sexta-feira, 13 de março de 2020

A ESQUERDA QUE A DIREITA GOSTA


Como assim?! Existe uma esquerda que a direita gosta?! Logo essa direita brucutu que odeia com suas extremadas forças a esquerda verde-amarela, digo vermelha? Se ela não gosta dos liberais, a la FHC, o que dirá dos “esquerdopatas”? Se a destra local não gosta dos “indecifráveis” por que aceitaria a sinistra?[1] Dizia Darcy Ribeiro, exagerando, que o “PT é a esquerda que a direita gosta”. Luiz Carlos Prestes dizia que a esquerda “não lutava pelo fim da desigualdade por crer num capitalismo bonzinho, sem contradições”. Fosse eu destro não desgostaria dessa esquerda simpática ao capitalismo. Hoje, parte da esquerda tupiniquim desistiu de lutar pelo socialismo, se é que tentou, por achar ser possível humanizar o capitalismo. Poderia seguir sendo gostada pela direita? Sim, se a direita não fosse tão bronca a ponto de não aceitar políticas públicas que geram crescimento e desenvolvimento. 
Alguns fazem o jogo da direita rústica, mesmo sem ser seus queridinhos. Por interesses, estratégicas, táticas, ou seja lá pelo que for, são os que nas eleições maximizam lucros e minimizam perdas ao evitar alianças com os que lhes são próximos. São os “puros de alma”, cheios de boas intenções, sempre abertos ao diálogo com Deus e o diabo.  Desde as eleições de 2018, com a vitória da direita extremosa, que se fala do comportamento egoísta de uns propiciando a derrota de Fernando Haddad e da esquerda. Poderíamos ter melhor sorte se Marina Silva, sempre esquiva, tivesse deixado de lado seus paradoxos e se aliado a Haddad. Tivesse Ciro Gomes, curado de seu orgulho de “cabra macho”, ido ao ato no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que antecedeu a prisão de Lula, e tudo poderia ser diferente.

É fato que Lula queria uma chapa com Ciro candidato a presidente e Haddad vice. Mas, Ciro rejeitou, lançou chapa com a senhora do agronegócio, Katia Abreu, e, não satisfeito, abriu fogo contra o candidato fascista e contra Haddad como se ambos fossem iguais e ele diferente e melhor que todos. Ciro não tirou votos do candidato miliciano, pois seu eleitorado era consciente para não votar no fascismo, mas um tanto quanto ingênuo em acreditar que o PT era o “mal maior” a se combater. Não sei por quais motivos, mas Ciro e Marina foram, sim, a “esquerda” que a direita gosta.

Mangabeira Unger, mentor adjunto de Ciro Gomes já que este se basta a si mesmo, afirmou que “ele perdeu por arrogância ao recusar aliança com o PT. Abrir mão do cacife eleitoral de Lula foi gesto de arrogância mortal”. Unger, coordenador da campanha do PDT em 2018, confirmou que foi oferecido a Ciro ser o vice na chapa do PT, para que assumisse a candidatura quando Lula fosse impedido. Ciro, consciente de que a direita gosta de seu papel, recusou. Lula entendeu que precisava mudar a estratégia. Que com sua prisão, a partir das convicções do Torquemada de Curitiba, precisava-se minimizar o protagonismo do PT. Ciro entendeu a estratégia e errou na tática ao rejeitar o cacife eleitoral de Lula. Ciro, tão dono de si, teve medo de ser teleguiado pelo lulismo. Perdeu ele, perdemos todos!

Mas, o que fazer para não ser a “esquerda que a direita gosta”? Como reverter a realidade que nos arrasta para mais uma ditadura? Deve-se entender que eleição é condição necessária, porém insuficiente para se ter democracia. Ela não é o fim único que orienta todos os meios. Ela é tão somente uma forma de se chegar ao poder político. Se até o presidente/miliciano conseguiu entender isso, o que falta a esquerda para mudar suas táticas e estratégias? 
Manifestações de rua não são um fim em si mesmas. Elas servem para mostrar a insatisfação social e importam para que se possa, por exemplo, impedir golpes de Estado. As manifestações são uma via de mão dupla, pois a mãe de todos os paradoxos no Brasil, hoje, é se utilizar a liberdade de expressão para justamente pedir o fim da democracia.

Se vamos às ruas gritar FORA PRESIDENTE!, mas ele continua dentro, algo não está funcionando bem. Lutar é preciso, sempre, mas a luta tem que ser feita de uma forma que incomode aquele que nos oprime, pois se ele segue sobrevivendo às manifestações alguma coisa que está sendo feita pela esquerda anda agradando a direita.

[1] Destra e sinistra é como se pronuncia direita e esquerda, respectivamente, em italiano.

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