segunda-feira, 9 de junho de 2008

Que me valha Chico Buarque – Parte III

Pouco importa, inclusive, se Caetano Veloso, Lobão e até o Ministro (de quê mesmo?! – é difícil lembrar!) Gilberto Gil consideram a sedeca do funk como um “movimento musical”, afinal e ainda bem, eles não são perfeitos. Em uma entrevista Lobão, desandou a dizer asneiras. Disse que o funk é maravilhoso e que é uma revolução, que adora Tati Quebra Barraco, que a sua cultura é a maconha e, não satisfeito, atacou quem ele não tem envergadura nenhuma para criticar - Chico Buarque - dizendo que ele é “sinônimo da ditadura militar, que nasceu velho, que suas músicas são depressivas”.

Lobão só acertou quando disse que Chico Buarque é o contrário do funk. Pelo menos nisso, meu caro Lobão, nós vamos concordar. Não tenha a menor dúvida, Chico é o símbolo que se contrapõem, pela qualidade, a tudo que virou moda. Ele está para a música brasileira, assim como seu pai (o historiador Sérgio Buarque de Holanda) está para a historiografia brasileira: fundamental, inovador, revolucionário, enfim, clássico. E se o leitor duvidar, basta ler “Raízes do Brasil” do pai e ouvir “Bye, Bye Brasil”, “Construção” e “A Banda” do filho.


Sempre tive uma especial atenção pelo trabalho musical realizado por Lobão. Inclusive, admirei bastante o fato de ele ter criado seu próprio selo e ter passado a vender seus discos nas bancas de jornal a preços compatíveis com a realidade sócio-econômica de centenas de milhares de brasileiros. Ele conseguiu provar que é possível fugir do pesado esquema das grandes gravadoras e fazer uma música de boa qualidade. Sempre admirei o jeito franco de Lobão, mas dessa vez ele foi longe demais. Como se não bastasse fazer apologia às drogas, ainda desatinou totalmente quando disse que prefere a tal Lacraia a Edu Lobo e que Elis Regina, Tom Jobim e Chico Buarque são o que há de pior na nossa música. Pobre Lobão, esse desatino todo só pode ter sido causado pelo uso excessivo de cocaína e maconha, que deve ter corroído o seu cérebro e a sua sensibilidade.


Alguém me disse: “Essas músicas tocam direto porque o povo não sabe escolher e escuta o que for colocado”. Se for assim, então além do Pagode, do Axé-Music, do Forró Eletrônico, do Funk e de outras “comercialiadades” do ramo, porque não tocar nas rádios MPB, Jazz, Blues, Música Clássica? E que se deixe as pessoas escolherem livremente o que querem escutar! Porque não “impor” ao povo Tom Jobim, Elis Regina, Djavan, Leila Pinheiro, Beatles, Ray Charles, Miles Davis, etc? Se o povão não sabe escolher, então que eles sejam "obrigados" a ouvirem nas rádios Mozart, Beethoven e Tchaikovsky.


Afinal, por que o povo só é obrigado a ouvir o lixo da música? Por que não fazê-lo escutar o luxo que se produz em nossa música?

Boa parte do povo brasileiro não sabe escolher porque não teve oportunidade de estudar, de recolher subsídios e elementos que permitam o indivíduo OPTAR e não simplesmente ACEITAR.

Muitos não têm condição de escolher o que vão ouvir porque não tem poder político, econômico e cultural para decidir. Quem faz isso são os órgãos midiáticos, controlados por grupos que vêem no escatol musical uma excelente forma de lucrar. O mercado cultural se fia na equivocada visão de que não importa o estilo, mas sim se ele está “tocando direto” e se está “na moda”. Fia-se, também, no fato de vivermos em sociedades consumistas, que privilegiam a simplificação em detrimento da elaboração.

Recuso-me a aceitar que valores culturais, como a nossa MPB (que é um dos melhores exemplos de nossa identidade), reduzam-se à dimensão de meros valores comerciais. É por isso que, com um enorme prazer, sempre revejo a obra de Chico Buarque. É pela sua obra que ele merece ser freqüentemente revisitado e é assim que eu recorro a ele: como um clássico, para me valer das “modas” do momento. É por isso tudo que eu “prescrevo” o clássico Chico Buarque como um remédio para a crise em que vivemos. Parodiando o próprio é que eu indico: beba Chico, cheire Chico, fume Chico, use Chico, injete Chico na veia; não tem contra indicação – pode se viciar nele, só vai fazer bem.

PS: Este artigo foi escrito e publicado a cerca de dois anos. Resolvi colocá-lo aqui como uma forma desabafo. É lamentável ser obrigado a ouvir cotidianamente essa debilidade chamada forró eletrônico, considerando que vivemos na terra do Maior São João do Mundo, berço da que há de melhor em termos de música regional. É realmente lamentável!!!!!

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