Talvez, já se tenha dito tudo sobre Chico. Talvez eu esteja sendo redundante. O fato é que escrevo para significar sua importância para a cultura nacional. Em um tempo de crise, em um momento em que a MPB conceitual é continuamente enxovalhada pelo lixo escatológico vindo das gravadoras – falo dos ritmos considerados “populares” como o sertanejo, o pagode, o axé music, o forró (aquele que considera a sanfona, a zabumba e o triângulo dispensáveis e que ignora Jackson do Pandeiro e Luís Gonzaga), o funk e o tal hip hop, enfim, tudo aquilo que dispensa talento para ser feito, a salvação é escutar e ler Chico Buarque em maciças doses.
É realmente um instante preocupante! Para cada Lenine, Zélia Duncan, Zeca Baleiro ou Ana Carolina que surgem, logo aparecem dez ou quinze bandas daquelas que poderiam muito bem colocar seus cantores e dançarinos para atuarem em filmes pornográficos.
Enfrentamos circunstâncias delicadas, em que outros da geração de Chico Buarque, como Caetano Veloso, metem os pés pelas mãos e, avaliando-se acima do bem e do mal, passam a chancelar os resíduos expelidos pela indústria fonográfica. Caetano Veloso cospe na sua história ao querer colocar-se como defensor daquele “estilo musical” pavoroso que vem das favelas cariocas. Pior, quer nos convencer de que aquilo é a pura expressão de uma coisa que ele (in) define como a “cultura dos oprimidos”. O autor de Sampa, Podres Poderes, Panis et Circenses, Baby, Trem das Cores, Terra, etc, não poderia cuspir assim em sua própria biografia.
Estamos em conjuntura tão difícil que, lamentável e paradoxalmente, me vi, dia desses, defendendo a censura. Isso mesmo, por um momento pensei que a única solução para me livrar da poluição sonora que infecta as ruas, com aqueles carrinhos legitimadores da pirataria, seria a censura. Refeito de meu lapso autoritário, questionei-me como alguém que depende de sua liberdade de expressão defende algo tão nefasto? Perguntei-me porque cai em brutal contradição? E a resposta foi: vi-me tão irritado com essa escatologia, que alguns denominam de “forró eletrônico”, que pensei que para o bem de nossos cérebros, ouvidos e corações fosse por bem censurá-lo.
Mas, sossegue caro leitor, ao contrário dos escatófagos “forrozeiros” ainda sou dotado de suficiente inteligência e sensibilidade para rever meu erro: não quero a censura! Ela é algo terrível, que o diga aqueles que já foram vítimas dela. Mas então o que fazer? Se não posso censurar, nem quero, estou condenado a ouvir esta música fecalóide, produzida e comercializada por pessoas versadas nos meandros da coprofagia?
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
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