segunda-feira, 19 de outubro de 2020

BOLÍVIA - VAMOS A VOLVER!

Lucho Arce do Movimento Ao Socialismo (MAS) está eleito, em 1º turno, presidente da Bolívia com 53% dos votos. Isso mostra a força popular do MAS mesmo com o golpe de estado que derrubou Evo Morales em novembro de 2019, com as intervenções dos EUA e a violência patrocinada pela extrema direita boliviana. Como gato escaldado tem medo de água fria, o MAS espera a divulgação do resultado oficial para comemorar. Arce disse apenas que “recuperamos a democracia e a esperança”. É que setores antidemocráticos, dentro e fora da Bolívia, tentarão todos os meios para impedir a volta do MAS ao poder. Mesmo assim, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, disse: “a lição que o povo boliviano deu em defesa de sua autodeterminação e democracia perdurará em nosso continente”

A presidenta golpista Jeanine Áñez admitiu a derrota, parabenizou Arce, e pediu que ele "governe pensando na Bolívia e na democracia", coisa que ela mesma nunca fez. Carlos Mesa, da direita neoliberal (uma espécie de FHC da Bolívia) que apoiou o golpe de 2019, e ficou em 2º lugar na eleição com quase 31% dos votos, reconheceu a derrota e disse que seu partido, Comunidad Cidadã, será (SIC) “a cabeça da oposição”. Fernando Camacho (o Bolsonaro da Bolívia) ficou em 3º lugar, com 14% dos votos. Fascista, católico fundamentalista, tosco e violento, ele chorou com a derrota. Próximo de Ernesto Araújo, chanceler brasileiro, e da direita chucra dos EUA, Camacho foi aquele que invadiu o Palácio do Governo da Bolívia após o golpe de 2019 com um fuzil numa mão e a Bíblia na outra. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, reconheceu a vitória do MAS e falou, também, em defesa da democracia. Significa dizer quer os EUA admitem a derrota, pelo menos por enquanto. A OEA que apoiou o golpe contra Evo Morales, agora reconhece a vitória do MAS. Estranho, não?! Assim, é preciso ponderar, pois a extrema direita não deve aquiescer, ela não assistirá passivamente a Bolívia tomar o rumo da Venezuela ou mesmo o de Cuba.

O resultado oficial da eleição ainda não saiu, mesmo que se saiba que Arce foi eleito, de acordo com o “escrutínio rápido” feito por empresas privadas. Mas, algo há! Jeanine Áñez, Carlos Mesa, Luis Almagro (OEA) e o Departamento de Estado dos EUA admitiram a vitória do MAS. Teriam tão rapidamente assimilado a derrota? O Partido da Imprensa Golpista (PIG) do Brasil, como diria o jornalista Paulo Henrique Amorim, já trata Arce como presidente. É isso que está esquisito! O conglomerado golpista latino americano, comandado pelos EUA, não estaria aceitando tudo muito facilmente? O que estaria por trás disso?

Certo, a vitória de Arce é acachapante e isso torna uma reação muito mais difícil. A organização popular na Bolívia existe, ao contrário do Brasil, e de fato o povo boliviano está disposto a garantir, nas ruas, a decisão que tomou nas urnas. Além disso, o MAS conquistou, na eleição de domingo passado, 19 das 36 cadeiras da Câmara Alta (Senado) do Legislativo boliviano. Ao que tudo indica, os estadunidenses deixaram a Bolívia em segundo plano por causa de sua própria eleição e do fato de estarem à beira de uma guerra civil. Agora, os EUA só olham para seu umbigo, por isso “reconheceram” a vitória de Arce e parecem ter ordenado seus asseclas latino americanos fazerem o mesmo. Mas, não nos iludamos, tão logo resolvam seu imbróglio, vão voltar a agir como a "polícia do mundo". Eles juraram a Bolívia!

Lembro o que disse Elon Musk, CEO da TESLA, fabricante de carros elétricos na California: "Vamos dar golpes em quem quisermos. Lide com isso" . Os EUA e o grande capital (Vale do Silício, principalmente) querem o lítio boliviano, metal alcalino usado na produção de pilhas e baterias. No poder, o MAS significará a nacionalização do petróleo, do gás e de recursos minerais e garantirá ao povo deter suas riquezas e seus direitos. E isso os EUA e o capital transnacional não querem de maneira alguma.


A vitória de Arce pode ser o reinício de uma contra-ofensiva da esquerda latino-americana. Temos a resistência do povo venezuelano e cubano e as lutas populares no Chile e na Colômbia, além dos governos progressistas do México e da Argentina. São sinais auspiciosos na tentativa de se pôr um freio na atual onda golpista da extrema direita fascista comandada pelos EUA.

A esquerda brasileira tem que entender seu papel geopolítico neste contexto, pois o caminho que toma o Brasil importa sempre a América Latina. Por hora, vale as palavras de Arce, pois sua vitória nos enche de esperança e de ânimo para a luta que ainda precisamos empreender, pois dias de glórias só virão com dias de lutas.

Outubro\2020

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