quinta-feira, 19 de março de 2020

E assim se passaram 56 anos


O golpe civil-militar de 1964 completa 56 anos. Sei que é difícil relacionar um passado, que já vai distante, com um presente que nem sempre entendemos. Deixe-me tentar, então, demonstrar que muito do que somos e fazemos se relaciona com esse passado onde quase ninguém acreditava no que muitos dizem não querer mais. Falo de DEMOCRACIA.

O golpe de 1964 se deu porque não se apoiava a democracia. No Brasil, era (ainda é) usual a ideia de que crises se resolvem com saídas de força. O ato golpista se consumou quando generais colocaram tanques e soldados na rua e o presidente eleito João Goulart foi deposto e mandado para fora do país. 


A ditadura foi se instituindo aos poucos. Numa primeira etapa de instalação tivemos o Ato Institucional nº 02 com o bipartidarismo da ARENA governista e do MDB oposicionista. Mas, que ditadura aceitaria um partido lhe fazendo oposição? Essa era uma das estratégias para que se tivesse a impressão de que o óbvio não era ululante. Inclusive, dizia-se que o MDB era o partido do sim e a ARENA do sim, senhor!

O multipartidarismo desideologizado e oligarquizado que temos é fruto desse bipartidarismo autoritário, pois aquele sucedeu este sem um processo de reorganização. Em 1965 se impôs eleição indireta e passamos 24 anos sem votar para presidente. Votar é como andar de bicicleta, não pare senão cai. Em 1967 aprovou-se uma nova Constituição que era o somatório dos atos e decretos editados desde o golpe e dos interesses dos grupos no poder.

A Constituição de 1988 herdou itens do ordenamento jurídico da ditadura. O Artigo 142 dá aos militares prerrogativas que eles só possuíam para reprimirem seus inimigos. Como não confiamos na democracia, convivemos com procedimentos democráticos e entulhos autoritários. Aprendemos bem as lições da ditadura!

Em 1967 o Gal. Costa e Silva assumiu o poder e a esquerda revolucionária iniciou as ações armadas contra o regime, expropriando bancos em São Paulo. Em 1968 explodiram os protestos estudantis nas grandes cidades. Foi o tempo de fazer a hora e não esperar acontecer. Muitos pegaram em armas para fazer a revolução. Outros para impedir que ela acontecesse.

Em dezembro de 1968 os militares impuseram a ditadura total com o AI-5 que vetava até conversa em público. Nossos avós e pais eram proibidos de votar e não puderam nos ensinar como se faz. É por isso que hoje elegemos de tudo, até um boçal fascista.

Nenhum comentário: