O DIA QUE DUROU 21 ANOS” de Camilo Galli
Tavares.
·
Debate: “O GOLPE CIVIL MILITAR DE 1964 E A ATUAL CONJUNTURA
POLITICA BRASILEIRA”
Debatedores:
Gilbergues Santos –
Cientista Politico/ Profº UEPB.
Ranieri Torres –
Sociólogo / Profº UEPB.
·
Lançamento do livro: “HERÓIS DE UMA REVOLUÇÃO ANUNCIADA OU
AVENTUREIROS DE UM TEMPO PERDIDO?”, de Gilbergues Santos, pela Editora da UEPB.
segunda-feira, 21 de março de 2016
Lançamento do livro "Heróis de uma Revolução Anunciada ou Aventureiros de um Tempo Perdido?"
Foi lançado no
último sábado (19), na Livraria Nobel, em Campina Grande, o livro “Heróis
de uma Revolução Anunciada ou Aventureiros de um Tempo Perdido? – A atuação das
organizações de esquerda em Campina Grande 1968/1972”, do cientista politico e professor
do Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB),
Gilbergues Santos.
Esta é sua primeira
obra que trata da cultura política que orientou a atuação das organizações de esquerda
que lutaram contra a ditadura civil-militar instalada em 1964. Assim, o livro
explora como a esquerda comunista brasileira reuniu, desde seu surgimento,
elementos que lhe conferiram um viés autoritário e antidemocrático, que
influenciaram a esquerda revolucionária das décadas de 1960 e 1970.
Mas, o autor não
descuida dos grupos revolucionários que existiram na cidade de Campina Grande, estudando
suas formas de atuação e organização, considerando que esses grupos eram parte
de organizações que atuavam em todo o país. Mesmo cuidando de aspectos da
história local, ele observa como a democracia política perpassava os grupos
locais.
O lançamento oficial
do livro contou com a presença do reitor Rangel Junior e de vários outros
professores da Instituição. A obra foi publicada pela Editora da Universidade
Estadual da Paraíba (EDUEPB) e já se encontra disponível para aquisição na
Livraria da EDUEPB, no campus de Campina Grande, e na Livraria Nobel. “Este é
meu primeiro livro, fruto das pesquisas que desenvolvo desde 1997, sobre o
comportamento político das organizações de esquerda que lutaram contra a
Ditadura Militar e a relação delas com a democracia politica”, disse
Gilbergues.
Confira um trecho da obra:
“Uma das “verdades”
que o PCB introjetou, incorporou inconscientemente, da 3ª IC foi a tese da “unidade
ideológica”, que determina que as minorias não poderiam se constituir em
frações organizadas. Por essa ótica, não haveria divergências no seio de uma
organização comunista, tudo deveria ser resolvido através da aplicação do
controverso sistema de centralismo democrático, um eufemismo encontrado pelos
comunistas para aliar, em um mesmo local, discussão democrática e imposição de
ideias, ou seja, se não fosse possível encontrar o consenso através da
discussão, ele instalar-se-ia através da imposição. O que interessava era ter o
consenso. Caso a divergência persistisse, os discordantes deveriam ser
sumariamente expulsos da organização. Essa concepção foi determinante para a
falta de democracia interna que sempre acompanhou o PCB. Tornou-se prática comum
no partido, em praticamente toda sua existência, e mais fortemente entre as
décadas de 1940 e 1960, a expulsão de membros que divergiam das posições teóricas e políticas do Comitê Central.
Ainda no plano das
influências internacionais, outros dois aspectos, que contribuíram para que os
comunistas locais fizessem pouco caso da democracia política, foram os modelos
revolucionários que colocavam os partidos comunistas como as “vanguardas das
transformações revolucionárias”. As revoluções socialistas vitoriosas são
exemplos de como conquistas sociais são instauradas sem a participação popular
organizada. A URSS e a China implementaram transformações como reforma agrária,
melhorias no sistema educacional e de saúde e a política do pleno emprego
através dos chamados decretos revolucionários. Essas revoluções convenceram os
comunistas brasileiros de que é possível fazer transformações passando ao largo
da democracia e que se pode “oferecer” ao povo melhorias de vida, sem que se tenha
que trilhar o caminho da organização popular e da discussão política”.
quinta-feira, 17 de março de 2016
Convido a todos para o lançamento de meu livro "Heróis de uma Revolução Anunciada ou Aventureiros de um Tempo Perdido? A atuação das organizações de esquerda em Campina Grande – 1968/1972”, pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB)
O lançamento será no dia 19 de março de 2016 (sábado), as 19 horas, naLivraria Nobel - Via Cultural Campina Grande, à Rua Irineu Joffily, nº 162, Centro, em frente ao antigo Cinema Babilônia.
Este é meu primeiro livro, fruto das pesquisas que desenvolvo desde 1997, sobre o comportamento politico das organizações de esquerda que lutaram contra a ditadura militar e a relação delas com a democracia politica.
Abaixo mais um pequeno trecho do livro, a título de aperitivo:
"Temos, então, a contextualização
necessária que dá lastro
para o que vem a ser o objeto central
desse trabalho. A
intenção era apresentar a ambiência
política que permite a
análise da atuação e organização dos
grupos de esquerda em
Campina Grande. Também, precisava
recolher elementos,
teóricos e práticos, para entender o que
faz a esquerda partir
para a ação revolucionária, abandonando
a perspectiva
política no campo democrático. Saber da
existência, numa
cidade como Campina Grande, de uma
entidade que congregava
os estudantes, de um movimento
nacionalista e de
Camponesas, facilitará, por certo, o
entendimento das motivações
de um grupo de campinenses que partiu em
defesa
da luta armada. Depois de termos
entendido que a estrutura
organizacional do PCB era autoritária,
além de fortemente
ligada a um passado leninista, teremos o
caminho facilitado
para observar o tipo de organização
utilizada pelos comunistas
entre as décadas de 1960 e 1970".
“A voz resiste. A fala insiste: você me ouvirá, quem viver verá”.
Acordei hoje com uma música antiga na cabeça, chama-se "NÃO
LEVE FLORES" de um de meus heróis, Belchior. Isso significa que ainda não
fui consumido por essa burrice autoritária e conservadora que graça por aí, pois
poderia ter acordado com uma “música” de Wesley Safadão na cabeça. Aí, sim,
tudo estaria perdido.
É natural ter lembrado a “filosofia belchiana”, pois fiquei até
muito tarde lendo notícias e vendo imagens de uma “revolta” estulta, autoritária,
golpista, estreitamente (in)consciente de nossa realidade. Em tempos de convulsão
política a solução pode ser buscar os clássicos, talvez eles nos digam o que
fazer. Os antigos podem nos ensinar muito, de como reagir ao mal sem se igualar
a ele. Belchior e o velho Brizola (lembrei dele também) diriam que ... É TEMPO
DE RESISTIR!!!!
“A imprensa e o judiciário
não podem atuar como partido político. O que está em jogo é algo muito mais
importante do que quem ocupará a Presidência da República. O que está em jogo é
a própria democracia, a estabilidade do país e todas as instituições do Estado.
O protesto desta
sexta-feira será contra os abusos da imprensa e do Judiciário. Não se pode
esquecer que na história do Brasil o combate à corrupção já foi usado como
justificativa para golpes. Em 1964, a ditadura derrubou o governo eleito
falando contra a corrupção. Depois de muito sofrimento e dor, descobrimos que
na ditadura havia corrupção. O que não havia era liberdade para investigar e
denunciar a corrupção”.
Dia 18 vamos para rua pela
democracia.
Confirme sua presença no evento: http://on.fb.me/1RdmScE
Ato na Lyceu Paraibano
Campina Grande
18/03/16 - 15h
Praça Clementino Procópio
Não Leve Flores - Belchior
“Não cante vitória muito cedo, não.
Nem leve flores para
a cova do inimigo,
que as lágrimas do
jovem
são fortes como um
segredo:
podem fazer renascer
um mal antigo.
Tudo poderia ter
mudado, sim,
pelo trabalho que
fizemos - tu e eu.
Mas o dinheiro é
cruel
e um vento forte
levou os amigos
para longe das
conversas, dos cafés e dos abrigos,
e nossa esperança de
jovens não aconteceu, não, não.
Palavra e som são
meus caminhos pra ser livre, e eu sigo, sim.
Faço o destino com o
suor de minha mão.
Bebi, conversei com
os amigos ao redor de minha mesa
e não deixei meu
cigarro se apagar pela tristeza.
- Sempre é dia de
ironia no meu coração.
Tenho falado à minha
garota:
- Meu bem, é difícil
saber o que acontecerá.
Mas eu agradeço ao
tempo.
o inimigo eu já
conheço.
Sei seu nome, sei
seu rosto, residência e endereço.
A voz resiste. A
fala insiste: você me ouvirá.
A voz resiste. A
fala insiste: quem viver verá.
https://www.youtube.com/watch?v=ZZrfupr3S-Y
terça-feira, 15 de março de 2016
Quando a “Casa-Grande” vai à rua
Existem imagens que de
tão ululantemente óbvias, como diria Nelson Rodrigues, não pedem legendas. A
imagem (ao lado) que “viralizou” nas redes sociais se basta a si mesma e me fez
lembrar a ilustração (abaixo) de Jean-Baptiste Debret. Em ambas vemos a mesma
coisa: uma família de brancos na rua seguida pelos seus serviçais negros.
Na foto a família branca
(vestida com a cor oficial de uma crescente onda de despolitização conservadora
e autoritária) se dirige, no Rio de Janeiro, para a manifestação anti governo e
pró-impeachment, contra corrupção, por intervenção militar, ou seja lá pelo que
essa gente se bate, seguida pela babá (negra) que guia o carrinho com os bebês.
Notem que a mãe segura a coleira de um cachorrinho também branco. Os donos da “Casa-Grande”
foram à rua portando a moradora da “Senzala”. E é essa gente que diz lutar por
um Brasil mais justo. Eles lembram líderes da Conjura Mineira que diziam que uma
vez vitoriosos não poderiam acabar com a escravidão, pois do contrário quem
iria trabalhar na extração do ouro, no plantio da cana-de-açúcar ou nos
serviços domésticos?
O caro leitor interpretará
a imagem da maneira que bem quiser, mas lembre que quem bate na panela não é a
moça de branco e quem protesta é a “sinhá” que até se preocupa em olhar para
seus filhos, mas que não se dá ao trabalho de carrega-los. Os donos da “Casa-Grande”
não suportam a ideia de ter que pagar direitos trabalhistas para a moça, de
branco, que veio da “Senzala”. Deve ser por isso que lhes negam o direito do
descanso dominical.
No século XIX, o
pintor francês Jean-Baptiste Debret veio ao Brasil com a Missão Artística
Francesa que fundou, no Rio de Janeiro, a Academia Imperial de Belas Artes. Aqui,
Debret pintou quadros retratando paisagens e o cotidiano dos brasileiros. O
quadro ao lado é o “Passeio com a família”, publicado em “Viagem Pitoresca e
Histórica ao Brasil”. E o que nele se vê? Mesma coisa da imagem do domingo 13
de março. O senhor vai passear com sua branca família trazendo consigo um
séquito de negros. Note que uma das escravas carrega um bebê tal qual a babá
negra do século XXI.
Vi numa rede social alguém
dizer que não dá para discutir direitos sociais com quem ainda não aceita a
“Lei Áurea”. Pois é, não dá para discutir sobre a transformação de nossa
realidade politica, social e econômica com uma gente que vai participar de
manifestações levando consigo os excluídos de sempre. Não posso tratar das
coisas da politica, sequer do fato que é preciso reformar nossas instituições para
tentar controlar a descontrolada corrupção, com pessoas que reproduzem em casa
e fora dela uma ancestral desigualdade social, racial, econômica.
Em outra imagem, uma
senhora, de verde-e-amarelo lógico, branca e loira, toma champanhe em uma taça.
Madame fez questão de mostrar o símbolo de seu status e de seu poder. Estaria madame
disposta a ir às últimas consequências para ver na Presidência da República
alguém acostumado aos bons vinhos e jantares? Parece que sim, do contraria não
estaria sacrificando seu regabofe dominical para xingar a presidente,
constitucionalmente eleita, da República. Madame cansou de ter um caboclo
presidente como diria Herbert Viana. Notem que outros abnegados pelas causas da
politica brasileira também bebem de um champanhe que descansa em um balde de
gelo que bem poderia ser de prata. Tinha razão Cazuza quando dizia que a
burguesia fede, apesar de ter muito dinheiro para comprar perfumes.
E o que dizer da
singela imagem do barquinho que ia mesmo que a tardinha ainda não tivesse caído?
A Globo News exibiu demoradamente a imagem de um iate singrando os mares
cariocas ostentando a faixa “fora Dilma”. É um verdadeiro negócio de ocasião.
Enquanto se divertem, cariocas endinheirados pedem para alguém por a presidente
eleita para fora. São nesses dias de estultice politica que um Millôr Fernandes
faz tanta falta, pois só mesmo ele poderia se sair com uma frase curta e franca
sobre a mãe de todos os paradoxos que essas imagens encerram. Lembrei-me de
Karl Marx que afirmava que a burguesia é capaz de tudo para defender seus
interesses até mesmo lutar contra o sistema politico que lhe garante ser dona
dos meios de produção.
Enquanto sinhôs e sinhás
desfilam suas belezas pelas manifestações, indignados por que um governo se
atreveu a promover alguma justiça social na ordem tupiniquim, a elite politica,
gerada entre a Casa-Grande e a Senzala, se despe de qualquer recato republicano
e/ou democrático e se lança ensandecida, numa luta de vida e morte, para
impedir que nas próximas eleições o caboclo presidente volte a frequentar os
corredores dos palácios e a compartilhar dos bons vinhos.
É que o Sinhô não quer
mais ver o filho da escrava sentado naquela cadeira, daí pediu aos seus filhos,
formados em quatrocentonas entidades de ensino, para aprisionarem o presidente Macunaíma.
Um dos filhos togado perguntou que motivos alegariam para enquadrá-lo. O senhor
disse que qualquer motivo é bem vindo. Pode ser a suspeição da vontade (não
realizada) de compra de um imóvel, pode ser uma quantia recebida pelo caboclo
presidente para dar uma palestra, pode ser o fato de a esposa cabocla ter ido
olhar as obras de um imóvel. O Senhor disse a seus filhos togados que fossem
perguntar ao dono do império das comunicações que argumentos utilizar.
Um dos filhos lembrou
que não saberia instrumentalizar o processo contra o presidente jararaca por
não ter lido os livros dos filósofos que seus professores recomendavam. Ele disse
que não sabia diferenciar Friedrich Engels, um dos teóricos que formatou o socialismo
científico no século XIX, de Friedrich Hegel, um dos expoentes do chamado
idealismo alemão. O senhor disse que eles poderiam tirar as duvidas todas que
tivessem com aquele ex-presidente que foi professor de sociologia.
As sinhás e senhorios
que vão as ruas aos domingos não se conformam em ter perdido mais uma eleição.
É que essa gente não suporta a ideia de saber que parte dos impostos que pagam
vai para os programas sociais do governo federal. Essa gente não está
preocupada com a corrupção, nem com o suprapartidário assalto aos cofres da
Petrobras. Tal qual os militares e civis, que deram o golpe de 1964, usam o
discurso piegas, pretensamente nacionalista, de salvar a pátria da corrupção
para maximizarem seus interesses mais comezinhos.
A “Casa-Grande” se
comporta como se estivesse na segunda metade do século XIX participando de
organizações contrárias à abolição da escravidão. Elas querem impeachment de
Dilma, golpe e intervenção porque tiveram seus privilégios atacados e porque as
classes que ficam ao final do alfabeto passaram a ter acesso a coisas como
educação superior, moradia e consumo. E isso é inadmissível para quem sempre se
alimentou das desigualdades sociais que historicamente tivemos.
Março/2016.
segunda-feira, 7 de março de 2016
Hoje não te dou parabéns, te dou todo meu respeito
Hoje é aquele dia em
que nos sentimos obrigados a parabenizar todas as mulheres. É que com o passar
do tempo o Dia Internacional da Mulher foi deixando de ser um dia de lutas para
ser um dia de festas. Cada vez mais o papel político desse dia vai sendo
substituído por um dia destinado a homenagear as mulheres, com aquelas
mensagens que, em geral, servem para escamotear a realidade em que vivemos. Hoje,
mulheres vão receber flores, declarações de amor e mensagens que as enaltecem.
Em apenas um único dia a mulher será tratada como se não tivesse defeitos, como
se não fosse um ser humano normal. Mas, é só por hoje. Amanhã mesmo mulheres de
todas as etnias, credos, classes sociais, ideologias, profissões, voltarão a
ser desrespeitadas em seus direitos e bastante cobradas em seus deveres.
Em 2013 vi um
folder, feito pela diretoria de Recursos Humanos do Hospital de Emergência e
Trauma de Campina Grande, que promovia um ato alusivo à data. No folder não havia
nada que lembrasse o papel político do oito de março, pois não se aludia ao
fato dessa data ser consagrado às mulheres pelas lutas que elas travaram ao
longo da história. O folder enfatizava que a mulher é raiz da sensibilidade,
tronco da multiplicidade, folha da serenidade, essência da natureza humana.
O oito de março foi
consagrado à mulher em reconhecimento às lutas por ela empreendidas. Foi em 8
de março de 1857 que operárias de New York ocuparam uma fábrica têxtil onde
trabalhavam para reivindicar redução na jornada de trabalho, equiparação de
salários com os homens e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. As
manifestantes foram violentamente reprimidas. Elas foram trancadas na fábrica,
que foi incendiada. Cerca de 130 tecelãs morreram carbonizadas. Em 1910, numa
conferência na Dinamarca, se convencionou o oito de março como o "Dia
Internacional da Mulher" em homenagem àquelas que, como as têxteis,
lutavam por seus direitos. Em 1975, a ONU oficializou a data.
Assim, e pelo
mundo afora ao longo do século XX, o oito de março ficou sendo usado para que
mulheres se manifestassem e lutassem pelos seus direitos. O oito de março
passou a ser o símbolo da luta das mulheres contra a opressão, a violência, o
preconceito e pelos direitos sociais. É por isso que hoje não é um dia para se
dar parabéns às mulheres, apesar de que nada impede que um homem faça uma
declaração de amor para sua esposa, namorada, companheira. Hoje não é o dia
ideal para você ofertar flores para sua amada. Também não indico que dê uma
caixa de bombons de chocolate para ela, pois corre o risco dela comer tudo e,
depois, dizer que engordou por causa dos bombons que você deu a ela. Não dê
nada disso a sua amada. A melhor coisa a dar a ela hoje é RESPEITO. Diga a ela,
com sinceridade, claro, que a respeita pelo que ela é, pelos valores e opiniões
que ela têm.
Se você é
daqueles que costuma violentar física e/ou emocionalmente a mulher que diz
amar, aproveite o dia de hoje para refletir. Já que o oito de março é uma
homenagem às mulheres que se levantaram contra a opressão. Use o dia de hoje
para prometer a sua amada que nunca mais vai oprimi-la. Quando chegar o dia do
aniversário dela, ou o dia dos namorados, ou ainda o aniversário de casamento
de vocês, aí sim, você solta a imaginação. Declara-se para ela, mande flores,
dê os parabéns, recite poemas, mande mensagens apaixonadas.
Hoje, é um dia
para as mulheres se manifestarem politicamente e para reafirmarem seus
direitos, mesmo que estejam reavaliando se realmente valeu a pena lutar tanto
para entrar no mercado de trabalho e ter os mesmo direitos e deveres dos
homens. O movimento feminista não fez a luta completa. Deveria ter lutado para
que a mulher fosse para o mundo do trabalho, com os mesmo direitos dos homens,
e para que estes assumissem as tarefas de casa. Nessa luta as mulheres saíram perdendo
na medida em que passaram a ter a dupla jornada de trabalho e os homens
seguiram tendo a jornada de sempre, mesmo que muitos sejam bons donos de casa.
Outra coisa que
fugiu do roteiro foi o fato de que a mulher entrou pela porta dos fundos na
política institucional. Vejam que as deputadas, vereadoras e prefeitas da
Paraíba (e do Brasil) são, com raras exceções, meras extensões dos interesses
de seus maridos, país ou irmãos. Mas, elas tiveram conquistas fabulosas, como a
de não mais precisarem adotar o sobrenome do marido após o casamento. É que
antigamente os senhores cravavam no gado, nos escravos e em suas esposas a
marca que carregavam, como símbolo de poder. O fato é que não adianta, hoje,
parabenizar a mulher, apontando as qualidades dela, e passar o resto do ano
desrespeitando-a em seus direitos. Eu mesmo, hoje, não vou dar parabéns para
minha esposa e para minhas filhas. Eu vou, na verdade, reafirmar todo o
respeito que tenho por elas.
Março/2016.
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