Em um artigo, intitulado “Leitura dos clássicos é remédio contra crise”, publicado no Jornal O Estado de São Paulo no já distante 20 de Fevereiro de 1994, o historiador Carlos Guilherme Mota afirma que “ ... em tempos de crise, voltamo-nos para os clássicos, num recuo estratégico, em busca de perspectivas e alguma paz. Uma pausa para o reencontro de nossa temporalidade perdida ou, como por vezes acontece, nossa sensibilidade enfastiada”.
Mas, o que é um clássico? É um livro, um filme, uma pintura, uma música, enfim é aquilo que consegue ser atemporal, sem ser anacrônico, que consegue agradar várias gerações sem precisar mudar sua essência, que consegue pairar acima de várias opiniões; enfim, clássico é algo que fica. Clássico é aquilo que reencontramos depois de muito tempo para rever, reinterpretar e redimensionar para o momento em que vivemos. O clássico é aquele que cabe em muitos presentes e não só naquele em que foi feito. Em geral, buscamos os clássicos em momentos de crise (não importa de que tipo), e eles têm a capacidade de nos revelar outras dimensões de nossa existência coletiva e/ou individual.
O Clássico muda? Certamente que não! Mudamos nós, por isso a necessidade de voltarmos a eles sempre que necessário. Essa discussão justifica-se para que fale de um dos principais clássicos do Brasil: Chico Buarque de Holanda.
Chico reencarna Pixinguinha, Lupicínio Rodrigues, Nelson Cavaquinho, Cartola, Ari Barroso, Dorival Caymmi, etc, com todo o seu virtuosismo letrístico e musical. Ele soube recolher elementos no que de melhor tivemos na música, desde os chorões e Chiquinha Gonzaga, passando por Villa Lobos, até Vínicius de Morais e Tom Jobim e converter isso tudo numa produção inovadora e bem estruturada.
Chico é por tudo que consegue representar e por ele mesmo, o maior letrista da MPB. Diria que ele é um verdadeiro caçador de palavras, um arqueólogo dos grandes achados lingüísticos. Ninguém como ele para, com as palavras certas, dizer as coisas corretas. Quando ele diz: “ ... amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita”, quer dizer que não importa o que seja a mulher, ele a ama e todas as questões se encerram. Quando ele diz “... desfruta do meu corpo, como se o meu corpo fosse a sua casa”, singulariza uma relação sexual! Ele foge do óbvio e nos força a buscar conhecer as coisas. Quem mais usaria gelosia ao invés de janela?
Chico Buarque consegue antever as conjunturas – antes de a ecologia virar moda e chavão na boca de nossa intelectualidade desavisada, ele já praticava o ativismo verde. Em “Os homens vão chegar” manda os passarinhos tomarem cuidado com os desatinos do homem em relação à natureza.
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
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