sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

PRÊMIO ISTO É (uma merda) 2016.


A Revista Isto É homenageou o que considera como “Brasileiros do Ano”. A premiação foi “dedicada aos que tiveram destaque em 2016” e foi muito comentada pelas imagens em que Sérgio Moro e Aécio Neves são vistos em uma conversa para lá de descontraída, enquanto Michel Temer, José Serra, Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin pensam no tédio de seus podres poderes. Em meus delírios imaginei uma situação em que se entregaria o Prêmio ISTO É (uma merda) para aqueles que não poderiam jamais receber seja lá que prêmio for. Abaixo, relação dos premiados com as respectivas justificativas.


Prêmio ISTO É (uma merda) de presidente golpista do ano: MICHEL TEMER, o Usurpador-Mor da República Bananeira do Brasil.

Prêmio ISTO É (uma merda) de delação premiada do ano: CLÁUDIO MELO FILHO, ex-executivo da Odebrecht, que revelou como o cafetão-mor da República, Michel Temer, agenciou a bagatela de R$ 10 Milhões para o PMDB.

Prêmio ISTO É (uma merda) de conversa gravada do ano: ROMERO JUCÁ, que confessou por que o impeachment da presidente Dilma: “Tem que resolver essa porra (...) tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria. Só o Renan que está contra essa porra, porque não gosta do Michel, porque Michel é Eduardo Cunha (...) gente, esquece o Cunha, ele está morto, porra”.

Prêmio ISTO É (uma merda) de político supersincero do ano: ROMERO JUCÁ, pelo teor da conversa acima, porra!

 Prêmio ISTO É (uma merda) de político mais burro do ano: EDUARDO CUNHA, que fez o serviço sujo para os golpistas e ganhou uma cela na Polícia Federal de Curitiba como prêmio.

Prêmio ISTO É (uma merda) de políticos mais bem protegidos pela imprensa e pela justiça: AÉCIO NEVES, FHC e JOSÉ SERRA, que seguem lépidos e fagueiros para o alto e além...

Prêmio ISTO É (uma merda) de papagaio de pirata do ano: presidente da Câmara dos Deputados RODRIGO MAIA que se contenta alegremente em posar às costas do usurpador-mor da República Bananeira do Brasil.

Prêmio ISTO É (uma merda) de casal do ano: SÉRGIO CABRAL e ADRIANA ANSELMO que levam a sério a história de “prometo estar contigo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza” e na prisão, claro.

Prêmio ISTO É (uma merda) de tribunal que menos protegeu a constituição: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL que de tanto rasgar páginas e artigos de nossa constituição ainda vai reduzi-la a um simples manual de instrução.
 
Prêmio ISTO É (uma merda) de ditador/juiz do ano: IL DUCE MORO, aquele que manda prender os inimigos de seus íntimos amigos baseado em convicções.

Prêmio ISTO É (uma merda) de apresentação em Power Point do ano: DELTAN DALLAGNOL que não estuda as Leis, pois para prender Lula basta ter convicção.

Prêmio ISTO É (uma merda) de pastor do ano: JIM MALAFAIA JONES, o pastor preferido de Mister Devil.

Prêmio ISTO É (uma merda) de prática mais autoritária, reacionária, homofóbica, racista, misógina, golpista do ano: JAIR BRILHANTE USTRA BOLSONARO, que é o que é, dispensa comentários.

Prêmio ISTO É (uma merda) de criatura mais reaccionariamente alucinada do ano: JANAÍNA PASCHOAL que não irá à entrega do prêmio devido a sua devastada senilidade mental.

Prêmio ISTO É (uma merda) de nocivo útil do ano KIM KATAGUIRI que acredita nas boas intensões do PSDB e que ainda vai ser presidente da República Bananeira do Brasil.



Prêmio ISTO É (uma merda) de movimento politico mais coxinha do ano: MOVIMENTO BRASIL LIVRE, que acredita que a bandeira do Japão é um símbolo do comunismo internacional.

Prêmio ISTO É (uma merda) de atrizes mais coxinhas do ano: SUZANA VIEIRA e REGINA DUARTE que usam camiseta preto-fascista por baixo de uma blusa verde-amarelo-piegas.

Prêmio ISTO É (uma merda) de coxinha mais envergonhado e escondido do ano: LOBÃO que ninguém viu, ninguém sabe e muito menos ouve.

Prêmio ISTO É (uma merda) de jornalista chapa branca do ano: houve empate entre ELIANE CANTANHÊDE, RICARDO NOBLAT e WILLIAM BONNER.

Prêmio ISTO É (uma merda) de revista semanal mais chapa branca do ano: REVISTA ISTO É. O prêmio é mais do que merecido, pois a ISTO É conseguiu a proeza de ser pior que a VEJA.

Não houve Prêmio ISTO É (uma merda) de emissora golpista do ano, pois a REDE GLOBO DE TELEVISÃO é hors concours nesse quesito.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Jornada de Estudos Marxistas da UEPB




A I Jornada de Estudos Marxistas da UEPB, promovida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Filosofia e Filosofia Marxista (NEPEFIL – Karl Marx), será realizada na Central de Integração Acadêmica da Universidade Estadual da Paraíba, no Campus I, em Campina Grande-PB (CIAc/UEPB), entre os dias 13 e 15 de dezembro de 2016. Esta primeira edição do evento tem como tema “EM TORNO DE MARX”.

Não queremos fechar a temática em torno de eixos, mas abrir a possibilidade de que tudo pode e deve ser analisado a partir do pensamento marxiano e marxista. Para isto, estamos aceitando resumos com no mínimo de 2000 e no máximo 3000 caracteres, incluindo espaços. Cada participante poderá ser autor de dois e coautor de mais dois resumos. A Programação com os palestrantes e minicursos pode ser vista no quadro abaixo.



Em um quadro de acirramento das contradições em nosso país e em que, em nível acadêmico, o marxismo é constantemente atacado o nosso objetivo é proporcionar um espaço para debates sobre temas relacionados ao pensamento de Marx e de teóricos do Marxismo para que docentes, estudantes de graduação e pós-graduação que desenvolvem pesquisas nesta área possam apresentá-las.

Organização: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Filosofia e Filosofia Marxista (NEPEFIL – Karl Marx), Comissão Organizadora: Prof. Dr. Valmir Pereira (Departamento de Filosofia/UEPB) Prof. Doutorando André Ricardo Dias Santos – IFPE) Profª. Ma. Aliceane de Almeida Vieira (Departamento de Serviço Social/UEPB) Prof. Me. Janduí Evangelista de Oliveira (Departamento de Filosofia/UEPB).

http://ijornadamarxistauepb.blogspot.com.br/

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

“UM CONVITE A UTOPIA”


“Vamos Utopiar?” Esse é o convite (eu diria uma convocação) que nos fazem os editores do Projeto “UM CONVITE A UTOPIA”. Cidoval Moraes, que organiza o primeiro volume e é um dos seus editores, nos diz: “Há quase um ano fiz um convite a todos para uma insurgência – “Utopiar”. O convite permanece aberto, com uma novidade: já temos o primeiro produto das reações que recebemos de insurgentes de diferentes lugares, e que tenho a alegria de compartilhar com vocês”.

Para celebrar o surgimento de tão interessante produto coletivo, teremos seu lançamento oficial na Paraíba no próximo dia 04/11/2016 (sexta-feira) no auditório da Biblioteca Central da Universidade Estadual da Paraíba, no Campus de Campina Grande, às 14 horas. O lançamento do Projeto Convite à Utopia contará com uma palestra do professor Adalmir Leonídio (USP), um dos autores do Volume 1. O tema da palestra será “Utopias para um mundo melhor”.

O projeto foi concebido para acesso público e gratuito. Por esta razão, este convite segue acompanhado de uma tarefa que os editores nos atribuem: o compartilhamento do texto para leitura crítica e discussão com pessoas, grupos, redes, movimentos que possam nos ajudar a disseminar o espírito “Utopiar”.




Abaixo temos uma nota técnica, a título introdutório, dos editores do projeto “UM CONVITE A UTOPIA”.


A coleção Um Convite à Utopia insere-se no contexto das comemorações dos 500 anos do lançamento do livro A Utopia (1516), de Thomas Morus. Trata-se de projeto editorial de natu­reza pública e coletiva, capitaneado pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB), com apoio da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) e uma série de insti­tuições acadêmicas, científicas e culturais nacionais e estrangeiras. Pretende-se, de um lado, resgatar obras/textos que marcaram a construção da utopia como um projeto de contraposição a um mundo injusto e desigual; e, de outro, estimular a atualização da utopia, a partir de construções inéditas e provocadoras, arti­culadas em uma rede de esperanças. A ideia é que cada autor ou coletivo de autores, a partir de seu lugar de vida/mundo, produza um ensaio instigante, recuperando a necessidade de des­pertar do sono profundo em que se encontra o espírito utópico. Contemplam-se contribuições envolvendo a utopia que discutam obras/autores clássicos e contemporâneos; problematizem o coti­diano, a cultura e a totalidade; reflitam sobre o meio ambiente e os territórios de vida, cidadania, ética, justiça, tolerância; revi­sitem a história, economia, política, filosofia, teologia e magia; em suma, comunguem das lutas abertas à esperança. Trabalha-se, por opção, com o conceito agência solidária. Autores, editores, técnicos, distribuidores, apoiadores, divulgadores, enfim, todos se integram num propósito: colaborar, com ações criativas, para que a obra alcance o maior número de pessoas, ao menor custo possível. Cada volume será disponibilizado nas versões impressa e eletrônica e, com a contribuição dos associados e parceiros, tem-se por certo a constituição de uma grande rede de popularização e apropriação social deste Convite, no Brasil e no mundo. É um projeto aberto que enseja captar desejos, sonhos e movimentos em razão de um mundo novo; vontades e capacidades inequí­vocas de pensar e agir; uma práxis coletiva que contribua para eliminar, de vez, as sombras que têm ameaçado o amanhecer, particularmente, na América Latina. Que este Convite se pro­jete como uma força mobilizadora das energias emancipatórias da humanidade.
Os Editores

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

CALAR JAMAIS





#CALARJAMAIS: CAMPANHA DENUNCIA VIOLAÇÕES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO



A liberdade de expressão é um direito fundamental, base de toda
sociedade democrática. Não à toa, em tempos de avanço do conservadorismo e de
ruptura democrática em nosso país, as violações à liberdade de expressão têm se
intensificado. Da repressão aos protestos de rua à censura privada ou judicial
a conteúdo nas redes sociais, passando pela violência contra comunicadores,
pelo desmonte da comunicação pública e pelo cerceamento de vozes dissonantes
dentro das redações, nossa diversidade de ideias, opiniões e pensamentos tem
sido sistematicamente calada.

Para chamar a atenção da sociedade para a seriedade de tais
violações, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, em parceria com
diversas organizações da sociedade civil, lança a campanha “Calar jamais!”. Por
meio desta plataforma, queremos receber denúncias de violações que ocorram em
todo o país e dar maior visibilidade a esse problema.

Se solicitado, as informações sobre os denunciantes ficarão
anônimas. Um grupo de especialistas e organizações que trabalham com o tema da
liberdade de expressão analisarão os casos recebidos e, confirmada a violação,
as informações serão divulgadas. O FNDC não dispõe de estrutura para acompanhar
os casos individualmente, prestando assistência jurídica às vítimas de
violações. Mas a campanha encaminhará as denúncias confirmadas para todas as
autoridades competentes – dentro e fora do Brasil – dando ampla divulgação aos
casos.

Contamos com a sua participação para divulgar a campanha “Calar
jamais!” e, principalmente, para denunciar as violações em curso. Participe
aqui: http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/fndc-lanca-campanha-calar-jamais/


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

CAMPINA SÓ QUER SER NEW YORK

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Campina Grande surgiu como a “Vila Nova da Rainha” para atender necessidades da Coroa Portuguesa. Nosso “descobridor” foi Teodósio de Oliveira Ledo - um raivoso serial killer que matou tantos índios na região da grande campina que a própria coroa lhe enviou carta pedindo moderação.  Caso similar só o do General George Custer que, no século XIX, foi repreendido pelo governo dos EUA pela carnificina que promovia no oeste americano. Mandaram Custer controlar os índios e ele passou a exterminá-los tal qual Teodósio.



Certa vez falava disso em sala de aula e um aluno disse que sou um “campinense que não deu certo”. Tenho lá meus sentimentos em relação à cidade onde nasci, me criei, constitui família, onde vivo, moro e trabalho. Mas, disse também que isso não significa que tenha que fazer declarações de amor a minha cidade, muito menos fechar os olhos para os problemas e defeitos que temos. Uma coisa é ser campinense. Outra, bem diferente, é ser um “campinista” desses que acham que Campina Grande irradia para o mundo o trabalho, o desenvolvimento e a paz. Campinista de quatro costados é aquele que chora ao ver uma reportagem sobre nosso São João no Fantástico da Rede Globo.



Mas, confesso, não gosto que falem mal de Campina Grande. É que para criticar Campina tem que ter bebido das águas do Açude Velho e tem que ter ido, pelo menos uma vez, no Clube Ipiranga. Só censura Campina quem, nas sextas-feiras, ia ao Clube dos Estudantes Universitários, o “CEU”. Só pode depreciar Campina quem saía do “CEU”, atravessava a rua, entrava no “CAVE” de Carlinhos e depois tirava a pé, com o dia amanhecendo, lá para o Catolé para ouvir o Bolero de Ravel no REFAVELA de Bel.



Resultado de imagem para clube dos estudantes universitários CEU campina grandeEu aceito que você esculhambe Campina se e somente se, pelo menos uma vez, saiu do REFAVELA e foi a pé, claro, para a Feira Central comer picado de bode com pão e tomar umas lapadas de cana em D. Maria do picado, lavando tudo com cerveja no final. E se não tiver comido a tapioca de queijo de coalho com manteiga da terra de D. Maria é melhor nem abrir a boca. Para mandar ver em Campina tem que ter ido ao Açude de BODOCONGÓ, no tempo em que ele era um açude, e que fazia Jackson do Pandeiro cantar “Eu fui feliz lá no Bodocongó com meu barquinho de um remo só / Quando era lua, com meu bem, remava a toa / Ai, ai, ai que vida boa lá no meu Bodocongó”.



No final dos anos 1980 Gilberto Gil veio aqui lançar o Movimento Onda Azul. Numa entrevista, ele disse que “Campina Grande tem uma vontade danada de ser New York”. Muita gente não gostou. Alguns diziam: “quem ele pensa que é para vir falar mal de nossa cidade”. Eu fiquei com raiva. Lembro ter dito: “porque ele não vai falar mal de Salvador?”. Hoje, olhando em perspectiva, entendo o que Gil quis dizer. É que o campinense é um enxerido por natureza e exibido por definição. Se não fosse essa vontade de ser New York, de ser grande, onde estaríamos hoje? Campinense que é campinense não tem o complexo de vira-latas do qual nos falava Nelson Rodrigue.



Campinense da gema nasce aprendendo a lamber suas feridas, não esquece nossa vocação para o desenvolvimento e que exalamos política e cultura por todos os poros.  Não fosse nosso complexo de superioridade seríamos quase insignificantes. Como teríamos conseguido ser a segunda maior exportadora de algodão do mundo se sofrêssemos de um irremediável complexo de inferioridade? Eu sei que temos que conviver com o fato de sermos vice-campeões. Mas, dá para concorrer com Liverpool que deu os Beatles ao mundo? Tudo bem, ficamos em 2º lugar no algodão, mas quem, no Nordeste, se desenvolveu mais graças um produto agrícola?



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Um dos símbolos dessa época de apogeu foi um cabaré, mas não um cabaré qualquer. Foi no salão do Eldorado que desfilou a riqueza que os tropeiros traziam para Campina. Foi isso que Luiz Gonzaga cantou em “Tropeiros da Borborema”. Aliás, o rei do baião nasceu em Exu (PE), mas bem que poderia ter nascido aqui. Assim teríamos mais uma coisa do que nos orgulhar. Já pensou podermos dizer que somos da terra do “Rei do Baião”?


Temos o Maior São João do Mundo! Olha aí nosso complexo de superioridade à flor da pele. É como se olhássemos de cima para baixo para todo o Brasil e disséssemos: “somos os fiéis depositários da cultura popular tupiniquim”. Dai que a prefeitura municipal bem que poderia se valer dessa vontade danada de ser New York. Bem que poderia colocar um portal colossal, à entrada de quem vem da capital, anunciando não uma marca de cervejas, mas que se está chegando à cidade que faz a maior festa popular do mundo, quiçá da Via Láctea. Quem tem complexo de superioridade não deve ter vergonha de nada. Temos que nos orgulhar até dos nossos problemas urbanos, pois só os tem quem é grande. Agora, que estamos em período eleitoral, decidi que vou votar naquele que prometer que vai transforma Campina Grande na New York do sul do Equador.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Brasileiro, este ser de mente obscura


Em 1945 os soviéticos foram os primeiros a entrar na Berlim destruída pelos combates da 2ª guerra. Enquanto oficiais caçavam nazistas, soldados estupravam mulheres. Cerca de dois milhões de alemãs foram violentadas. Stálin nada fez, pois os russos viam o estupro como uma “necessidade do homem” e como forma de subjugar o inimigo já derrotado. Na Guerra do Vietnã, soldados americanos costumavam estuprar as vietnamitas. O governo e a sociedade americanos fecharam os olhos para esse estado de coisas. É que várias sociedades, cada uma a seu modo, aceita o estupro.



Parte de nossa sociedade tem um jeito peculiar de lidar com a violência contra a mulher. Em 2014, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que 26% dos brasileiros acreditam que a “mulher que exibe seu corpo merece ser atacada”. Vimos com provas, não com convicções, que o estupro é legitimado entre nós. O IPEA demonstrou que muitos creem que “se a mulher se comportasse, haveria menos estupros”. Agora, o Fórum Brasileiro de Segurança Publica (FBSP) trouxe dados atualizando nossa mentalidade obscura. Como nada é tão ruim que não possa piorar, vemos que 30% dos entrevistados concordam que a “mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”. Pior, é que 37% aceitam a ideia anacrônica, tosca, de que “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”.


Envergonha-me compartilhar minha nacionalidade com pessoas que fingem não saber que é crime tentar ou manter relações sexuais com uma mulher sem que ela consinta. É como se a mulher gostasse de ser violentada e provocasse o homem para que ele lhe atacasse. A ideia de que um padrão de comportamento, determinado à mulher pela sociedade, evita que ela seja estuprada é de uma estultice colossal. Quase 40% dos brasileiros dizem: “dê-se ao respeito e não serás estuprada”. Assusta-me saber que há quem concorde com tal parvoíce. Com temperaturas tão altas, a mulher tem que usar roupas compostas para não ser violentada?


O FBSP conclui que existe um discurso socialmente aceito que considera que a mulher só é vítima de agressão sexual por que provocou o homem. Isso se comprova com 30% das mulheres entrevistadas concordando com o raciocínio que coloca nelas a culpa pela violência sexual. Ou seja, vítimas em potencial aceitariam serem responsabilizadas pelo estupro. Nada a estranhar, pois o machismo não é exclusivo do homem. É comum mães questionarem suas filhas se de alguma maneira elas não contribuíram para serem estupradas.


Em 2014 o IPEA revelou que 82% dos brasileiros concordaram que “o que acontece entre o casal em casa não interessa aos outros”. Seguimos achando que em briga de marido e mulher não se mete a colher. A maioria de nós entende que não se deve intrometer no caso do marido espancar sua esposa desde que isto aconteça no santo recesso do lar. O primado do homem sobre a mulher ainda é aceito por nós. Seguimos sendo os trogloditas de sempre!


Assisti o documentário “Half the sky” (O céu pela metade), produzido para televisão americana, filmado em países como Camboja, Índia, Somália e Afeganistão, que trata de mulheres vítimas de coisas como tráfico de pessoas, violência sexual, fome, guerra, escravidão. É desesperador ver que, em nome da tradição, mulheres são estupradas e prostituídas pelos seus pais e maridos. Mostra, por exemplo, a depauperante tradição da infibulação. Um hábito medieval desprovido de racionalidade.


No filme vi um mundo que nós, brasileiros, queremos ignorar. Sempre se poderá dizer que quase tudo que nele se vê não acontece aqui. É verdade, não acontece, pois nos deixamos influenciar, de leve é bem verdade, por valores da democracia, em que pese uma cultura autoritária que nos faz saudosistas da ditadura militar. Estamos longe de uma Somália ou de um Afeganistão, mas não podemos nos comparar aos países que mais evoluíram em termos de direitos sociais e na redução das taxas de desigualdade. Estamos, sim, bem mais próximos de uma Índia com seus hábitos que desumanizam a mulher. Vejam que aqui, como lá, ainda se pratica o tal estupro coletivo, tal qual faziam soldados russos e americanos.


IPEA e FBSP concluem que a brasileira ainda não se equiparou econômica, política e socialmente em relação ao brasileiro. O IPEA viu que 65% dos entrevistados concordam que “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”. Muitos ainda acham que “só um tapinha não dói”. Houve um erro na apresentação dos dados do IPEA. Mas, isso não diminui o sentido nem retira a seriedade do estudo, pois a questão não é apenas quantitativa. Importa menos se duas mil ou dois milhões de pessoas concordam que é a mulher quem provoca o estupro. Enquanto tivermos um único brasileiro pensando assim, temos muito com que nos preocupar. Não basta supor que “nada tenha haver com isso já que não concordo com essas opiniões”. Se onde vivo têm pessoas legitimando o estupro tenho, sim, haver com isso.


Como exemplo, vejamos o caso da Paraíba onde a realidade confirma os dados do IPEA e do FBSP. O Centro da Mulher 8 de Março, de João Pessoa, nos mostrou que, por mês, sete paraibanas são estupradas. A ONG, que acompanhava mulheres violentadas, dizia que entre o início de 2010 e novembro de 2015 foram registrados 556 estupros na Paraíba, sendo que 65,4% dos casos foram contra crianças e adolescentes. Sempre lembrando que os números são ainda maiores, pois nem todas as vítimas vão à polícia. Será que somos tão diferentes da realidade vista em “Half the sky”?


E para quem acha que só mulheres lindas, sensuais, que andam com trajes minúsculos, são estupradas informo que metade das vítimas da violência sexual são menor de idade. Para o Programa Bem-me-quer de São Paulo, mais da metade das vítimas de estupro, em 2013, tinha até 11 anos de idade. Isso se alinha ao estudo do IPEA que mostrou que crianças seguem sendo alvos preferenciais dos estupradores e que a maioria dos casos contra crianças acontecem mesmo é no ambiente familiar. Se você é um dos que acha que é a mulher quem pede para ser estuprada sugiro que tente perceber que por trás de sua mãe, sua irmã, sua filha, sua esposa ou sua namorada existe uma mulher que, com certeza, não quer ser estuprada.


Outubro/2016.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O discurso da menina Zianna Oliphant que chama atenção do mundo para a tensão racial nos EUA


Zianna Oliphant, de nove anos, fez um emocionado discurso numa assembleia na cidade de Charlotte, na Carolina do Norte (EUA), na noite de segunda-feira passada. Estavam na platéia a prefeita Jennifer Roberts e o chefe local de polícia, Kerr Putney. Zianna falou após um acalorado debate, no qual moradores pediram a renúncia da prefeita e do chefe de policia. A assembleia foi convocada para se tentar acalmar os ânimos em Charlotte, palco de violentos protestos depois que um policial negro matou Keith Lamont Scott, também negro, na semana passada.


Zianna disse que "somos pessoas negras e não deveríamos ter
que sentir este tipo de coisa. Tudo o que queremos são direitos iguais.
Queremos ser tratados da mesma maneira que outras pessoas". Numa entrevista
a CNN Zianna disse que "estava nervosa e decidi pedir a palavra e dizer às
pessoas o que sentia". Colin Kaepernick, jogador de futebol americano que
tem despertado polêmica por protestar contra a violência policial se recusando
a levantar durante a execução do hino americano antes dos jogos, compartilhou o
vídeo em sua conta no Instagram. "Eu não tenho palavras para descrever o
quão doloroso é assistir a isso", escreveu Kaepernick.



quarta-feira, 21 de setembro de 2016

BRASILEIRO, ESSE MACUNAÍMA DE PERNAS TORTAS


Em momentos diferentes de minha vida, graças às atividades acadêmicas e profissionais, conheci e convivi com europeus e americanos do norte e do sul. Alguns me confessaram não conseguir entender o nosso jeito tão brasileiro de ser e agir. Já ouvi estrangeiros dizerem que não compreendem o incomum hábito que temos de zombar de nossas próprias desgraças, defeitos e, principalmente, dos problemas que ou não queremos ou não sabemos resolver.

Devo ser um brasileiro que não deu certo, pois considero uma bizarrice esse hábito de achar normal conviver com um problema e ainda achar graça dele. Não nutro ilusões de que um dia conseguirei entender tamanha esquisitice. De fato, não aceito convivermos tão passivamente com as tragédias causadas pelas enchentes nas regiões Sul e Sudeste e pela seca no Nordeste. Porque, afinal, não fazemos nada para evitar as calamidades que vemos  na televisão?


Resultado de imagem para você sabe com quem está falandoConheci um europeu que morou no Brasil por quinze anos, falava um português brasileiríssimo, e gostava de aqui viver. Ele não sabia do nosso estranho jeito de agir e não entendia o tal “jeitinho brasileiro”. Eu dizia para ele que só sabe o que é, e para que serve, o “jeitinho” quem aqui nasceu e é fruto desse processo de miscigenação das três raças que foram aos trancos e barrancos formando essa nação.

Atire a primeira pedra quem nunca usou o “jeitinho brasileiro”. Não importa se o utilizamos em benefício próprio ou para ajudar outras pessoas. Importa pouco se ele se presta para o bem ou para o mal. O fato é que ele sempre está ali ao alcance da mão. Basta nos vermos frente a alguma dificuldade, por menor que seja, que logo nos vem a mente como fazer não para resolvê-la, mas para dela desviar. O “jeitinho” é uma instituição informal das mais poderosas que se impôs historicamente as instituições formais. Ele é uma forma sagaz que criamos para burlar leis sem que nos sintamos culpados e muito menos possamos ser julgados por isso. O “jeitinho” é típico desse povo que foi colonizado, escravizado, que precisava de um instrumento para sobreviver à exploração. O “jeitinho” foi à solução encontrada por aqueles que só sentiam os efeitos da lei quando para lhes cobrar deveres, nunca atribuir direitos.

Resultado de imagem para garrincha driblandoFoi por isso mesmo que inventamos a arte de driblar no futebol. Conscientes de que jamais poderíamos passar, literalmente, por cima de nosso adversário estrangeiro, criamos uma maneira de desviar dele, não sem antes zombar ou mesmo humilhá-lo. Garrincha, o anjo das pernas tortas, como diz Ruy Castro, era consciente da superioridade física da maioria dos pobres zagueiros que tentavam marcá-lo. O que ele fazia? Driblava-os daquele jeito humilhante para mostrar que eles não eram superiores.


Estamos sempre dispostos a criar um meio para driblar a fila nossa de cada dia. Raramente procuramos saber por que ela tanto demora. Dificilmente olhamos para os que estam enfrentando a fila, a nossa frente, como alguém que, igual a nós, tem algo para cuidar. Somos um bando de garrinchas conscientes de nossas inferioridades. Sabendo que não poderíamos correr mais do que nossos concorrentes, criamos meios criativos de passar por eles cortando o caminho. Somos especialistas em cortar caminho!

Herdamos essa capacidade dos negros africanos que foram aqui escravizados. Como, em geral, eles não podiam bater de frente, com o senhor da casa grande ou o seu feitor, foram criando mecanismos de enfrentamento. A capoeira e o sincretismo religioso são exemplos disso. Quer entender bem isso? Leia “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. O “jeitinho brasileiro” é, como a cordialidade de que nos fala Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”, o lado A do brasileiro. Tentamos resolver nossas pendengas com agrados, afagos, tapinhas nas costas, brincadeiras. Numa palavra, tentamos, cordialmente, dar um “jeitinho”. Mas, quando tudo isso falha, adotamos o rito do “você sabe com quem está falando?” que vem a ser o lado B do brasileiro, onde só há espaço para a segregação e toda sorte de desigualdades.

Resultado de imagem para você sabe com quem está falandoO “sabe com quem está falando?” é um “rito de autoridade”, é uma secessão absoluta entre duas posições, ou classes, sociais. Em “Carnavais, Malandros e Heróis”, o antropólogo Roberto DaMatta diz que o “sabe com quem está falando?” é um modo indesejável de ser brasileiro, assimétrico ao “jeitinho” que é socialmente aceito. Ele é um reflexo ritualizado de nossa secular desigualdade. Adotamos o “sabe com quem está falando?” para nunca esquecermos que cada um deve viver em seu lugar, em seu espaço, e que não devemos pretender galgar a escala social. O “sabe com quem está falando?” existe para que lembremos que cada “macaco deve ficar em seu galho”.


Quando perguntamos a uma pessoa se ela sabe com quem está falando estamos, também, inquirindo-a com o “quem você pensa que é?”, ou “onde pensa que está?” e estamos mesmo ordenando que ela se “recolha a sua insignificância!”, “que se enxergue!” ou que “tenha mais respeito!”. Nós, macunaímas, heróis sem nenhum caráter, como nos mostrou o modernista Mario de Andrade, não costumamos banalizar o rito da separação, só o usamos em ocasiões especiais quando a cordialidade não mais funciona. Perguntar, afirmando, “sabe com quem está falando?” para logo emendar o famigerado “eu sou filho de fulano de tal” funciona, tanto que seguimos usando  esses ritos mesmo que sintamos alguma vergonha disso.

Depois que adotamos graciosamente essa mania estulta de sermos politicamente corretos parece que não somos mais os mesmos de sempre. Parece que não somos mais uma sociedade recheada de preconceitos. Fingimos aceitar tudo o que nos envergonha como se fôssemos um povo democrático.


Resultado de imagem para macunaimasMas, a realidade nos desmente. Nos últimos três anos, declarações racistas e homofóbicas dos “Marcos Felicianos” espalhados pela política, pelo jornalismo, pela cultura e até na religião despertaram o gigante preconceituoso. Se é que ele alguma vez dormiu. Em 2013, uma jornalista do Rio Grande do Norte, Micheline Borges, destilou todo seu ódio e preconceito numa rede social. Disse ela: "Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas têm uma cara de empregada doméstica. Será que são médicas mesmo?". Em 2014, o secretário da Defesa Civil de Pernambuco, Wilson Damázio, foi em uma única frase machista, desinformado e estimulador de velhos mitos. Sobre policiais que abusaram sexualmente de adolescentes prostitutas e viciadas em crack ele disse: "Eu não sei por que mulher gosta tanto de farda". Mais um pouco e ele diria que as meninas foram estupradas por que pediram.

Rachel Sheherazade, jornalista paraibana âncora do jornal do SBT, vem a muito sendo fiel porta-voz desse obscurantismo medieval que conservadores radicais tanto utilizam. Como toda ação recebe uma reação, Sheherazade se tornou vitima de seu próprio veneno. Certa vez, um professor universitário, tão estulto, autoritário e conservador quanto ela, a atacou em uma rede social por meio de uma baixeza repugnante. Agora, eles brigam na justiça para ver quem consegue ser mais chauvinista. Enquanto isso, vamos nós dando um jeitinho para pensarem que não somos o que bem sabemos que somos. Queremos que pensem que somos modernos e desenvolvidos, mas não passamos de um bando de “macunaímas” de pernas tortas.


Setembro/2016.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Cultura politica autoritária contesta a hegemonia da democracia

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ARTIGO DO DIA
Política
GILBERGUES SANTOS


Especial para o UOL - 22/08/201
Arcabouço jurídico de um Estado pode afiançar ou cercear a lei que serve tanto às democracias como às ditaduras




Em 2009, as Forças Armadas de Honduras efetivaram um clássico golpe de Estado sacando do poder o presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya sob acusação de que ele poria, nas eleições daquele ano, um item plebiscitário para que os hondurenhos opinassem sobre a inclusão da reeleição na Constituição Federal. O golpe foi ilegítimo e legal. É que a Constituição de Honduras, tal qual a brasileira, possui dispositivo que dá as Forças Armadas prerrogativas para garantir a lei e a ordem. O que não se questionou é se a ordem político-social hondurenha estava mesmo ameaçada pelo fato de Zelaya querer se reeleger.

Em 2012, o presidente paraguaio Fernando Lugo, eleito democraticamente, sofreu um impeachment em apenas 48 horas. A maioria conservadora do Congresso Nacional golpeou Lugo se valendo de uma crise politica gerada pelo confronto entre policiais e camponeses num ato de reintegração de posse de uma fazenda. O processo cerceou o amplo direito de defesa de Lugo. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou a rapidez do julgamento e a falta de concretude das acusações. O golpe foi dado com a contribuição da Suprema Corte Eleitoral, do Partido Colorado, das Forças Armadas e do vice-presidente Federico Franco que assumiu o cargo.

Coincidências com um enorme país fronteiriço ao Paraguai nunca foram, nem devem ser, mera coincidência. Não na América Latina que segue precisando de ridículos tiranos como bem disse aquele "antigo compositor baiano".
Vimos agora um golpe de Estado na Turquia. Mesmo fracassado, ele reforça a noção de que uma cultura politica autoritária viceja mundo afora e contesta a hegemonia da democracia. Essa aventura golpista custou a vida de centenas de pessoas e mais de três mil foram presas. Li que os turcos ficaram traumatizados com tanques de guerra atropelando as vias públicas. Mas, como nós, eles estão acostumados com golpes, pois tiveram cinco ao longo de 56 anos. O presidente Recep Erdogan proclamou que a democracia havia saído vitoriosa. Vitória de Pirro essa, pois um sistema democrático só se consolida quando seus procedimentos e instituições funcionam livres de ameaças golpistas. Cada tentativa de golpe intensifica a ideia de que sistemas de força são mais eficientes para lidar com crises econômicas e politicas.

O prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel aqui esteve e se assustou com tantos brasileiros defendendo golpes e ditaduras. Ele lembrou Honduras e Paraguai, que afastaram presidentes através do ordenamento jurídico e tendo o Parlamento como protagonista da ação golpista. Temos uma nova modalidade de golpe de Estado que se respalda nos entulhos autoritários que as constituições trazem. Continua-se depondo presidentes eleitos, mas agora é a elite político-partidária quem dá cabo das ações golpistas, contando ou não com o apoio das Forças Armadas. Senão, vejamos o atual caso brasileiro.

No passado, o totalitarismo desafiou a democracia que espalhou suas ideias numa primeira onda de democratização a partir de 1945. Os rigores da Guerra Fria fizeram surgir uma segunda onda de autoritarismo militarizado na década de 1960. No início dos anos 1980 ele caiu em desuso e uma terceira onda de redemocratização se fez sentir em que pese países como Brasil, Honduras e Paraguai terem se tornado democráticos sem reverem seus passados autoritários. E agora, o que temos? Seria uma quarta onda de reversos golpistas comandados por Parlamentos e Judiciários? Temos um padrão ou esses exemplos são pontos fora da curva?
Sistemas políticos que mesclam elementos autoritários com procedimentos democráticos são cada vez mais comuns. Na "Primavera Árabe", as revoltas populares contra governos queriam deter anacrônicos ditadores, mas não se falava em democracia. Defendia-se eleições livres, mas se fechava os olhos para liberdade de culto e expressão. Lutava-se pelo fim da opressão estatal, mas as mulheres não podiam participar das manifestações.
A democracia, como sistema e cultura política, é cara ao Ocidente, onde as revoluções burguesas vingaram e as ditaduras totalitárias serviram como contraste. A democracia tem valor universal, do contrário a luta pelos direitos humanos não se daria no Irã, por exemplo. Cultura não é variável independente, com papel central no mapeamento de fenômenos. Ela não explica e nem justifica tudo. Se assim fosse, a democracia seria inviável, inclusive na Europa. O arcabouço jurídico de um Estado pode afiançar ou cercear a lei que serve tanto às democracias como às ditaduras. Essas são as questões que podem iluminar o debate sobre em que sistema politico é melhor viver.
Ontologicamente, temos Alexis de Tocqueville ("A democracia na América"), para o qual a democracia é o somatório (em doses iguais e sem hierarquias) de liberdade e igualdade. Realisticamente, serve a descrição minimalista procedural do cientista político Scott Mainwaring que, em "Classificando Regimes Políticos na América Latina", diz que democracia é o regime que (1) promove eleições competitivas, livres e limpas; (2) que pressupõe uma cidadania adulta e abrangente; (3) que protege liberdades civis e direitos políticos; (4) onde governos eleitos de fato governam e militares são controlados pelos civis.
Proponho um exercício simples. Verifiquemos se esses quatro itens são de fato praticados em nossa sociedade. Se a resposta for sim, ótimo!, vivemos em uma democracia minimamente consolidada. Mas, se a resposta for não, sugiro que comecemos desde já a ler tudo que pudermos sobre ditaduras.
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GILBERGUES SANTOS é cientista político e professor da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba)