Foi lançado no
último sábado (19), na Livraria Nobel, em Campina Grande, o livro “Heróis
de uma Revolução Anunciada ou Aventureiros de um Tempo Perdido? – A atuação das
organizações de esquerda em Campina Grande 1968/1972”, do cientista politico e professor
do Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB),
Gilbergues Santos.
Esta é sua primeira
obra que trata da cultura política que orientou a atuação das organizações de esquerda
que lutaram contra a ditadura civil-militar instalada em 1964. Assim, o livro
explora como a esquerda comunista brasileira reuniu, desde seu surgimento,
elementos que lhe conferiram um viés autoritário e antidemocrático, que
influenciaram a esquerda revolucionária das décadas de 1960 e 1970.
Mas, o autor não
descuida dos grupos revolucionários que existiram na cidade de Campina Grande, estudando
suas formas de atuação e organização, considerando que esses grupos eram parte
de organizações que atuavam em todo o país. Mesmo cuidando de aspectos da
história local, ele observa como a democracia política perpassava os grupos
locais.
O lançamento oficial
do livro contou com a presença do reitor Rangel Junior e de vários outros
professores da Instituição. A obra foi publicada pela Editora da Universidade
Estadual da Paraíba (EDUEPB) e já se encontra disponível para aquisição na
Livraria da EDUEPB, no campus de Campina Grande, e na Livraria Nobel. “Este é
meu primeiro livro, fruto das pesquisas que desenvolvo desde 1997, sobre o
comportamento político das organizações de esquerda que lutaram contra a
Ditadura Militar e a relação delas com a democracia politica”, disse
Gilbergues.
Confira um trecho da obra:
“Uma das “verdades”
que o PCB introjetou, incorporou inconscientemente, da 3ª IC foi a tese da “unidade
ideológica”, que determina que as minorias não poderiam se constituir em
frações organizadas. Por essa ótica, não haveria divergências no seio de uma
organização comunista, tudo deveria ser resolvido através da aplicação do
controverso sistema de centralismo democrático, um eufemismo encontrado pelos
comunistas para aliar, em um mesmo local, discussão democrática e imposição de
ideias, ou seja, se não fosse possível encontrar o consenso através da
discussão, ele instalar-se-ia através da imposição. O que interessava era ter o
consenso. Caso a divergência persistisse, os discordantes deveriam ser
sumariamente expulsos da organização. Essa concepção foi determinante para a
falta de democracia interna que sempre acompanhou o PCB. Tornou-se prática comum
no partido, em praticamente toda sua existência, e mais fortemente entre as
décadas de 1940 e 1960, a expulsão de membros que divergiam das posições teóricas e políticas do Comitê Central.
Ainda no plano das
influências internacionais, outros dois aspectos, que contribuíram para que os
comunistas locais fizessem pouco caso da democracia política, foram os modelos
revolucionários que colocavam os partidos comunistas como as “vanguardas das
transformações revolucionárias”. As revoluções socialistas vitoriosas são
exemplos de como conquistas sociais são instauradas sem a participação popular
organizada. A URSS e a China implementaram transformações como reforma agrária,
melhorias no sistema educacional e de saúde e a política do pleno emprego
através dos chamados decretos revolucionários. Essas revoluções convenceram os
comunistas brasileiros de que é possível fazer transformações passando ao largo
da democracia e que se pode “oferecer” ao povo melhorias de vida, sem que se tenha
que trilhar o caminho da organização popular e da discussão política”.
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