Já defendi que a população, das camadas mais baixas principalmente, não gosta de música clássica pelo fato de não poder ouví-la, já que os meios de comunicação de massa não as tocam. Minha tese parece cair por terra, mediante o que a reportagem abaixo demonstra.
Em um artigo intitulado “Quem me valha Chico Buarque”, publicado aqui mesmo, defendia que Pagode, Axé-Music, Forró Eletrônico, Funk e outras “comercialiadades” fazem sucesso porque o povo escuta o que lhe é imposto, por causa de baixos níveis educacionais, etc, etc, etc.
Questionava porque não tocar nas rádios MPB, Jazz, Blues, Música Clássica e deixar as pessoas escolherem o que querem escutar. Porque não “impor” ao povo Tom Jobim, Elis Regina, Djavan, Leila Pinheiro, Beatles, Ray Charles, Miles Davis, etc? Por fim dizia, se o povão não sabe escolher, então que eles sejam "obrigados" a ouvirem nas rádios Mozart, Beethoven e Tchaikovsky.
Para meu inteiro desapontamento, foi oferecido música clássica ao povo e eles a rechaçaram.
O que fazer? Insistir? O aceitar que música clássica é mesmo algo restrito a pequenos grupos?
Folha de São Paulo – 20/07/2008.
WILLIAN VIEIRADA
Cinco pessoas dormem às 15h de uma quarta, embaladas pelo sol dourado que entra pelos vidros; pela brisa do ar-condicionado e mais ainda pelos violinos de Vivaldi que emanam dos alto-falantes. O cenário ganharia um ar europeu, não fosse o cheiro de esgoto do rio Pinheiros, que se vê pela janela, na maior parte da viagem do Grajaú, zona sul de São Paulo, até Osasco, seguindo nos trens, esses sim europeus, da linha 9.
"A CPTM deseja a todos uma boa viagem", anuncia o maquinista, antes que o trem comece a deslizar, seguido pelo início imediato da música, dessa vez uma valsa de Chopin num volume um pouco mais baixo; que "ajuda no sono, ô se ajuda", diz o porteiro Carlos Pereira Santos.
Pois nem todos estão contentes com a música. De janeiro a junho deste ano, o serviço de atendimento ao usuário da CPTM registrou 66 reclamações especificamente por causa da música. "Os caras vão na cabine xingar a gente, perguntando se não dá pra trocar a música", disse um maquinista.
Com seu fone de ouvido, a zeladora Maria de Lourdes Rodrigues, 50, se previne com sertanejo. "A do trem é uma música chatinha, xarope mesmo", diz. A estagiária Meirilane Clara Santos, 21, também prefere a música do seu fone de ouvido.Daniel Santos, 39, até gosta da música no trem, mas faz uma ressalva: "Podia ter música popular que a gente entendesse, e cantada -porque só tocada não dá para as pessoas acompanharem".
Mal sabe ele que a chance de aparecerem cantores de axé e pagode são remotas, desde que o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) descobriu que os trens da linha 9 tocam (desde 1998) músicas diversas (axé, MPB, pagode, tudo) sem pagar direitos autorais. A CPTM foi multada em R$ 122.815 e os trens ficaram sem música de 2005 a 2007, quando a empresa voltou a sonorizar a linha 9, mas com "tudo regular", diz a assessora da presidência da CPTM, Ana Cândida Sammarco.
Desde então, o repertório se restringe a "coleções completas dos maiores compositores da música clássica, como Mozart, Bach, Vivaldi e outros". Segundo Sammarco, a clássica foi escolhida por ser o estilo "mais ambiente possível, que irritasse o menos possível".
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
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