segunda-feira, 7 de março de 2016

Hoje não te dou parabéns, te dou todo meu respeito


Hoje é aquele dia em que nos sentimos obrigados a parabenizar todas as mulheres. É que com o passar do tempo o Dia Internacional da Mulher foi deixando de ser um dia de lutas para ser um dia de festas. Cada vez mais o papel político desse dia vai sendo substituído por um dia destinado a homenagear as mulheres, com aquelas mensagens que, em geral, servem para escamotear a realidade em que vivemos. Hoje, mulheres vão receber flores, declarações de amor e mensagens que as enaltecem. Em apenas um único dia a mulher será tratada como se não tivesse defeitos, como se não fosse um ser humano normal. Mas, é só por hoje. Amanhã mesmo mulheres de todas as etnias, credos, classes sociais, ideologias, profissões, voltarão a ser desrespeitadas em seus direitos e bastante cobradas em seus deveres.

Em 2013 vi um folder, feito pela diretoria de Recursos Humanos do Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande, que promovia um ato alusivo à data. No folder não havia nada que lembrasse o papel político do oito de março, pois não se aludia ao fato dessa data ser consagrado às mulheres pelas lutas que elas travaram ao longo da história. O folder enfatizava que a mulher é raiz da sensibilidade, tronco da multiplicidade, folha da serenidade, essência da natureza humana. 

O oito de março foi consagrado à mulher em reconhecimento às lutas por ela empreendidas. Foi em 8 de março de 1857 que operárias de New York ocuparam uma fábrica têxtil onde trabalhavam para reivindicar redução na jornada de trabalho, equiparação de salários com os homens e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. As manifestantes foram violentamente reprimidas. Elas foram trancadas na fábrica, que foi incendiada. Cerca de 130 tecelãs morreram carbonizadas. Em 1910, numa conferência na Dinamarca, se convencionou o oito de março como o "Dia Internacional da Mulher" em homenagem àquelas que, como as têxteis, lutavam por seus direitos. Em 1975, a ONU oficializou a data.

Assim, e pelo mundo afora ao longo do século XX, o oito de março ficou sendo usado para que mulheres se manifestassem e lutassem pelos seus direitos. O oito de março passou a ser o símbolo da luta das mulheres contra a opressão, a violência, o preconceito e pelos direitos sociais. É por isso que hoje não é um dia para se dar parabéns às mulheres, apesar de que nada impede que um homem faça uma declaração de amor para sua esposa, namorada, companheira. Hoje não é o dia ideal para você ofertar flores para sua amada. Também não indico que dê uma caixa de bombons de chocolate para ela, pois corre o risco dela comer tudo e, depois, dizer que engordou por causa dos bombons que você deu a ela. Não dê nada disso a sua amada. A melhor coisa a dar a ela hoje é RESPEITO. Diga a ela, com sinceridade, claro, que a respeita pelo que ela é, pelos valores e opiniões que ela têm.

Se você é daqueles que costuma violentar física e/ou emocionalmente a mulher que diz amar, aproveite o dia de hoje para refletir. Já que o oito de março é uma homenagem às mulheres que se levantaram contra a opressão. Use o dia de hoje para prometer a sua amada que nunca mais vai oprimi-la. Quando chegar o dia do aniversário dela, ou o dia dos namorados, ou ainda o aniversário de casamento de vocês, aí sim, você solta a imaginação. Declara-se para ela, mande flores, dê os parabéns, recite poemas, mande mensagens apaixonadas.

Hoje, é um dia para as mulheres se manifestarem politicamente e para reafirmarem seus direitos, mesmo que estejam reavaliando se realmente valeu a pena lutar tanto para entrar no mercado de trabalho e ter os mesmo direitos e deveres dos homens. O movimento feminista não fez a luta completa. Deveria ter lutado para que a mulher fosse para o mundo do trabalho, com os mesmo direitos dos homens, e para que estes assumissem as tarefas de casa. Nessa luta as mulheres saíram perdendo na medida em que passaram a ter a dupla jornada de trabalho e os homens seguiram tendo a jornada de sempre, mesmo que muitos sejam bons donos de casa.

Outra coisa que fugiu do roteiro foi o fato de que a mulher entrou pela porta dos fundos na política institucional. Vejam que as deputadas, vereadoras e prefeitas da Paraíba (e do Brasil) são, com raras exceções, meras extensões dos interesses de seus maridos, país ou irmãos. Mas, elas tiveram conquistas fabulosas, como a de não mais precisarem adotar o sobrenome do marido após o casamento. É que antigamente os senhores cravavam no gado, nos escravos e em suas esposas a marca que carregavam, como símbolo de poder. O fato é que não adianta, hoje, parabenizar a mulher, apontando as qualidades dela, e passar o resto do ano desrespeitando-a em seus direitos. Eu mesmo, hoje, não vou dar parabéns para minha esposa e para minhas filhas. Eu vou, na verdade, reafirmar todo o respeito que tenho por elas.

Março/2016.

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