segunda-feira, 21 de março de 2016

Lançamento do livro "Heróis de uma Revolução Anunciada ou Aventureiros de um Tempo Perdido?"


Foi lançado no último sábado (19), na Livraria Nobel, em Campina Grande, o livro “Heróis de uma Revolução Anunciada ou Aventureiros de um Tempo Perdido? – A atuação das organizações de esquerda em Campina Grande 1968/1972”, do cientista politico e professor do Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Gilbergues Santos.

Esta é sua primeira obra que trata da cultura política que orientou a atuação das organizações de esquerda que lutaram contra a ditadura civil-militar instalada em 1964. Assim, o livro explora como a esquerda comunista brasileira reuniu, desde seu surgimento, elementos que lhe conferiram um viés autoritário e antidemocrático, que influenciaram a esquerda revolucionária das décadas de 1960 e 1970.


Mas, o autor não descuida dos grupos revolucionários que existiram na cidade de Campina Grande, estudando suas formas de atuação e organização, considerando que esses grupos eram parte de organizações que atuavam em todo o país. Mesmo cuidando de aspectos da história local, ele observa como a democracia política perpassava os grupos locais.

O lançamento oficial do livro contou com a presença do reitor Rangel Junior e de vários outros professores da Instituição. A obra foi publicada pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB) e já se encontra disponível para aquisição na Livraria da EDUEPB, no campus de Campina Grande, e na Livraria Nobel. “Este é meu primeiro livro, fruto das pesquisas que desenvolvo desde 1997, sobre o comportamento político das organizações de esquerda que lutaram contra a Ditadura Militar e a relação delas com a democracia politica”, disse Gilbergues.

Confira um trecho da obra:

“Uma das “verdades” que o PCB introjetou, incorporou inconscientemente, da 3ª IC foi a tese da “unidade ideológica”, que determina que as minorias não poderiam se constituir em frações organizadas. Por essa ótica, não haveria divergências no seio de uma organização comunista, tudo deveria ser resolvido através da aplicação do controverso sistema de centralismo democrático, um eufemismo encontrado pelos comunistas para aliar, em um mesmo local, discussão democrática e imposição de ideias, ou seja, se não fosse possível encontrar o consenso através da discussão, ele instalar-se-ia através da imposição. O que interessava era ter o consenso. Caso a divergência persistisse, os discordantes deveriam ser sumariamente expulsos da organização. Essa concepção foi determinante para a falta de democracia interna que sempre acompanhou o PCB. Tornou-se prática comum no partido, em praticamente toda sua existência, e mais fortemente entre as décadas de 1940 e 1960, a expulsão de membros que divergiam das posições teóricas e políticas do Comitê Central.

Ainda no plano das influências internacionais, outros dois aspectos, que contribuíram para que os comunistas locais fizessem pouco caso da democracia política, foram os modelos revolucionários que colocavam os partidos comunistas como as “vanguardas das transformações revolucionárias”. As revoluções socialistas vitoriosas são exemplos de como conquistas sociais são instauradas sem a participação popular organizada. A URSS e a China implementaram transformações como reforma agrária, melhorias no sistema educacional e de saúde e a política do pleno emprego através dos chamados decretos revolucionários. Essas revoluções convenceram os comunistas brasileiros de que é possível fazer transformações passando ao largo da democracia e que se pode “oferecer” ao povo melhorias de vida, sem que se tenha que trilhar o caminho da organização popular e da discussão política”.


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