segunda-feira, 29 de setembro de 2008

HABEMUS PREFEITO?

“Habemus Papam” é o anuncio da eleição de um novo papa. Segundo pesquisa CONSULT, publicada neste domingo, habemus prefeito em Campina Grande! Veneziano será reeleito no 1º turno. A interrogação dá-se por que eleições, como jogos de futebol, só acabam ao terminarem. E, em uma semana, tudo pode acontecer.

Mas, a análise é feita pelo que a realidade apresenta e pelos dados quantitativos das pesquisas. Ela utiliza-se da movimentação político-eleitoral sem considerar os interesses, paixões e quereres dos envolvidos na contenda. Por isso, o cenário que dá a vitória ao prefeito Veneziano é factível. Do contrário, teria que desconsiderar conceitos e ferramentas metodológicas à disposição do cientista político e um padrão de regularidade que ocorre desde o início da campanha.

Pelos dados de hoje, Veneziano Vital tem 49,65% e Rômulo Gouveia 40,35%. Érico Feitosa e Sizenando Leal aparecem com 0,59% e 0,35% respectivamente. Já os indecisos somam 7,06% e brancos/nulos 2%. Ignoremos estes dois últimos percentuais já que eles não são considerados no cômputo final. Inclusive, discordo dessa regra, pois votar nulo ou branco não deixa de ser uma postura política que deveria ser respeitada já que, suponho, estamos tratando de escolher democraticamente.

Desprezando o que não deveríamos, temos Veneziano com 54,6% e Rômulo com 44,37% dos votos válidos. Se somarmos os percentuais de Érico (0,65%) e Sizenando (0,38%) ao de Rômulo chegamos a 45,4%, i.e., insuficiente para levar a disputa ao 2° turno.

Para tanto, necessário será que Rômulo, Érico e Sizenando perfaçam um valor maior ao de Veneziano. Algo difícil se considerarmos o padrão de regularidade que favorece o prefeito.

Apesar das variações, a média da diferença pró-Veneziano, em 3 consultas, foi de 10,75%. Em 03/08 ele tinha 46,3%, contra 37,08% de Rômulo. Em 19/08 eram 49,65% contra 35,9%. Chegamos à menor diferença até agora (9,3%), mas ainda há tempo para uma reação suficientemente forte que nos leve ao 2º turno? Amparado neste estado de coisas, diria que não. Mas, a realidade demonstra, também, casos de “viradas” espetaculares na última semana da campanha. E a mínima diferença entre Veneziano e Rômulo na eleição de 2004 não deve, ainda, ser menosprezada.

Corrobora a isso o fato de que nesta última pesquisa, como em outras, o índice de rejeição de Rômulo Gouveia é o maior. Enquanto 29,41% dos entrevistados disseram que não votariam de maneira alguma no deputado federal, 22,94% fizeram a mesma afirmação em relação a Veneziano. Mais, se aplicarmos a última margem de erro (3,3% para mais ou para menos) aos percentuais por ora apresentados ainda assim teremos uma diferença, milimétrica, que favorece a Veneziano.

Claro, este é um aspecto a que Rômulo deverá se apegar para enfrentar esta última semana. A tática, não de todo errada, de explorar exaustivamente as denúncias feitas pelo Ministério Público contra Veneziano se mostram necessárias, porém não suficientes, para diminuir a persistente diferença.

Teremos, ainda, debates e a julgar pelo que vimos, os candidatos vão utilizar todos os minutos disponíveis para maximizarem lucros e minimizarem perdas. E o presidente Lula continuará a ter presença garantida nesta eleição como cabo eleitoral do prefeito, coisa que, diga-se, não pode ser menospreza como demonstrei no meu último artigo nesta coluna.

As palavras do momento são prudência para quem está na frente, e não pode perder nada, e ousadia, para quem está atrás e precisa ganhar mais pontos.


PS: A despeito do que pensam e querem os juízes eleitorais e mesmo o discurso (falso moralista) disseminado contra a tal “baixaria” entre os candidatos, tivemos alguns debates (no rádio e na TV) em que os quatro postulantes a prefeitura de Campina Grande aceitaram o confronto aberto. Isso é ruim? Obviamente que não! Os eleitores precisam ver os candidatos por inteiro, e não apenas “protegidos” pelo manto da ilha de edição que o guia eleitoral propicia. Que venham mais debates e que se estabeleça o confronto democrático e civilizado, óbvio. O que efetivamente dá parâmetro para que o eleitor faça suas escolhas são os debates na mídia. As infernais passeatas, estas sim inexplicavelmente permitidas, de final de tarde não ajudam em nada, a não ser em conseguir piorar o que já é tão conturbado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Gilbergues,

Lendo suas considerações a respeito do quadro eleitoral em Campina Grande, a despeito da clareza da abordagem como um todo, fiquei sem compreender o que nos levaria a aceitar como forma de manifestação política o voto nulo/branco. Entendo que o eleitor que opta por essa postura está se colocando à margem do processo político, isto é, não deseja ser um agente ativo. Vota por imposição da lei, posto que se a legislação não o obrigasse, ele se absteria de votar tal qual os ausentes em trânsito. Esta me parece ser a lógica de um cidadão que "vota se abstendo". Sendo assim, em um eventual segundo turno os mesmos votos brancos/nulos, ou quase todos, se apresentariam novamente e sem contribuir para uma definição da maioria simples do conjunto dos cidadãos votantes, inclusive se seus votos fossem computados no segundo turno. Neste caso poderíamos ter uma eleição indefinida para além dos tempos!! porque dentro dessa lógica de aceitação dos brancos/nulos, certamente teríamos que aceitá-los para o segundo turno novamente.

Um forte abraço,

Pedro Leoncio de Castro Neto

Anônimo disse...

Caro pedro
Saíndo um pouco do formalismo institucional, penso que por uma definição democrática as manifestações dos que não consideram os candidatos apresentados como aptos para exercerem cargos públicos deveriam serem considerados tanto quanto aqueles que votaram muitas vezes sem bem saberem o por que daquele voto.
O voto nulo é uma manifestação clara da insatisfação, é exatamente aquele que não quer ficar a margem, mas também não quer votar em qualquer um.
Imagine um cenário em que a maioria simples cravasse nulo, afirmando não querer os candidatos apresentados? Neste caso, nossa democracia de meros procedimentos iria ter que se auto-repensar de cima a baixo.