O COVID 19 nos faz olhar para frente na expectativa de como será nossa vida “quando tudo isso passar”. Mas, o cacoete do historiador é olhar para trás em busca de respostas. Me volto questionando como e por que aprendemos tão pouco com Influenza, Ebola, H1N1, Gripe Aviária, SARS. Lembro que não é próprio de nossa espécie aprender com seus erros. A 2ª Guerra Mundial ainda terminava e os Aliados só pensavam nas guerras futuras, por isso Einstein disse: “não sei como será a 3ª guerra, mas a 4ª será com paus e pedras”.
O nosso paradoxo é saber como ir até a lua, como construir um artefato que mata milhares ao mesmo tempo, mas não termos ciência precisa do que fazer para que nosso frágil sistema imunológico resista aos vírus e bactérias com os quais dividimos o meio ambiente que supomos ser só nosso. Transplantamos um órgão de um corpo humano para outro e nos quedamos diante de um vírus que já era nosso conhecido. Por que, em geral, demoramos tanto para responder aos ataques desses vírus? Não estamos preparados para o COVID 19, como não estávamos para o vírus Influenza da Gripe Espanhola.
Miseravelmente custamos agir no combater a um vírus em constante mutação e que mata no atacado. O que chegou aos EUA já é diferente do seu original de Wuhan, na China. Aliás, o COVID 19 é peçonhento nos EUA porque seu povo tem um sistema imunológico frágil. Eles têm problemas respiratórios crônicos advindos de seus péssimos hábitos alimentares, sem contar um sistema de saúde privado onde o Estado não se preocupa com o bem estar das pessoas. A pandemia se estabeleceu como se não tivéssemos ameaças de uma guerra nuclear mundial, aquecimento global, deterioração da democracia e (re)ascensão do fascismo, praga do neoliberalismo, desigualdades sociais, etc, etc, etc.
A pandemia frearia o culto ao estado mínimo e a autorregulamentação da economia que só o “deus mercado” teria? Já se fala numa reedição do “New Deal”, quando os donos do capital imploram ao Estado para que os salve da bancarrota. É que governos, suas instituições, e sistemas públicos de saúde é que devem enfrentar uma pandemia. Pois, por definição, o capital privado cuida dos CNPJs e o Estado dos CPFs. Falo, claro, de nações civilizadas onde o COVID 19 é uma pandemia, não uma “gripezinha”. O fato é que o vírus se alastra num mundo capitalista e, como sabemos, lucrar é o oposto de salvar vidas.
Urge entender o que nos faz ficar em casa. Fugir da ignorância que nos assola é primordial. A visão falso moralista da pandemia não nos serve, pois ela não existe “por que Deus quer” ou por ser “uma vingança da natureza”, apesar de que parece ser isso, também. O meio ambiente costuma nos mandar recados, em forma de tragédias naturais, que em geral não entendemos. A natureza tem lá suas formas de nos fazer ver como nosso comportamento é equivocado. Parece mesmo que ela quis tirar “férias” do dito “homo sapiens” e mandou este vírus, que nos obriga a ficar em casa, enquanto ela se desintoxica de nós.
Saberemos tirar lições disso tudo? Mudaremos quando soubermos como não morrer
com este vírus? Nos comportaremos melhor em relação ao meio ambiente? Ou será que seguiremos insanos destruindo o que não sabemos criar? Sou um realista incorrigível, mas “por força desse destino” (como diria meu herói Belchior) estou numa onda de pessimismos de causar inveja a hiena Hardy(1), então não farei maiores expectativas. Acho mesmo que voltaremos a viver como se não houvesse amanhã, até que o próximo vírus venha nos encontrar para mais um acerto de contas.
(1) Lippy the lion & Hardy Har Har era um dos desenhos animados do programa "The Hanna-Barbera New Cartoon Series", que fazia sucesso entre as décadas de 1960 e 1980. Lippy era um leão sempre acompanhado da hiena Hardy, pessimista, angustiada, descrente do futuro da humanidade.
Post Scriputm: Finalizo esta coluna vendo na TV Cultural o Diretor do Hospital das Clínicas de São Paulo, médico Arnaldo Lichtenstein, dizer que quando não se defende o isolamento social e se mantém o comércio e a indústria abertos, sob o argumento (oportunista) de que a economia não pode parar, está se condenando os mais vulneráveis, idosos e doentes, e que isso é perverso. Quando não se pensa nos mais vulneráveis, que eles podem morrer, e se valoriza apenas os "jovens atléticos" se está na verdade defendendo a EUGENIA. A ideia de que "alguns vão morrer, e daí?" é baseada na "eugênica" ideia nazista de que só os fortes devem viver.
A extrema direita já louva seu “mito” com a saudação nazista e o governo usa palavras de ordem da Alemanha nazista ("trabalho liberta"; "... acima de todos, Deus acima de tudo), então adotar a eugenia é um passo largo rumo ao breu total que o fascismo oferece. Os fascistas estão acampando, armados, em Brasília bem próximos ao Congresso Nacional e ao STF, mas e daí? Vamos esperar os corpos dos primeiros esquerdistas, espalhados pelas ruas, crivados de balas, para nos espantarmos ou vamos começar, pelo menos, a nos indignarmos já, agora?