Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
Não tenho mais dúvidas. O Haiti é mesmo aqui!
Hoje o Site TERRA publicou uma foto mostrando que Soldados do Exército ocuparam o Morro da Providência, no centro do Rio de Janeiro, para fazer obras de revitalização nas moradias. Informou, também, que em março do ano passado, quando o Exército entrou pela primeira vez no morro, houve troca de tiros e um estudante morreu.
Em Maio passado publiquei um artigo em minha coluna do Paraíba Online motivado por uma foto que fora estampada no Jornal Folha de São Paulo que retratava uma cena surrealista: enquanto um grupo de moradores joga carteado tranquilamente, soldados patrulham a área em um tanque de guerra. O primeiro pensamento que tive quando vi a manchete foi: “o que poderia representar a normalidade nesta foto?” e fiquei imaginando se seria possível retirar dela um padrão de regularidade para a atual conjuntura em que vivemos?
Já o Jornal O Estado de São Paulo publicou, também hoje, a seguinte matéria:
Exército ocupa morro do centro Rio e promete ficar por um ano - General que atuou no Haiti chefia operação, que tem 'caráter social', segundo Comando Militar. Por Pedro Dantas.
Pelo menos 200 homens do Exército, incluindo muitos ex-integrantes da Missão de Paz no Haiti, ocuparam ontem o Morro da Providência, no Centro do Rio. E para ficar. O plano dos militares é permanecer um ano na favela. Comandados pelo general Williams Soares, da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada, que também esteve no Haiti, os militares estão oficialmente encarregados de recuperar fachadas de 780 casas - umas das metas do projeto Cimento Social, do senador Marcelo Crivella (PRB), com verba do Ministério das Cidades. 'Não é uma operação para garantia da lei e da ordem', disse o chefe de Comunicação Social do Comando Militar do Leste (CML), coronel Carlos Barcelos. 'É de caráter social. Nossa tropa está aqui para dar segurança ao canteiro de obras, ao material, às instalações e ao maquinário empregados na obra.' Ontem, antes dos militares, entraram no morro 40 homens dos batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Choque da Polícia Militar. Ao ser questionado sobre o tráfico no morro, o coronel disse que 'não há como conviver com esse tipo de ilícito', mas ressaltou que, para combater o crime, 'contamos com os órgãos responsáveis pela segurança pública'. Militares, engenheiros e moradores devem se reunir hoje para debater o projeto. Ontem, enquanto os pesados veículos do Exército eram manobrados, moradores reclamavam da ocupação da única quadra esportiva da comunidade e perguntavam se o Exército permitirá bailes funk e contratará moradores nas obras. Militares esclareceram que contratações devem ocorrer apenas no ano que vem, mas haverá uma série de ações sociais na favela. O diretor do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, Ronaldo Leão, avalia que a ocupação da Providência é idêntica ao trabalho do Exército na Missão de Paz da ONU. 'Como no Haiti, o Morro da Providência precisa de tudo. Bem-intencionado, o Exército acha que consertar casas pode melhorar a situação, mas o que resolverá é a absorção da comunidade pelo Estado, com a chegada do poder público com médicos, engenheiros e professores.' Leão ressalta que, assim como nas favelas do Haiti, o Exército entrou na Providência com armas pesadas e promessas de ações sociais, mas ressaltou que a topografia das favelas cariocas é diferente das do Haiti. Em maio, o coronel Cláudio Barroso Magno Filho, comandante das tropas brasileiras na Missão do Haiti, admitiu ao Estado que 'conceitos estratégicos usados naquele país são semelhantes às propostas visualizadas para o Rio, particularmente a integração das ações e dos órgãos envolvidos em todos os níveis'. 'Tudo o que fizemos aqui foi planejado para lá.' Após expulsar gangues de Cité Soleil - bairro violento de Porto Príncipe -, o Exército brasileiro investiu em ações sociais. Como distribuição de água, comida e kits escolares, perfuração de poços, asfaltamento de ruas e atendimento médico e odontológico gratuito. Na sede das tropas, 34 crianças estudam línguas e informática e têm atividades esportivas.
Quando publiquei o tal artigo, desenha um cenário sobre o estado de coisas em que vivemos. Discutia que a nossa democracia não está consolidada, pois aqueles que deveriam submeter-se ao controle civil (os militares)utilizavam-se de prerrogativas vindas do períoda da ditadura para atuar na segurança pública do Brasil. Os fatos que vemos nos jornais de hoje só demonstram isto. Infelizmente, eu estava certo!
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