Começo este DO QUE AINDA POSSO FALAR lembrando que Tom Jobim, o “maestro
soberano” de Chico Buarque (e meu também), gostava de dizer que o “Brasil não é
para principiantes”. E eu diria mais, não é para veteranos, muito menos para
principiantes. Mas, por que estou dizendo isso? É que os deuses do olimpo, também conhecidos como ministros do STF,
querem aplicar a Lei de Segurança Nacional sobre Sara Giromini e seus
comparsas, e sobre a quadrilha bolsonarista que age nas redes sociais
espalhando fake news. O STF quer enquadrar
na LSN os que participaram de manifestações pedindo o fim das Instituições e
dos Procedimentos democráticos. Quem pediu golpe de Estado, intervenção
militar, AI-5 ou atirou bombas no STF pode vir a ser punido com os rigores da
lei. Tomara! A mãe de todos os paradoxos é que a lei que servia para punir a esquerda,
que lutava contra a ditadura militar, é hoje usada para enquadrar a extrema
direita que pede o fechamento do Congresso e do STF. De fato, o Brasil não é
para principiantes! O Brasil é tão desprovido de sensatez que o mesmo instrumento coercitivo
pode servir tanto para punir quem é favor da democracia quanto quem é contra. A
LSN, criada por uma ditadura, segue presente em nosso ordenamento jurídico,
assim como o Art. 142, por isso a chamo de entulho autoritário. A milícia bolsonarista, que toca fogo nos vestígios de democracia que
ainda temos, pode vir a ser enquadrada pela lei que ela mesma tanto pede para
ser usado contra a sociedade brasileira. Pois é, quem com entulho autoritário
fere, com entulho autoritário será ferido!
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
sexta-feira, 26 de junho de 2020
quarta-feira, 24 de junho de 2020
Artigo 142: uma arma que ainda será usada
Agora, no DO QUE AINDA POSSO FALAR, comentarei o fato da deputada
federal Carla Zambelli, do PSL, ter dito que “Bolsonaro pode usar o Artigo 142
da Constituição contra o STF e o Congresso”. Isso me faz lembrar Millôr Fernandes que dizia que “no Brasil, o fundo
do poço é só uma etapa”. E eu, se pudesse, acrescentaria que o fundo do poço é
apenas uma etapa rumo ao desconhecido e obscuro mundo onde imperam forças
malignas. Zambelli, que cuidava da fila do banheiro no acampamento da extrema direita
na Av. Paulista, disse que chegou a hora de usar o Art. 142 e intervir. Alguma
surpresa? Claro que não, pois estamos numa escalada autoritária. E já é hora de lembrar que o Art. 142 não é peça decorativa na
Constituição. Ele foi colocado lá para ser usado na hora certa. Costumo dizer
que o Art. 142 é como um revólver velho que se guarda no fundo de uma gaveta, a
oportunidade para usá-lo aparecerá um dia. O Art. 142, assim como a Lei da Anistia, é uma das exigências das Forças
Armadas para que se pusesse fim a ditadura militar. No mundo inteiro, ele é um
caso raro, pois dá aos militares direitos constitucionais para intervirem na
ordem política e social do país. Quando a deputada do ódio, Carla Zambelli, pediu sua utilização estava na
verdade explorando o requinte da crueldade que é se usar um procedimento
democrático, ou seja a própria Constituição, para se pôr fim a democracia, ou o
que dela sobrou. A Constituição Cidadã manteve prerrogativas que os militares só poderiam
ter na ditadura. Com a interpretação, falsa ou não, de que a ordem política e
social está sendo ameaçada, eles podem dar um golpe respaldados na Constituição.
Foi isso tudo que a execrável Carla Zambelli quis dizer, ela apenas não sabia
como.
segunda-feira, 22 de junho de 2020
Reabrindo o que nunca fechou
Começo este DO QUE AINDA POSSO FALAR lembrando do dia em que o prefeito
bolsonarista de Campina Grande anunciou a reabertura do comércio a partir da 2ª
feira - 15 de junho. Ou seja, mandou reabrir o que nunca fechou. Na 6ª feira, 12 de junho, o Brasil registrava 42.720 mortes, por causa
do COVID-19, além de 850 mil pessoas contagiadas. Mas, o prefeito, amigo de
Bolsonaro, insistia na abertura do comércio para fazer os gostos de
comerciantes, que ficam isolados, enquanto seus empregados se contaminam. Vejamos a prova da insensatez do prefeito. No dia 15 de maio,
tínhamos em Campina Grande 261 casos. 15 dias depois já eram 1.483 casos. Em 15
de junho, no dia da reabertura do comércio, atingimos 4.297 casos. Em um mês
tivemos 4.036 casos, mas o prefeito, íntimo do presidente fascista, só pensava
em movimentar vendas por causa de um São João que não vai ter. Estranho, não é? Em Campina Grande temos pouquíssimos leitos e respiradores para tratar
as pessoas com o COVID-19, mas o prefeito (que proibiu de se falar em gênero,
política e religião nas escolas) reabre aquilo que não fechou. Ao mesmo tempo
em que mandava fechar o comércio nada fazia para que a determinação fosse
cumprida. Não havia fiscalização! O Portal G1 trouxe levantamento da plataforma Farol Covid mostrando que
o “ritmo de contágio” desacelerou nas capitais e aumentou no interior entre
maio e junho. Campina Grande aparece entre as 10 cidades com maior taxa de
crescimento de casos e com maior taxa no ritmo de transmissão. Pudera, os
campinenses agem como se a pandemia não tivesse subido a Serra da Borborema. O vírus se alastrou em Campina porque o comércio funcionou sempre,
enquanto a frota de transporte público era reduzida pondo a população em perigo
dentro dos coletivos. Além disso houve um “minilockdown”, sem qualquer
planejamento, que serviu apenas para concentrar parte considerável da população,
no centro da cidade, nos dias seguintes. O Farol Covid mostra que cada infectado em Campina Grande pode
transmitir a doença para 1 ou 2 pessoa. Tem como se evitar? Sim, claro que sim,
mas para isso teríamos que ter uma administração municipal comprometida com o
bem estar da população e não com os lucros dos comerciantes locais.
terça-feira, 16 de junho de 2020
Por que não sinto falta do São João?
Agora, no DO QUE AINDA POSSO FALAR,
comentarei sobre postagens lamentando que o São João estaria começando se não
estivéssemos enfrentando a pandemia. O JPB, da TV Paraíba, fez uma matéria
sobre isso, num Parque do Povo vazio, claro, que tinha até um jornalista com
chapéu de palha e um trio de forró tocando para ninguém!
O São João é importante, mas podemos
viver sem ele. Dito de outra forma, não teremos São João este ano para
sobrevivermos ao coronavirus. Além disso, não posso ficar me lamuriando por
estar sem São João, ou sem futebol para ver na TV, enquanto pessoas morrem
fulminadas pelo COVID-19.
Estou me colocando no lugar das famílias
que perderam entes queridos para o vírus. Como será que elas se sentem vendo
pessoas mais preocupadas com uma festa, com as tais “lives”, com fogueiras
virtuais? No momento, é preciso ter claro que essas coisas são meras
futilidades.
Além disso, não sinto falta desse São
João de plástico, “camarotizado”, ajustado aos interesses do mercado
fonográfico e dos grupos políticos locais, que veem na cultura popular uma
ameaça. Sendo sincero, sinto até algum alívio em saber que este ano não vamos
ter “sofrências sertanejadas” no Parque do Povo.
Do que sinto falta é do São João do
“pé-de-serra” que não mais existe. Lamento não termos mais nossa festa popular,
implodida por administrações municipais descomprometidas com nossa cultura.
Sinto falta do Parque do Povo de palha. Desse Parque do Povo de plástico sinto
desprezo.
domingo, 14 de junho de 2020
40 DISCOS QUE FIZERAM MINHA CABEÇA (para ouvir na quarentena)
Para fazer esta seleção pensei numa “fórmula mágica” para evitar as dificuldades
que só quem se mete a fazer as tais “listas dos melhores” enfrenta. Para não
ter que arcar com o ônus da escolha/seleção, pensei em colocar todos os discos
dos Beatles e pincelar com mais alguns de Pink Floyd & Rolling Stones,
Chico, Caetano & Gil. Mas, seria muito casuísmo de minha parte! Assim,
apresento a lista dos 40 discos que fizeram minha cabeça que servem para ouvir
a qualquer hora, em qualquer lugar, não apenas na quarentena. Como diria
Belchior, “não quero te falar das coisas que aprendi nos discos”, apesar de que
estes aqui me ensinaram muito.
A lista vem com um bônus +20, que são os que deveriam estar na lista dos
“40 discos”, mas assim teria que retirar e colocar, colocar e retirar, enfim...02 - “Abbey Road” - The Beatles (1969)
03 - “Boca Livre” - Boca Livre (1979)
04 - “Highway 61 Revisited” - Bob Dylan (1965)
05 - “The Freewheelin” - Bob Dylan (1963)
06 - “Ópera do Malandro” - Chico Buarque (1979)
07 - “Double Fantasy” - John Lenno/Yoko Ono (1980)
08 - “Milk and Honey” - John Lenno/Yoko Ono (1984)
09 - “The Concert in Central Park” - Simon & Garfunkel (1982)
10 - “Pet Sounds” - The Beach Boys (1966)
11 - “Atom Heart Mother” - Pink Floyd (1970)
12 - “Electric Ladyland” - The Jimi Hendrix Experience (1968)
13 - “Rattle and Hum” - U2 (1988)
14 - “Brothers in Arms” - Dire Straits (1985)
15 - “Cabeça de Dinossauro” - Titãs (1986)
16 - “Getz/Gilberto” - João Gilberto, Stan Getz e Tom Jobim (1964)
17 - “Then and Now” - The Who (1964-2004)
18 - “90125” - Yes - (1990)
19 - “Hoje” - Paralamas do Sucesso (2005)
20 - “Some Girls” - Rolling Stones (1978)
21 - “Exile on Main Street” - Rolling Stones (1972)
22 - “Balada do asfalto & Outros Blues – Zeca Baleiro (2005)
23 - “Revolver” - The Beatles (1966)
24 - “Alucinação” - Belchior (1976)
25 - “Era uma vez um home e seu tempo” - Belchior (1979)
26 - “Meus caros amigos” - Chico Buarque (1976)
27 - “Cinema Paradiso” - Ennio Morricone (1989)
28 - “Antônio Brasileiro” - Tom Jobim (1994)
29 - “Kind of Blues” - Miles Davis (1959)
30 - “Back to Black” - Amy Winehouse (2006)
31 - “Band on the Run” - Paul McCartney & Wings (1973)
32 - "All Things Must Pass" - George Harrisson (1970)
33 - “O descobrimento do Brasil” - Legião Urbana (1933)34 - “Luz” - Djavan (1982)
35 - “Led Zeppelin IV” - Led Zeppelin (1971)
36 - “Tropicália ou Panis et Circencis” - Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé (1968)
37 - “A Night at the Opera” - Queen (1975)
38 - “The Doors” - The Doors (1967)
39 - “461 Ocean Boulevard” - Eric Clapton (1974)
40 - “Cavalo de Pau” - Alceu Valença (1982)
41 - “The Beatles (White Album) - The Beatles (1968)
42 - “Jobim Sinfônico” - Paulo Jobim/Mario Adnet (2002)
43 - "Um banda um" Gilberto Gil (1982)
44 - “Cores, Nomes” - Caetano Veloso (1982)45 - “In The Mood!” - Glenn Miller (1943)
46 - “Achtung Baby” - U2 (1990)
47 - “Osvaldo Montenegro” - Osvaldo Montenegro (1980)
48 - “Clube da Esquina” - Milton Nascimento & Lô Borges (1972)
49 - “Fa-Tal - Gal a Todo Vapor!” - Gal Costa (1971)
50 - “Pérola Negra” - Luiz Melodia (1973)
51 - “Birth of the Cool” - Miles Davis (1957)
52 - “Revoluções por Minuto” - RPM (1985)
53 - “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” - The Beatles (1967)
54 - “The Velvet Underground & Nico” – The Velvet Underground (1967)
55 - “Barcelona” - Freddie Mercury e Montserrat Caballé (1988)
56 - “Money Jungle” - Duke Ellington, Charlie Mingus & Max Roach (2002)
57 - “Little Creatures” - Talking Heads (1985)
58 - “Aquarela do Brasil” - Gal Costa (1980)
59 - “Mais” - Marisa Monte (1991)
60 - “Outras Coisas” - Leila Pinheiro (1991)
sábado, 13 de junho de 2020
Por que não assino manifestos
Agora, no DO QUE AINDA POSSO FALAR, comentarei sobre manifestos que
dizem para “deixar de lado velhas disputas”. Lutar por vida, democracia,
igualdade e liberdade é disputa velha? Falam que esquerda e direita devem ser
unir pelo bem comum. Mas, qual? O do povo ou o da elite, pois o que existe
mesmo são as classes sociais e seus interesses.
Porque divulgar manifesto assinado por Luciano Huck, FHC, Lobão, Alice
Setubal (do Banco Itaú) e toda gente que se "solidarizou" com Aécio
Neves, quando ele se recusou aceitar o resultado das urnas de 2014, que apoiou
o golpe de 2016, que votou em Bolsonaro em 2018 “para tirar o PT”?
Estranho ver essa gente “preocupada com a democracia brasileira”, quando
em 2019 ela mesma silenciou diante da escalada fascista. “Deixar de lado as
diferenças e lutar pelo bem comum” termina sempre do mesmo jeito, com a
esquerda sendo reprimida, presa, torturada e morta.
Para tirar a esquerda, que fazia reformas e promovia desenvolvimento
social, do poder essa gente promoveu um golpe de Estado, com direito a Lava
Jato, e elegeu um fascista. Mas, para tirar esse fascista do poder, que quer
mandar só, sem a elite, lançam “manifesto em defesa da democracia”. Estranho,
não?!
Não posso “assinar” manifestos junto com a direita pois é ela que sempre
dá os golpes de Estado no Brasil. Não votei em Haddad, em 2018, para agora me
juntar com os que votaram em Bolsonaro. É uma questão de coerência política e
ideológica! É uma questão de resistência e, por que não, de sobrevivência!
quinta-feira, 11 de junho de 2020
A Frente Ampla da Globo
Começo este DO QUE AINDA POSSO FALAR lembrando que o imprescindível Leonel Brizola dizia para sempre desconfiarmos das intenções da Rede Globo. Brizola dizia para se suspeitar da Globo até quando ela está sendo boazinha. Mas, por que lembrei disso?
É que baixou um “santo democrático” na “vênus platinada”. Pois não é que
a Globo, que reconhecidamente defendeu o golpe de 1964 e a ditadura militar, a
mesma Globo que apoiou o golpe de 2016 e que promoveu a Lava Jato, teve a
pachorra de lançar uma "frente ampla" contra Bolsonaro?!
Os irmãos Marinho puseram Miriam Leitão lá na Globo News, num debate com
três arautos da democracia liberal: Marina Silva, Ciro Gomes e FHC. A ideia é
promover uma “frente ampla” contra Bolsonaro e a favor da democracia, que essa
gente tanto despreza. A deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi
Hoffmann, disse que foi “a nata do antipetismo entrevistada pela campeã do
mercado”. E foi desse jeito mesmo!
Além da desfaçatez de ver a árvore defender o machado, "esqueceram”
de chamar Fernando Haddad, do PT, ou Guilherme Boulos, do PSOL - legítimos
representantes da esquerda que lutou e luta contra a ascensão do fascismo. E é
preciso lembrar que Haddad não foi para Paris, após a derrota no 2º turno da
eleição em 2018, ele ficou aqui e enfrentou os inimigos da democracia.
Considerando o resultado do 1º turno de 2018, essa gente não tem a menor
legitimidade para liderar essa tal “frente ampla” articulada por uma emissora
acostumada a apoiar golpes. Ciro, Marina e Alckmin (do PSDB) tiveram, juntos,
18,23% dos votos válidos, enquanto só Haddad teve 29,28%.
Qual a representatividade dessa “frente ampla” que junta alhos e
bagulhos? Por que ela não dá espaço para a esquerda? Se a proposta é ser contra
Bolsonaro porque os que o enfrentam de verdade não foram chamados? Tinha mesmo
razão o velho Brizola, é para se desconfiar!
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