Há uns dias atrás, eu me dirigia para o bairro do Catolé, quando tive que parar no sinal que fica bem ao lado de onde a Prefeitura Municipal está construindo o monumento em comemoração aos 150 anos de emancipação politica de Campina Grande. Eu tive um susto, pois não vi o Açude Velho, nosso cartão postal, aquilo que simboliza nossa cidade. Por um instante, pensei que estava no local errado. Eu estava só no carro, mas mesmo assim me perguntei em voz alta: “onde está o Açude Velho?”. O nosso Açude Velho, claro, continua onde sempre esteve. A diferença, agora, é que temos uma edificação monumental que está sendo erguido ali a esmo, como se não houvesse outro lugar melhor para fazê-lo. É já é hora de perguntar se, de fato, não haveria um lugar mais apropriado para se por este símbolo que mais parece um mausoléu, uma sepultura suntuosa, de uma família tradicional da cidade?
Eu confesso que ter aquele mastodonte bem ali, me roubando a visão
do nosso querido Açude Velho, incomoda. É estranho que a PMCG tenha tido a ideia
de erguer um ícone a nossa história politica, logo ali, tomando a vista de nosso
símbolo maior. O problema é que nada mais pode concorrer com aquele edifício
que tem a função de marcar uma data que todos bem sabemos o quanto importante
é. Obviamente que o Monumento dos 150 anos vai ser uma marca da gestão do
prefeito Romero Rodrigues. Sim, é uma marca, mas eu duvido que possa se
transformar num marco.
Como a visão do lado esquerdo incomodava, redirecionei o olhar para
o lado direito, e o que era inoportuno se tornou algo aborrecido, que só me deu
desgosto. É que bem ali, onde eu estava parado, em frente ao tal monumento,
havia uma criança pedindo esmolas. Isso mesmo. Uma menina, com aproximadamente
seis ou sete anos de idade, aproveitara o sinal fechado para pedir algumas
moedas para, por certo, comprar alguma comida que lhe saciasse a fome estampada
em seu rosto sofrido. Eu me revoltei e me perguntei, também em voz alta, que
espécie de cidade é essa que deixa suas crianças abandonadas na rua enquanto
ergue, como diria Chico Buarque, uma estranha catedral?
Será que vai ser assim mesmo? A faraônica pirâmide dos 150 anos
ficará mesmo ali, confrontando nossa triste realidade social? Porca Miséria
essa em que vivemos. Conseguimos construir uma obra surreal, quem nem Salvador
Dalí imaginaria, mas não conseguimos tirar aquela menina da triste situação em
que se encontra. Enquanto houver uma criança que seja abandonada pelas ruas, nenhuma
administração municipal poderá se gabar de absolutamente nada. Se um governo não consegue prover bem estar
aos seus cidadãos que se esqueça todo o resto, inclusive as belas obras, os totens
e monumentos, as belas praças, os viadutos e seja lá mais o que for.
Nós, os campinenses, gostamos de nos orgulhar de nosso suposto passado
glorioso e sempre falamos de um futuro que pensamos ser brilhante. Adoramos
falar de nossa vocação para o trabalho e para o desenvolvimento. Tudo balela!
Somos a cidade que não para de crescer, que tem 400 mil habitantes, que tem
muitos prédios bonitos, que tem um belo Shopping Center em expansão, mas que
ainda aceita que suas meninas e meninos fiquem jogados ao léu. Sempre trafego
pela Avenida Canal e vejo sempre um senhor de idade avançada a pedir esmolas.
Sabe o que mais me chama atenção? É que ele não pede simplesmente. Em troca de
algumas moedas, ele gosta de proferir frases provocativas, que me fazem, sim,
refletir. Um dia desses, ele me disse, após eu lhe dar todas as moedas que
dispunha, que não adianta viver de ostentação, pois dessa vida não se leva
nada. Outra vez, do alto de sua simplicidade, assolada por uma miséria sem fim,
ele me falou que os maiores idiotas do mundo são os políticos por se acharem
espertos. Fico imaginando que função o titânico monumento da Prefeitura Municipal
de Campina Grande teria para esse senhor ou para aquela menina que pode estar,
agora mesmo, naquele sinal sempre a pedir esmolas? Qual o sentido de erguer um monumento
horroroso como aquele quando temos tantas outras prioridades sociais?
A equipe de reportagem da Campina FM fez uma série de matérias especiais
sobre a educação no município de Campina Grande. Nossos repórteres foram a
várias escolas do município entrevistar alunos e professores. Na Escola
Adalgiza Amorim, perguntaram a uma aluna o que ela gostaria de pedir, o que ela
queria que fosse providenciado para sua escola. Eu imaginei que a estudante pediria
para o prefeito Romero Rodrigues entregar, de uma vez por todas, os tablets
prometidos ainda na eleição de 2012. E é hora, também, de perguntar: “mas, afinal, prefeito onde estam os tablets
que o senhor prometeu quando foi candidato?”. Tivemos uma grande surpresa,
pois o que a aluna pediu foi que colocassem um vaso sanitário no banheiro da
escola. Simples assim. A aluna da escola Adalgiza Amorim não está pensando em
grandes recursos tecnológicos, ela quer um simplório vaso sanitário.
Na placa afixada junto ao dantesco monumento se diz que a obra
custará R$ 1.459.177,22. Daria para comprar muitos vasos sanitários e daria
para propiciar uma vida digna para a menina que pede esmola bem em frente ao
tal monumento de aparência “quatrocentona”. Inclusive, o secretário de Obras da
Prefeitura Municipal, André Agra, disse, em entrevista para o Jornal Integração
da Campina FM, que o custo total da obra é de 2 milhões e 200 mil reais. Seria
preciso, então, verificar melhor como está a questão orçamentária da obra e
qual o seu real custo.
O fato é que o monumento vem desagradando àqueles com algum sentido
estético e/ou com alguma sensibilidade social. O Ministério Público da Paraíba
chegou a suspender a obra, pois além dela infringir normas de preservação ao
Meio Ambiente, a Prefeitura Municipal a teria iniciado sem consultar quem quer
que seja e sem ter uma apreciação do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico da Paraíba. O Conselho do Patrimônio Cultural do Município de Campina
Grande condenou a obra por ela prejudicar a visibilidade do espelho d´água no
local e obstruir a paisagem do sítio histórico do Açude Velho. Mas, nada disso
foi argumento suficiente para que a Prefeitura deixasse de tocar a obra, mesmo
que não tenha conseguido cumprir o prazo para sua inauguração, que seria
exatamente o dia 10 de outubro próximo passado, o aniversário da cidade.
Eu não sou contra aos
monumentos, históricos ou não, até acho graça neles. Mas, me preocupa saber que
eles sejam construídos por cima de nossa realidade social. Que se construam os
monumentos, mas só depois que todas as nossas crianças estiverem devidamente
protegidas.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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